A Face Oculta Da Lua escrita por Lady Salieri, Nami Otohime


Capítulo 7
Capítulo 6: A face oculta da lua


Notas iniciais do capítulo

Cenas anteriores:
(No templo Hikawa)
Lyene pulou em cima de Lita:
- O gato!!! Ele falou!!!
Luna olhou em sua direção:
- Não tinha dito que eram do milênio?
- A outra também!!!! Meu Deus!!!
Takeo começou a rir:
- É que ela não se lembra, mas não se preocupe que ela acostuma...
- É muito familiar sua fisionomia também... Como se chamam? - Continuou a gata.
- Eu sou o Takeo e ela é a Lyene...
- Não, não me lembro, mas sinto como se alguma coisa estivesse bloqueando minha memória - Luna voltou a dizer.
- Não se preocupem, - Takeo disse olhando para Lyene - tenho certeza de que vão se lembrar, fiquem tranquilos - colocou os gatos de volta no chão.
Lyene ainda estava grudada em Lita.



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Sentaram-se todos nos degraus do templo.

- Acho pertinente continuarmos nossa conversa - disse Ami se virando para Takeo - você nos tinha dito algo sobre um cristal da passagem.

- Sim, é essa pedra que está pendurada no meu pescoço e no de Lyene, e também há a de Mihara, minha namorada.

Lyene olhou-o algo aturdida, mas seu semblante foi ofuscado pelo comentário de Lita:

- Ah, você também tem namorada? – Disse com o coração partido.

Todos ficaram com uma gota na cabeça. Takeo pigarreou:

- Continuando: Serenity forjou esse cristal de modo a poder controlar a entrada dos seres na Lua. Daí partiu-o, dando uma das partes à Lyene e a outra a mim. Nossa missão era proteger o palácio, além de funcionarmos como comandantes das forças armadas, ou exército do reino, como preferirem. Lyene era responsável pelos soldados de ataque, os falangistas, eu e Mihara responsáveis pela defesa, os hoplitas. Seguíamos o modelo grego de batalha, já que não tínhamos muitos recursos bélicos. Bom, mas a questão é que era teoricamente impossível entrada ou saída de qualquer ser na Lua sem passar por pelo menos um de nós.

Lyene olhava-o, sentindo os ocos em sua explicação:

– Comandar as forças armadas eu entendo perfeitamente, - e esta era só uma das vaguedades que ela via - e acho um trabalho muito nobre, que me deixaria honrada em fazê-lo. Mas ficarmos três pessoas de recepcionistas de um palácio, isso não faz o menor sentido.

Ele sorriu:

- Acho que você está começando a entender.

- Entender o que? - Lyene voltou a dizer.

- Você ainda vai descobrir... - Takeo respondeu ainda com o mesmo sorriso.

- Então vocês podem visitar o Milênio quando desejarem? - Perguntou Lita.

- Sim, desde que estejamos os três juntos.

Lyene não disse nada.

- Deixe-me entender. Quem conseguir pegar esses três cordões terá o cristal da passagem e poderá transitar entre a Terra e o Milênio, e não mais que isso. - Disse Ami

- Exatamente.

- O que não faz nenhum sentido, afinal, em tempos presentes, por que alguém iria querer conquistar um reino em ruinas? – Perguntou Darien.

Takeo assentiu, gravemente, acenando vagarosamente com a cabeça:

- É uma questão que já me fiz, alteza, e, definitivamente não sei a resposta. A única coisa que sei é que os nossos colares dariam a essa pessoa o acesso ao Milênio. Penso que haja ainda alguma coisa valiosa por lá. Inclusive, fico pensando se seria o cristal de prata...

- Não. Este está sob o poder da Serena. – Disse Mina.

Takeo respirou profundamente aliviado.

- E onde está Mihara? - Perguntou Lyene, séria, e Takeo se assustou com a pergunta.

- Comandante, falou agora como se se lembrasse de tudo.

Ela abanou a cabeça numa negativa:

- O fato é que se ela tem um cordão e Kitty o roubar, essa pessoa para quem ela trabalha estará um passo mais perto de ter o que quer.

