Ele Ainda Está Aqui escrita por Karina A de Souza


Capítulo 4
Levante e lute!


Notas iniciais do capítulo

Já parou pra pensar em quantos "Zebediah's" existem no mundo?



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—Foi um soco e tanto, mas não quebrou.

—Tem certeza?-Perguntei, mantendo o lenço cobrindo o nariz que não parava de sangrar.

—Tenho. -Pegou um adesivo curativo na máquina e colocou no meu nariz, como se fosse um daqueles adesivos que as pessoas usam para parar de roncar. -Mais um ou dois desses e você estará novinha em folha.

—Zebediah me deu um soco. Ele simplesmente se virou e me acertou um soco na cara.

—Sinto muito.

—Estou bem. -Encarei um dos armários, tentando me impedir de deixar lágrimas caírem. Não importava o quanto ficava ruim, eu tinha que ficar, pelo Doutor.

—Quer ir pra casa?-Balancei a cabeça negativamente. -Ninguém pode culpá-la se quiser ir.

—Estou bem. E o Doutor?

—Um pouco... Inconsciente.

—“Um pouco inconsciente” significa que você bateu nele até ele apagar?

—Era o Zebediah!

—Como é que a gente vai explicar pra ele meu nariz quase quebrado e os ferimentos nele mesmo? Sem contar os seus.

—Eu estou ótimo.

—Se achou divertido bater nele...

—Não fui eu quem começou a briga. E depois de tudo o que ele fez com você...

—Isso só vai deixar Zebediah mais agressivo, e o Doutor mais confuso. As coisas não estão saindo como deveriam. -Abaixei o lenço. -Vamos ter que contar a ele.

—Você achava isso uma péssima ideia.

—Ainda acho. Mas o que vamos fazer? Nem sabemos como consertar as coisas. A gente não nem sabe como é que isso aconteceu.

—Nós vamos ajeitar tudo. Me dê algum tempo, vou falar com algumas pessoas... Ver se alguém sabe algo sobre isso. Em último caso... Gallifrey vai ter que ser útil.

—Gallifrey? Mas seu planeta não existe mais... Existe?

—Isso é assunto para outro momento.

—Espera, Gallifrey voltou? Como...?

—Você não pode dizer uma palavra ao Doutor sobre isso, entendeu?

—Mas...

—Jessica, linhas do tempo. O Doutor vai saber sobre Gallifrey quando tiver que saber.

—Não vou falar nada. Mas... Isso é uma boa notícia, não é? Significa que o Doutor não destruiu o próprio planeta. Ele vai ficar feliz. Pode ajudá-lo a lidar com...

—Jessica.

—Tudo bem, tudo bem. Não se fala mais nisso.

—O Doutor está trancado no quarto, mas sabemos que isso não é algo com que devemos contar, ele pode sair a qualquer momento, como Zebediah ou ele mesmo. Então fique alerta.

—Pode deixar. Se tem algo que eu tenho sido há dois meses, é alerta.

***

Enquanto o Mestre usava os próprios contatos para tentar resolver o nosso problema atual, eu me meti na biblioteca, tentando fazer o mesmo.

Eu não tinha nenhum conhecido com conhecimento o suficiente para nos ajudar, mas tinha milhares de livros à disposição.

A biblioteca era definitivamente o lugar mais organizado da TARDIS. Mas era uma sala imensa e com estantes muito mais altas que eu. Com uma ajudinha da Interface de Voz, consegui achar os livros que estava procurando.

Deixei a pilha numa mesa e me sentei. Era onde o Doutor costumava ficar quando se enfiava na biblioteca. Os livros que ele estava lendo ainda estavam por lá, todos de assuntos variados e complicados pra mim. Os deixei de lado, sem alterar a organização deles, e comecei a ler os meus.

Não era como se eu esperasse descobrir uma solução e pronto, tudo se resolveria. Mas eu queria ser útil e a única coisa que estava pensando era que o Doutor atualmente me lembrava muito pessoas com múltiplas personalidades. Eu tinha visto isso num filme e descoberto que era bem possível na vida real. A questão era: e se Zebediah sempre esteve lá? Se ele não fosse uma identidade aleatória criada pelo Chameleon Arch e sim alguém que já existia e habitava a mente do Doutor? Talvez estivesse inibido de alguma maneira, e o Doutor sem querer o libertou quando tentou se esconder.

Eu não sabia se Senhores do Tempo tinham essas coisas. Eles pareciam humanos, mas a semelhança, na maioria das vezes, parecia acabar aí. Eu nunca tinha visto o Doutor doente, por exemplo. E ele tinha dois corações, como os outros de sua espécie. O quão diferente eram a mente e o corpo de humanos e Senhores do Tempo?

***

Acabei pegando no sono enquanto lia, o que não me surpreendeu nem um pouco. Afastei a cadeira, me esticando para afastar a névoa do sono que ainda estava presa em mim.

