Premonição: A Quarta Parede escrita por Állef Câmara Silva, Emmanuel Fernandes


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

O segundo capítulo prometido já foi publicado. ;)



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Nicholas e Paul estavam dentro de sua viatura.

Eles estavam com as sirenes ligadas e seguiam a toda velocidade por uma rua reta. Dessa vez era Paul, o motorista. Nicholas parecia estar perdido em pensamentos. Ele estava com a cabeça para fora do carro e ficou assim desde que deixara a cena do crime para outros policiais vasculharem. Os médicos forenses haviam chegado ao lugar e a moça, Anna, tinha identificado o amigo morto. Ele tinha um piercing na orelha idêntico ao do cadáver, sem falar de uma marca de nascença na nádega direita.

Tudo que Nicholas viu fora sofrimento no rosto da menina, ainda mais quando ela começou a chorar, do contrário, ele não conseguia encontrar uma resposta plausível para a moça saber da marca de nascença em um lugar pouco visível.

– Nicholas, eu posso saber o porquê de estamos voltando para o Saints Lebecque? – o rapaz continuou pensativo – Ei, cara! Estou falando com você. Acorda!

– O que foi?

– Por que estamos voltando para o teatro?

– Há uma coisa que eu quero confirmar... Se lembra da calamidade de 1979?

– Eu não posso lembrar por ser muito novo naquela época, mas aprendi sobre ela quando entrei para a delegacia. O que tem a ver com o caso?

– Acontece que a apresentação daquela noite aconteceu no Saints Lebecque.

– E...

– Se eu estiver certo e, eu sei que estou. Vamos encontrar o nosso assassino!

– E como pode ter tanta certeza?

– Eu vi o que sobrou de um pôster. Era exatamente idêntico ao cartaz da apresentação e ele estava circulado com um pincel vermelho. – deu uma pausa – Ao que parece, o nosso assassino está envolvido com o desastre daquele dia, de alguma forma... Se lembra do que aconteceu aquela noite?

***

Dale estava escondido sob as cortinas quando foi trazido para trás do palco. O proprietário do teatro levou-o para o camarim e fechou a porta.

– O que aconteceu agora? Pode me explicar? – ele estava nervoso.

– Eu... Eu... Eu me atrapalhei.

– Você sabe o que acabou de fazer conosco? Chamamos os médicos e eles levaram Liam para o hospital e os exames preliminares que eles fizeram aqui indicam que você quebrou os dedos dele. Você acabou com a carreira de um dos pianistas mais famosos atualmente! Já percebeu a gravidade da situação?

Dale tremia.

– Você acaba de arruinar também a sua primeira apresentação. Jamais terá uma oportunidade única como essa de fazer parte de uma orquestra. Os críticos irão criar a sua reputação e jamais conseguirá um novo emprego no ramo da música!

– Mas como vou pagar as prestações da minha casa?

– Não é problema meu! – ele abriu a porta – Eu só quero que saiba que chamamos a polícia. Antes de partir, o Liam falou que queria prestar queixas. Espero que Deus tenha piedade da sua al...

De repente, o homem cai no chão e começa a tossir. Ele segurou o seu pescoço com falta de ar e, quando olhou para as suas mãos, ele viu que estavam cobertas de sangue. Dale o matou. Ele estava em mãos, um guarda-chuva com a ponta manchada.

– Eu espero que Deus tenha piedade da sua alma. – e saiu pela porta.

***

Nicholas e Paul estavam em frente ao teatro, quando resolveram entrar por uma abertura que tinha na lateral do edifício. Aproximando-se da entrada do beco, eles viram que aquele local estava escuro até o momento em que duas luzes se acenderam.

– Cuidado! – Nicholas puxa Paul e ambos ouvem o ronco de um carro, que sai em disparada rua abaixo, seguindo o trajeto do rio Senna.

– Vamos pegá-lo. – diz Paul.

Paul ia se sentar no banco do motorista quando Nicholas entrou no carro e atravessou os bancos para se sentar em frente ao volante.

– Eu dirijo, dessa vez! – Paul dá a volta e se senta no outro banco, e Nicholas pisa no acelerador.

