Premonição: A Quarta Parede escrita por Állef Câmara Silva, Emmanuel Fernandes


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Como o combinado, aqui está o novo capítulo.
.
Eu sei que vão comentar nos comentários que ele perdeu o enfoque de um enredo de Premonição, mas digamos que ele foi intencional. Quebrar um pouco os paradigmas da vida é sempre bom. Ajuda a renovar o que existe, e mantê-lo!



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Ainda era 1979.

Um rapaz se assentava por entre os demais em uma arquibancada formada por cadeiras pretas. Todos se vestiam com roupas de galã negras e se assentava próximos aos companheiros de mesmo instrumento. O rapaz, em especial, era Dale. Ele se sentava abaixo da arquibancada. Só. Próximo de todos os rostos admirados e cochichos, dos quais podia ouvir apenas um ou outro. Ele estava muito nervoso. Era a sua primeira apresentação.

Colocando a mão em uma das baquetas, ele alisou-a com o dedo indicador firme e pode sentir a maciez da ponta a qual tocaria na carne dos tambores. Ele precisa de ser rítmico. Ele era a parte mais importante da orquestra, porque ele era o responsável por dá o tempo. Logo, com a grande responsabilidade em suas costas, ele sentiu o julgo da plateia que, tão próximo dos seus olhos, ele podia identificar um ou outro que parecia estar com uma expressão de que fora obrigado a vir.

E é, nesta hora, que aparece um homem por trás das cortinas e começa a caminhar até a prancheta. Todos se levantam de seus lugares e começam a aplaudi-lo. Dale vê o rosto do maestro e ele caminhava confiante, de olhos fechados e nariz empinado, até o seu lugar. Gostaria de ser um pouco mais como ele, pensou.

Todos permaneceram a bater palmas até o momento em que o maestro tomou seu lugar fazendo os cumprimentos se inclinando para a plateia, com uma das mãos nas costas e outra abaixo do peito, e se virou-se de costas levantando as duas mãos para os lados, como um pássaro abrindo as suas asas. Ele estava prestes a voar. A plateia cessou as palmas num piscar de olhos e se sentaram uniformemente. Ouviu-se algumas tosses por entre o grande espaço de tempo em que ficou um silêncio.

O maestro tirou a baqueta que carregava consigo do bolso e deu três toques sobre o púlpito. Dale ficou desperto na mesma hora e viu o momento exato em que o homem levantou as baquetas e as maneou em sua direção. Desesperado, Dale foi rápido com as mãos e levou-as para cima das baquetas. Entretanto, com o nervosismo, ele deixou que uma delas escorregassem de cima do instrumento e rolasse pelo chão para baixo do piano de cauda. Todos observaram a desatenção do rapaz e ouviu-se ruídos.

O maestro, de repente, ficou rosado.

Dale sem demora caminhou até o enorme instrumento e se agachou para pegar a baqueta. De repente, ele sentiu-se sufocado pelas roupas, porque elas limitaram o seu movimento de esticar o braço e se ajustou a forma do seu corpo. Então, a manga do braço em que ele esticava rasgou e o rapaz saiu de debaixo do piano às pressas, batendo a cabeça. Ao fazê-lo, a tampa das teclas do piano caiu sobre os dedos do pianista, que gritou em agonia.

Dale se ouviu o estalo e já sabia: o pianista tinha quebrado pelo menos quatro de seus dedos. Era o seu fim.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, as palavras não conseguiram escapar da sua boca e tudo que pode fazer foi se inclinar em reverencia e andar de costas até as cortinas. Porém, por não vê o caminho, o rapaz escorregou na outra baqueta que ele havia deixado cair e caiu no chão puxando uma das cortinas. Sucedeu que ele agora estava sob os panos e ficara preso por entre as cordas que a sustentava. Ele não podia mais fazer nada, tudo que ele podia sentir de si mesmo era desprezo, vergonha e ódio. As risadas intermináveis assim como comentários maldosos encheram o salão e ecoaram pelos quatro cantos.

Todos vaiaram o rapaz e ele ficou encolhido no chão.

Não queria sair mais dali para não passar mais humilhação.

***

Dale acordou e se levantou se inclinou às pressas na cama.

Ele respirou ofegante e quando levantou as suas mãos, ele pode ver o suor escorrendo, assim como a tremedeira. Tudo o pareceu muito real.

