O Museu das Coisas Desaparecidas escrita por Jupiter vas Normandy


Capítulo 4
A Criança


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela pequena pausa, voltamos com a programação normal.
Boa leitura!



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Foi difícil encontrá-la de início. O Curador a procurava, a menina o evitava, e o Museu não favorecia nenhum dos dois. Mas logo o caminho se tornou nítido, abrindo-se em corredores que ele já tinha cruzado muitas vezes e dos quais não gostava nem um pouco. As prateleiras e estantes ficaram para trás e ele logo alcançou um grande salão vazio, com uma grande porta de mogno em cada lado do salão.

Na frente de uma delas, a que o Curador mais conhecia, estava a menina. Sentada abraçando as pernas, encarando a porta com uma curiosidade relutante, temerosa. Da mesma forma que ele uma vez esteve. Ele hesitou, sem saber muito bem o que dizer para anuviar o clima anterior antes que fugisse novamente, mas aparentemente ela não parecia mais disposta a se esconder. Talvez tivesse se acalmado sozinha, ou apenas deixou sua atenção ser atraída para outra coisa. Era estranho, mas parecia que, desde que se separaram, o isolamento dela havia durado mais do que a dele.

Nem mesmo o eco dos passos do Curador fizeram-na desviar o olhar. Ele encarou a porta, uma ruga de desagrado entre suas sobrancelhas. Tinha esperanças de que ela não encontrasse aquele lugar.

— É aqui que acontecem? – ela perguntou baixo, preocupada, mas agora não era mais pelo incidente do colar. Apoiou a mão na madeira polida da porta sem se atrever a levantar para abri-la. – Os pesadelos?

— Sim. – A palavra tão pequena fez peso no salão vazio, mudou a gravidade no lugar. A menina recuou a mão.

— Queria que não fosse…

Ele se sentou ao lado dela, cruzando as pernas, também encarando a porta. Não havia luz escapando da pequena fresta no chão ou da fechadura, mas puderam sentir um sopro fraco, a carícia leve de uma brisa miserável. Para ele era maresia. Para ela, era relva e terra molhada.

— O senhor… já foi lá alguma vez?

— Mais do que tive vontade de contar.

— Por quê?

Ele abriu um sorriso gentil.

— Acho que se você está aqui, já descobriu a resposta sozinha.

— Eu… ouvi algo. Não é bem uma voz, acho que nem é um som mesmo, mas…

— … está chamando por você.

Ela se lembrou de quando conversaram sobre os visitantes no Museu, que vinham durante o sono, de quando ele lhe falou sobre o salão dos sonhos e o dos pesadelos. A resposta do Curador ainda estava nítida em sua memória. “Depende mais deles do que de nós.”

Algo lhe dizia que ficar parada ali não iria ajudar. Sentia que podia passar toda a sua existência encarando aquela porta, sem o ruído diminuir, sem o chamado parar. Não existe o tempo. Não no Museu, não para ela, e talvez toda aquela hesitação não exigisse tempo nenhum da visitante que encontraria do outro lado da porta, talvez apenas estendesse sua própria angústia.

Ela olhou para o Curador, que não parecia a figura altiva de sempre, ali, com os ombros encolhidos e um olhar ressentido para a madeira polida que os desafiava. Se mesmo ele parecia abalado, talvez não a julgasse pelo que iria pedir.

— O senhor pode vir comigo?

Ele pareceu surpreso, mas não fez desdém do pedido inseguro. Pelo contrário, em resposta ele se levantou e lhe estendeu a mão. Não era a reação que esperava, embora não tivesse motivos para pensar que o Curador desprezaria seus medos. Ele mesmo havia dito, estava ali para o que precisasse.

— Não solte a minha mão, ou será difícil nos encontrarmos outra vez – alertou, prestes a abrir a porta, mas hesitou uma última vez, com a mão na maçaneta. – Eu… posso parecer diferente.

— Como assim?

— Esse lugar às vezes me faz voltar a como eu estava quando cheguei ao Museu… Mas ainda serei eu.

