A Face Oculta Da Lua escrita por Lady Salieri, Nami Otohime


Capítulo 14
Capítulo 9: Sonatina para desencontros (III)


Notas iniciais do capítulo

Cenas anteriores: Não houve tempo para que ela pedisse desculpas, no hipotético caso de fazê-lo. Nesse ínterim, em que o cérebro concebe a cena em slow motion, a porta de entrada da locadora se abriu revelando não mais que a figura do próprio Jedyte, que levantava um olhar interrogativo a respeito do recente ocorrido. Ao terminar levantar os olhos e dar-se com Serena e Rei, que tentavam ajudar o pianista e corrê-los mais parando em Ami, sorriu satisfeito:
- Vocês...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/173600/chapter/14

Lyene correu e saltou em mortal num reflexo, parando a dois centímetros da figura do general:

– Vocês, não! Eu, Jedyte, eu!

E girou a espada na tentativa de cortar-lhe o ventre, no que Jedyte escapou, saltando prédio acima, seguido imediatamente por Lyene. Neste mesmo segundo a porta da locadora se abriu e daí saiu um youma, cuja figura se assemelhava a uma mulher, vestida com rolos de filmes, que rodeavam-lhe os braços como um xale. O youma passou o braço em volta do pescoço de Yusuke Amade, que golpeava-lhe com as mãos, de maneira a tentar respirar.

Darien correu e lançou-se sobre o monstro e o músico. O youma, no susto, lançou Yusuke Amade para o lado, sendo jogado por Darien de volta para dentro da locadora. O monstro, então, empurrou-lhe, projetando seu corpo em direção a uma estante cujos filmes caíram-lhe sobre a cabeça. As sailors entraram e transformaram-se aí, começando a luta contra o youma, ao mesmo tempo em que Serena corria para ver se Darien estava bem.



Takeo virou-se, cabeça baixa, com medo de olhar para cima e ser obrigado a vislumbrar o estrago que teria de arrumar. Justificar a espada de Lyene, seu salto para cima de um edificio de dois andares, um monstro que surgia de dentro de uma locadora a todos os traseuntes curiosos... Ai, não... Mas, terminou respirando aliviado. Mais por sorte do que por qualquer outra coisa, a cortina de água criada pela amiga espantara a todos. Correu para Yusuke Amade ajudando-o a se recompor.


Comandante Lyene – Jedyte era pura ironia.

– General Jedyte – Lyene cumprimentou-o da mesma maneira, abrindo o ar com a espada cujo raio imediatamente transformou suas roupas.

Ela correu para golpear-lhe com a espada e Jedyte desviou do seu golpe com um parafuso, caindo de pé no chão e avançando para suas costas. Lyene, por sua vez, girou o tronco, cortando-lhe fundo o braço. Jedyte arrastou uns passos para trás, segurando o braço ferido, do qual escorria uma gosma verde, e balançou a cabeça numa negativa, rindo:

– Ah, comandante, você sozinha não é nada.

Antes sequer de que completasse a frase duas garras de madeira quebraram o concreto, cravando nos ombros de Lyene e fazendo-a gritar de raiva por sentir-se cada vez mais imobilizada naquele ataque. Jedyte aproximou-se dela, que parara de se mexer – por notar que quanto mais resistia, mais as garras entravam em sua pele. O general chegou bem perto do seu rosto, os olhos queimando em maldade, desviando-os para o colar que ela carregava, erguendo-o com sua espada. Ela tentou chutá-lo para afastá-lo dali, mas ele agarrou-lhe a pena, investindo contra sua figura, fazendo com que as garras entrassem mais ainda em seu corpo, e soltando-a, logo em seguida, de forma que pudesse ver o sangue escorrendo grosso roupa abaixo e assistir como ela lutava contra sua própria condição, no ponto de perder a consciência a qualquer momento.

Neste instante Jedyte foi arrancado do lugar em que estava com um grito e lançado prédio abaixo. Lyene sentiu as garras cederem, e caiu no chão, com o que sobrara delas ainda cravadas em si mesma. Takeo, que a libertara com o chicote, ajoelhou-se diante de si. Ela pôde ver o semblante dele desesperadamente transtornado, gesticulando sem saber exatamente onde colocar as mãos. Piscou os olhos com força, retirando energias de onde não havia.

Jedyte aparecia outra vez em um salto, avançando para cima de Takeo, mas foi detido por Tuxedo Mask que, aparecendo no momento certo, lançou uma rosa no meio do caminho.