A sede de vingança do homem não havia sido saciada. Pelo contrário, ela foi trocada pelo medo e a culpa. Ele queria vingança. Pensou que, se destruindo o lugar onde toda a sua dor começou, ela ia desaparecer.

Ele estava completamente enganado.

– Dale? Você está bem? – disse um homem que desceu as escadas às pressas.

– Sim... Acho que estou.

O homem que trazia consigo um lampião, colocou-o sobre a mesinha que ficava próxima a cama improvisada do rapaz e deu um soco em seu ombro.

– Ah! Por que você fez isso?

O homem se sentiu do lado da cama, obrigando o rapaz a ceder um lugar.

– Jamais me assuste assim. Eu pensei que você estava morrendo. Você gritou algumas coisas e depois começou a chorar!

– O quê? De novo, não...

– Ei? Quer falar isso comigo? – o homem colocou as mãos nas costas de Dale – Eu prometi aos seus pais que cuidaria bem de você. E eu vou rompê-la, se eu não puder ajudar a você... – o homem balançou a cabeça algumas vezes – Escute! Você precisar sair um pouco daqui, a atmosfera não está te ajudando, muito menos esse cheiro de carne. Você precisa de um pouco de ar fresco e sol, está muito pálido... – o homem se levantou da cama e abriu as escotilhas do porão – Tem certeza de que não tem nada para me dizer?

– Tenho! O senhor já fez demais para mim.

– Espero que estejas certo. – disse o homem pegando o lampião novamente – Se quiser, volte a dormir. Não precisa trabalhar no açougue hoje. Vou pedir a um dos funcionários para trazer o seu café da manhã, certo?

– Certo!

***

Charles e sua nova trupe caminhavam pela floresta. Estava amanhecendo e a caminhada foi exaustiva. Eles tinham que se manter em alerta para casos de emergência. Por via das dúvidas, eles passavam longe das árvores soltando a casca ou das raízes e trepadeiras que se encontravam no chão.

Não podiam fazer um movimento arriscado do qual iriam se arrepender.

Todos estavam com os olhos sujos e sonolentos. Charles que seguia na frente, estava com os braços doendo de tanto revezá-los em carregar o lampião para iluminar o caminhão. Os demais estavam armados com o que possuíam. Helena segurava firme a uma clava que Christian havia feito a moça com seu machado e alguns cipós com espinhos que os atacaram no caminho. Alessandra ia com uma tocha improvisada com um galho cheio de pedaços de tecido rasgado de seu vestido. Pablo Henrique e Nico estavam desarmados, porém eles eram os únicos que mapearam a floresta. Eram membros de extrema ajuda.

Estava amanhecendo quando Charles abaixou o último galho que tampava a sua visão e avistou em um campo aberto, uma pequena edificação de madeira e teto de palha. Charles tentou dá o último passo, quando foi surpreendido por um barranco e quando estava prestes a deslizar, Christian segurou o seu braço.

– Você está bem, garoto?

– Sim, – esbravejou – me puxa!

Christian não fizera qualquer esforço e puxou o rapaz de volta para o alto do morro. Helena se abaixou e passou a mão sobre a testa de Charles limpando-o. Ele estava ofegante, depois do breve.

– Obrigada!

– Não foi nada. – disse ele se afastando e indo para o fim da fila. Quando ele passa próximo à Alessandra, ele observa-a de cima a baixo, discretamente, e continua a andar.

***

– Dale! Estou descendo... Espero que esteja vestido dessa vez. – diz um rapaz franzino e muito corado. – O chefe mandou eu te trazer o café-da-manhã e eu tenho a reponsabilidade de cuidar de você até que melhore.

– Eu não estou doente. – bufou Dale.

Robbie desceu as escadas e viu o momento em que ele chutava algo para debaixo da cama. Dale se virou para receber o rapaz e aparentou estar bastante nervoso. Porém Robbie nada fez, apenas esperou que Dale se sentava sobre a cama e o entregou uma bandeja com comida. Robbie viu, claramente, o que estava acontecendo. Dale usava roupas normais e botas, não o pijama que recebera de Bob.

– Aonde você pensa que vai? – Robbie treme e gagueja.

– A lugar nenhum... – Dale termina de mastigar e engole – Por que diz isso?

Robbie estava de frente a Dale e se ajoelhou.

Ele enfiou a mão debaixo da cama e retirou uma mochila.

