A Face Oculta Da Lua escrita por Lady Salieri, Nami Otohime


Capítulo 18
Cap. 11: O brilho hipnótico da lua crescente (II)


Notas iniciais do capítulo

Cenas anteriores:
Takeo pegou o pacote com as sobrancelhas erguidas. Abriu-o, vendo que se tratava de um cupcake de chocolate, enfeitado com várias estrelas confeitadas que rodeavam uma bala em forma de lua. Fez-lhe uma ligeira reverência:
Obrigado, princesa. Espero poder retribuir um dia.
Você pode fazer isso começando por me chamar de Serena. Disse sorrindo Agora, sim, acho que a gente pode ir. Espero que você fique bem.
Darien acenou-lhe com a cabeça em despedida e Serena devolveu-lhe a reverência que ele fizera, tomando de novo o braço de Darien e saindo com ele.



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Takeo sentou-se na sala de espera, encarando aquele pacotinho tão excêntrico como a situação pela qual passara minutos atrás. Havia visto a Serena de antes que ele nunca conhecera e pareceu-lhe uma coisa tão descabida, sendo tão oportuna! Sorriu girando o pacote nas mãos. Em seguida meteu-o em um dos bolsos da camisa e levantou-se, de modo a procurar por alguma informação sobre Mihara. Terminou encontrando-se com Ami nos corredores e a garota ajudou-lhe a buscar um médico. Ami, vendo-o um pouco abatido, adiantou-lhe que Mihara estava fora de perigo, em observação apenas pelo estado de choque, informação imediatamente confirmada pelo médico, instantes depois:

– Ela está descansando, mas você pode vê-la se quiser – disse o clínico geral.

– Eu gostaria muito, por favor.

– E eu deixarei vocês, então – disse Ami –. Preciso ir ver a minha mãe e explicar a ela o que aconteceu e de quem se trata.

– Obrigado, minha linda, de verdade, obrigado.

Takeo tomou a mão de Ami, beijando-a. Ami corou, enquanto ele virava as costas e acompanhava o médico.


Serena saiu saltitando pelas escadas, enquanto Darien permanecia um pouco mais atrás, observando-a. Não cabia em si tamanho era o orgulho sentido pelo que ela havia feito há poucos instantes, com Takeo. Era surpreendente como ela lidava com certas situações, mas de uma surpresa boa, lembrando-o que não era por acaso a dimensão daquele amor que nutria mesmo muita gente às vezes taxando-o de louco, apontando todas as diferenças entre os dois. Claro que as diferenças existiam, mas poderiam seguir existindo, não importava porque entre os dois não havia distâncias.

Ela voltou-se, vendo-o parado na escada, e correu de volta para ele, e abraçando-o pela cintura. Darien acaricou-lhe os cabelos, apaixonado de novo pela primeira vez e de novo e de novo:

– Que foi, Darien? – Ela piscava os enormes olhos cristalinos.

Ele sorriu:

– Gosto quando me chama de Darien... Estava pensando no que você fez lá dentro... Foi muito bonito...

Serena suspirou, fazendo um beicinho:

– Ah, sim, mas acabei me arrependendo, porque fiquei sem meu cupcake de caixinha decorada...

Endireitou-se imediatamente, tomando-o pela mão e puxando-o:

– Mas você me compra outro, certo, meu amor? Compra pra mim até a loja inteira se eu quiser, pra provar que me ama! Não é mesmo?

Darien sorria sendo puxado por ela e não podia fazer nada senão sorrir. De fato, compraria mesmo toda a loja e tudo mais que ela quisesse.



Foi um caminho de poucos passos sinuoso como a trajetória dos seus pensamentos. Takeo tinha todas as cores na cabeça explodindo em linhas e pontos, compondo tantos desenhos abstratos sem, no entanto, nada representar. Às vezes sentia o perfume de Lyene, mas logo o próprio movimentar dos seus cabelos borrava o quadro inteiro em vermelho, desenhando Mihara em um uma tela concretista ao mais perfeito estilo rafaelino, mas todo simetricamente equivocado, a perfeita expressão do que não seria, mesmo se fosse... E todos esses extremos opostos não era nada senão a mesma coisa. Ele só não fazia ideia do que se tratava.