- Sim, mas os três colares não funcionam separados. De todas as formas eu não sei onde Mihara está. Venho procurando-a há tanto, tanto tempo... E mesmo Tóquio é muito grande.

- Ah, mas você me achou, vai achá-la também.

- Assim espero, estou morto de saudades... - disse distante.

Lyene pigarreou, tirando-o do seu transe, mas não disse nada. Sentia-se estranha, como dando-se conta, ali, naquele momento, dos cacos de algo quebrado dentro de si. Pelo incômodo, parecia se tratar dos pedaços de algo importante.

Ele se levantou. Ela se levantou atrás dele.

- Bom, por enquanto é isso. Manteremo-nos em contato. Agora eu preciso ir. Estou de mudança.

- Eu te acompanho - disse Lyene.

- Esperem - disse Luna - levem este comunicador, ficará mais fácil nosso contato.

Luna virou cambalhotas no ar e o comunicador caiu na mão de Lyene, que olhou o aparelho, receosa.

- Obrigado, Luna - Ele agradeceu -. Vamos, chefe. Tchau, pessoas, a gente se vê por aí.

Lyene guardou-o na pasta e foram andando.

- Se você me deixasse lá, sozinha, eu juro que te matava - disse ela quando saíram do templo.

- Não ia fazer isso, mas você nem esperou eu te chamar.

- Sei, se eu deixasse era bem mais certo você chamar a Lita que a mim.

- Ah, é assim? Pois bem, eu pensei que você iria ficar muito mais satisfeita com a companhia do Darien...

- Ah, Takeo, cala a boca. Se o Darien estivesse sozinho eu até poderia COGITAR isso, mas com a Serena de brinde, não, obrigada.

- Pois é, viu, ganhei de você. Nem se a Lita estivesse nua na minha cama eu ia preferir a companhia dela à sua...

Ele colocou o dedo indicador no queixo, revisitando sua consideração:

- Se bem que ia ser difícil recusar... Não, ia ser realmente muito difícil recusar...

Lyene deu um tapa na nuca dele:

- Palhaço!

Takeo gemeu pela ardência do tapa, mas começou a rir alto logo em seguida:

- Isso, bate em quem te ama. Fazendo uma declaração dessa e é assim que você me retribui?

- Queria que eu te desse um beijo na boca depois de você dizer que seria muito difícil recusar a Lita? Como a Mihara te aguentava?

- Hummm... Gostei da idéia do beijo... Pode ser agora?

- Takeo, vá pra...

- Já sei! Daqui a pouco eu vou... Posso ir depois do beijo.

- Vai beijar a Lita.

Ele ficou rindo. Lyene estava séria.

Chegaram à porta da casa do Andrew.

- Vou pegar minhas coisas, você me espera?

Lyene assentiu.

- Mas pelo menos entra. A casa não é minha, mas é quase como se fosse – convidou ele.

- Por favor, não... Eu sempre evito entrar na casa do Andrew.

Ele começou a rir:

- Eu compreendo, princesa. Volto em um minuto.

Lyene sentou-se no degrau da porta. Mihara... Este nome remetia a bons sentimentos... Ela tinha certeza de que era a garota de cabelos vermelhos que vira nos seus sonhos, morta, e que lhe fizera perder as forças e a sanidade. Namorada do Takeo... Isso lhe soava opaco. E soou ainda mais quando ele disse que tinha saudades dela... Por quê? O que significava tudo isso?

Ela já estava ao borde do abismo, quando escutou a porta se abrir. Despertou-se diante da visão deTakeo saindo com uma mala menor do que ela esperava. Levantou-se, batendo a poeira da calça:

- Só isso?

- É, o suficiente - disse sorrindo. - Vamos?

- Nossa, pensei que ia te ajudar com alguma coisa... Pensei que você ia esparramar um monte de coisa na minha casa.

- Surpresa. Vim sem nada de Londres*. E não é que seja animador comprar qualquer coisa pra colocar na casa do Andrew. Talvez eu tenha um presente pra você dentro da mala, vamos ver se eu acho quando chegarmos.

Saíram novamente.

Ficaram calados por um tempo até que Takeo quebrou o silêncio:

- Não ficou chateada comigo, não é?

- Não, eu nem te levo a sério...

