A Face Oculta Da Lua escrita por Lady Salieri, Nami Otohime


Capítulo 13
Capítulo 9: Sonatina para desencontros (II)


Notas iniciais do capítulo

Cena anterior: Lyene olhou-o com os olhos entreabertos... Que raio de raiva inexplicável era essa... A figura dele chegava-lhe porosa às vistas e sua voz patinava desgovernadamente em sua cabeça. Queria sumir se pudesse, se o dever não lhe intimasse a estar ali. Descobrir o mandante da Negaforça, ou do que havia sobrado dela depois da batalha com Serena, era o mais importante de tudo. Depois talvez seguisse sua situação... Não, depois seria encontrar Mihara, e em seguida viria tantas coisas até chegar no que realmente estava acontecendo ali... Mas o que estava acontecendo ali?
Sacudiu a cabeça. Pensara tudo isso em meio segundo, talvez. Percebeu o olhar de Takeo acariciando-lhe a pele por sobre os ombros de Mina, mirou-o e ele devolveu-lhe a mesma piscadela ridícula que deu à jovem loura na entrada.Ergueu o queixo em um aspecto arrogante, virou-se nos calcanhares e tentou passar outra vista na locadora, a fim de encontrar qualquer pista, no entanto, não conseguia enxergar nada. Maldito...



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Boa tarde! Que posso providenciar para vocês hoje? – Cumprimentou Andrew que descia de uma pequena escada, ao terminar de colar o mesmo cartaz que Lyene e Takeo viram no poste.

– Para mim não mais que um café – respondeu Darien olhando atentamente para os papel colado - . E, você Serena? – Perguntou sem mirá-la.

Serena imediatamente pegou-se em seu braço. Darien ficou com uma gota na cabeça:

– Como eu estou deprimida, vou querer uma banana split, uma torta de chocolate e milk-shake de baunilha.

Muitas gotas surgiram na cabeça de Darien, enquanto Serena se esfregava por seu braço, sonhando com a comida por vir.

Sentaram-se. Andrew prontamente trouxe os pedidos de ambos e se retirou.

Darien observava Serena comer alegremente, com os cotovelos apoiados na mesa, os dedos entrelaçados em frente ao rosto. Olhou de esguelha para os filmes empilhados em um canto, títulos e mais títulos de romances clichês*. Olhou de novo a namorada que retribuiu-lhe o olhar com um sorriso melado de chocolate, voltando a comer logo em seguida.

– Serena, e o que são todos estes filmes que você alugou?

– Eu? – Ela falou chupando os dedos – Não. Esses filmes são da Molly. Ela não estava muito bem, então me pediu pra devolver pra ela. Eu ia alugar uns para mim, por causa da promoção, quando...

– Você viu Lyene e Takeo...

– É... – Ela disse abaixando a cabeça, turva, pegando um guardanapo e limpando a boca.

– Você quer comentar o que aconteceu?

– Eu... - As imagens relampearam em sua cabeça, emudecendo seus olhos - só tive uma visão estranha... Estava no milênio, um baile, não sei quando, eu ia me encontrar com você e me dei com ela, que leu um poema estranho... Eu não tinha notícias suas e me parecia que ela poderia tê-lo matado... O mais duro para mim era pensar que ela realmente capaz disto... Não posso tirar da minha cabeça que ela seja uma inimiga, mesmo com vocês me dizendo que não... – Serena respirou fundo, voltando a comer para esquecer tudo aquilo.

Darien olhou-a suave, esperando que este olhar fosse a resposta aos seus questionamentos. Para quê, afinal de contas, revelaria o que sabe, se isso significava materializar todas as associações que se debatiam em sua mente?



Lyene notou que em menos de uma tarde a maioria dos filmes foi alugada. Haviam poucos sem aquela etiqueta amarela. E durante todo o tempo em que esteve ali, o que mais apareceu foram menininhas com esperanças voando contra vidraças... Tudo parecia muito estranho, entretanto, se raciocinava, não parecia nada fora do normal. Mas, consciente de alguma maneira não-se-sabe-como de uma aura poeirente pairando sobre o lugar, o ato de não conseguir raciocinar a deixava muito mais irritada.

Foi para o balcão, onde Takeo e as meninas estavam. A atendente perguntava os dados de Mina, de maneira fazer-lhe uma ficha. Takeo olhou-a interrogativo, e ela, entendendo o que ele queria, retribuiu-lhe o olhar balançando levemente a cabeça em negativa. Quando Mina terminou de fazer a ficha de identificação, exclamou contente a pechincha que havia sido os aluguéis. Lyene olhou-a impassível e antecipou-se para se retirarem do estabelecimento, quando a atendente segurou o braço de Lita,que ainda estava encostada ao balcão:

– E vocês? Não vão levar nada?

– Não, senhora, obrigada – disse Lita –. Não posso ver filmes por agora.

Lyene, que já estava adiantada no caminho, neste minuto virou-se, centro contraído.