– Tem certeza?

– Absoluta. – Dale olha para o lado.

Robbie olha também. Ele vê que em cima da cabeceira da cama tinha uma garrafa de vinho velha em que a boca possuía uma vela apagada. Robbie ainda estava agachado quando recebeu o primeiro chute no rosto, desferido por Dale.

Dale pulou contra a cabeceira da cama e pegou a garrafa de vidro.

– Dale... Não faça isso. – Robbie não teve tempo para escapar. Dale atingiu-o na cabeça com a garrafa e, quando viu o que sobrara do objeto de vidro em suas mãos, ele desferiu um golpe de misericórdia contra o lado esquerdo do peito dele. O coração.

– Tarde demais. – Dale jogou os restos dos cacos no chão e pegou a mochila – Você teve uma boa vida... – Dale cospe no rosto do rapaz que ainda tremia no chão, enquanto uma poça se fixava em seu contorno – Agora não tem mais. Adeus.

Dale passou pulou o corpo e tomou o cuidado de pular a poça para não manchar as botas com sangue. Ele retirou a camisa e mergulhou dentro de uma garrafa de vinho. O seu quarto improvisado era uma velha adega de vinhos. Ele rasgou uma das mangas da blusa e retirou a rolha de um dos vidros, enfiando o tecido dentro da boca do vidro. Logo, ele riscou um fosforo e o tecido começou a queimar. Dale olha para o fogo por alguns instantes e fica hipnotizado com as cores vivas. Ele estava ficando louco.

***

Nicholas estava dirigindo o carro calmamente pela rua enquanto Paul sintonizava a radio patrulha. Eles acordaram cedo aquele dia para poderem ir a cafeteria e fazer os pedidos mais rápidos. Para aquele caso, eles precisam de energia extra e ainda de paciência. O transito aquela manhã não parecia um dos melhores. O fluxo havia sido interrompido.

– Droga! Justo agora!

– Espera, espera... – Paul apontou para a rádio.

A estática havia passado e uma voz feminina fez-se audível:

– Todas as unidades! Há um início de incêndio na Rua Saint-Jacques no Zulawski Frigo. Eu repito, todas as unidades! Há um início de incêndio na Rua Saint-Jacques no Zulawski Frigo. Carro 180, vocês estão mais próximos do perímetro. Confidencio a vocês o caso e tomem as medidas cabíveis.

Paul pega aperta em um botão e pega o fone.

– Certo! Carro 180 está a caminho, cambio! – Paul olha assustado para Nicholas e balança as mãos pedindo para ele ir mais rápido – Eu repito! Carro 180 está a caminho, cambio e desligo. – Paul coloca o fone no gancho novamente. – Nicholas, precisamos chegar ao local e rápido. Ele ainda é o nosso próximo cenário de crime e o único que ainda temos. A construtora conseguiu a ordem que precisa para derrubar o teatro e construir um novo.

– Certo. – Nicholas ligou a sirene e virou o volante. – Se prepara!

Nicholas sobe na calçada e acelera.

Ele era um exímio motorista, hora ou outra, mexia nas marcas e pisava no freio e acelerador para que o carro não deslizasse na pista.

Nicholas começou a correr por um longo corredor formado entre os carros parados no semáforo e as paredes do prédio. Paul se segurou com força no banco e viu quando Nicholas soltou uma risada maquiavélica.

– Ah, eu adoro o meu emprego! Haha!

Quando Nicholas chegou ao final, ele encostou em um dos semáforos que ficavam no cruzamento e foi para dentro da pista. Por sorte, não haviam pedestres por onde eles passarem. Uma moça de vestido comprido que passava desatenta, em paralelo ao carro sobre a faixa, teve o seu vestido levantado e, assustada, abaixou os braços para cobrir suas roupas intimas. Paul observou a mulher e sentiu um arrepio na espinha. Por um momento, ele pensou ter lido em uma das sacolas, “Death”.

Nicholas voltou a acelerar e correu em disparar pela pista, desviando dos carros que ainda faziam uma pequena abertura para a viatura passar. Foi quando eles se aproximaram de dois caminhões que andavam em paralelo e Nicholas jogou o carro na contra mão. Paul gritou e, viu quando um carro vinha na direção oposta deles. Nicholas, por outro lado, mantinha-se um sorriso gostoso no rosto e voltou para na pista correta, frente aos caminhões.