Ele riu:

- Menos mal... Ainda mais porque eu estou muito contente de poder morar com você. Não imagina o quanto! Podemos ser uma família de novo. E quando encontrarmos Mihara vai ser tudo completo outra vez nas nossas vidas, até melhor que antes...

Ela sorriu em solidariedade. Realmente parecia o certo a se fazer:

- Também fico contente em não estar mais só. Pelo menos agora não vou passar às tardes conversando só com as plantas.

- Se você me deixasse, te ergueria no colo agora e daria voltas com você.

Ela olhou-o de esguelha:

- Ainda bem que você já sabe que não vou deixar.

Passavam pelo parque, distraídos cada um com seus pensamentos, quando uma garota veio cambaleando até Takeo e caiu desmaiada. Tinha um pequeno algodão no braço que Lyene imediatamente tirou e viu uma pequenina mancha de sangue. Eles se olharam e antes que pudessem falar qualquer coisa, avistaram pessoas caídas parque afora.

Lyene ergueu os braços numa interrogação:

- Droga! Não posso ligar pra uma ambulância porque pode ser o hospital que está fazendo isso com eles... O que eu faço?

- Também não sei. Mas eu tenho uma intuição de que se seguirmos este rastro de gente caída, chegaremos até Kitty.

- E estamos esperando o quê?

Lyene ligou o comunicador e Lita respondeu.

- Está havendo umas coisas estranhas aqui perto do parque. Há algum hospital, posto de saúde, por aqui?

Lita fez com que um radar aparecesse no pequeno visor do aparelho de Lyene e lhe mostrou que a duzentos metros do parque havia um pequeno posto de saúde.

Lyene e Takeo foram correndo pra o lugar indicado, e antes de chegar já puderam avistar uma fila enorme de gente.

- O que é isso? - Perguntou ela.

- Hoje é dia de vacina contra a gripe - disse uma velhinha.

Lyene balançou a cabeça numa negativa. Correu para dentro do posto e viu Kitty vestida de enfermeira com uma seringa na mão, esperando o próximo paciente.

- Dia de vacinação contra a gripe... - Disse Lyene com a mão na cintura.

Takeo fechou as portas em meio às reclamações dos que esperavam lá fora.

- Fiquei bem de enfermeira, Takeo?

- Você ficaria bem até de bombeiro, Kitty, de policial, de jardineiro... - Disse ele sorrindo.

Lyene cerrou as vistas:

- Ai, não, Takeo, que nojo!

Ele sorriu para Lyene, voltando a encarar Kitty outra vez:

- Mas depois a gente conversa isso... Kitty, não posso deixar você cometer mais crimes contra as pessoas, embora eu não saiba exatamente o que você esteja fazendo... - disse meio receoso.

Neste momento as Sailors apareceram, juntamente com Tuxedo Mask.

- As pessoas dão o sangue para viver, maligna, e você não vai tirar isso delas - Serena gritou, dançando uma coreografia que terminou com o dedo apontado para a vilã.

Kitty, Lyene e Takeo ficaram com uma gota na cabeça...

Serena voltou a dançar:

- Somos guerreiras que lutam pelo amor e a justiça! Somos o sailor team e puniremos você em nome da lua!

Kitty levitou e lançou um raio na parede abrindo um portal de onde saíram uns zumbis. Estavam como que em decomposição. Serena saiu correndo e gritando e se escondeu atrás de Tuxedo Mask.

Lita tomou a frente e deu um soco no que deveria ser o estômago de um, mas sua mão atravessou-o e ela a tirou rapidamente, sacudindo os vermezinhos que grudaram nela. Deu um grito de nojo.

Takeo fez uma careta:

- Por Deus, Kitty! Não tinha nada melhor, não?

Kitty olhou as unhas:

- Não. Hoje eu não tenho humor para aturar vocês...

Os zumbis continuavam a avançar e a sair da porta aberta por Kitty.

- Eu que não encosto nisso – disse Takeo entre uma careta de asco.

