Assassin's Creed: Elementary escrita por BadWolf


Capítulo 21
Sorte no Amor, Mas Nem Tanta No Jogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/789506/chapter/21

            Eu a amo.

            Jacob Frye repetiu a sentença a si mesmo incontáveis vezes naquela manhã. Jamais se sentira tão bem ao acordar. Nem parecia ter tomado tantas canecas de cerveja, de tão bem disposto que se sentia. Sabia que não fora propriamente uma boa noite de sono que lhe deixara nesse estado, mas a mulher que amanhecera dormindo ao seu lado, naquela cama improvisada em seu escritório, em Devil’s Acre. Quando a levou ao seu quarto-escritório, em meio ao alvoroço de beijos envolventes, Jacob sequer se recordara na bagunça que era aquele lugar, e agora, à luz do dia, parecia ainda pior. Sobre uma das cadeiras, uma camisa suja implorando para ser lavada há dias. De um canto, pilhas de restos de maçãs e outras comidas apodreciam, disputando atenção com o amontoado de papéis de pouca importância sobre os Rooks que o Assassino jamais teria tempo para ler. O Assassino jamais se lamentou por ser tão desordeiro, mas agora que Violet estava ali, um senso urgente por limpeza e organização lhe tomou, e antes que se desse conta, lá estava Jacob Frye, a aproveitar o sono pesado de sua amada para “tapear” aquele ambiente bagunçado. Não desejava que ela acordasse apavorada com aquele lugar que ele escolhera para que passassem sua primeira noite.

            -Jacob?

            Sua arrumação acabou por despertá-la. Com um sorriso amarelo, o Assasino voltou-se para Violet. Estava com os fios de cabelo levemente despenteados e a cara amassada de sono. Apesar disso, Jacob sentia seu coração disparado. Ela parecia estar sempre bonita, não importasse a circunstância.

            -Desculpe, não quis acordá-la, é que...

            -Estava disfarçando a bagunça, não é? – completou Violet, com um esboço de um sorriso. – Acha que não notei tão logo você abriu essa porta?

            O Assassino deu de ombros. – Imaginei que estivesse... Distraída o bastante tentando tirar minha roupa para perceber.

            -Eu sou bastante observadora, mesmo nos momentos mais difíceis. – disse, com a voz que mais parecia um ronronar, provocando arrepios no Frye. Logo a Assassina levantou-se da cama, completamente nua, e se vestiu com a camisa de Jacob. A limpa, obviamente.

            -Espere, deixe eu tentar te ajudar a tornar esse quarto minimamente decente... Embora esse não seja bem um “quarto”... – disse, enquanto ordenava alguns papéis em uma pequena pilha.

—Tem razão, esse não é bem meu quarto. É na verdade o meu escritório, na Sede dos Rooks. – explicou, entretido em catar peças de roupa distribuídas aleatoriamente. Mandaria todas elas para Agnes e se desculparia pelo mal cheiro.

—Hum... Então é nesta sala que você comanda todas as operações de sua gangue...

—Sim, isso mesmo. – disse em um tom orgulhoso, enquanto observava a Assassina sentar-se em sua cadeira, que os Rooks gostavam de chamar de “a cadeira do chefe”. Pegando a cartola de Jacob, Violet a colocou sobre sua cabeça e espantosamente o imitou, provocando grandes risadas no gângster.

—Sabe... Você fica muito provocante se passando por mim... – sussurrou Jacob, com uma voz que mais remetia a um predador. Violet riu. Quando prestes a beijá-la e muito provavelmente a repetir as doses da última noite, Jacob se surpreendeu com a porta a se abrir subitamente, revelando a presença de ninguém menos que Harry Carter. E como se não bastasse, acompanhado de outros homens, estranhos aos olhos do Assassino.

—Opa, desculpe interrompe-lo... – tentou contornar Harry diante dos homens, atônitos e encabulados por aquela visão. A porta se fechou pesadamente. Rolando os olhos, Jacob sabia que a diversão estava encerrada. Ao menos, por aquele momento.

