Assassin's Creed: Elementary escrita por BadWolf


Capítulo 22
Entre Livros e Pólvora




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789506/chapter/22

            Era uma manhã de segunda-feira, e os corredores da Universidade de Londres estavam abarrotados de alunos, como era de se esperar de uma universidade em época de aula. Todos homens, obviamente. Como muitos redutos intelectuais e políticos, a presença de uma mulher chegava a ser ultrajante, e a de Evie não era uma exceção. Especialmente quando seus trajes práticos de Assassina em muito se diferenciavam dos longos e pesados vestidos que as senhoras inglesas costumavam usar. Ao passar pelos corredores, todas as atenções daqueles rapazes, a vestirem capas e batinas acadêmicas pesadíssimas, voltavam-se para aquela mulher que ousava macular a santidade daquele ambiente masculino com sua presença.

Não que Evie se importasse com olhares hostis. Estava ali com outro objetivo em mente. Procurar o professor Moriarty. Recuperar a Peça do Éden. Eliminá-lo, se possível sem deixar rastros. Deixá-lo escapar não mais era uma opção, mesmo que tivesse que agir ao modo Levantino e eliminá-lo publicamente. Ainda que esse não fosse lá seu modo preferido de eliminação, a hipótese de matar um professor diante de seus alunos machistas até que não parecia uma má idéia. Que Jacob não soubesse.

Jacob Frye. Este era outro problema que ela precisava lidar. Estava distante demais da Irmandade, dando atenção mais que necessária aos Rooks. Sem dúvida obra da mente geniosa e estúpida de Harry Carter. Evie lamentou-se por deixar que o delinquente de Crawley estendesse por demais seus tentáculos e sua influência em seu irmão gêmeo. Deveria ter cortado o mal pela raiz, ou até mesmo ter acompanhado os Rooks mais de perto, mas estava ocupada demais com CAM e agora com Moriarty para isso. No fundo, estava era cansada de ter que ser sempre ela a limpar a bagunça de Jacob, provocada por sua irresponsabilidade e seu jeito imaturo de resolver as coisas. Quando seu irmão finalmente teria juízo?

—Pensei que levassem mais a sério o “esconder-se em plena vista”.

Uma voz familiar naquele corredor cheio de rapazes de preto a despertou. Desorientada, procurou pelo dono dela, em vão. A concentrar seu sentido, acabou por sentir seu ombro tocado por um vulto azul. Era Sherlock Holmes.

—O que está fazendo aqui? – perguntou ao aparente estudante com óculos de grau enormes a esconder seus olhos cinzentos. Estava disfarçado como um estudante, a carregar alguns livros e vestir a pesada batina negra, tal como os demais. Em um ambiente como aquele, ser homem tinha lá seus privilégios.

—Estou na caçada, tanto quanto você.

—Também está atrás do professor James Moriarty?

—De fato. O nome chamou-me a atenção e decidi averiguar. Apesar de uma vida discreta de professor, por trás dessa casca de mediocridade o homem é extremamente rico e possui uma rede de criminalidade por toda a Europa. Nem mesmo Crawford Starrick ousou desafiá-lo, embora seja de meu conhecimento que os dois às vezes se encontravam para tomar um brandy e que uma das coroas de flores do funeral de Starrick foi um tributo de nosso estimado professor a seu amigo.

—Então, ele é um templário.

—Por mais espantoso que isso possa soar à senhorita, não. Ele é um civil extremamente poderoso, sem outra causa a não ser aquilo que possa fazê-lo enriquecer. Inclusive os Assassinos da Espanha são sócios em alguns de seus empreendimentos escusos...

—Não é possível...

Holmes riu do espanto de Evie com essa revelação.

—Eu não estou blefando, Miss Frye. Um pouco de História lhe faria concordar que a Irmandade dos Assassinos já teve, digamos... Alguns aliados nem um pouco honrosos. Moriarty é apenas mais um nesse seleto rol. Não que seus amigos espanhóis ficassem satisfeitos em saber que ele está com uma Peça do Éden e certamente com intenções nada altruístas...

—Quem quer que seja, preciso detê-lo.

—Nesse ponto, estamos alinhados. Mas não se anime, ele está com uma licença médica de duas semanas, concedida ontem. Terá que deixar sua lâmina limpa nesse dia, mas prometo que não por muito tempo. Iremos derrota-lo.

Evie estremeceu com a afirmação de Holmes. Ainda se recordava de sua conversa com Henry, quanto a não mais trabalhar com Holmes em seus negócios. Mas isso parecia ser impossível. Ele parecia sempre estar em todos os lugares. Lamentava-se por mais uma vez descumprir uma promessa com seu noivo, mas não poderia deixar de tê-lo como um aliado. Talvez ele entendesse.

—Pois já que estamos à procura do mesmo homem, então me conte. O que exatamente está fazendo, já que ele não está aqui?