– Nicholas! Para!

– Não! – berra o rapaz – Estamos quando chegando a cena do crime. Faltam apenas mais 180 metros, segundo o GPS.

Nicholas pisa fundo no acelerador e após alguns minutos, ele dá um giro na pista, desgastando os pneus, e entra em uma rua fechada. Ele passa por cima de uma placa e sobe a avenida que estava sendo construída sobre a rodovia que eles estavam momentos antes.

– Podemos passar por aqui! Só precisamos torce para termos sorte.

– Sorte de quê?

– A avenida ainda não terminou de ser concluída... – Nicholas solta um risinho – Eu já vi isso em filmes. Relaxa! Vai dá tudo certo.

Paul olha com fúria para Nicholas e começa a falar alguns palavrões, enquanto o rapaz segue rumo ao açougue. Nicholas viu uma placa falando que havia um buraco a 23 metros à frente e aproximou o carro do canto da pista.

– O que pensa que está fazendo?

– Criando uma rota alternativa! – Nicholas joga o carro para fora da pista e cai sobre um espaço vago que estava em uma carreta que passava. – Viu? Vamos chegar lá rápido e, ainda poupamos gasolina. – Nicholas soltou a mão da direção e olhou para Paul. Ele estava com o rosto pálido e as mãos frente aos olhos.

***

Christopher caminha na rua.

Ele usava roupas esportivas e uma toalha em volta aos ombros, a qual estava toda molhada. O boxeador estava suado e uma mancha enorme estava embaixo das mangas de sua blusa de frio comprida. Enquanto ele ouvia uma música rápida para seu treino matinal, ele ainda estava pensativo quanto ao que havia acontecido na noite anterior.

Depois de uma atitude ousada, ele conseguiu retirar uma moça para dançar e após a dança, eles tiveram uma conversa madura sobre o cotidiano. Agora ele sabia que o nome da moça. Alejandra. Ele também tinha o seu número de celular guardado na mente. Tudo que soube da moça aquela noite foi que: ela era muito bonita e que balé era mais do que um hobbie. O balé era para ela, tudo aquilo que a luta significava para Chris.

Era mais do que uma forma de expressão.

Eles conseguiam se libertar depois de um ato, como em uma peça.

Christopher caminhava quando uma carreta passar próximo a ele em alta velocidade. Ele não teria reparado, caso não tivesse ouvido o barulho das sirenas. Em um dos espaços da carreta havia uma viatura policial e, ao que tudo indica, havia dois homens dentro. Christopher fitou o caminhão e só tomou consciência de que tudo não era uma peça de sua cabeça, quando o veículo virou a esquina e continuou em disparada.

– Uau...

Christopher terminou os trotes e começou a caminhar mais devagar para recuperar o folego. Ele precisa ser agiu na próxima partida, mas não podia se desgastar tanto. Ele não sabia quando ele voltaria para um ringue novamente e, então, ele se precavia.

De repente, o telefone tocou e o som da sua música foi diminuindo.

– Alô, Chris?

– Sim, sou eu. Quem é?

– Seu treinador, não está reconhecendo a minha voz?

– Eu consigo ouvi-lo direito, por causa da estática.

– Certo. – dá ele uma pausa – Eu só queria te avisar que o torneio municipal terá retorno em Janeiro. Não se preocupe com os detalhes, porque eu já o inscrevi. Seu primeiro desafiante será mais leve do que o do ano passado.

– Então... – ele começa um pensamento – Quando posso retornar aos treinos intensivos novamente?

– Você já se recuperou da lesão no ombro direito? Foi ao SPA que o indiquei?

– Sim. Ming Yun SPA.

– Então, eu não vejo porque não começar amanhã, pela manhã. A academia está aberta todos os dias, só fechará para celebrar o Natal e o Ano Novo.

– Certo. Podemos nos ver mais tarde? – ele dá um sorriso – Eu quero que conheça alguém.

***

A carreta parou em frente ao açougue.

Nicholas e Paul saíram do carro segurando na porta e fechando-a com cuidado, para não cair de cima do veículo. Depois, desciam pelos carros, contornando as engrenagens e estrutura do carro. Por fim, Paul colocou seus óculos e se aproximou do banco do motorista e sacou seu distintivo.

– Você não tem permissão de sair daqui. – deu uma pausa – Precisamos tirar a viatura de cima do seu veículo.