A menina assentiu, apertando sua mão em sinal de que deveriam continuar. Ele quis explicar melhor, mas o assunto ainda não era nada doce para ele. Pelo contrário, um nó em sua garganta ardia como água salgada, insistindo para que deixasse o assunto morrer, assim como ele. Então, apenas atravessou a porta, seguido pela menina.

A névoa branca que brilhava dentro do salão não permitia que enxergassem nada, nem mesmo um ao outro. Se a menina não soubesse que todas as saídas eram perfeitamente fechadas, a claridade lhe faria pensar que estava finalmente fora do Museu. Mas logo ela pareceu se ajustar, como uma troca de filtro sob uma lâmpada. A névoa rareou apenas um pouco, e ela percebeu que não estava assim tão errada. Havia grama sob seus pés e feixes de luz do sol vazavam pelas aberturas na copa densa das árvores. Estava na floresta, no exato lugar em que se lembrava. Olhou para trás para confirmar que tinha saído do Museu, mas o que viu não fazia sentido. Não tinha nenhuma construção, apenas a porta, um retângulo de sobriedade no meio da floresta, sem paredes que o sustentassem, e pelo interior ela ainda via o Museu, mas era como um rasgo no lugar em que deveria estar.

— Não saímos do Museu, não é?

Ao seu lado, o Curador pigarreou disfarçando uma tosse, e sua voz pareceu arranhar o ar para ser ouvida.

— Não… É uma ilusão, um recorte de sonho… Ou pesadelo.

— Algum problema, senhor Curador?

Ela o encarou, preocupada que algo estivesse errado. A névoa inconstante tornava difícil vê-lo, mas em nenhum momento tinha soltado sua mão. Ele tentou manter a pouca distância, mas a névoa permitiu um vislumbre de seu rosto, e a menina se assustou com a coloração estranha e doentia da pele e a espuma que tossia com dificuldade.

Era isso o que a morte fazia com as pessoas? Ele deve ter visto o horror em seus olhos.

— Espere! – disse ele, mas por reflexo a garota se afastou alguns passos, soltando sua mão, e tão logo se separaram, a névoa invadiu o espaço entre eles, desaparecendo com a única companhia que podiam ter.

O que tinha acontecido? Seus dedos tremiam e ela quase não entendia que aquela pessoa era a mesma que tinha ficado ao seu lado desde que chegara ali, sempre preocupado em garantir tudo o que ela precisava. Ainda estava assustada, mas o pensamento a encheu de culpa. Ele era seu amigo!

— Senhor Curador?… – As palavras quase não saíram com clareza, ela apertou o tecido do vestido tentando fazer as mãos pararem de tremer.

Não recebeu resposta. Chamou novamente, retornando com passos hesitantes para onde achava que estava antes, mas toda aquela névoa branca confundia sua orientação. Não teve medo de estar perdida – isso não acontecia no Museu, o Curador tinha dito e confiava nele –, mas a falta de resposta começava a lhe desesperar. Será que ele tinha se ofendido com sua reação? Talvez tivesse ficado magoado com a forma como ela o olhou. Magoá-lo era a última coisa que queria, e o pensamento embaçou sua visão com lágrimas.

— M-me desculpe, eu não quis me assustar… Eu…

— Não precisa ter medo. – A menina paralisou com a voz inesperada e familiar. Não era o Curador. Olhou para trás, sem acreditar que podia ser verdade. A mulher a encarou de volta com um sorriso tranquilizador, mas, de alguma forma, insincero. A menina não tinha percebido isso da primeira vez. O nervosismo em antecipação, a dúvida ante uma escolha.

— Mãe?

— Você espera por mim aqui, está bem? Eu volto logo.

— Mãe…

— Droga, só… – resmungou, com aquele olhar de sempre aparecendo por um instante antes de reassumir a falsa postura calma. – Só faz o que estou dizendo, não me segue.