VAI, TAKEO! EU VOU FICAR BEM! VAI! VAI! – Ela gritava em meio ao suor que brotava em seu rosto.

Takeo respirou perplexo, levantando-se atordoado entre o desejo de ajudá-la e o comando expressoo. De uma vez virou-se cego em direção ao general gritando enfurecido enquanto Darien corria para ver como ela estava.

– Eu preciso de estancar os ferimentos com alguma coisa, assim que tirar isso...

Darien arrancou um pedaço da capa.

– Isso serve, certo?

Ela assentiu, arrancando as garras dos próprios ombros enquanto esforçava-se extremamente para não se evaporar em gritos de dor. Pediu Darien que amarrasse a faixa com força, ela não o conseguiria, e assim ele o fez. Com um pedaço que sobrou, ele amarrou a espada na sua mão fechada, conforme instrução, e ela pôs-se de pé.

– Lyene... – disse ele ainda ajoelhado.

– Hoje nós teremos a informação de que precisamos – Lyene desequilibrou-se por um instante, firmando a perna logo em seguida. Darien não pôde deixar de notar que a raiva servia-lhe de tripé, ali.

Ela observou a luta de Takeo e Jedyte que, até o momento, se mantinha equilibrada, com o chicote de Takeo enrolado no antebraço de Jedyte que tentava puxá-lo para a lâmina da espada. Ela tinha que fazer algo, e era necessário ser precisa, dado que sua força se esvaía cada segundo.

– Endymion, eu preciso de cobertura... – ela respirava pesadamente.

– Certo. Já entendi...

Darien correu e saltou, avançando para Jedyte com sua bengala. Takeo livrou seu braço do chicote e o general concentrou suas atenções em desviar-se do golpe iminente, quando sentiu-se impelido para o lado e o cabelo puxado para trás. Era Lyene que o tirava da mira de Tuxedo Mask, deixando seu pescoço vulnerável à lâmina de sua espada:

QUEM ESTÁ POR DETRAS DESTES ATOS, JEDYTE?!? RESPONDA!!!!

Jedyte gaguejava sons desconexos entre a verdade e o terror:

FALA, DESGRAÇADO!!! – Lyene suava ainda mais, lutando contra a perda de suas próprias forças, o que não poderia, sob qualquer circunstância, acontecer naquele momento.

Aproximou mais a espada, cortando de leve o pescoço dele. Os lábios do general, então, tremeram para pronunciar o primeiro fonema da primeira sílaba, quando ele começou a vomitar uma gosma verde e estrebuchar frente a Lyene, caindo ao chão, fazendo-a ajoelhar-se e soltá-lo, pelo choque com seu ato e pelas forças que não tinha.

Jedyte agonizou um tempo em convulsões, olhando-a fixamente com os olhos arregalados, até sumir na mesma gosma verde vertida que se desfez em um pó brilhante levado pelo vento.

As meninas, que subiram neste exato instante, olharam assustadas o panorama, com Darien cuja metade da capa se encontrava rasgada, Lyene sentada no chão coberta de sangue e ofegando, e Takeo ajoelhado novamente diante da amiga com a roupa branca desgraçadamente manchada de vermelho.

– Como você está? Meu Deus, Lyene, eu... ! – Ele balbuciava.

Ela encolheu-se assustada com a proximidade dele:

– Eu vou ficar bem, Takeo. Você viu onde eu deixei minha mochila?

– É essa? – Perguntou Ami, lançando-a para Takeo – Lyene você não acha que deveria ir a um hospital?

– Não, Ami, estou bem. Já passei por coisas muito piores. Vocês podem ir.

Darien acenou para as meninas, de forma que pudessem atender ao pedido de Lyene. Serena olhava-a preocupada, o sangue brotando por cima da capa já se fazia visível, o que aumentava a gravidade dos seus ferimentos. Outra vez todas as imagens das lutas contra o negaverso vieram-lhe à cabeça, sempre haveria sacrifícios, sempre haveria sofrimento, sempre haveria morte, e ela não queria nada daquilo...

Sentiu a mão de Darien em seu ombro trazê-la à superfície bruscamente.

– Se precisar de qualquer coisa, Lyene, me avisa – respondeu Darien, saindo com as meninas.