Estava perdido no desenrolar dessas metáforas interiores quando escutou a porta fechar-se e viu-se de pé na entrada do quarto, sozinho, com Mihara sentada na cama, o pescoço e o ante-braço direito enfaixado, olhando-o entre agradecida e curiosa. Ele esfregou os olhos, avançando, tímido, dois passos em direção a ela, e parando logo em seguida.

– Foi você quem me salvou. Eu me lembro bem... – Mihara disse.

Ele tirou do bolso o pacote ofertado por Serena, colocando-o na cabeceira da mesa, de maneira a ter uma desculpa para sentar-se na poltrona do acompanhante, que se encontrava bastante perto do leito.

– Obrigada.

– Na verdade – começou ele –, foram as guerreiras sailor que te salvaram. Eu só te trouxe ao hospital.

– Você saiu correndo atrás do monstro quando... – Seus olhos ficaram marejados, comovendo a Takeo.

– Não falemos mais disso, Mihara...

Ao dizer esse nome, ele viu as pupilas dela se dilatarem e ela levar a mão à boca, em susto. Nesse mesmo instante, Mihara girou o corpo, pegando imediatamente a bolsa de cima do criado-mudo e revirando-a desesperadamente até encontrar uma pequena caixa. Abriu-a e respirou aliviada. Takeo fechou os olhos com raiva de si mesmo. Poderia não ser esse o nome dela e ele a estava assustando, em lugar de tentar aproximar-se dela adequadamente. Mas ela inclinou-se mais para ele e tomou uma de suas mãos, causando-lhe um arrepio que voou por sobre todo seu braço, depositando nela uma pequena pulseira, muito familiar para ele.

– Você me chamou de Mihara por que conhece isso?

– Desculpe-me, eu não quis te assustar...

– Surpreendeu-me porque se supõe que por alguma razão eu devo esconder isso de qualquer pessoa não importa o que aconteça.

Takeo sorriu, acariciando a pedra com os dedos mínimo e anular.

– Eu sei...


(FLASHBACK)


Ele caminhava na praia, as pegadas detrás de si devoradas pelas ondas mar que de vez em vez avançava para comer-lhe o caminho. Avistou o vulto de Lyene entre lilás e negro, uma luz azul piscando no chão e uma luz prateada brilhando entre mãos dela, que foi se alargando e transformando-se em uma adaga. Ele tentou alcançá-la correndo a passos largos, o mar cada vez mais voraz, agarrando suas pegadas e seus pés. Lyene ergueu as mãos e avançou com a luz prateada para a luz azul cujo choque culminou em uma grande explosão, projetando-a a certa distância.

Quando a luz apagou-se, havia no chão um pequeno ponto azul ao lado de um minúsculo ponto vermelho piscando assimetricamente. Ele finalmente alcançou Lyene que se levantava cambaleante, voltando a cair outra vez. Takeo abraçou-a, ajudando-a a levantar-se e, tão logo ela se pôs de pé, desvencilhou-se dele e cambaleou em direção aos pontos brilhantes.

– Lyene, o que você fez...? – Ele perguntou sabendo a resposta e surpreso por isso.

Lyene recitou umas palavras, fazendo o cristal de prata voltar à forma de prisma e desaparecer de suas mãos, ajoelhando-se no mesmo instante, esgotada.

– Estou tratando de dar a Mihara o título que ela merece e que minha...

Disse isso e vacilou outra vez, revirando os olhos e desmaiando nos braços dele que imediatamente a ampararam.


(FIM DO FLASHBACK)


– Você sabe alguma coisa sobre isso? – Quando a realidade caiu outra vez no lugar, ele se deu com os olhos curiosos de Mihara encarando-o.

– Sei, querida. É a maior prova de amizade que uma pessoa pode ter...

Mihara contraiu as sobrancelhas, mas não disse nada. Takeo virou-se para ela, sorrindo e entregando-lhe a pulseira.

– E você deve mesmo escondê-la. É muito valiosa, e aquele monstro estava atrás dela.

Ela abriu bem os olhos, assustada e voltou a guardá-la.

– Mas o que é? E como você me chama do mesmo nome que está escrito nela?

Instintivamente Takeo avançou, sentando-se na cama. Não era dono dos seus sentidos, e não era cômodo sê-lo.