Nicholas dirige o carro próximo à calçada. Ainda era de manhã e não haviam carros estacionados em nenhum dos lados da pista. Foi quando ele resolveu jogar o carro mais para o meio e, na contramão, um carro estoura os pneus e invade a outra pista.

Nicholas manda a viatura para trás de um caminhão que estava dirigindo próximo a calçada e o carro somente parou quando bateu em um carro que vinha atrás da viatura. Paul observou o momento da colisão e viu quando o carro com o pneu furado captou e invadiu uma vitrine de uma loja de roupas. Ao que parecia, estavam todos bem.

– Merda! O que foi isso?

– Eu não sei... Preciso de foco na pista. Tá legal?

Nicholas continuou a dirigir o carro até encontrar o carro do assassino a alguns metros à frente. Eles viram o momento exato em que o carro voltou a disparar e Nicholas se aproximava dele até o momento em que ele fez uma curva de 180° e tentou colidir com a viatura.

– Desvia! Desvia!

– Eu não posso. Vamos perde-lo de novo!

Nicholas fechou a cara e continuou com o pé no acelerador. Ia bater frente com o assassino, quando Paul segurou o volante a tempo e desviou. O carro do homem continuou a seguir reto e passou por uma ponte levadiça quando um barco de médio porte estava passando. O carro do assassino saltou da ponte e conseguiu chegar do outro lado sem muitos problemas. Dale tinha conseguido fugir.

***

Pablo estava esperando seu amigo aparecer quando percebeu que a luz fraca tinha se apagado. Ele desceu as escadas e, no escuro, tateou todo o percurso, quando encontrou uma alavanca na parede e tentou puxá-la. Estava emperrada.

– Eu não vou desistir! – ele começa a puxar com mais força – Por Nico!

A alavanca se move e vê o momento em que na parede do outro lado da sala aparecem pequenas faíscas. De repente, a parede começa a pegar fogo instantaneamente em forma de caminho e ele seguiu o trajeto até o final do corredor.

Pablo viu que na parede havia dois passarinhos de metal com os bicos encostado. Provavelmente, foram eles que fizeram as tais fagulhas. Pablo correu até o final do corredor e chegou ao salão. Para o seu espanto, ele viu que uma enorme tabua de madeira estava no centro do salão e o ar tinha um cheiro fétido.

Pablo olhou atentou aos desenhos na parede e viu o cadáver de uma criança no chão. Aproximando da tabua, ele pode ver em cada ponta, havia um pote sujo com uma cor rubra, assim como a mão. O rapaz aterrorizado passou a mão na madeira e percebeu que era sangue. Ele estava coagulado. Por sorte não é o do Nico, pensou.

***

Dale estava em uma longa fila.

Ele tinha deixado seus pertences em cima de uma esteira rolante para não levantar quaisquer suspeitas. Depois de passar pelo detector de metais, ele se sentiu leve. Ele tinha deixado a faca de combate e uma pequena pistola escondida entre as suas roupas na mochila surrada que ganhou de Bob.

Ele estava com os passaportes e o visto internacional para fugir para a Itália. Não tinha como tudo dá errado.

Não demorou nem meia hora na fila e a moça no balcão o atendeu. Ele sorriu para moça que estava de fones e lixava as unhas. A moça levanta o rosto e retribui o sorriso, voltando a expressão anterior. Ela digitou alguns comandos no computador enquanto Dale retirava os documentos da bolsa, obviamente, falsos.

Ele tinha conseguido com um contato próximo ao Bob, um dia antes do atentado ao Theatre Saints Lebecque. Ele tinha ido ao seu apartamento e entrou pelas escadas de emergência para não levantar quaisquer suspeitas.

– Senhor! Passaporte, por favor.

Dale coloca o passaporte na mesa ao lado da sua identidade com foto e empurra com a ponta dos dedos para próximo da moça. Ela, por sua vez, pegou primeiro a identidade e depois de encará-la e encará-lo, ela virou o verso da identidade. Dale começou a suar frio e a moça hesitou um pouco ao pegar o passaporte do rapaz.

