A Face Oculta Da Lua escrita por Lady Salieri, Nami Otohime


Capítulo 23
Capítulo 13: Planeta Júpiter na casa 6 (parte III)


Notas iniciais do capítulo

Gente, não é atualização, eu só decidi cortar o capítulo em três partes ao invés de duas, pelo tamanho mesmo^^. Desculpem-me^^



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Lita virou-se e voltou para dentro. Encontrou Andrew deitado no chão com os braços estendidos e o olhar fixo no telhado. Somente seu corpo estava ali. Ela fechou a porta de forma ruidosa, e ele, ao escutar esse som, voltou-se para ela, deitando de lado, encurvado. Lita sentou-se ao seu lado, apoiando o cotovelo na mesa e olhando diretamente pra ele.

– Muitas recomendações da parte de Lyene? - Ele disse entre um sorriso triste.

– Muitas... - Ela lhe sorriu.

Permaneceram em silêncio uns instantes. Andrew mirando-a, um sequencia de acontecimentos cruzando-lhe a mente, todas envolvendo a figura da garota diante de si. Todas elas envolvendo especialmente o dia em que Wanda se fora. Sentiu o coração estalar, mudo, bombeando uma dor oblíqua para todas as suas veias. Não era nada imprevisível, essa dor, obviamente. Tinha plena consciencia do quanto a amava e dos planos que fizera para um futuro que agora se esfarelava entre os dedos...

– Andrew, talvez eu seja a pessoa que mais pode entender a dor pela qual você está passando agora...

Ele ergueu o olhar um pouco surpreso. Que uma menina feito ela poderia entender de decepções?

Levantou as costas do chão, sentando-se ao seu lado, encostando seu ombro no dela. Lita sentiu o coração engasgar. Era incrível como a presença dele e nada mais podia desestabilizá-la daquele jeito.

– E em que você apoia esse sorriso tão lindo, mesmo à custa de tanta mágoa?

– Hmmm... Na constatação inevitável de que a vida continua. Na esperança nisso de que o melhor está por vir...

Andrew sorriu, surpreso. Colocou os braços na chabuddai, bem próximo às mãos dela:

– Mas você é muito novinha, tem muitos anos pela frente ainda...

– E você fala isso como se fosse muito velho, não é?

Ele riu:

– É verdade... Será que posso me apegar a isso? É uma maneira muito nobre de encarar a vida.

– Não tenho problemas em te emprestar meu modo de ver as coisas - respondeu com um sorriso, feliz, de fato, ao ver como era estar presente um grande momento da própria vida.

Levantou-se quase em um pulo, assustando Andrew:

– E sabe o que é muito bom para arejar a cabeça? – Disse estralando os dedos.

– O quê...?

– Arrumar a casa - chocou as mãos, convidando-o a se levantar.

– Não, Lita, definitivamente não estou animado... – Disse manhoso.

– Ah, não seja tão preguiçoso, vamos!

Ela ajoelhou-se por trás dele, cruzando os braços na altura de seu peito e obrigando-o a se levantar. No entanto, o que era para ser uma brincadeira, terminou por afoguear-lhe a face, nem tanto por sentir Andrew enlaçar as mãos dele por cima das suas, mas por notar, com uma nuance quase poética, o sorriso despreocupado que se lhe amanhecia no rosto. Por um pequeno, quase despercebido instante a tempestade de foices e raios havia se dissipado completamente de seus olhos, e isso já valeu a pena tudo o que ela nem podia mais imaginar. Ele se desenlaçou, delicadamente, dos braços de Lita e levantou-se, por fim:

– Pois, se vai ser bom para mim, vamos arrumar a casa, então.

– O único lugar que eu vou perdoar, por enquanto, será seu quarto - ela disse tentando parecer natural, ao falar de um assunto delicado.

Ele ergueu as sobrancelhas, obscurecendo outra vez o semblante:

– Pois eu acho que meu quarto é o lugar que mais precisa ser... Hmm... Arejado - disse tentando nao se abalar por isso.

Lita deu leve batidinhas em suas costas, obrigando-o a se mover:

– Pois então vamos logo!Se eu terminar cedo, prometo cozinhar algo bem gostoso para comermos.

– Ok. Gostei da motivação. Vamos fechar com chave de ouro.