– Ah, minha linda, eu espero que você se lembre...

Takeo fez menção de se levantar, mas Mihara estendeu a mão para acariciar-lhe o rosto:

– É estranho pensar que há situações e pessoas na minha vida de quem eu preciso lembrar. Mas, ao mesmo tempo, quase parece que me lembro de você... Seu rosto é tão familiar, e tão bonito...

Foi aproximando dele aos poucos, tão inebriada de qualquer coisa quanto Takeo que, cada vez mais embebido daquele perfume, o fazia entender estar ali a mando dos deuses, cumprindo-lhes a vontade. Os lábios de Mihara sussurravam-lhe todos os sentimentos de que parecia haver se esquecido, e precisava deles para entender aqueles sons tão necessários à sua vida.

Nesse momento, a porta se abriu, o rangido se fez brusco e agudo como um grito de terror. Takeo virou a cabeça, dando-se com a figura de Lyene, o que lhe foi suficiente para jogar-se para trás, caindo e afundando-se imediatamente no sofá.

– E você, quem é? – Mihara disse, calma, como se nada tivesse acontecido.

– Desculpa, eu não queria atrapalhar – Lyene não parecia haver sido afetada pelo que vira.

– Não atrapalha nada – Takeo correu para seu lado, distanciando-se da cama e de toda aquela situação que lhe soava humilhante – . Essa é Lyene, Mihara...

– Tariame. Até onde me lembro, esse foi o nome que meus pais me deram.

– Desculpe-nos. É como Mihara que te conhecemos, mas não importa. Quando se lembrar de tudo, vai saber que foi Lyene quem te deu a pulseira que você me mostrou.

Lyene olhou-o:

– Ela está com a pulseira?

Takeo assentiu:

– Devidamente escondida, tal e qual proposto aquele dia.

Lyene respirou aliviada.

– Ótimo... – Voltou os olhos à amiga e nem teve tempo de esconder os olhos rasos de lágrimas por finalmente tê-la encontrado.



(FLASHBACK)


Lyene piscou os olhos forçando a realidade a estabilizar-se. Levantou as costas, indisposta, sentia-se muito fraca e zonza. Não sabia onde estava e, pensando haver sido capturada de alguma maneira,pulou da cama, no ímpeto de sair logo seja qual fosse o lugar. Terminou por desequilibra-se e derrubou uma pequena caixa ao lado da cama que servia como criado mudo. Neste mesmo segundo, a porta se abriu e Mihara surgiu saltando-lhe no colo, jogando-a outra vez na cama:

– Lyene! Graças à Rainha finalmente despertaste!

Lyene respirou fundo mais uma vez, para não vomitar o nada que lhe esmurrava o estômago.

– Finalmente...?

Mihara pegou um pedaço de pão e estendeu-lhe.

– Estiveste dormindo por quase uma semana!

Lyene devorava o pão com avidez:

– Duas semanas? - Disse com a boca cheia, mas não menos surpresa.

Ela imediatamente colocou a mão no peito em busca do colar, não o encontrando. Sentiu o corpo todo estalar. No mesmo instante Takeo abriu a porta, com uma bolsa plástica em uma das mãos e uma pequena caixa na outra. Ele entrou correndo no quarto, deixando a bolsa e a caixa de qualquer maneira não chão ao lado de si, e abraçou-a fortemente, erguendo-a da cama.

– Comandante, por favor, não faças mais isso! Nunca mais, ouviste? Nunca mais!

Lyene mantinha os braços abaixados. Estava uma gota na cabeça, em choque ainda pelo vazio no peito onde deveria estar o colar.

– Não a abraces assim, Takeo! Ela mal acabou de despertar. – Mihara alertou-o.

Takeo soltou-a, virando-se para Mihara, que estava encostada na parede, e beijando-a em cumprimento:

– Ciúmes, meu amor?

– Não sejas assim de pretencioso, estou mais preocupada com minha amiga.

– Eu preciso voltar à praia, meu colar... – Lyene era quase lacônica.

– Eu guardei, aqui – ele volteou para pegar a caixa que tinha em mãos e entregou-lhe – .O colar e a outra pedra.