O rapaz, ainda em frente a bancada, olhou para o lado e viu quando um guarda começou a admirar sua fisionomia. Ele caminhou até a bancada e entrou por uma porta, ficando frente-a-frente a moça. Porém, ela não falou nada, apenas retirou as mãos da frente dos documentos do rapaz.

– Desculpe-nos pelo transtorno, ela ainda é uma estagiária. – ele entregou os documentos ao rapaz – Se puder, ficaríamos gratos se nos acompanhasse até os fundos. Você foi escolhido aleatoriamente para uma vistoria. – Dale confirmou com a cabeça.

Dale acompanhou o rapaz pelo longo salão e, quando ele se distanciou um pouco da multidão, ele pode olhar o rosto do segurança que estava o acompanhando. Era um dos contatos de Bob. Ele estava sério, com o rosto rígido, e caminhou com ele até a sala dos funcionários. Lá, ele se aproximou da máquina de café e pegou dois copos.

– Quer?

– Não... Obrigado.

– Ótimo! – ele ri e toma um gole do café – Faz certo em não confiar em ninguém. Estão te vigiando nesse exato momento.

– O que... Por que...

– Calma garoto, eu estou do seu lado... Por enquanto. – ele ri novamente. – Enquanto Bob me pagar para protege-lo, eu o farei. O que tem sido um pouco difícil com você aprontando. – ele se aproxima do rapaz e deixa seu copo sobre a mesa – Eu pensei que o teatro era o seu último ato. Grave engano.

– O que está dizendo? Está me acusando de ter feito aquilo?

– E não foi? Creio que a polícia poderia se deliciar com as provas que eu guardei em casa para um futuro desentendimento com o Bob, se me entende. – Dale engoliu em seco – Não achou nem por um momento estranho que mesmo depois de matar todas aquelas pessoas, nunca fora pego? – ele toma gole mais demorado dessa vez – Você agiu sem pensar quando matou um dos funcionários. Sabe o quão difícil é explodir uma adega e fazer que tudo se pareça com um acidente? Por que acha que deu uma nova explosão? Todas as provas que eu deixei para trás levam a Robbie como o incendiário... – Dale levantou a cabeça e olhou para o rosto do guarda.

Ele parecia estar se divertindo.

– Entretanto, garoto, não é tão fácil esconder um corte tão profundo em um corpo. Se forem espertos, não demoraram cinco dias para descobrir a farsa.

O rapaz caminha até a máquina para pegar um novo copo.

– Amador! – grita o policial e se vira para encarar Dale – Como pretende fugir de um país usando um avião fretado? Não passou por sua mente que as imagens das câmeras de segurança do aeroporto podiam ser enviadas em tempo real até a delegacia de policia local? Não me faça rir. Ainda pensas que está preparado para uma vingança?

– Eu...

– Não. Não ouse responder. – o rapaz se aproximou de Dale e bateu a mão contra o copo de café que estava na mesa. – Pense duas vezes antes de matar uma pessoa, só porque ela ousou afrontá-lo. – o policial segurou na gola da jaqueta de Dale – Do contrário, apodreça na cadeia. – ele empurrou o garoto que caiu sobre o sofá – Vamos! Não tenho a tempo para perder com você!

O policial abriu a porta da sala e esperou até Dale atravessá-la. Antes de fechar a porta, o segurança olhou para os lados e vasculhou a sala. Ele tinha que ter certeza de que não tinha danificado a câmera oculta no sofá.

***

Pablo tinha achado a tocha que Nicholas segurava, mas o homem tinha desaparecido no ar. Ele começou a observar o lugar a procura de pistas, quando viu um livro que estava em cima de uma mesa cheia de amuletos e instrumentos cirúrgicos rudimentares. Pablo abre a primeira página e lê o título:

– Rituais. Em busca do poder e o autoconhecimento. – um vento frio soprou e faz com que páginas do livro virassem até uma em especial que faltava um pedaço.