Ele colocou a mão aberta, a palma de frente para o cordão, e no mesmo momento uma luz prateada rodeou seu dedo polegar transformando-se em um anel que possuía o emblema da lua nova. Ele, então, girou a mão, deixando o polegar na altura da testa, e uma lua crescente se refletiu aí transformando-se logo em uma lua nova nos feixes que piscavam. Takeo jogou a mão bruscamente para o lado, e nesse momento feixes de luzes saíram do seu anel e rodeou-lhe dando um terno semelhante a um uniforme pirata, todavia branco. O último feixe de luz enrolou na sua mão e se transformou em um chicote.

Lyene olhou aquilo tudo atônita. Deu dois passos para trás e se esbarrou, ombro a ombro, com Tuxedo Mask. Imagens atrás de imagens vieram à sua cabeça em uma velocidade incrível, o filme da sua vida passando num minuto, em que ela era agente e espectadora ao mesmo tempo... Diante disso, sua mente clareou completamente e ela não mais tinha espaços em branco... Respirou fundo, concentrou-se murmurando baixo uma invocação, e Kitty olhou-a boquiaberta. O portal se fechou. Takeo lançou seu chicote no ar e os zumbis se esfacelaram em bichinhos que viraram pó no chão.

Kitty piscou duas vezes:

- Eu esqueci como se abre o portal... Lyene, maldita, é você...

Lyene caiu ajoelhada no chão, sentia-se quase completamente drenada, sabia que não devia fazer isso...

- Só não consegui mais porque você percebeu.

Takeo olhou-a, percebendo que ela se lembrara:

- Comandante! Hoje é o dia mais feliz da minha vida na Terra! Daria-te um beijo se me deixasse, acredita?

- Não me chama disso, Takeo, e me ajuda a me levantar...

Enquanto todos se voltavam para Lyene, Kitty abriu um buraco negro no ar e desapareceu.

Lyene se levantou apoiada em Takeo e se deram conta de que Kitty se tinha ido:

- Ela escapou... – disse Lyene chateada.

- Sim, mas você está melhor? - Disse Takeo.

- Até agora não entendi o que aconteceu - disse Ami.

- Nós nos retiraremos agora, sugeriria que fizessem o mesmo, de modo a aproveitar o resto do dia - disse Lyene deixando os demais inquietos pela diferença do jeito de conversar.

- AI, MEU DEUS, MINHA PROVA É AMANHÃ!!!– Serena olhou o relógio e viu que estava tarde.

Quando a turma virou para se despedir dos dois, eles também desapareceram.


Takeo e Lyene saíram despercebidamente por uma janela, saltando os tetos das casas e os edificios mais baixos.

Quando chegaram, Takeo havia revertido a transformação.Ela, por sua vez, desvencilhou-se dele e deitou-se nas almofadas. Takeo aproveitou para colocar a mala sobre a chabudai:

- Você está bem? – Perguntou ele.

- Nem um pouco, Takeo, - respondeu ela, deitada nas almofadas, de olhos fechados - me sinto extremamente cansada, tonta e enjoada. Minhas lembranças da vida na Terra e da vida na Lua se chocam como se eu fosse duas pessoas diferentes. Além do mais, me sinto presa no corpo desta menina que mal termina de se formar.

Lyene ergueu os braços, para olhá-los:

- Nem parece que sou eu.

Takeo acomodou-se ao lado dela:

- Eu te entendo perfeitamente, chefe. Passei minha vida inteira me sentindo da mesma maneira. Mas o tempo na Terra passa muito mais rápido, mal tenho 18 anos e me sinto homem feito.

Lyene virou-se e olhou-o. A proximidade com ele a relembrava os melhores e piores momentos da sua vida. Seus olhos gentis eram quase um convite a esperanças... Ela quis muito que ele a abraçasse naquele momento, mas não teve coragem de mover um músculo sequer. Permaneceram se olhando em um silêncio que Lyene interpretava como uma profunda forma de respeito ao passado. Assim... Talvez algumas coisas se acomodavam melhor na memória em um baú no inexprimível.

- Não acha interessante que nossos colares tenham voltado pra nós? – Disse ela desviando o olhar para a própria pedra.

Takeo, por fim, sentou-se:

- Não deixa de ser... Acho que a força terminou buscando os próprios donos... Você não acha impressionante que tenhamos a mesma aparência da nossa vida anterior?