– O quê? Eu tenho que fazer essa entrega desses carros a concessionaria ainda hoje, caso contrário, posso dar adeus ao meu emprego.

– Eu não pedi. É uma ordem! – Paul tira os óculos – Caso não saiba, se você sai agora com essa carreta, você vai ser preso por furtar um carro de polícia. Quantos anos o juiz poderia te dar para ficar de molho na prisão?

De repente, o homem se cala e bate a mão na buzina para abafar o “porra” que ele tinha soltado. Paul ignorou-o e acenou com a cabeça para Nicholas: ele teria de ir para a loja, sozinho. Nicholas concordou e colocou a mão na cintura andando lentamente até o estabelecimento, que soltava fumaça do alto do seu telhado. Clientes e funcionários se encontravam em frente ao local, ainda embasbacados.

Nicholas viu o momento exato em que um dos carros de bombeiros se aproximava pela rua da feira e estacionou sobre a calçada. Homens e mulheres vestindo capas e chapéus amarelos saíram de dentro do veículo e abriram as portas do caminhão, para retirar a mangueira. Enquanto outro trazia consigo uma maleta para mexer em um dos hidrantes ali presente. Não demorou nem dois minutos e eles começaram a apagar o incêndio.

Nicholas se aproximou do chefe de pessoal e disse sério.

– Peça ao seu pessoal para tentar não danificar o local. A água está apagando vestígios de um criminoso na minha cena de crime.

– Está me dizendo como é para eu fazer o meu serviço? O que me pediu é o mesmo que pedir para um médico amputar o pé de um paciente com diabetes e esperar que ele não sangre. É impossível.

Nicholas tentou se acalmar e respirou fundo, para transparecer ainda mais calma. Ele concordou com o homem e deixou-o fazer seu trabalho.

Afastando-se do chefe da equipe de bombeiros, ele se aproximou de alguns civis que se encontravam perto do local. Ele, primeiramente, cumprimentou uma moça jovem de avental sujo de sangue e começou o diálogo.

– Sabe me dizer o que aconteceu aqui?

– Não... Estava eu nos fundos, dentro do frigorifico quando senti um tremor. Quando sai do lugar, eu percebi que o chão estava queimando mesmo eu estando calçada. Eu corri para aqui fora e fim. Não tenho certeza de nada... Eu...

– Acalme-se senhorita. – Nicholas fica pensativo – Você pode repetir o que aconteceu o que aconteceu quando você saiu do frigorifico depois do tremor?

– Bem, eu olhei para todos os lados assustada. Eu percebi de cara que a temperatura tinha aumentando muito e os meus pés começaram a suar. O chão estava fervendo como uma frigideira. Eu gritei pelo Bob, mas ninguém me respondeu.

– Mas é claro... – disse consigo.

– O quê?

Nicholas pensou por alguns instantes no que a moça disse e ligou o tremor com uma nova bomba. Ele estava na pista certa.

– Poderia me dizer se há outra entrada?

– Bem... Há uma entrada de funcionário na rua de trás, e você pode entrar por uma das escadas de emergência do beco, mas... Se eu fosse você, eu não faria isso. A janela do segundo andar está bloqueada pelas chamas e o Randy caiu de lá.

– Certo! Ah! A propósito... Você não viu nenhuma atividade suspeita enquanto trabalhava, ou ouviu alguma coisa que não é de costume?

– Bem... – a moça coça o couro cabeludo – Eu estava em um frigorifico e...

– O que está acontecendo aqui? – um homem se aproxima do policial e, ele carregava consigo um cutelo. Ele tinha os cabelos grisalhos e uma grande barba clara.

Nicholas encara o homem e vê o cutelo em suas mãos. Ele não treme. Pelo contrário, ele coloca a mão em seu cinto, pronto para retirar a sua pistola automática. Ele olhou por algum tempo para a moça e percebeu que ela estava tremendo.

– Você deve ser Bob. Estou certo?

– Quem quer saber?

– Um oficial de polícia.

– Estou pouco me importando para a sua profissão. – ele coloca o cutelo na cintura – Eu sei o que faz com cidadãos de bem como nós. Vai me prender? – bufou.

– Se for preciso! Tente me desacatar e poderá passar uma estádia em uma sela junto a outros “cidadãos de bem”. – Nicholas enfatizou o final – Por acaso, você é o dono do lugar?

– Sim, sou.