Pablo pareceu notar ser uma mensagem e começou a lê-la mentalmente. Ele sentia arrepios só de pensar em alguém fazendo uma brutalidade do tipo. Aos poucos, ele foi entendendo os motivos de existir tal sala. Ela era usada antigamente pela família a qual ele servia para fazer sacrifícios a uma divindade ceita. Em troca, o deus abençoava a família cuidando do gado e fortalecendo-o. Entretanto, havia um porém: Pablo se lembra de uma vez ter ouvido Srta. Ludwig dizer ser estéril.

Foi quando o corredor apagou-se a luz na mesma hora em que ouviu-se um uivo. Pablo se virou e viu apenas o corredor escuro. Aos poucos, o salão de rituais foi sendo tomado pela escuridão e tudo que ele pode fazer foi se esconder debaixo da tabua de madeira, com receio. Ele pode ouvir passos vagos e um riso.

Assustado, ele apenas sentiu quando alguém sussurrou próximo da sua orelha.

***

Nicholas estaciona a viatura de polícia na calçada do aeroporto, frente as portas-giratórias. Eles tinham recebido uma chamada estranha no aeroporto de uma moça que, desesperada, havia dito que um rapaz tentou embarcar em um avião com identidade e passaporte no nome de pessoas diferentes. Foi quando um segurança tomou a situação para si e levou-o para fora de seu alcance de visão de trás do balcão. Porém, ela tinha a clara certeza de vê-lo tomar o caminho oposto ao que ficava a sala de vistoria.

Quando saíram do carro, Nicholas viu o momento em que um guincho próximo rebocava um carro velho. Ele se aproximou do veículo deixando Paul para trás.

O veículo batia com a descrição dada por Bob e Anna do seu carro de entregas. Com o bloco de notações no bolso da blusa de uniforme, Nicholas não tinha mais dúvidas. Aquele era o carro certo.

– O que o carro do Bob está fazendo aqui?

– Boa pergunta! – dá uma pausa – Deixe comigo!

Paul se aproxima do reboque e dá dois toques contra o vidro do veículo. O velho atrás do vidro abra a janela às pressas e fica observando o olhar por trás dos óculos de aviador do policial. Paul tira a sua carteira de bolso e abre-a com uma mão estendendo-a na frente do rosto do velho. Lá, na primeira página, estava o seu enorme distintivo dourado.

– Bom homem, este carro é de propriedade da polícia! Ele faz parte de uma cena de crime.

O homem pareceu espantado e, rapidamente, mudou a expressão.

– Quanto querem pela geringonça? Eu estou levando-a para um desmanche.

– Ah... Como seria mais fácil se as pessoas cooperassem. – Paul tirou os óculos do rosto e deu espaço entre a porta do carro e o seu corpo – Ei, Nicholas! Pode vim aqui por um momento? Eu tentei.

Nicholas apareceu na frente do velho e atravessou a mão na janela do carro. Ele segura a gola da camisa do velho e começa a sacudi-lo violentamente.

– Agora você vai me escutar! Esse carro é de propriedade da polícia. Entendeu? – o velho sacudiu a cabeça afirmativamente – Então, leve-o ao pátio da delegacia.

***

Pablo estava em repouso, quando uma gota de água caiu em seu rosto, incomodando-o. Então, outra vez, uma gota de água tocou o seu rosto. Pablo ficou desperto e abriu os olhos lentamente. Ele estava suspenso no ar. Havia grilhões em suas mãos e pernas, entretanto, apenas os braços possuíam correntes, que possibilitava o rapaz dobrar o braço. Ele estava um pouco acima da altura do chão, mas tinha certeza de que ainda estava debaixo do celeiro. Não tinha como, nem tempo, de ser removido de lá.

– Finalmente você acordou! – Nico estava preso em sua frente.

Nico estava preso em frente à parede em que estava Pablo. Nico estava amarrado com correntes e grilhões da mesma forma que ele. Pablo começou a se remexer e alcançar Nico com as mãos, mas quando a corrente se esticava as suas mãos estavam a menos de um metro do outro rapaz.

– Desista! Tudo que você tentar, eu já tentei...

– Mas... – Pablo olha para Nico – Como vamos sair daqui? Quem nos colocou aqui? Precisamos sair e avisar aos outros.