—Parece que o dever o chama, Jacob Frye. Aqueles pareciam ser homens de negócio, a julgar pela aparência. – comentou Violet, enquanto o Assassino terminava de se vestir. Seu desgosto pela chegada de Harry em momento tão inoportuno muito o desagradava, a ponto de deixa-lo emburrado tal qual uma criança que foi posta de castigo pelo pai. Estava dando um nó em sua gravata quando recebeu um      beijo de despedida da Assassina em sua bochecha, áspera pela barba por fazer. Para sua abismação, ela já estava completamente vestida e pronta para sair daquela sala.

—Mas você é rápida, hein!

—Sou uma mulher prática, Jacob. Até mais. – disse, saindo da sala e deixando o Assassino sozinho. Antes que a porta se fechasse, Jacob ainda pôde vê-la a cumprimentar os homens presentes, que ainda estavam ao lado de Harry. Pelo visto, o constrangimento não foi o bastante para faze-los ir embora. Sinal de que era algo muito importante.

Com um suspiro e já completamente vestido, o Assassino abriu a porta, permitindo que Harry e aqueles sujeitos entrassem.

—Bom dia a todos. – cumprimentou o Assassino, recebendo nada mais que um menear de cabeça deles. Pareciam sérios demais, calados demais. Sentindo que algo estava errado ali, Jacob decidiu tomar uma outra abordagem.

—Harry, podemos ter uma conversa rápida? – pediu, sendo prontamente atendido pelo seu amigo e deixando os sujeitos a aguardar mais uma vez do lado de fora da sala. Tão logo a porta se fechou, Harry abriu um vasto sorriso. O sorriso que ele sempre reservava quando tinha uma grande oportunidade de negócios para contar.

—Jacob meu amigo, me desculpe. Não sabia que você levaria uma moça para cá, do contrário marcaria essa reunião em outro momento...

—Harry, quem são esses homens? – perguntou Jacob, já sem rodeios.

Ouviu em resposta primeiro um pigarreio. Nunca era um bom sinal.

—Uma oportunidade de negócios, Jacob. Uma oportunidade e tanto, eu diria.

—Como assim? – perguntou de braços cruzados. – Já estamos ganhando bastante dinheiro com a prostituição e o ópio, do qual não me orgulho nem um pouco disso. O que mais quer fazer?

—Sabe quem são esses homens, Jacob? Anarquistas! E eles estão aqui porque estão interessados em nossa dinamite! Não é sensacional?

Jacob parecia aturdido.

—Espere, mas... Que “nossa dinamite”?!

—Você não leu meu recado, Jacob? Deixei em sua mesa! Assaltamos um trem cargueiro recheado de dinamite que iria para as minas ao sul da Inglaterra. Nós o tomamos, Jacob! Foi um assalto bastante complicado, infelizmente tivemos algumas baixas entre os Rooks e...

—Espere, quem te autorizou a fazer tudo isso?

—Mas deu tudo certo, Jacob! Tudo certo! Foi uma dica fascinante, essa que consegui! Os anarquistas estavam há muito tempo procurando alguém com uma quantidade absurda de dinamite em Londres para que eles pudessem fazer seus atentados contra o capitalismo, e adivinha? Graças ao assalto que eu comandei, somos agora o grupo de Londres detentor do maior estoque de dinamite da cidade! Estão loucos pela nossa dinamite, Jacob! Ofereceram rios e mais rios de dinheiro! Estaremos fazendo capitalismo com a ruína do próprio capitalismo! Não é simplesmente fantástico?

—CHEGA!

Harry estremeceu com o grito de Jacob. Claramente o Assassino estava horrorizado, massageando nervosamente sua têmpora, em aflição. Detestava se envolver com política, especialmente com atentados provocados por dinamite. Em sua cabeça, imaginou todos os civis que seriam mortos ou feridos por essas ações irresponsáveis. E pior, facilitadas por ele e os Rooks. Dedo em riste, enfrentou seu amigo.

—EU SOU O LÍDER DOS ROOKS! – esbravejou o Assassino. – Você não está autorizado a fazer qualquer coisa sem minha total permissão!

—Eu fiz isso das outras vezes e você não pareceu se importar...

—Prostitutas, ópio... Isso sempre me soou ruim, mas eu acatei mesmo quando não deveria, e por Deus, me arrependo profundamente por isso. Mas fornecer dinamites para atentados terroristas de anarquistas? Vitimar inocentes? Não! Isso foi longe demais, VOCÊ foi longe demais!