****

Takeo ajudava Mihara com as sacolas de compras. Pararam na calçada, de frente ao mercado:

– Meu motorista já deveria estar aqui... Ele sabe que ainda no fim da tarde, eu tenho um ensaio fotográfico.

– Uau, você tem até motorista...

– Infelizmente, ainda não tenho idade para dirigir...

– Eu sei. Você e Lyene têm a mesma idade, ainda que pareçam tão diferentes.

Ela ergueu uma sobrancelha, talvez bruscamente se ele tivesse prestado atenção:

– Você sempre arruma um jeito de falar nela...

Ele franziu o cenho, pensando no que havia dito:

– Sério?

– Sério...

– Talvez porque eu quero criar oportunidades para que você se lembre de tudo... - mentiu, descaradamente.

– Olha, não sei se isso é possível, mas mostrar objetos, figuras que pertenceram a essas lembranças, pode me ajudar.

Takeo semicerrou os olhos, tendo uma ideia logo em seguida:

– Lyene tem uns livros de mitologia celta em casa. Ela sempre os consulta quando precisa de respostas. Será que poderia te ajudar?

Ela assentiu, animada.

– Mas e seu motorista?

– Pois, ele que me espere...

– Bom, então vamos.


***

LYENE!

Ela parou, respirou fundo: havia gente gritando por ela demais nesse dia. Virou-se na direção da voz de Endymion.



(FLASHBACK)



– Lyene... - Endymion, disfarçado com seu traje de gala e máscara, curvou-se surpreso diante dela, que não usava seu costumeiro uniforme, mas um vestido que oscilava entre o branco e o cinza, cuja saia levemente rodada quase sibilava ao movimentar-se no vento.

Ela olhou-o gelidamente, acompanhando a tonalidade do vestido, suprimindo qualquer traço de nervosismo sobre aquela situação tão angustiante.

– A quanto está o exército de Beryl daqui?

– Não muito longe, eles avançam rápido, descobriram a subtração de vosso posto...

– Como se isso fizesse meu poder sobre a guarda diminuir muito.

– Mas eles sabem que vossa excelência tampouco é capaz de grandes movimentações.

Ela abaixou a cabeça, apertando os olhos cuidadosamente contornados:

– Não... Mas isso não me impede de colocar os que ainda me seguem em posições estratégicas... Crês que não haverá sequer tempo de o baile terminar?

– Seguramente, não.

Ela virou-se, ficando de costas para ele e apoiando a mão no pequeno muro para a olhar o lago:

– E o que fará vossa alteza? Mantém-se a mesma promessa?

– E como poderia dar-lhe mais provas?

Ela aproximou-se dele excessivamente, quase encostando os lábios em seu ouvido. Endymion viu Serena nela, no entre o tecido do decote e a alvura do ombro desnudo. Ele abaixou a cabeça, aspirando seu perfume dela... E aquilo doeu como nunca, o futuro cada vez mais iminente e aterrorizante.

– Aqui está o plano: Como tal entrarás disfarçado. Darei o sinal de que há um intruso no baile, isso me dará oportunidade de escapar e posicionar a guarda. Tu faças o que tem de ser feito e... - a voz embargada não permitiu-lhe seguir o raciocinio.

Deu de ombros seguindo em direção aos guardas que a procuravam desesperadamente por have-la perdido de vista.

– ...e vai ser uma honra lutar a seu lado, alteza.

Ao escutá-lo, ela virou-se súbito, os olhos arregalados em pura surpresa. Como...?!

Porém ele não viu sua face empalidecer, já havia se envolvido em sombras e desaparecido dali.



(FIM DO FLASHBACK)



– Endymion.

Ele sorriu. Ela sempre colidindo o passado no presente:

– Você está pálida. Aconteceu alguma coisa?

– Não... E o não igualmente me preocupa.

– Você diz isso em relação aos ataques?

– Não te parece estranho que o último tenha acontecido há dias?

– Sim, claro.

– E isso pode ser a preparação para um ataque maior. E temos de atacar o ataque, para sermos efetivos.

– E como você pretende fazer isso?

– Venho algum tempo mapeando possíveis esconderijos do negaverso. Tenho 4 ou 5 mais prováveis. Com o cristal de prata podemos verificar essas possibilidades.