Pablo estava em estado de choque e Nico ficou o tempo todo calado ouvindo-o. Ele sabia que uma hora seu amigo ia parar para respirar e diminuir a animosidade.

Quando o ocorreu, se passaram apenas alguns minutos, e Pablo ficou de cabeça baixa e se continuou com uma expressão vaga em seu rosto. Estava pensativo. Tudo que ele se lembrava era de ouvi um riso de uma criança, quando todas as luzes se apagaram, e sentiu uma tontura momentânea. Era seu fim. Ele tentou caminhar tateando o chão e quando se deu conta, caiu no chão. Estava escuro. Ele não podia se mexer, mas também não sentia as suas amarras. Nem sentiu seu corpo ser arrastado contra o chão.

– No que está pensando? – perguntou Pablo.

– Em uma forma de sairmos daqui. – Nico olha para as terminações finais das correntes e percebe que uma estava torta. – E eu tenho uma ideia.

Nico começou a balançar o seu corpo, ele juntou o seu corpo a parede e se empurrou colocando toda a força a mão esquerda. A corrente se estica e um som metálico ecoa pelo fosso. Um dos aros tortos havia se partido, formando uma pequena fenda. Pablo olha para a corrente, admirado, e retorna sua visão a Nico, que estava com o corpo novamente contra a parede. Quando Nico ia se soltar novamente, Pablo advertiu:

– Nico! Não! – mas foi tarde demais. Eles não sabiam a profundida de fosso, pensou Pablo. Entretanto, ele não possuía mais palavras quando viu o amigo diante de um perigo eminente. Quando seu corpo se soltou em direção ao buraco, a corrente se quebrou e ele fechou os olhos.

***

– O que foi? – perguntou Nico.

Pablo abre os olhos e vê o amigo intacto no lugar. Foi quando Nico sorriu e estendeu a outra mão que estava presa para acenar. Seus pés também estavam atados. Não tinha uma maneira de ele cair dali agora, pensou.

– Nada! Eu estava apenas pensando alto... – Pablo viu quando um aro caiu no buraco e não ouviu eco. O quão profundo é esse lugar, pensou.

Ele olha novamente para onde o braço do amigo estava preso e percebeu que a pedra estava um pouco solta, quase se partindo ao meio. Era um pedaço de pedra em forma de paralelepípedo. Nico poderia usa-la apenas algumas vezes, por conta das dimensões e o material feito que, por sinal, estava gasto pelo tempo.

– Nico! A pedra! – Pablo balbucia a cabeça e aponta para a parede. – Usa-a em seus braços e pernas. Dá para você golpeá-la algumas vezes em suas pernas e braços.

Nico confirmou com a cabeça.

Ele estendeu seu braço com dificuldade e, após um sufoco, ele consegue segura-la por completo. Ele a puxa para fora e percebe que ela move junto com o seu toque. Do outro lado, algo estava ajudando-a se mover.

Nico remove a pedra e, de repente, água começa a sair pela pequena fissura. Ela estava com pressão e um jato forte ia em direção à cintura de Pablo que estava na frente. Ele sentia a água e tremia a mandíbula. Estava gelada.

– Estamos no poço! – anuncia Pablo.

A água que saia do buraco era da chuva. Ela penetrava no solo verde e enchia o lençol freático, que ficava mais alto a cada minuto. Eles iam morrer afogados pela Mãe Natureza, caso a hipotermia não os acometesse primeiro.

Nico se demorou e acertou com a pedra em seu braço, quebrando as correntes presas no braço direito. Ele segurou com as duas mãos à pedra e disse a si mesmo:

– Agora é tudo! – Nico se flexionou e atingiu com uma enorme força contra as pernas, espremendo os grilhões sobre a sua carne. Abertos, ele sentiu apenas o seu corpo pender e se segurou com força em seu amigo.

Nico cai de cabeça na barriga do amigo retirando o seu ar, e se segura firme com as mãos em volta das calças do rapaz. Pablo nada diz, apenas solta um arfar de dor e empurra seu corpo para junto a parede interna do cilindro. Nico faz o mesmo e olha para baixo e para o seu amigo. Era uma distância pequena. Ele precisava pular.

