A Face Oculta Da Lua escrita por Lady Salieri, Nami Otohime


Capítulo 17
Cap. 11: O brilho hipnótico da lua crescente (I)


Notas iniciais do capítulo

- De todo jeito, acho que você deveria ir lá... Lita continuou a dizer.
- Não quero atrapalhar nada... Lyene permanecia de cabeça baixa.
- Mas se não for para estar com ele, que seja para ver sua amiga. Ela é sua amiga, certo?
- A melhor que eu já tive... Dizia mais para si mesma.



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Takeo entrou com Mihara no carro, acompanhado por Ami. Rei entrou no banco da frente junto com Serena, com a desculpa de precisar de uma breve carona até o templo. Foram as duas esmagadas no banco dianteiro, protagonizando uma cena cômica, Serena quase encostada na marcha, rebolando em briga com a amiga por espaço, até que sentiu a mão de Darien roçar-lhe a coxa, ao usar o câmbio, a pele desassossegando-se em um abalo mínimo. Os dois coraram, escondendo um meio sorriso esboçado. Serena, com isso, de repente ficou estática, e Rei estranhou essa atitude tão brusca. Encarou-a, e notou-lhe os olhos volteados para dentro de si mesma, em uma atitude inédita. Serena estava agora concentrada nos movimentos de Darien, esperava outra vez pelo acidental do toque, naquele leve tom de primeira vez. Ficaram ambos rodando neste jogo, fazendo com que Darien quase passasse do templo e se esquecesse de deixar Rei no destino.

Takeo acariciava a fronte de Mihara, tirando-lhe o cabelo acobreado dos olhos, observando a trajetória lânguida que faziam os fios. Quase não acreditava que a tinha nos braços, depois de tanto tempo de buscas e frustrações. Mas o quadro que via do futuro já destoava muito daquele que pensara antes, depois do encontro com Lyene. E, para falar a verdade, naquele preciso instante, com ela no seu colo, o quadro já destoava do destoante... Em um instinto, aproximou os lábios dos lábios dela, quase hipnotizado pela alvura da sua pele e pelo perfume que ela exalava, mas por alguma razão desviou-se, beijando-lhe a testa. Retomou a postura, deparando-se com os olhos de Ami que, envergonhada, tratou de baixá-los imediatamente. Takeo sorriu:

– Desculpa pela cena, Ami. É só que se trata de alguém muito importante para mim.

– Deve se tratar de Mihara, eu suponho.

Ele assentiu positivamente.

– Ela vai ficar bem, não se preocupe. O sangue já coagulou e as dimensões das feridas parecem mínimas. Acredito que ela está assim por um estado de choque, o que é totalmente justificável... E temporário, claro.

– Obrigado, minha querida. É muito amável da sua parte.

Ami retribuiu-lhe o agradecimento com um sorriso enternecido. Apertou as mãos contra os joelhos.

– De nada... Seria interessante que Lyene aprendesse as suas boas maneiras.

Takeo ajeitou Mihara no seu peito;

– Não é de propósito. Lyene se treinou a vida inteira como um soldado, se criou como um apesar de tudo. E, na verdade, acho até que ela melhorou muito, tendo como imagem inicial a que eu tinha dela no Milênio...

E não pôde deixar de sentir um arrepio sinuoso na espinha ao constatar este fato.

Chegaram ao hospital. Assim que a porta automática se abriu, Ami correu até a portaria, e depois de uma ligação da recepcionista, dois enfermeiros apareceram e colocaram Mihara em uma maca, levando-a para um quarto. Takeo encostou-se na parede, cruzando os braços. Darien aproximou-se dele, de mãos dadas com Serena, notando que o outro não parecia preocupado, muito pelo contrário, estava tão pouco denso, que beirava o ausente. Ficaram os três olhando Ami acompanhar os enfermeiros até certo ponto, desviando-se para procurar por sua mãe.




Lita guiava as meninas até sua casa. Monologava amenidades, na tentativa de provocar qualquer reação por parte das outras duas que caminhavam seriamente. Mina só observava Lyene de esguelha, lembrando-se das reações dela na locadora, enciumada pela aproximação de Takeo, excessivamente enciumada, minando qualquer chance de aproximação entre ela e ele, já que Takeo era sensível a absolutamente qualquer coisa vindo dela. Não que ela quisesse alguma coisa ele, o próprio garoto havia dito que tinha uma namorada, e que também não era Lyene. Só gostava dos joguinhos do flerte, da atenção dele e do seu sorriso. E a outra nem podia dar-lhe espaço para uma atitude tão inocente. Suspirou, volteando o olhar para Lita que ainda não havia parado de falar.