- E igualmente não deixa de ser impressionante como, em tão pouco tempo, tudo caminhou para equivocar-se. Como se o Negaverso tivesse que nos ter atacado...

- Agora, a pergunta crucial, mocinha, você atacou todo mundo e se auto-atacou, não foi?

Ela abaixou, de modo a desviar o olhar dele:

- Foi. Ia morrer... Ademais, Serenity queria que todos recomeçassem a vida do zero. Não sei, de repente pareceu-me justo.

Takeo franziu o cenho:

- Espera, você falou com Serenity antes de morrer?

- É... Eu não morri na grande guerra, Takeo. Fiquei muito ferida, mas, imagina, tive a “maravilhosa” oportunidade de ver as ruínas do meu reino. Busquei pela rainha e ela estava deitada em uma pedra, revelando-me seus últimos desejos...

Os sonhos de Lyene faziam as lembranças mais vívidas, quase passíveis de serem tocadas. Entretanto jamais se esqueceria de qualquer detalhe daquele dia tão terrível. Duas lágrimas brotaram no canto dos seus olhos, mas ela não as deixou cair:

- A rainha disse que queria que todos pudessem viver em paz e felizes na Terra, no futuro. Usou suas últimas forças para salvar os espíritos dos habitantes do Milênio, e a mim me pareceu que deveria honrar-lhe seu último desejo, então também usei minhas últimas forças para apagar qualquer reminiscência dos selenitas sobre vida na Lua.

- Nossa, não podia sequer imaginar isso.

– É, agora tenho bem nítida a visão sua e da Mihara mortos, e da minha loucura e da minha cegueira... Não acha que esquecer era um bom remédio?

- Neste caso, sim, eu acho. Mas por que diabos EU me lembro de tudo???

Lyene continuou com a cabeça baixa:

- Não faço a mínima idéia - disse não fazendo muito caso – talvez a minha invocação não tenha sido tão eficiente.

- Foi por causa...

A voz de Takeo sumiu por um momento, as palavras deixaram de aparecer-lhe na cabeça:

- Ah, é difícil falar disso... Mas você não queria que eu esquecesse? Acha que... Que deveríamos falar sobre? – Tinha o olhar agudo e genuinamente preocupado.

Lyene franziu o cenho entre furiosa e assustada por ter de entrar em semelhante assunto o qual não queria sequer nomeá-lo:

- Lógico que... Não! Você era o primeiro que eu queria que esquecesse... E, não, não acho que devemos falar sobre isso, afinal, aquele dia foi tão absurdo que se não o tivéssemos vivido, teríamos nossa sanidade e não teria acontecido nada como aconteceu.

Ele não disse nada e Lyene ficou feliz pelo fato de ter aceitado sua resposta, aparentemente.

- Agora só falta achar a Mihara - ele disse olhando o próprio cordão -, e a gente vai poder viver feliz aqui também.

Lyene fechou os olhos. Ele a amava de verdade. Queria muito encontrar a amiga e não ficar sozinha com ele.

- E o que você vai fazer com relação ao Darien?

Ela riu:

- Não é que aquele desgraçado estava mesmo certo? Sinto que nos tornamos bons amigos. Precisou daquele dramalhão pra ele me dizer isso e fico surpresa que ele estivesse certo. As circunstâncias são outras. Ironicamente estamos TODOS na Terra... Até ele se lembrar, nada muda pra mim. Depois disso não sei, vai depender dele. E o presente dele realmente me serviu, o que teria sido de mim sem a Fragarach**? Queria que a espada me fosse dada em outra circunstância, isso sim, numa em que eu pudesse ganhar.

Levantou-se, como que para espantar toda a escuridão que ameaçava abraçar-lhe naquele momento:

- Vou preparar alguma coisa pra gente comer.

- Não, deixa que eu preparo hoje, pra comemorar a sua volta. Faço um yakisoba – propôs ele.

- Maravilha, então.

Ela deitou-se na poltrona, apoiando as pernas no braço do estofado e ligou a TV, ainda que o exibido na tela fossem todas as lembranças que, naquele momento, sabia porque quis esquecer.