Nico pula e se agarra a um dos braços do amigo, colocando todo o seu peso contra ele.

Então, tudo pareceu acontecer rápido.

Nico ouviu quando a corrente arrebentou. Ele viu o amigo virar bruscamente para o lado, ainda preso. Quando Pablo se virou, seu braço deslocou contra o rosto de Nico, apagando-o na hora. Nada podia ser mais feito. Nico sentiu apenas o maxilar se mover um pouco e uma onda percorrer o seu rosto até o cérebro. Ele se sentiu livre. Seu corpo começou a cair poço abaixo. Ele podia estar desacordado, mas ainda conseguia ouvir alguém ao fundo gritando o seu nome, ao som das correntes batendo.

***

Nicholas estava a sós, dentro do grande aeroporto. Paul tinha ido à delegacia de polícia com o velho dentro do caminhão de reboque.

Nada mais podia dar errado.

Nicholas entrou no aeroporto e se aproximou de um segurança.

– Senhor! – o segurança olha para Nicholas – Olá, o meu nome é Nicholas!

– Pietro!

– Estou em uma investigação e gostaria de saber se... – Nicholas olha para os lados. Ele estava perplexo com a extensão do edifício. Como ele ia encontrar alguém por ali? – Você viu alguma atividade suspeita esta manhã? Recebemos uma chamada de uma moça que trabalha aqui. Porém, ela não completou a ligação e não temos informações adicionais.

– Bem... Eu acho que você está falando da Isabele. Ela é a atendente da área de embarque na ala 23. Só que outro segurança já a atendeu.

– Tem certeza de que só?

– Foi o único chamado de hoje. – ele apontou para o walkie-talkie em sua cintura – Jamais vi alguém agir com tamanha eficiência.

– Como assim?

– Nada. É que ele por coincidência já estava indo para aquela ala naquele exato momento e pode agir rapidamente. – o segurança estava humorado.

– Certo! – Nicholas ficou pensativo – Você consegue dá uma perfeita descrição do segurança?

– Oh, não! Não! – o segurança coloca as mãos na frente como se pedisse mais calma – Eu nunca o vi aqui. Geralmente, ele chega para trabalhar mais cedo e mesmo trabalhando nas entradas principais, nunca posso vê-lo. Acho que ele também almoça na praça de alimentação do segundo piso e...

– Obrigado pela ajuda.

O homem pareceu confuso a princípio e confirmou com a cabeça. Nicholas se despediu com calma do homem e avançou até a ala. Encontrando Isabele, ele a cumprimentou. Há tempos não a via desde o último caso em que um corretor de imóveis foi encontrado morto dentro de uma das casas em que ele ia vender.

– Poderia me contar o que viu?

– Bem... Um rapaz apareceu aqui com uma passagem falsa e quando apertei no botão de emergência que aciona na polícia e salas de segurança, um homem apareceu de imediato. – Isabele tira os seus óculos para poder ver melhor o policial. Eles estavam um pouco embaçados após ter transpirado todo aquele tempo. – Eu estranhei ele aparecer tão rápido, mas não o questionei após ele me falar para se acalmar. Eu realmente estava nervosa. Porém isso não foi tudo! Eu sou desconfiada de tudo desde pequena e estranhei ele levar o rapaz para o lado oposto a sala de inspeção do aeroporto. Ele agiu contra o regulamento. Eu estou assustada.

– Por quê? O que houve?

– O segurança... – ela cruza os braços – Ele me dá calafrios. Desde que ele começou a trabalhar aqui. As coisas... Mudaram bastante. Ele sempre me pareceu uma pessoa bastante afastada. Ele não gosta de conversa com as outras pessoas, bem... Eu tentei. Ele foi frio. Jamais sorri... Ele é estranho...

– Obrigado Isabele.

– É um prazer sempre poder ajudar a policial. – Isabele ri.

– Ah... Aproveitando... Você se lembra de uma característica física dele?

– Bem... Ele é alto e franzino. Careca... – Isabele dá uma pausa, estava a pensar em alguma característica marcante. – Ele tem um pedaço de tatuagem no pescoço. Eu não sei o que é, mas a tatuagem é grande.