– E então? Foi difícil? – Nicholas estavam perdendo a calma. Bob não se importou com as palavras do oficial, apenas virou os olhos em descaso. – Pode me dizer exatamente o que fazia quando o incêndio começou?

– Eu estava no caixa monitorando os meus funcionários, ora.

– Tem alguma testemunha visual para confirmar?

– Ora, pergunte a qualquer um. – continua ele – Eu estava em frente ao balcão. Como não poderiam me ver?

– Eu posso confirmar, policial. – a moça de antes deu um passo à frente se apresentando. Ela podia está um pouco nervosa, mas de certa forma, não mentia. Ela o olhava diretamente nos olhos e, embora tímida, ela não piscava.

– Certo. E o que você fez quando viu o incêndio acontecer?

– Bem... Primeiro tomei a providencia de ver se todos os meus funcionários tinham saído e sai por último para assegurar a segurança de todos.

A moça, então, começou a olhar para os lados, confusa. Ela parecia procurar alguém e engoliu em seco quando olhou para o rosto do chefe. Ele pareceu repreendê-la apenas com um sorriso que apareceu no seu rosto.

– Ei. O que foi?

– É que... Eu não... É... – a moça parou de falar um instante e respirou fundo – Eu não estou vendo o Robbie em lugar nenhum.

– Quem é Robbie? – pergunta Nicholas a Bob.

– Um funcionário. Ele estava encarregado de descarregar alguns de nossos produtos a nossa freguesia a domicilio. – Bob parecia nervoso.

– E como ele faz isso?

– Temos um carro nos fundos da loja que usamos para fazer as visitas.

– Sabe o número da placa? – pergunta Nicholas. Ele estava sério.

– Claro que sei. É meu carro!

Bob fala o número da placa e Nicholas anota em um pequeno caderno que tirou de um bolso de seu uniforme. Ele puxou o quepe para baixo e acenou para moça, que voltou a misturar-se a multidão.

– Bob! – Bob parou – Eu estarei de olho em você. Se estiver mentindo... Eu vou saber! – Nicholas deu um sorriso e seu rosto permaneceu sério.

Nicholas espera Bob voltar para a multidão e segue em direção ao beco, que ficava ao lado da loja. Lá, ele pode ver a escada de emergência que a jovem havia dito. Ela estava com os dois primeiros degraus quebrados e, mais ao alto, ele pode ver as chamas que chamaram a atenção da moça. Elas estavam fortes e queimavam a parede do prédio vizinho.

Nicholas seguiu o caminho e ficou no meio.

Dos dois lados haviam caçambas e latas de lixo transbordando. O cheiro fétido pairava em seu nariz e fazia-o querer regurgitar as rosquinhas que comera no café-da-manhã. Foi quando um novo tremor aconteceu, como na noite do teatro, e Nicholas viu o exato momento em que uma das placas decorativas do açougue iam cair sobre ele.

Nicholas ficou imóvel. Sentiu apenas quando um vento subiu junto com uma poeira e começou a tossir. A placa estava a menos de três palmos de seu pé. Ele ficou amedrontado e correu para o lugar de destino. A porta de funcionários ficava no final do beco, próxima a rua de trás da loja. Nicholas olhou para os lados e não viu nenhum sinal do carro, como Bob tinha falado. Ele se agachou para procurar vestígios.

Próximo à porta, ele pode identificar marcas de pneus deformadas. A água que os bombeiros haviam jogado no prédio tinha caído sobre a terra fofa e apagado algumas das marcas, impossibilitando Nicholas fazer qualquer análise do modelo do pneu. Porém, ele viu que as marcas seguiam para a direção que ele vinha e concluiu que ele tinha pegado a Rua Saint-Jacques. Além das marcas, ele pode ver claramente poças que formavam a cor do arco-íris no chão. Era óleo.

– Alguém está com problemas no carburador. – ele riu – E esse alguém não vai muito longe.

Nicholas entrou pela porta dos funcionários e quando ia tocar na maçaneta no lado de dentro para fechá-la, viu marcas de sangue. Sem demora, ele retirou o walkie-talkie do cinto e falou:

– Paul. Está na escuta?

– Sim. O que aconteceu?