—Dentro dessa pasta está um par de sapatos. Aproveite-me de sua ausência e fui até seus aposentos privados da universidade e o recolhi. De todos que encontrei, este é o que está mais sujo de lama. Com um bom estudo de solo, poderei descobrir seus passos por Londres. Saber de seus esconderijos, e inclusive associá-lo ao benfeitor de nosso arqueólogo, Mr. Salvatti. Inclusive, tenho más notícias. Um último e vultoso depósito na conta do italiano me levam a crer que ele preparou uma arapuca para você.

—Como assim?

—Penso que Salvatti ainda é um aliado do professor. Apesar de toda a raiva demonstrada em seu depoimento, com aquela velha energia italiana de xingar desafetos com nomes cabulosos, penso que ele mentiu na Scotland Yard. Raramente um arqueólogo como ele tem o privilégio de ter um patrocinador tão rico, algo que o torna um aliado extremamente fiel.

—Mas... Mas eu vi o túnel! E eu achei uma caderneta que remete à Irmandade!

—Acha mesmo que aquele túnel bloqueado por pedras é o correto? Duvido muito! E mesmo essa caderneta que encontraste é um subterfúgio fácil de se forjar, Miss Frye. Encenaram tudo isso. A prisão de Salvatti, a caderneta plantada... Tudo para fazê-la crer que estava na pista certa, enquanto o professor continuaria sua caçada pela porta correta sem ser incomodado, pois a senhorita estaria ocupada demais a guardar o túnel falso. Moriarty apenas mostrou o que ele gostaria que a senhorita visse. Ele quis tirá-la do caminho, mas graças a esse par de sapatos, poderei traze-la de volta ao jogo.

—Eu nem sei o que dizer, Mr. Holmes...

—Guarde suas palavras para quando meu estudo for concluído, Miss Frye. A depender do solo, poderá ser rápido ou demorado. O que importa é que iremos contornar esse subterfúgio do professor. Rá! Eu mal posso esperar pela cara dele ao ser confrontado por isso!

Evie estranhou a empolgação de Holmes, que chegou a despertar a atenção de alguns estudantes. Passara tanto tempo a conversar com ele pelo corredor que mal percebera que já estava no jardim central da Universidade, onde alguns estudantes sentavam-se à grama com seus livros, enquanto outros buscavam os bancos próximos da fonte para se refrescarem um pouco naquela manhã, um tanto quente para os padrões britânicos.

—O senhor parece realmente empolgado com o professor Moriarty, Mr. Holmes.

—Devo concordar com a senhorita. Acho que nunca encontrei um adversário tão formidável.

—Mais um pouco e poderei dizer que ele tem em você um admirador.

Holmes riu. – Há que se admirar o intelecto de alguém que passou tanto tempo, tal qual uma aranha, a tecer uma enorme teia de criminosos sobre toda a Europa sem ser incomodado. Eu poderia ficar até amanhã a dizer todos os detalhes de suas atividades criminosas...

—Duvido que tenha adquirido tanto conhecimento assim sobre ele, em tão pouco tempo.

Holmes assentiu. – Estava atrás dele há certo tempo, ainda que não soubesse quem exatamente ele era. Tudo começou quando tentaram furtar a Monalisa em Paris...

—O quê?! – surpreendeu-se Evie, mas Holmes não prosseguiu com mais detalhes.

—Enfim, uma série de crimes espetaculares, como um atentado a um príncipe escandinavo, uma explosão de uma fábrica de canhões, ou mesmo o assassinato de uma prostituta em Whitechapel, tem um dedo de Moriarty. Parece que ele sabe tão bem quanto vocês, Assassinos, a se esconder entre as sombras e agir sem ser detectado. Não que você e seu irmão sejam os melhores nisso... O que está acontecendo ali?

Evie dirigiu suas atenções a uma pequena comoção na universidade. Parecia um protesto. Não demorou até perceber porquê os estudantes estavam tão nervosos. Havia policiais ali, e estavam levando algemados cerca de quatro rapazes, que esbravejavam furiosos com a ação da polícia.

—Melhor irmos embora, antes que atenções indesejadas recaiam sobre nós... Oh, droga. Tarde demais.

Holmes lamentou-se ao perceber que seu par de óculos não foi o suficiente para passar despercebido pelo inspetor Lestrade, o oficial da Scotland Yard responsável pela prisão dos estudantes. O inspetor aproximou-se do detetive e da Assassina, com um sorriso vitorioso.

—Voltou aos livros, Mr. Holmes?

—Apenas fazendo algumas matérias. – disfarçou o detetive.

—Assim espero. A última coisa que desejo é vê-lo meter o bedelho onde não deve, em especial quando se trata de anarquistas.

—Anarquistas? – surpreendeu-se tanto Holmes quanto Evie.