– Obrigado de novo, Isa. Te devo essa.

– Convide-me para sair um dia desses. – Isabele sorri.

***

Todos estavam na sala de estar da pequena casa de campo. Charles e Helena estavam sentados contra o sofá luxuoso que ficava em paralelo a lareira. Quando a luz dos raios clareou o quarto, Helena pode ver a cabeça decorativa acima. Era um urso marrom com a boca aberta. Era realmente assustador.

Após vê-lo, ela recolheu contra o ombro de Charles que estava aos poucos pegando no sono. Ele cantava em voz pouco audível uma música que sua mãe cantava para ele todas as noites. Falava de um monstro que ficava a fora de casa, nas planícies e florestas a noite a espera de aventureiros perdidos para comer. Entretanto, apenas a espada demoníaca – Executadora – poderia derrotá-lo. Porém, era para as crianças ficarem sempre em alerta, pois jamais sabia quando ela podia aparecer. Ela poderia estar atrás de você. O único meio de sobreviver era ficar dentro de casa, sem a necessidade de luz. A criatura era como uma criança. Ela tinha medo dos objetos dentro de casa, porque no escuro, eles pareciam ser o oposto do que realmente eram.

Charles passava a mão sobre os cabelos de sua amada e ela estava deitada ao lado sobre ele, cobrindo o rosto com o seu casaco. Ela tremia por alguma razão.

Alessandra olhava pela janela com receio. Ela ficava com os braços cruzados e estava atrás das cortinas, evitando ser vista por qualquer coisa que pudesse estar do lado de fora. Ela estava pensando no álbum de fotos antigo que tinha encontrado. Fotos de família. Por alguma razão, ela sempre via uma bola em todas as fotos que apareciam um garoto como a do quarto. Por que aquilo a incomodava?

Ela precisava saber.

– Olá. – Christian colocou a mão na cortina e a puxou do lado, para recostar o seu punho contra o vidro da janela.

Alessandra tinha se assustado com a aproximação tão repentina do rapaz, mas tentou manter-se calma para não transparecer o susto. Não gostava de se constranger perto dos homens por motivos óbvios: alguém poderia querer se engraçar com a moça.

– Duvido que vá me ouvir, mas sugiro que não fica em frente a uma janela em dias de tempestade... – Alessandra ignora-o – Você pode ser atingida por um raio. Nunca se sabe onde vai surgir um novo. – há um longo silencio entre os dois. Alessandra tenta não olhar para o rapaz e manter a sua visão fixa do lado de fora a espera de Nico e Pablo.

Eles já deviam ter chegado, pensou.

Christian afasta as mãos da cortina e quando se vira, ela diz:

– Espera! – Christian vira o rosto e assente com ele. – Você não acha que os rapazes já não deviam ter chegado? Está uma tempestade forte lá fora.

– Não... Eles podem estar abrigados com os animais... Digo, eu ia fazer o mesmo. Você não? – Alessandra assente com a cabeça. – Posso te fazer uma pergunta?

Alessandra, de imediato, vira o rosto para o rapaz.

– Eu percebi que você está muito pensativa...

– Estou. Eu não sei o porquê, mas eu sinto que há algo errado com a casa. – ela sente a temperatura cair e se abraça um pouco mais forte, marcando sua roupa na altura dos seios, onde estão recostados os seus braços. – Eu não posso dizer... Quero dizer, você não ia acreditar em mim.

– Tente.

– Eu pensei ter visto algo na janela e quando me aproximei... Sumiu. Agora a pouco aconteceu uma coisa estranha também... – Helena abre os olhos. Ela está ouvindo a conversa agora, desde que ela ouviu a palavra errado e casa. – Uma bola me assustou agora a pouco. Sabe-se lá o que aconteceu... Ela tinha um rosto.

– Um rosto? – Christian fica pensativo – Realmente, eu não ia acreditar em você... – ele sorri e Alessandra fica corada – Porém, eu confio na sua palavra. Você não é a única a passar por algo do tipo aqui dentro.

– O que você quer dizer?