—Eu só estou pensando no bem dos Rooks, Jacob... É muito dinheiro...

—Isso é inaceitável, Harry. Inaceitável demais até mesmo para o meu estômago. E pelo visto, parece que eu e você possuímos limites diferentes. Pois eu cheguei ao meu limite, e me pergunto agora aqui qual será o seu.

Com um suspiro, Jacob voltou seus olhos cansados a Harry.

—Mande esses desgraçados embora daqui.

—Eu não posso fazer isso... A dinamite já está no nosso estoque e eles me pagaram um sinal bastante generoso...

—Foda-se o dinheiro imundo deles. Mande esses imbecis ao raio que o parta, dê uma desculpa qualquer, o que preferir. Tudo que quero é sair daquela porta e não olhar mais para a cara daqueles abutres, do contrário eu mato você.

—Teria coragem de fazer isso comigo? – perguntou Harry, magoado. – Eu? Seu melhor amigo de infância?

—Eu vou dar um jeito na dinamite e garantir que ela seja mandada para mãos seguras. E quem ousar se colocar no meu caminho, eu explodo os miolos. – disse Jacob, sem responder a sua pergunta. Percebeu Harry bastante contrariado a sair da sala, fechando a porta bruscamente. Novamente sozinho, Jacob sentou-se em sua cadeira, pensativo. Resolveu folhear o livro da contabilidade para saber o fluxo dos negócios, mas não o achou na mesa. Procurou rapidamente, sem sucesso. Resmungou. Aquela sala estava mesmo uma bagunça.

Com seus dois pés na mesa, o Assassino começou a se perguntar se Evie lhe daria uma morte lenta ou rápida quando soubesse da “diversidade” de negócios com a gestão Harry Carter. Ou talvez nem fosse necessário contar qualquer coisa a ela. Mais do que nunca, o Assassino estava agora decidido a pôr um fim nesses negócios escusos. Harry Carter era seu amigo, realmente, mas precisava parar. Sua ambição o estava levando longe demais, e Jacob não mais queria ver os Rooks embarcados em atividades tão obscuras. Harry teria que escolher: ou se adaptar aos Rooks, ou... Adeus. Isso não seria fácil.

Havia um pequeno lenço sobre a mesa, decerto mais um fragmento de sua tórrida noite com Violet. Jacob o tomou pelos dedos, sentindo seu perfume. Uma pena que seu dia tivesse desenrolado desse jeito, tão ruim.

Olhou para uma garrafa de uísque, sobre sua mesa. Havia roubado aquele uísque caríssimo do escritório do próprio Crawford Starrick, depois de mata-lo. Gostava de apreciá-lo sempre quando diante de uma decisão difícil, e esta era uma delas: pedir Violet em casamento.

Harry Carter jamais se sentiu tão contrariado. Havia terminado de descer as escadas do quartel general dos Rooks, pensando em inúmeras maneiras de convencer Jacob a aceitar a proposta dos anarquistas. Não sabia mais o que dizer a eles, não depois de ter prometido tanto e inclusive ter recebido uma parte do dinheiro como adiantamento. Parte esta que já havia sido utilizada como pagamento do salário dos Rooks. Precisava dar um jeito, sabia disso.

Indo para a rua, avistou a jovem que havia visto anteriormente com Jacob a esperar um cabriolé. Não a havia visto muitas vezes com ele, mas surpreendeu-se como os dois já estavam juntos tão depressa. Embora goste de cantar vantagem em absolutamente quase tudo sobre sua vida, Harry sabia que Jacob era tímido com garotas. Talvez ele tivesse encontrado aquela a quem chamaria de “o amor de sua vida”. Algo que só os homens com sorte encontravam.

Mas ela era estranhamente familiar, e Harry não sabia dizer de onde a conhecia.

—Essa é a nova namorada de Jacob, não é? – perguntou a um Rook, ocupado a cortar uma maçã. O gângster assentiu.

—Apareceu aqui com o chefe algumas vezes. É americana, a julgar pelo sotaque.

—Americana?! – surpreendeu-se Harry. Roendo uma unha, não deixava de se perguntar porquê a nacionalidade dela parecia dar-lhe um estalo em sua cabeça. Talvez um copo de cerveja clareasse suas idéias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Assassin's Creed: Elementary" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.