– Vocês também não têm interesse em fazer o cadastro?

– Claro que não! - Respondeu ela – eu não vou levar nada, vou fazer ficha pra quê?

– Mas vocês já podem ir adiantando, o que acham? É rapidinho, nem precisam de documento nem nada. Pode ser que em outra oportunidade estejam com vontade de ver um filme, mas estão sem tempo...

Lyene voltou a olhá-la de esguelha assim como seu humor naquele momento. Voltou para o balcão.

– Querida – disse irônica –, quem é o seu gerente? Você poderia chamá-lo, por favor? Eu gostaria de fazer uma reclamação sobre a impertinência de uma atendente – olhou bem de perto o broche da mulher de modo saber-lhe o nome, tornando a olhá-la nos olhos.

A atendente forçou um sorriso, apoiando as mãos na mesa:

– Ele não se encontra no momento, mas se você vier mais tarde, com certeza ele estará aqui.

Lyene assentiu:

– Pois eu voltarei.

– Ok – a atendente disse em um sorriso –. Estaremos esperando.

– Pode contar com a minha presença.

Virou-se novamente e, alcançando os demais, saiu.

– Que aconteceu lá? – Perguntou Takeo.

– Eu preferiria discutir isso em um local mais seguro.

– O fliperama? – Ele voltou a perguntar.

– Pode ser? – Lyene se virou para as meninas.

– Sim, sim – respondeu Mina.

– E as demais?

– Conversei com Serena há pouco e ela está lá, terminando de lanchar. Ami diz que já estaria a caminho, assim que terminasse o cursinho – disse Rei –. Mas podemos ir ao templo, se vocês quiserem...

– Não – continuou Lyene –, obrigada. Prefiro o fliperama. Se acontecer qualquer coisa já estamos aqui perto – Sentiria-se melhor no Crown que no templo, lugar que definitivamente não lhe configurava uma zona de conforto.

Rei assentiu e foram. Takeo olhava a amiga um tanto quanto surpreso por sua educação para com as meninas, ainda que lhe doía pensar que a educação para com elas parecia equilibrar-se com o tom cortante de frio lançando contra si próprio.


Chegaram ao fliperama e foram prontamente atendidos por Andrew que lhes mostrou onde Darien e Serena estavam. Ele anotou os pedidos de todos e se retirou de uma vez. O lugar estava cheio, talvez devido ao movimento excessivo da locadora que ficava a pouco mais de meia quadra.

Lyene cumprimentou o casal movendo a cabeça, enquanto as meninas se apinhavam ao redor dos dois. Mina sentou-se na beirada e chamou Takeo para sentar-se ao seu lado, no que a veia da têmpora esquerda de Lyene pululou de irritação. Takeo, sorridente em excesso, aceitou o convite, e Lyene foi parar de frente pra ele, ao lado de Lita.

– O que aconteceu, pessoal? Mina me pareceu bem preocupada no comunicador – Perguntou Darien.

Mina suspirou, desbotadamente:

– Ah, Darien, Takeo e Lyene estão pensando que a promoção da locadora é uma armadilha... E eu queria tanto fazer parte do clipe...

– Promoção? É a mesma que você queria participar, Serena? Do que se trata?

Serena começou a rir alto, com a mão detrás da cabeça, para disfarçar a própria estupidez que parecia latente:

– Eu queria te fazer uma surpresa, meu amor...

– A promoção é uma participação em clipe de um pianista famoso, um tal de Amade alguma coisa – disse Lyene, entendiada, brincando com o ketchup que estava na mesa .

Serena olhou-a pondo lingua para ela. Lyene olhou-a e voltou a olhar para o Ketchup.

Darien ficou com uma gota na cabeça. Quis perguntar o cunho da surpresa de Serena, mas ficou com medo de saber a resposta.

– A grande questão – continuou Lyene – é que esse estabelecimento, de absurda proporção como a que tem, apareceu do nada, como um passe de mágicas. Os filmes saem feito água do lugar, alugados por um preço muito inferior ao preço de mercado, e a senhora faz cadastros sem absolutamente nenhum documentto.

– E a energia do lugar é muito estranha – Takeo e Rei disseram quase juntos, sorrindo pelo acontecido que fez Lyene revirar os olhos.

– Me parece – Lyene voltou a dizer – que eles estão recolhendo nomes...

– Um possível recrutamento, talvez? Ou estão buscando alguém em particular... – Darien pensava alto.

Talvez as duas coisas, de imediato não posso afirmar... – Lyene respondeu.

Neste momento Ami chegou, sentando-se ao lado de Lyene, algo ofegante:

– Pessoal, me desculpem o atraso, eu quase não consigo passar... Yusuke Amade está na locadora, distribuindo autógrafos, me parece.

Neste exato momento Rei se levantou respirando muito pausadamente, alegando que precisava de ar. Serena e Mina prontamente se dispuseram a ajudar a Rei de alguma maneira fantástica a respirar melhor e seguiram as três em maratona, quase atropelando Lita, Lyene, Takeo e Ami para sairem do fliperama.