Takeo pegou a mochila e abriu-a. Havia todo tipo de faixas, gazes, esparadrapos, anti-inflamatórios, analgésicos, antissépticos....

Sorriu amigavelmente:

– Finalmente entendi porque você leva isso pra todo lugar.

Lyene, com certa dificuldade, desenrolava a capa de Darien do ombro.

– E você viu que serve, certo? – Ela disse, fria.

– Você me assustou de verdade – Ele molhava um algodão em um antisséptico para limpar-lhe os ferimentos.

– Isso aqui? Uma bobagem... – a respiração em chumbo denunciava a dimensão da dor que sentia.

Ele curvou-se sobre ela para ajudar-lhe com o curativo, no que ela tentou levantar a mão para tomá-lo dele, mas notou a espada ainda amarrada a ela.

Encolheu-se desamarrando a mão direita:

– Pode deixar, Takeo! Eu mesma faço isso.

Takeo contraiu o cenho, magoado. Esboçou um sorriso apagado, não podia acreditar que ela ainda continuava daquele jeito, mais devido à gravidade da situação:

– Não, senhora! Nem pense!

– Droga... – Disse revirando os olhos.

Muito habilidosamente, Takeo limpou-lhe as feridas e fez-lhe os curativos. O toque dele lutava de igual para igual com a dor lancinante que sentia, mesmo diante dos reflexos de repulsa pelos remédios aplicados que fazia da dor mais aguda.

Curativos feitos, tomou um analgésico e um anti-inflamatório. Já sentia-se bem, não se sabe se pelos remédios tomados, se pelo cuidado dele... Fechou os olhos ao dar-se conta deste raciocínio: Meu Deus, por que as coisas não se ordenavam na sua cabeça e ela pudesse ignorar esse veneno correndo por suas veias? Por que ele não ficava com as 30 meninas de quem havia dado em cima naquele dia? Ou com Mihara? Não, a Mihara...! Por que ele tinha que afetá-la deste jeito? Levantou-se furiosa por isso tudo. E era bom porque a raiva dava-lhe as forças de que necessitava. Pôs-se a caminhar em direção à saída na frente de Takeo que, ao se dar conta de que ela ainda estava insuportável, rejeitando tudo o que ele estava sentindo, perdeu de vez a paciência.

– Lyene, sério, isto já está muito chato! O que foi? O que aconteceu ou não aconteceu hoje a tarde a inteira que você tem me ignorado?

Ela virou-se pra ele, apoiando-se na parede, olhando-o com aquele cenho esnobe, o mesmo que usava para provocar a quem quer que fosse:

– Eu? Ah, desculpa, é que eu não queria atrapalhar seu cortejo hoje à Sailor Júpiter, à Sailor Vênus, à Sailor Mars e depois à atendente da locadora. Sem contar as bobagens dirigidas a mim quando eu fazia o favor de apontar as suas estupidezes.

Ele levou as duas mãos à cabeça perdido no meio de uma possibilidade de sorriso inexplicável e a profunda irritação que sentia:

– Lyene! Não! ...Eu não posso acreditar que você ficou de ceninha o dia inteiro por causa de brincadeiras, de bobagens! Definitivamente, não esperava isso de você! – Disse alterado.

– Você precisa rever os conceitos das suas brincadeiras, meu caro. É demasiado fastidioso ver o senhor diluir-se em sorrisos e elogios para esta e para aquela e para mais aquela outra. Absolutamente, não me soa divertido.

Takeo foi para junto dela, aproximando-se demasiadamente, as vistas gritando de raiva:

– Por que a senhorita não assume logo que está com ciúmes?!

Lyene arregalou os olhos. Por um momento o ar do ambiente escapou-lhe das narinas. As sensações em conflito arrancavam pedaços dentro de si.

– Ciúmes? - Ela disse sem tom.

– Admite!

Ela viu o braço de Takeo apoiando-se na parede de maneira a cercá-la.

– Eu... – Ela olhou-o, pela primeira vez aos olhos dele, indefesa – Eu não posso te dizer... Eu... Não sei o que é isso – e era, de fato, a verdade, sem armadura e sem espada.

Takeo respirava ofegante. Envolvido por aquele olhar, antes que ela abaixasse a cabeça, flexionou o braço, e avançou bruscamente para os lábios dela, afogando-se neles, exconjurando confusões escondidas em becos sem saídas ou, o que era mais aterrorizante, sem entradas...