– Parece que temos um caso de assassinato em mãos, está me ouvindo? Eu quero que ligue para a central e mande que cada policial dessa cidade cubra as saídas principais de Paris. Eu sei que ele não sairá daqui com o carro sem reparo, com isso, peço que mandem patrulhas vasculharem próximas a aeroportos. Eu não quero que esse psicopata saia impune. Está me ouvindo? – Nicholas finalmente se estressou.

– Sim.

– E peça reforços. Não sabemos da gravidade da situação, mas toda a ajuda extra na cena do crime será bem-vinda. Há algumas caçambas de lixo ao lado do açougue que poderiam haver algo que o nosso suspeito tenha se livrado. – deu uma pausa – Eu vou entrar!

– Não! Espera pelos...

– Não dá tempo. Se houver alguém aqui dentro, ele pode saber o que aconteceu com mais detalhes. – Nicholas desligou o walkie-talkie e voltou-se para uma escadaria que descia ao sótão. Por que um açougue teria um sótão, pensou.

***

Todos estavam em frente ao casarão no meio da floresta.

Helena e Alessandra estavam no quarto das garotas. Elas arrumavam suas camas, quando uma bola rolou de debaixo da cama e encostou no pé de Alessandra.

– O que? – a moça segurou a bola.

– Uma bola? – diz Helena.

Alessandra joga a bola para debaixo da cama e continua a arrumar a cama.

Helena termina de dobras as colchas e quando caminha até a porta do quarto, ela percebe que a bola toca o seu pé. Alguém tinha desenhado com carvão, uma face para o objeto e ela estava chorando.

Helena segura à bola e mostra para Alessandra.

Ambas ficam assustadas e Helena joga a bola para fora do quarto, pela janela.

Então, um trovão ilumina a casa e clareia todo o quarto que estava iluminado apenas por velas. Elas estavam em todos os lugares. Sobre a cômoda próxima as camas de solteira e na janela. Todas de tamanhos diferentes, por serem gastas.

– Vamos sai daqui e vê como está os rapazes...

– É melhor.

Alessandra abre a porta e, junto a Helena, ela sai com alguma pressa. É quando um rapaz passa por elas e empurra Helena para uma parede. Era Nico. Ele corria as pressas e nem houve tempo para se desculpar. Quando o ouviram, ele já descia as escadas para o primeiro piso.

Pablo corre até as garotas e fala:

– A chuva. Precisamos levar os animais para o celeiro. – e correu.

Helena e Alessandra se entreolharam e acompanharam os rapazes até o primeiro piso. Descendo as escadas, as duas começaram a ver os quadros que tinham nas paredes. Tinha fotos de um homem louro e uma mulher de longos cabelos cacheados negros, provavelmente, os antigos proprietários.

Por conta da gastura com que estavam as pinturas, facilmente, elas pareciam seguir as moças que as observava. Helena estava entretida vendo uma foto da mulher segurando um garotinho parrudo pela mão, quando Alessandra a cutucou. Alessandra chamou a atenção da moça para um quadro no alto onde podia vê o mesmo garoto. Ele segurava entre o corpo e o braço, uma bola. A bola.

Helena sente um arrepio e olha para o lado, e no segundo piso, uma janela se abriu soprando um vento forte, que tirou o chapéu sujo que cobri os longos cabelos loiros de Alessandra. Ela usava um coque para prender os fios rebeldes quando seu cabelo fez um reboliço e começou a dançar com o vento.

Alessandra correu para o primeiro piso com receio de acabar por bagunça-lo.

Lá, Charles e Christian conversavam na sala em frente à lareira recém-acessa. Eles tinham em suas mãos copos cheios de cerveja e espuma e tomavam com gosto, enquanto falavam de suas vidas. Charles tinha acabo de consertar o telhado da sua casa para o festival, enquanto sua esposa cultivava a horta e cortava a lenha. Eles tinham uma vida na nova cidade, pelo menos, até acontecer o incidente.

Christian concordou.

Ele tinha uma esposa, porém ela morreu no incêndio que pegou os de surpresa. Christian foi rápido em sair da casa, mas a esposa não teve a mesma sorte e um dos suportes do telhado caiu sobre sua cabeça. Ela foi morta incinerada.

Helena e Alessandra entraram na sala na mesma hora, mas ficaram caladas.

Um raio apareceu no céu novamente e iluminou a sala por completo.

Por um segundo, Helena pensou ter visto uma sombra de uma criança atrás da cortina, mas depois ela desapareceu.