A menina sabia como tudo acontecia. Mesmo assim, ouviu a própria voz perguntar:

— Você vai demorar? Eu não quero ficar aqui…

Sua mãe não respondeu. Aquele último olhar já não tinha o sorriso tranquilizador ou o nervosismo de saber que pecado estava cometendo. Era sério, apenas isso. Mas a garota viu o lampejo fugaz de duas coisas incompatíveis em seu rosto: alívio e culpa.

Ela partiu, e a menina se sentiu duas vezes mais só. Enquanto encarava as árvores por onde tinha ido, a voz retornou atrás de si:

— Não precisa ter medo. – Lá estava outra vez, o mesmo rosto lutando entre a culpa e a expectativa, e embora a voz fosse a mesma, agora soava diferente, como se sua mãe estivesse explicando uma brincadeira que apenas uma delas via graça. – Você espera por mim aqui, está bem? Eu volto logo.

— O que está acontecendo? Eu não gosto…

— Droga, só… Só faz o que estou dizendo, não me segue.

Mesmo que fizesse perguntas ou tentasse interromper aquela memória, tudo continuava se repetindo. A cada vez, o peso em seu peito aumentava. Não achou que o que veria ali seria bom, mas também não pensou que seria torturada dessa forma. Por fim, não conseguiu evitar gritar:

— Por que isso está acontecendo?! Não estou dormindo, esse pesadelo era para ser seu, não meu!

Estranhamente, sua mãe interrompeu o que estava para repetir, parecendo confusa como se tivessem roubado suas falas. Os poucos instantes de silêncio já foram um alívio para a menina… até ouvi-la novamente.

— Eu tive um pesadelo que durou anos. Pensei que tinha acabado, mas você ainda está aqui… Eu disse para não me seguir. Nunca vai me deixar em paz?

Não esperou ela recomeçar com suas falas ensaiadas. O que quer que a segurasse antes, tinha desaparecido, a menina virou as costas e correu. Mas sua mãe não voltou a repetir as últimas frases que lhe dissera. A névoa desapareceu com a imagem dela, mas a acusação ressentida ainda ressoava em seus ossos.

Sua corrida terminou com uma queda provocada pelas raízes. Não se machucou, mas chorou como se nunca mais fosse capaz de levantar. Não queria levantar, não se sua existência era tão ruim para todos. Talvez por isso tivesse obedecido e ficado para trás. Talvez, no íntimo, soubesse o que a mãe estava fazendo desde o início.

— Menina? – Era a voz do Curador, um pouco distante, mas clara. – Consegue me ouvir?

Pensou seriamente em não responder, pensou em deixá-lo voltar sozinho para o Museu, e ser esquecida até mesmo pelos esquecidos. Mas lembrou de como se sentiu preocupada enquanto o procurava, e não poderia deixá-lo sentir o mesmo.

— Aqui…

— Ainda não vejo você. – A voz dele soou mais perto. – Acredito que esse lugar é feito para isolar, já que os pesadelos sempre serão diferentes para pessoas diferentes.

— Desculpe por ter corrido…

— Foi culpa minha, eu devia ter dito exatamente o que ia acontecer. Desculpe. Eu tinha a esperança de que não seria afetado dessa vez, já que você é que foi chamada aqui, não eu. Você está perto da árvore?

Ela teve uma ideia.

— Estou com uma mão na árvore – disse. Esperou ouvir a grama indicando que alguém se aproximava, mas ele não fez som nenhum. Alguma coisa bateu em seu braço ao tatear o ar, uma mão se fechou em seu braço e ela voltou a vê-lo, ainda como a figura estranha que viu apenas naquele lugar. Mas agora já estava preparada, e pelo menos uma coisa boa a névoa fazia.

— Você estava chorando?

Com a pergunta, nenhum de seus receios sobre a aparência do Curador pareceu importante. Foi invadida por uma mágoa tão profunda que não conseguiu evitar voltar a chorar. Por impulso o abraçou, escondendo o rosto.

— Eu não gostei dessa porta…

Sentiu a mão dele em seu cabelo, tentando consolá-la sem muito jeito.

— É mesmo uma péssima porta.