Já estava no segundo livro e não tinha muitas respostas. Eu tinha que falar com o Mestre sobre isso.

Fiquei de pé, então parei. Havia alguém na porta, mas as luzes tinham enfraquecido quando dormi, e não me deixavam enxergar muito bem.

—Olá?-Esfreguei os olhos, dando alguns passos para frente, então parei.

Era uma garota na porta. Não estava virada pra mim. Havia um buraco em suas costas, de onde saía sangue e um pouco de fumaça. Quando ela se virou, olhando pra mim, eu a reconheci.

—Lynn.

—Devia ter me deixado matá-lo.

—Não. Ele era o Doutor, você não podia... Eu sinto muito...

Ela abriu a boca para responder, mas em vez de palavras, sangue saiu. Recuei, assustada, então as luzes piscaram e ela não estava mais lá.

Me apoiei numa estante. Até quando essas coisas iam acontecer? Parecia um pesadelo... Mas e se eu não tivesse acordado?

Saí da biblioteca apressada, querendo esquecer aquela imagem horrível de Lynn sangrando.

—Você parece ter visto um fantasma. -O Mestre comentou, quando me viu entrando na sala de controle.

—Não ouviu que tem uns por aí?

—Está tudo bem?-Assenti.

—Eu estava pensando... E se o Doutor tiver transtorno de múltiplas personalidades? Explicaria Zebediah.

—Zebediah foi criado pelo Chamelon Arch.

—E se não foi?

Contei a ele sobre o que achava, sobre o que tinha lido nos livros da biblioteca, sobre o que podia ser o que estávamos procurando.

—Eu não me lembro de ouvir nada sobre Senhores do Tempo com transtornos humanos. -O Mestre disse, andando de lá pra cá lentamente. -Não acho que tenhamos isso. E eu conheço o Doutor desde que éramos crianças, eu saberia se ele tivesse uma outra personalidade. Mesmo que estivesse oculta, teriam descoberto em algum momento, num dos testes da Academia.

—Assim como não descobriram o som na sua cabeça?

—Foram eles quem colocaram o som dos tambores na minha cabeça, então eles já sabiam.

—Então minha teoria está errada.

—Acredito que sim. Mas foi uma boa teoria, mesmo assim. -Suspirei. -Não se preocupe, vamos descobrir o problema.

—Espero que tenha razão.

***

Quando eu saí do banho, horas mais tarde, as luzes começaram a piscar, então enfraqueceram. Suspirei, enrolando a toalha no corpo e chamando a Interface de Voz, que apareceu imediatamente.

—Qual o problema com as luzes?-Perguntei.

—Os sistemas reiniciaram rápido demais, então estão falhando, mas devem normalizar assim que possível, caso não haja um apagão em breve

—Que maravilha. Diga ao Mestre para dar uma olhada nisso logo, antes que fiquemos no escuro de novo.

—Eu não sou um garoto de recados, sou uma...

—Interface de Voz, eu sei. Agora vá. -Desapareceu. Era impressão minha ou aquela coisa estava assumindo a personalidade do Mestre também?

Parei na frente do espelho, vendo como meu nariz estava. Precisava pegar outro adesivo de cura pra ele. O local agora estava uma cor roxa mais leve, graças à tecnologia dos Senhores do Tempo. Aqueles adesivos eram realmente ótimos...

Então havia alguém atrás de mim, refletido pelo espelho. Zebediah.

Levei alguns segundos pra perceber que ele era real, e não um dos meus pesadelos lúcidos, então me virei, o coração acelerando e o corpo entrando em modo alerta.

Eu estava muito, muito encrencada.

Não havia o que conversar, eu só tinha que sair dali. Movi o braço para acertá-lo no rosto, mas ele agarrou meu pulso, torcendo-o e me empurrando para trás. Minha cabeça acertou o espelho, e eu não queria nem imaginar o quão horrível ela ia ficar.

—Mestre!-Gritei, sem nem saber se ele ouviria.

Com a batida na cabeça, eu fiquei mais lenta, tentei passar por Zebediah de novo, mas suas mãos acertaram meu peito e eu caí, batendo no canto da pia.

Meu cérebro gritou os comandos que meu corpo devia obedecer, mas eu não conseguia levantar.

Continue acordada. Continue acordada. Levante e lute!

—Ativar... Ativar Interface de Voz!-Caí de volta no piso. -O Mestre... Chame o Mestre... -Minha visão embaçou. -Me ajude...


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Notas finais do capítulo

Vocês já pensaram pra pensar na situação da Lynn? Ela nunca conheceu o Doutor, apenas Zebediah e sua face mais cruel. Quando as coisas poderiam ter mudado pra ela, Lynn foi morta pelo ciborg que perseguia o Doutor.
Nos vemos, eu espero, no próximo domingo para o último capítulo.



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