Darien olhou-a, surpreso:

– E eu poderia ver esse mapa?

– Claro, está em minha casa.



***

Estava difícil para Takeo manter o controle diante da figura de Mihara. Não bastava o short curto, Mihara mantinha as pernas abertas, encostada nas almofadas e com os cotovelos apoiados nas coxas para segurar o livro. Takeo não conseguia desviar os olhos do contorno 
interno de suas coxas, o mesmo que havia percorrido tantas vezes com todos os seus sentidos. Fechava os olhos, tentava por atenção em sua expressão concentrada, mas voltava o olhar para onde não devia, transtornado por reprimir a excitação cada vez mais intensa. E, para deixá-lo mais consternado, de vez em vez, Mihara balançava as pernas, roçando a coxa no braço que ele mattinha ao lado do corpo, as mãos apoiadas no chão... Ele respirou fundo para tentar despertar daquele transe, mas a presença dela tomara todo o ambiente, perfumando o ar, distorcendo-o...

Ela virou-se para ele, apontando o dedo a uma figura do livro. Takeo pensou que ela havia dito algo, mas ele não conseguia escutar direito, tinha os olhos fixos, naquele momento, no decote dela. Sentia-se asfixiado, o ar impregnado de alguma coisa diferente. Então, não sabia bem se ela estava avançando sobre ele, ou se era ele quem estava aproximando-se dela, as imagens já iam adiantadas em sua mente, a mão cortornando suas formas, os dedos dançando por cima do short...

Foi essa a cena com a qual se deparou Lyene e Darien ao abrir a porta. Takeo, ao virar os olhos em direção a ela, jogou as almofadas sobre si como conseguiu. Sentia-se excitado e sua figura não estava 
absolutamente apresentável. Mihara simplesmente sentou-se novamente, sem apresentar constrangimento.

Lyene, por sua vez, nem sequer ergueu uma sobrancelha. Ainda que, por dentro, tudo o que ela não sabia que existia estivesse destruído, aquela cena era quase um presente que tinha de ser. Uma parte de si aprovava todo o acontecido, mas por que essa parte parecia tão transparente, tão pouco densa em um momento tão importante? Mil lembranças cruzavam sua mente de diversas direções, sem ela saber qual escolher, qual observar, em qual se apegar...

Darien observava-a de perto. Via com clareza a melancolia secar-lhe a expressão. Arrependeu-se por haver-lhe feito ir até lá.

– Desculpa, eu não queria atrapalhar vocês. Não sabia que estava aqui, Tariame - ela disse, serenamente, curvando-se em cumprimento à amiga.

– Como nos atrapalhar, Lyene? De jeito nenhum! - Ela disse com um grande sorriso - Takeo estava me mostrando seus livros. De acordo com ele, seria bom que eu me lembrasse de tudo rápido. O que você acha?

– Acho que ele tem toda razão. Sua pulseira está contigo?

– Está, sim! Vou protegê-la com minha vida!

Lyene assentiu somente. Havia algo invadindo-a e ela não sabia bem distinguir, algo úmido e sombrio como os vales que escondiam o castelo de Beryl, em épocas longínquas.

– Eu... - Sentiu a garganta vacilar. Mas, que diabos...?!

Pigarreou:

– Eu só vim pegar... umas coisas para sair com Darien e as meninas - mentiu.

Takeo franziu as sobrancelhas:

– Pra onde?

– A gente ia patinar, quando nos encontramos - Darien disse.

Lyene ficou com uma gota na cabeça. Se ela soubesse do programa, teria inventado outra coisa.

Takeo imediatamente percebeu algo estranho:

– Patinar? Não era você que dizia que patinar era um esporte para as senhorinhas da corte?

– Bom, que seja. Tanto faz... - Deu um salto e pegou uma pequenina bolsa de dinheiro no armário da cozinha - Fiquem bem vocês dois, e podem continuar o que estavam fazendo, eu estou de saída.

– Lyene - Takeo finalmente levantou-se, visivelmente preocupado.

Mas ela apenas levantou a mão acenando em despedida e saiu arrastando Darien, sem olhar para trás.



(FIM DO CAPÍTULO 13)


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Notas finais do capítulo

Bom, gente, é isso, espero que tenham gostado. No próximo, um capítulo dedicado à nossa querida Sailor Marte, vamos lá!