Lyene não resistiu, talvez o tenha feito por um milésimo de segundo, quando suas pupilas dilataram em ameaça a explodir em seu olhos. Mas se deu conta de que as forças lhe faltavam, assim como o valor. Agarrou uma mancha de sangue ainda úmida do paletó branco de Takeo, na altura da sua cintura, e abandonou-se sem interrogações.

No edifício ao lado, em cima da antena, um vulto observava o casal, a capa encarnada sacudindo em agonia, confundindo-se com o movimento dos cabelos.



Darien olhava as luzes da cidade da sacada do seu apartamento. Lembrava-se da situação de Lyene, cuja força brotava de qualquer coisa iracunda e a fazia continuar lutando sob qualquer circunstância. Era mesmo feita do mesmo cristal do palácio. Era estranha essa tremenda oposição a Serena, mas interessante. E pertinente, bem era verdade. O inimigo parecia mais cruel, as lutas estavam mais cruas e a esperança assemelhava-se aos pequenos pontos iluminando a cidade, de uma luz entrecortada por escuridões que a afogava pouco a pouco. Mas tinha que acreditar na própria força, e mesmo nas meninas. Não poderia ser contagiado pelo pessimismo de Lyene que olhava as sailor como meras damas de companhia. Não. As meninas eram muito mais que isso, e ele sabia, ele vira e sentira toda tenacidade de todas elas...

Sentiu um braço agarrando-se à sua cintura como se precisasse disso pra viver. Era Serena que já moldava os lábios pedindo-lhe um beijo. Sorriu, era impressionante como sua pele lhe sorria em manhã ensolarada... Por mais que tentasse manter a sanidade, sabia que era ele quem precisava dela pra viver, pra não se afogar na mesma escuridão que mirava há pouco... Curvou-se, beijando-a, sentindo-se invadido por qualquer coisa sem sentido que se fazia suficiente por preenchê-lo com tudo o que era bom. Abraçou-a, puxando-a com força contra si. Se se fundisse àquela figura luminosa... Intensificou o beijo, deslizando as mãos pelas costas da namorada, a temperatura tíbia aumentando significativamente... Serena gemeu baixo, o que fez todos aqueles sentimentos explodirem em apenas uma parte de seu corpo, ofuscando toda a razão sempre tão latente. Foi impelindo-a em direção à cama, suavemente e deitou-se por cima dela. Mirou seus olhos, enquanto tomava o ar que parecia roubado do ambiente, deparando-se com o olhar assustado de uma menina, o rosto corado, os lábios vermelhos. Projetou-se para trás quase caindo ao chão.

– Acho que eu deveria ir para casa – ela disse, tímida.

– Serena, desculpa, eu... Eu não...

Serena levantou-se, enlaçando sua cintura outra vez:

– Não precisa dizer nada... Eu te entendo, mas...

Darien beijou-lhe os cabelos:

– Não precisa de ‘mas’. Quero que seja na hora e que seja perfeito. E não mais. E agora também acho que é hora de a senhorita ir para casa. Se cometo qualquer deslize, seus pais me odiarão para sempre. E eles nem me conhecem... – Disse sorrindo – Vamos?

Ela acenou e saíram. Serena caminhava ao seu lado, no caminho para o carro, reluzente. Darien saíra das sombras por um momento a contar-lhe um mundo de coisas que não se nomeiam. Foi como se ele provasse, se não houvesse, de fato, quase provado que a amava.


Ami, Rei, Lita e Mina olhavam o céu estrelado do templo Hikawa, que parecia trincado, cortado pela metade em espelho quebrado. Suspiravam em silêncio, cada uma com suas conjecturas.

– E no final das contas, nem teve clipe... – Disse Mina, realmente sentida – Lá se foi minha chance de me tornar cantora...

– E eu nem pude ver a Yusuke Amade... – Suspirou Lita.

– Lita! Ele tem idade pra ser o que? Seu avô? – Disse Rei, desviando a atenção do próprio sentimento frustrado por não haver podido encontrar o músico.

– Meninas, não me parece hora de falar sobre isso... – Ami sentia-se desanimada.

– Eu também concordo com Ami – disse Luna –. Devíamos pensar sobre o inimigo.

– Também não é hora de falar disso, Luna... – Ami voltou a dizer.

A gata estranhou o comportamento da menina.

– E seria hora de fazer o quê...?

– Perguntas... Para o futuro...


(FIM DO CAPITULO VIII)




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!