***

Nico e Pablo estavam colocando as ovelhas dentro do celeiro quando o raio iluminou todo o seu e eles puderam ver todo o pasto na escuridão. Nico estava na porta do celeiro, fechando uma das portas com a trava por dentro, enquanto Pablo empurrava a última das ovelhas para dentro do celeiro.

– Vamos rápido.

– Calma, esta é a última. – Pablo entra com a ovelha no celeiro e Nico tranca as portas com uma tábua. – Pronto! Agora temos que esperar a chuva diluir antes de podermos sair para fora. Espero que estejam seguros na casa.

É quando uma das janelas do segundo piso do celeiro entra um vento frio que empurra uma tabua de madeira com uma roldana na ponta para o buraco que ia para o térreo. Então, o balde que estava na outra ponta caiu e foi em direção ao chão, assustando os dois rapazes, que observaram o momento em que ele tocou o chão e fez um barulho oco.

Nico e Pablo se aproximam do balde e percebem que ele não estava mais lá.

Retirando a palha, aos poucos, foi-se aparecendo um pequeno buraco. Limpo o chão, eles puderam ver um alçapão. A trava havia sido rompida e, com isso, um simples puxão poderia abrir a porta de madeira.

– O que? É... Uma passagem secreta? – pergunta Pablo.

– Só há um jeito de saber! – Nico olha para os dois lados.

– Qual?

– Entrando! Me passa uma tocha. – Nico estende a mão.

***

Nicholas desceu as escadas e sacou a arma, segurando-a pela mão direita, enquanto ele segurava com a esquerda, uma lanterna, sobre a arma.

Do teto, pingava água e ele sentiu o odor forte naquele lugar.

Estava tudo escuro e ele presumiu que naquele lugar não havia lâmpadas, por causa da água, ou nunca ouve. Ele deu passos lentos e quando terminou de descer as escadas, levantou vagarosamente à lanterna e ela foi iluminando o chão até um colchão queimado. Nicholas se aproximou do colchão, quando tropeçou em algo e caiu no chão.

A lanterna que ele estava em mãos caiu no chão e começou a girar até apontar para o objeto em que o policial havia esbarrado.

Nicholas pegou a lanterna e mirou, quando pensou ver uma mão. Aquilo cheirava a carniça, não tinha dúvidas. Ele se aproximou do objeto e o empurrou com o pé e, para o seu espanto, ele pode identificar um rosto. Era um cadáver.

– Mas que droga! Esse desgraçado não vai conseguir fugir...

Nicholas já estava subindo as escadas quando ouviu um novo barulho vindo do sótão. Ele mirou em direção a parede que ficava em paralelo a cama e não acreditava no que estava vendo. Nicholas pegou o seu walkie-talkie e falou:

– Paul, temos um problema.

***

Nico entrou primeiro e, depois de um tempo, Pablo parou de acompanha-lo na descida da escada e subiu novamente. Ele preferia o conforto das ovelhas.

Nico desceu as escadas verticais retas e, por fim, ergueu uma das mãos e seguiu o seu caminho por um pequeno corredor apertado. Era uma passagem bastante estreita e tinha teias sobre a cabeça do rapaz. Por que nunca ouvi falar delas, pensou.

Quando o corredor acabou, ele pode ver que ela saia em um salão estranho. Ele tentou iluminar as paredes a procura de uma tocha extra para acender, mas para sua surpresa, ele viu uma mancha de sangue enorme e tomou um susto. Atordoado, ele caminhou de costas e chutou algo com o calcanhar. Com a tocha em mãos, ele a abaixou e pode ver o osso do maxilar amarelado com o que sobrara de seus dentes finais. Quando ele iluminou tudo, ele finalmente pode ver o corpo pequeno do que parecia ser de uma criança. Eram apenas seus ossos.

Nico, quando ouviu um barulho, tudo que pode fazer fora soltar a tocha no chão e corre o mais longe possível da luz. Com a mão sobre a boca, ele tentou abafar quaisquer chances de sair um grito involuntário. Estava assustado.

Ele pode ver a hora em que uma perna foi clareada pela tocha que estava caída no chão e ouviu um grunhido. Era um riso. Então... Aos poucos, a luz se apagou.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Espero que tenham gostado do capítulo, porque os próximos capítulos investigativos seguiram a mesma dinâmica. Ora a investigação principal, ora a trama da peça que a Ellen assistia no notebook.



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