– Outra pedra? – Mihara olhou-o, sentando-se ao lado de Lyene e passando o braço por sobre seus ombros, enquanto a amiga deixava-se aninhar com a caixa em mãos.

– É. É por isso que esta louca desmaiou e está há duas semanas em coma.

Lyene olhou para Takeo:

– Precisamos de um treinamento mais rígido, Takeo. Duas semanas por algo tão ínfimo...

Takeo ajoelhou-se diante dela:

– Ínfimo??? Comandante, não sejas tão prepotente, trata-se do cristal de prata, pelo amor dos deuses! Ninguém além da Rainha está capacitado a usá-lo! Nunca mais faças isso! Eu... Nós! Nós ficamos desesperados!

Mihara assentia, os olhos verdes ligeiramente marejados.

– E o que disseram à rainha para justificar a ausência de sua comandante e protegida?

Takeo olhou-a, desconcertado, olhando em seguida para Mihara:

– Eu disse que estávamos em missão, a mesma que inventaste para roubar o cristal.

– Deram por sua falta?

– Claro que não! Repuseste-o no mesmo momento, segundos antes de desmaiar-te.

– Do que falam os dois? Por favor, coloquem-me imediatamente a par do assunto!

Lyene respirou fundo. Abriu a caixa tirando seu colar e colocando-o no pescoço. Com seu gestual típico, a luz azul desenhou-lhe no polegar o anel onde guardava sua espada. Olhou outra vez a caixa e notou que a pedra vermelha estava contornada por uma pulseira dourada. Olhou pra Takeo que lhe piscou um olho. Sorriu em agradecimento. Em seguida tirou a espada do anel e levantou-se, desequilibrando-se pela fraqueza que ja se fazia mais suportável. Takeo amparou-a.

– Obrigada outra vez. Mihara, ajoelhe-se.

– O quê?

– Ajoelha-te!

Mihara ajoelhou e Lyene começou o mesmo ritual por que ela e Takeo passaram para receberem o cristal da passagem. Ao final, encostou-lhe a espada no ombro direito e esquerdo, ordenando-a que se levantasse como uma nova sentinela e aceitasse o poder que lhe era conferido.

Mihara não disfarçava as lágrimas nos olhos. Quando levantou o olhar, deu-se com uma pulseira de donde pendia uma pequena pedra vermelha. Pegou-a. Lyene voltou a sentar-se e Takeo ajudou Mihara, colocando a pulseira no seu braço. Quando terminou ela imediatamente abraçou forte a Lyene.

– Nunca pensei que farias algo assim por mim. Quase custou-lhe a vida!

Lyene retribuiu o abraço:

– É uma pequena pedra, mas terá sua arma e seu poder é significativo.

– Não importa, obrigada! Obrigada!

– E você terá que escondê-la, assim como seu título.

Ela desvencilhou-se de Lyene, indo direto para os braços de Takeo:

– Não tem importância, eu fico feliz de poder ir com vocês para as batalhas sem ser um total estorvo. Isso é o que me deixa feliz.

– Se não estamos os três, nada disso tem sentido, Mihara, nada disso...

(FIM DO FLASHBACK)


Lyene escutou um eco das palavras de Takeo, que ia tornando-se mais forte, até ver os dedos dele estalando em frente aos seus olhos:

– Lyene, você pode sair deste estado autista e falar comigo?

Ela ergueu a cabeça, olhando-o, e viu-se do lado de fora do hospital, com um embrulho nas mãos.

– Maldita seja! Não deixei o bolo que eu trouxe para a Mihara!

Takeo aproximou-se dela:

– Bolo, é?

Lyene estendeu-o para ele:

– Era, não é? A Lita que fez...

Ele pegou o bolo abrindo e comendo-o numa bocada.

– Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus! Você sabe onde a Lita mora? – Disse de boa cheia, sem conseguir esperar para demonstrar sua satisfação.

– Sei.

– Vamos lá neste mesmo momento, então! Eu preciso pedi-la em casamento hoje mesmo!

Lyene riu:

– Como se fosse livre, assim, não é, senhor saltitante?

– E quem disse que eu não sou, alteza?

E seguiu seu caminho, enquanto Lyene ficou parada encarando-o.


(Fim do Cap. XI)




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