Ela ainda choramingava, sem fazer menção de se mover. O Curador aguardou com paciência, mas em um daqueles momentos em que a situação parecia estranhamente familiar, lembrou-se de uma outra menina como ela, uma que tinha quase a mesma idade e que ria quase da mesma forma, uma que tinha acabado de ver nas ilusões daquela sala.

Era melhor levá-la de volta para o conforto dos corredores escuros o mais rápido possível, então decidiu carregá-la. Ela só se moveu para apoiar o rosto em seu ombro. A outra menina fazia o mesmo quando chorava.

— Pronto, já saímos. Não vai precisar ir lá de novo por um bom tempo.

De novo. A garota ergueu o olhar assustado. O Curador estava com a mesma aparência que sempre teve. Ela ainda parecia ter caído várias vezes na terra e sido aparada por moitas. De novo. Por que o Curador estava ali? Por que ela estava ali?

De novo. De novo. De novo.

— Eu… Eu sou como você? – Sua voz parecia tão infantil. Por que isso a incomodava agora, se era mesmo uma criança? – Eu também sou um fantasma?

— Não! – A rapidez de sua resposta não a tranquilizou, então ele corrigiu. – É claro que não. Ainda não. Você ainda enxerga a floresta quando fecha os olhos, ainda sente fome e sono, eu não passo por nada disso.

Mas ela ainda tremia. Sinais que não tinha percebido antes agora exigiam sua atenção. Ela sentia menos fome, menos sono, menos frio… Coisas que ela tinha pensado que fossem bons sinais. Agora entendia. Ela sentia menos tudo. Exceto medo. Isso, havia em excesso.

— Minha mãe me abandonou – murmurou, forçando as palavras a saírem. O Curador desviou o olhar, provando sua suspeita. – O senhor sabia.

— Nada chega até aqui sem história… – Ele parecia envergonhado. – Desculpe. Era meu dever lhe contar, mas como se diz isso para uma criança? Eu não consegui.

— Minha mãe me abandonou… – Ela já tinha dito aquilo? Estava muito magoada para saber o que sentia, e a visão turva a irritava porque queria ter uma conversa sem soluços chorosos interrompendo seus pensamentos. Então, tudo voltou. Talvez nada tivesse partido. Escondeu o rosto nas mãos enquanto chorava. – O que eu fiz de tão errado?!

Ele afastou suas mãos, porque não tinha motivos para esconder as lágrimas.

— Nada, menina. Algumas pessoas não sabem reconhecer tesouros. Mesmo se tivesse acontecido algo, você é uma criança. É a última no mundo inteiro que teria culpa de algo.

Ela estava se acalmando, agora, ou então não tinha mais lágrimas para chorar. Nenhum dos dois disse mais nada por um instante que, por mais que se estendesse, não parecia durar o bastante. O Curador se pegou pensando em como ela se parecia tanto com a outra menina, aquela que via nos pesadelos, com o pingente de coração brilhando no peito. Não sabia o porquê, pois não era fisicamente.

— Quem deixou o senhor para trás? – O questionamento tímido era um pedido de ajuda para não se sentir tão rejeitada.

— Ninguém. Não foi culpa de ninguém. Fui eu quem perdi. – Ele pegou no bolso o relicário. – Meu coração. Ela tinha menos que a sua idade.

Era sempre para esse momento que o salão dos pesadelos o levava. Ele tinha poucas lembranças, mas conseguia supor sobre as lacunas. Ele estava sempre no mar. Nos dias bons, avistava a silhueta de duas pessoas na orla, os olhares em pânico esquadrinhando as ondas, em busca de um sinal dele, uma mulher e uma criança. Nos dias bons, ele mergulhava, em desespero, procurando algo na água turva e enganosa, e suas mãos encontravam um bracinho de criança e ele conseguia soltá-la do que quer que a impedisse de subir. Nos dias ruins, ele não encontrava nada. Seus dedos alcançavam apenas o cordão frágil do colar, que se partia facilmente, e mesmo isso ele perdia, não restava nada dela. Nos dias ruins, havia apenas uma pessoa na praia, esperando sozinha, sabendo que nem ele nem a criança voltariam do mar.