—Recebemos uma denúncia anônima sobre o planejamento de uma série de atentados à bomba. Um núcleo anarquista daqui da Universidade de Londres estava liderando uns operários revoltosos para explodirem alguns lugares pela cidade. Nada que a Scotland Yard já não tenha lidado, mas a maior surpresa foi ver gângsteres envolvidos.

Evie surpreendeu-se.

—Com sua licença, senhor inspetor... Mas de que gângsteres está falando?

Lestrade, claramente tão machista quanto todos os universitários dali, estranhou a presença de Evie, mas decidiu não fazer qualquer comentário, provavelmente por já esperar ver Holmes sempre rodeado de tipos estranhos – como uma mulher com trajes praticamente masculinos.

—E de quem mais seria? Dos Rooks, minha senhorita! Cada vez mais ousados, os pilantrinhas! Agora resolveram roubar dinamite para vender a anarquistas! O cúmulo! Uma pena que encontramos o galpão vazio! Ao que tudo indica, foram roubados também! Mas tal como dizem, ladrão que rouba ladrão...

—Não é possível! Roubar dinamite? Os Rooks não seriam capazes disso! – retrucava Evie, atordoada.

—Era só o que me faltava, a senhorita defendendo bandidos! Se está com pena, pois que leve para casa! Quer saber? Eu tenho mais o que fazer! Passar bem!

Bastante contrariado com Evie, o inspetor Lestrade voltou sua atenção aos policiais, que se encarregavam de levar os estudantes presos enquanto eram vaiados pelos outros rapazes. Ouviam-se gritos de palavras de ordem e xingamentos, que só cessaram quando um dos oficiais soltou um forte apito e ameaçou os estudantes com seus cassetetes. Obviamente, todos recuaram e assistiram calados aos colegas de universidade sendo carregados até a carruagem que os levaria à prisão. Dificilmente passariam muito tempo na cadeia, sabia Holmes, mas a vergonha da prisão talvez fosse castigo o bastante.

Tomada de um mau pressentimento, Evie correu até a calçada da Universidade. Estacionado, estava a carruagem, onde um por um eram enfiados os presos. Um deles bradou palavras de ordem até ser socado e finalmente se silenciar. Entre eles, ao fundo da carruagem, jazia um homem cabisbaixo, menos agressivo que os demais, talvez porque já estivesse ciente de seu destino.

—Harry? – reconheceu Evie, surpreendida. Ao ouvir sua voz, o homem cabisbaixo pareceu voltar à vida. Imediatamente levantou-se, apesar da dificuldade de estar com as mãos algemadas. Acotovelou-se entre os demais presos e se aproximou da pequena janela com grades, onde pôde confrontar-se com os olhos verdes da Assassina.

—Evie! Você precisa me tirar daqui, ou me mandarão para Dartmoor outra vez!

—O que você fez, Harry? Agora deu-se a se envolver com anarquistas?

—Me desculpe, Evie! Bem que o Jacob me disse para não fazer isso, mas... Foi o dinheiro, Evie! O maldito dinheiro! Havia ido longe demais para recuar!

—Seu canalha... Agora a polícia irá perseguir os Rooks, e tudo isso graças a você e suas ideias mirabolantes para ganhar dinheiro. Espero que apodreça na cadeia e que nunca mais se aproxime do meu irmão.

A menção a Jacob provocou um lampejo em Harry.

—Evie... Preciso que avise ao Jacob... Ela não é quem ele pensa que é...

Evie tomou-se de confusão. – Do que está falando agora?

Antes que Harry pudesse completar, um policial da Scotland Yard fechou a pequena janela com grade da carruagem policial, cortando qualquer contato da Assassina com o meliante. Com semblante de poucos amigos, o policial alertou Evie.

—Afaste-se, senhorita. Esses meliantes são altamente perigosos.

A carruagem policial prosseguiu viagem, deixando uma catatônica Evie Frye a observá-la se distanciar e se perder por entre os outros veículos, que tanto abarrotavam as ruas de Londres. Retomou a si ao ouvir um pigarreio de Londres.

—Ainda temos um experimento químico para acompanhar, Miss Frye. – sugeriu Holmes, dando um leve tapa na pasta onde mantinha guardado os sapatos de Moriarty. Apesar de muito interessada em prosseguir com a investigação do professor, Evie não conseguia pensar em outra coisa senão em ter uma boa conversa com Jacob.

—Infelizmente não terei como acompanha-lo nisso, Mr. Holmes. Assuntos de maior gravidade me aguardam.

—Como queira. Mas caso deseje saber o resultado, é só me procurar em meus aposentos na Montague Street. – disse o detetive, acenando a um cabriolé que passava. Ia oferecer uma carona a Evie, mas sabia que ela se utilizava de meios mais rápidos e menos tradicionais para se deslocar por Londres.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Assassin's Creed: Elementary" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.