Lyene, por sua vez, simplesmente pensava em Mihara. Maldita seja, por que aceitara o convite de Lita, se deveria estar no hospital, ao lado de Takeo? Porque cometia um erro de relação no raciocínio. Era melhor mesmo estar ali com as meninas, ter a desculpa de estar com as meninas... Sorriu diante do som da voz de Lita, sem saber absolutamente do que ela falava.





Agradeço vossas altezas pela presteza. De verdade. Mas acredito que ambos deveriam aproveitar o resto da tarde para namorarem um pouquinho – disse dando uma piscadela para Serena – eu posso dar conta do resto.

– Você parece cansado – disse Serena adiantando-se a Darien que tomara fôlego para dizer a mesma coisa.

Takeo olhou-a arqueando as sobrancelhas. Não se lembrava de haver um momento em que ela lhe dirigisse a palavra. Desde... Sempre.

– Tem razão, alteza, mas digamos que estou cansado por outros motivos... Por outros e de outros motivos também...

Serena abaixou a cabeça, e começou a revirar a bolsa enorme que levava nos ombros na frente dos dois que a olhavam interrogativamente. Em seguida, tirou um pequeno pacote decorado e o estendeu para Takeo.

– Estava guardando para uma ocasião especial, mas acho que você precisa mais do que eu – sorria-lhe ternamente.

Takeo pegou o pacote com as sobrancelhas erguidas. Abriu-o, vendo que se tratava de um cupcake de chocolate, enfeitado com várias estrelas confeitadas que rodeavam uma bala em forma de lua. Fez-lhe uma ligeira reverência:

– Obrigado, princesa. Espero poder retribuir um dia.

– Você pode fazer isso começando por me chamar de Serena. – Disse sorrindo – Agora, sim, acho que a gente pode ir. Espero que você fique bem.

Darien acenou-lhe com a cabeça em despedida e Serena devolveu-lhe a reverência que ele fizera, tomando de novo o braço de Darien e saindo com ele.




– ...Mas devia ser, Mina! o que você acha, Lyene?

Lyene respirou fundo. Sentia-se trazida para terra firme depois de debater-se em afogamento. Piscou duas vezes, apertando um pouco os olhos, antes de voltar o rosto para a Lita.

– É aquela menina que está te preocupando? Por Takeo ter ido acompanhá-la? – Mina adiantou-se.

Lyene endireitou os ombros, colocando as mãos sobre a mesa:

– Não diga bobagens! Aquela “menina” não é qualquer pessoa – disse, sem enncará-la.

– Então se trata de Mihara?! – Lita avançou sobre a mesa, golpeando-a com os punhos; o semblante genuínamente preocupado. Lyene assustou-se por um momento, mas terminou por sorrir, divertida.

Mina parou no meio de uma careta para encarar Lyene, curiosa.

– Sim, se trata dela mesma.

– Nossa, não pensei que se tratasse dela, só de alguma menina que estivesse paquerando o Takeo, de quem você estava enciumada... – Lita voltou a sentar-se, devagar.

Lyene cruzou os braços e abaixou a cabeça, sem dizer nada.

– De todo jeito, acho que você deveria ir lá... – Lita continuou a dizer.

– Não quero atrapalhar nada... – Lyene permanecia de cabeça baixa.

– Mas se não for para estar com ele, que seja para ver sua amiga. Ela é sua amiga, certo?

– A melhor que eu já tive... – Dizia mais para si mesma.

– Eu acho que você deveria estar lá para defender o seu amor – Mina levantou-se, como que acordando de um sonho, jogando a cadeira longe –, afinal, amiga ou não, ela é uma intrusa na história de vocês.

Lyene assentia, sobrancelhas erguidas, entre a surpresa e o divertimento. A performance de Mina soava-lhe como os shows dos bobos da corte do palácio, mas o que Lita dissera havia feito todo sentido:

– Quisera saber a localização da fonte que jorra todos os despautérios que a senhorita profere. Penso que seria demasiado útil beber dela, esporadicamente.

Ela comeu um último pedaço da torta, satisfeita. Era quase epifânco como o doce escorria pelas bordas da lingua e suscitava coisas boas escondidas não se sabe onde.

Levantou-se, curvando-se para Lita:

– Muito obrigada pela consideração em convidar-me à sua casa e pela torta deveras apetitosa. Receio ter de ir-me. Manteremos contato.

Lita embrulhou rapidamente um outro pedaço, estendendo para ela.

– Já que voce gostou tanto, leva mais esse – disse-lhe com uma piscadela.

Lyene, então, ajeitou a mochila nas costas e saiu. Mina movimentou repetidamente as pálpebras, algo estupefata, com uma gota na cabeça, tentanto entender o que ela dissera na primeira fala, de modo a passar para a segunda. Lita balançava a cabeça em negativa. Não que tivesse entendido o que Lyene falara, mas tinha entendido tudo o que ela não dissera.


(continua)



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