Ele gostaria de saber qual dos dois cenários era o real. Em ambos ele não conseguia voltar a emergir, mas ele não era importante. Queria saber se tinha conseguido salvá-la. Morreria mil mortes novamente, apenas para garantir a ela mais um dia. Talvez fosse essa a semelhança que via com a menina ao seu lado, um pesar provocado pela sensação de uma história acabando cedo demais.

Ela apoiou a cabeça em seu ombro, cansada.

— Eu não quero ficar aqui. Eu não quero ser um fantasma preso em pesadelos.

— Você não vai ficar aqui – garantiu, mesmo sem saber como poderia ajudá-la. Ele descobriria como. – Mas você precisa ser encontrada. Logo.

A menina se preocupou. Quem estaria procurando por ela? Eram apenas ela e a mãe. A semente de uma ideia deve ter encontrado solo fértil em sua mente, pois ela se virou para o Curador.

— O que o senhor me disse sobre os visitantes? Sobre os tesouros de outras pessoas?

Sua ideia deveria ter acertado em algo, porque assim que a entendeu, o Curador se levantou. A menina o seguiu, correram pelos corredores escuros.

— Eles sonham com o que veem aqui – explicou enquanto corriam. – Mesmo que não seja o que vieram procurar. Conhecem histórias que não pertencem a eles. Encontre quantos puder, deixe que eles conheçam a sua história.

Eles se separavam e se reencontravam pelos corredores, perseguindo as sombras solitárias que nem mesmo compreendiam o lugar em que estavam. A menina não sabia bem como fazer o que o Curador mandou, então segurava a mão dos visitantes e torcia para que eles pudessem enxergar através dela da mesma forma que o Curador fazia com os objetos do Museu. Ele, por outro lado, aproximava-se dos vagantes desatentos, sussurrava em seus sonhos sobre crianças e florestas, torcendo para que quando acordassem, alguma coisa de suas palavras também alcançasse aquele outro mundo. Uma hora, sussurraria para os ouvidos certos.

A menina nunca viu o Curador em tamanha urgência. Ambos tinham aquela sensação estranha, a de que cada instante contava. Só podia ser o tempo, zombando deles, dizendo: vocês podem ter me esquecido, mas ainda estou aqui, não ousem me desperdiçar.

Por fim, a menina segurou a mão do Curador, obrigando-o a parar de procurar.

— Já tentamos com todos. Não depende mais de nós.

Ele gostaria de continuar tentando, só para sentir que ainda fazia algo por ela. Mas no momento, só podiam torcer para que uma daquelas almas despertasse com um súbito desejo de explorar a floresta, e torcer para que fosse a floresta certa, a região certa… Eram muitas variáveis.

— Tenho certeza que vai funcionar.

Ela sorriu.

— E o que acontece com o senhor?

— Continuo aqui, é claro.

— Isso não é vida.

— Não. Mas é o que eu tenho. Não se preocupe comigo, criança. Apenas viva sua vida e não se lembre de mim – Ele sorriu, bagunçando seu cabelo, como se isso tornasse o pedido menos triste.

Enquanto esperavam, voltaram a rotina de sempre. Ele organizava os objetos, contando suas histórias enquanto a menina brincava no meio das estantes, apenas ouvindo e lhe fazendo perguntas, como se pudesse não ser a última vez em que conversavam.

Ele contou histórias, contou histórias e contou histórias. Em algum momento percebeu que só o silêncio o respondia, um silêncio sério que não ouvia desde que a menina havia chegado ao Museu. Estava só novamente.

E sob o silêncio, o tempo dizia: é tarde, eu já passei, você me desperdiçou. Mas o Curador não viu tristeza alguma nisso. Ele sorriu para o salão vazio, sabendo que no outro mundo, uma garotinha acordava e teria uma vida inteira pela frente.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! ♥
O próximo capítulo é o último, e talvez tenha uma vibe diferente dos quatro primeiros, mas só de leve.