Christian tem um sorriso malicioso no rosto. Não seria a primeira vez que ele contava aquela história. Como um morador da floresta, sabia de todas as histórias que circundavam entre os seus galhos e folhas.

– Realmente quer saber? – Alessandra assente com a cabeça – O que eu vou dizer a você, não poderá contar a ninguém. – um clarão invade a janela da sala iluminando a tudo e a todos. Alessandra sente um calafrio.

– Por quê?

– Jamais acreditaram em você!

***

Dale acompanha o segurança e ambos caminham por entre várias pessoas, que seguem para várias direções, se acotovelando. Eles estavam no centro do salão, próximos da saída. Dale estava atrás do segurança e podia ver uma tatuagem em seu pescoço.

– Os quatro elementos?

– Sim.

– Por quê?

– Longa história. Pare de falar!

Eles saiam do meio da multidão, quando Nicholas, que estava no segundo piso, conseguiu avistá-los. Ele estava na praça de alimentação procurando pelo homem, que provavelmente fazia a sua pausa.

Nicholas desceu as escadas rolantes, às pressas, empurrando as pessoas que tentavam que estavam paradas esperando chegar ao térreo. Quando ele conseguiu se misturar a multidão, ele retirou o quepe e começou a andar por entre os cantos, furtivamente. Eu não vou perde-lo de vista novamente, pensou.

Quando ele percebeu que teria de sair da cobertura, ele sacou a arma e antes que pudesse dá mais um passo, ele ouviu um disparo. Um homem caiu no chão. Dale estava com as mãos tampando os ouvidos quando o segurança disparou contra o amigo de trabalho. Ele o cumprimentou e antes que tivesse a oportunidade de cumprimentar o rapaz que acompanhava-o ou perguntar o porquê, ele sentiu apenas o cano gelado da arma em sua testa.

– Por que você fez isso?

– Ele sabe demais. – o segurança apontou a arma na direção em que Nicholas estavam – Estão atrás de você.

– O quê?

Dale viu o carro de polícia estacionado sobre a calçada.

– É provável que a chave esteja na ignição. Dá a partida. – dá uma pausa – Eu dou conta do trabalho. Apenas venha me buscar, certo?

Dale confirmou positivamente com a cabeça e correu para o lado de fora.

Todos os civis próximos estavam agora correndo para o outro lado do aeroporto, enquanto curiosos apareciam do segundo andar para filmar a ação.

Nicholas estava escondido atrás de uma pilastra enquanto, descoberto, o segurança dispara tiros perfeitos sempre uns próximos dos outros. Nicholas esperou o momento que ele terminou de descarregar o cartucho e saiu de trás da pilastra. Estava com o sangue cheio de adrenalina e saiu correndo em direção ao homem, disparando com a sua arma.

De todos os seus tiros, apenas dois tinham o atingido. O primeiro raspou em seu braço direito, o que detinha a arma, enquanto o segundo penetrou na carne da ligação entre o braço e ombro. De imediato, o homem largou a arma em dor e Nicholas aproveitou para se esconder em outra pilastra mais a frente. Ele tinha ficado sem balas.

Foi quando os demais seguranças começaram a aparecer.

Então, a viatura da polícia invadiu as entradas principais do aeroporto. Cacos de vidro esvoaçaram pelo ar e a luz refletida fez com que eles se parecessem com faíscas de energia. O homem baleado entrou no carro às pressas e deixo a arma no chão.

Nicholas tentou correr até o carro, mas viu quando o rapaz ameaçou acelerar contra ele e ficou longe. Dale terminou de entrar no saguão do aeroporto com o carro e fez um giro de 360° graus pelo chão escorregadio. O carro passou pela grande abertura onde ficavam as portas e foi em alta velocidade para a estrada.

– Agora é guerra. – Nicholas diz e pega o walkie-talkie – Ele não vai sair da minha cidade.


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Notas finais do capítulo

Espero que comentem o capítulo. Não sabem o quão difícil é manter uma história em um site, sem um apoio de fora. Do próprio publico. Ademais, espero que continuem o acompanhamento, porque a investigação estão longe de acabar...



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