Lyene escondeu o rosto com as mãos:

– Bom, assim é melhor, ficamos os mais importantes...

Lita semi-cerrou os olhos:

– Eu deveria ajudá-las, não? Meninas furiosas podem ser bem rudes...

Os demais ficaram com uma gota na cabeça. Lita, pediu licença, levantou-se muito calmamente, andou até a porta do fliperama, e quando esta fechou detrás de si, pôs-se a correr e a gritar para que as meninas a esperassem.

Lyene cruzou as mãos em frente ao rosto, cotovelos apoiados na mesa:

– Você também quer ir, Ami? Podemos inventar uma desculpa pra você se retirar.

Ami franziu o cenho e cruzou os braços em cima da mesa.

– Não, Lyene, muito obrigada pela prestatividade, no entanto, Mina havia falado sobre uma possível armadilha e isto, de fato, me interessa acima de tudo.

Lyene sorriu satisfeita. De todas as idiotices vindas de todos os lados, esta foi a frase mais coerente do dia.

– Certo. Me alegra. Sério.

Ami sorriu em retribuição ao elogio.

– Bom, talvez fosse interessante escanear alguns dos filmes, a ver quê – disse Darien tirando um da imensa pilha deixada na mesa.

– Veremos...

Ami tirou o pequeno equipamento da pasta e escaneou-o, avaliando atentamente os dados revelados pela análise, e digitando algumas informações adicionais.

– Sim, de fato há alguma coisa muito errada aqui. O filme em questão possui quadros que se projetam demasiado rápido para o olho humano, mas é perfeitamente captável pela mente. As imagens estimulam gravemente o cérebro que trabalha em ritmo frenético, soltando uma considerável quantidade de energia no ambiente.

– Energia esta devidamente aproveitada pela negaforça – Lyene disse.

– Com certeza – disse Darien – . Por isso Molly não estava bem...

Lyene ergueu as sobrancelhas.

– Certo. Mas isso não explica esse recolhimento de nomes... Ainda faltam dados.

– Talvez seja melhor voltarmos – disse Takeo –, quem sabe eu e Darien não podemos tirar alguma informação da atendente? – Disse debochado.

As vistas de Lyene espocaram em vermelho vivo:

– Pareceu-lhe graciosa, comandante?

Takeo riu alto:

– Não tanto quanto vós, comandante, mas a senhorita em questão, sim, se trata de uma moçoila deveras formosa.

Lyene amassou o saleiro, levantando-se para desviar a atenção.

– Então, voltemos ao lugar. Enquanto o distinto senhor e sua alteza cortejam a formosa senhorita, eu procurarei por algo útil.

Darien ficou com uma gota na cabeça. Takeo sorria, mas sentia-se desconcertado, como se se sentisse vestindo um número menor de si mesmo. Não podia ser uma mera impressão o comportamento atípico da amiga que saltara de susto nos momentos. Estavam bem há o que?, uma hora atrás? E a linguagem que ela usava denunciava de maneira aguda sua irritação de porque não se sabe. Mas por que, ela que sempre falava tudo, de repente cada dia cada hora cada fala, se enrolava em raivas que nasciam de não-nascer? Respirou fundo e correu em direção a ela que, já no meio do caminho, fazia sinal para o Andrew para cancelar os pedidos.

Não andaram muito. A multidão concentrada na frente da locadora servia de obstáculo para a passagem de quem quer que fosse. O próprio Yusuke Amade, impedido de entrar no estabelecimento, tentava ser gentil com as pessoas em volta, lutando contra a asfixia de braços, presentes e hálitos quentes ao redor de si.

Lyene olhou em volta, as vistas latejando, os ouvidos ardendo, a cabeça gritando de dor. Sem preocupar-se minimamente com o entorno, tirou a espada do anel, e chocou-a contra um hidrante cuja cascada de água vertida arrastou várias pessoas, terminando por levar as demais de susto.

Respirou aliviada. Observou então que restara , mais à frente, apenas as meninas e Yusuke Amade e, mais perto si, Takeo, Darien e Ami, todos molhados dos pés à cabeça.

Entretanto não houve tempo para que ela pedisse desculpas, no hipotético caso de fazê-lo. Nesse ínterim, em que o cérebro concebe a cena em slow motion, a porta de entrada da locadora se abriu revelando não mais que a figura do próprio Jedyte, que levantava um olhar interrogativo a respeito do recente ocorrido. Ao terminar levantar os olhos e dar-se com Serena e Rei, que tentavam ajudar o pianista e corrê-los mais parando em Ami, sorriu satisfeito:

– Vocês...

(continua...)


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Notas finais do capítulo

* clichê - [Figurado] Molde ou vulgaridade que a cada passo se repete com as mesmas palavras. = CHAVÃO, LUGAR-COMUM