Takeo estava picando as verduras quando a viu sorrir sozinha, do nada, deitada na poltrona. Como o noticiário que via não parecia nada engraçado, perguntou:

- O que foi?

- Serena, afinal de contas, era a Sailor Moon, a suposta guerreira dos boatos da cidade baixa. Daria pra imaginar? Com essa ela me enganou... Inacreditável...

Takeo sorriu:

- Enganou-nos a todos. Há de se reconhecer isso.

- Eu devia ter pensado que, como Endymion tentava se disfarçar para entrar no Milênio, com aquele smoking ridículo, ela fazia o mesmo para ir a Terra. Eu sempre via uma sailor se esgueirando para lá e para cá, mas sempre pensei que se tratava de algo tão insignificante quanto elas.

Takeo balançou a cabeça em uma negativa.

- Ela acertou bem a sua fraqueza.

- Inegavelmente verdade.

- E como fica sua situação agora, falando nessas coisas?

- Ah, acho que isso é o que menos importa. Na verdade, tudo o que importava já não importa mais... Aqui sou só Lyene, sem prefixo ou sufixo. Soa interessante. E o senhor pode deixar de me chamar de comandante, ou de chefe, e me tratar por meu nome.

- Soa estranho... Pra mim.

E realmente soava. Tratá-la assim,intimamente, ela sabendo quem ela era,  propiciava um tipo de proximidade para a qual não se sentia preparado, em absoluto.

Lyene virou a cabeça na direção dele, com um aspecto entristecido. Encontrou-o de cabeça baixa, picando, demasiadamente concentrado, as verduras. Respirou fundo e não disse nada. Não havia nada pra dizer.


Serena fingiu que estudou à tarde e aproveitou a noite para passear no shopping de Juuban com Darien e Mina, que os encontrou durante o passeio. Darien não se aguentava de tanto andar:

- Vamos nos sentar um pouco - propôs já apontando um lugar disponível.

Sentaram nuns banquinhos em frente a uma loja de sapatos.

- Gente, Takeo estava com um uniforme muito diferente. E aquela transformação, é muito familiar... – Disse Mina.

- Aqueles dois são muito estranhos! Até hoje acho que eles são inimigos! E ponto. – Concluiu Serena.

- Longe disso... - Disse Darien completamente distante.

- Como assim? O que eles são, então? - Perguntou Serena...

- Não sei, mas só acho que eles não sejam inimigos. E também não devemos nos esquecer de que são do Milênio. – Ele desviou-se da resposta.

- Eu não consigo vê-los em nenhum lugar - comentou Mina.

- Nem eu... Para aparecerem tão pouco assim e a gente não lembrar, só podem ter sido os faxineiros do palácio!

Darien engasgou com o próprio ar. Mina ficou com uma gota na cabeça.

- Como faxineiros podem ter tanto poder, Serena? Eles sumiram do parque num passe de mágica. – Disse Darien.

- Ah, é mesmo, me esqueci disso. – Disse sorrindo com a mão atrás da cabeça - Ah, mas que assunto mais chato, vamos andar, eu quero ir ao Mac Donald's.

Darien se levantou querendo estar bem longe dali, Serena o abraçou e foram andar mais um pouco.


(FIM DO CAPITULO 6)


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Notas finais do capítulo

* Londres: Eu sei que anteriormente eu escrevi que ele vinha dos States, mas creio que Londres me dá uma deixa interessante para trabalhar com Mina mais adiante. Assim que, por favor, desculpa o inconveniente, e vamos pensar, a partir de agora, que Takeo esteve em Londres hehe.
** Fragarach: Na mitologia irlandesa, Fragarach, conhecida como 'A Solucionadora' ou 'A Retaliadora', foi a espada de Manannan mac Lir e Lugh Lamfada. Forjada pelos deuses, Manannan a manejou como sua arma antes de passá-la para Lugh (seu filho adotivo). Foi dada a Cúchulainn por Lugh, e mais tarde para Conexão das Cem Batalhas. Foi dito que ninguém poderia contar uma mentira com Fragarach em sua garganta, daí o nome 'Solucionadora'. Também foi dito (dela) colocar o vento no comando de seu usuário e poderia passar por qualquer escudo ou parede.