Ele Ainda Está Aqui escrita por Karina A de Souza


Capítulo 3
No escuro, ele vai te encontrar


Notas iniciais do capítulo

Reta final se aproxima...



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—Como a TARDIS ainda não está consertada, a máquina de comida não funciona, então decidi trazer alguns suprimentos da minha nave. -O Mestre avisou, deixando uma caixa na mesa.

—Isso é muito gentil da sua parte. E não pareça surpreso quando eu te elogiar. Achei que estava acostumado.

—É difícil se acostumar a alguém que claramente sofre de alguns problemas no cérebro.

—Muito engraçado. Mas quando for gentil com alguém, tem que saber que essa pessoa vai gostar de você por isso.

—Você é mais parecida com o Doutor do que imagina.

—Por que eu e ele queremos a sua amizade? Nós temos nossos motivos.

—Jessica...

—Lá em Nova York... Você disse que estava ajudando o Doutor por que o universo precisava de equilíbrio.

—Um herói como o Doutor precisa de um vilão como eu.

—Certo. E por que está aqui dessa vez?

—Por que me pediu pra vir. Você precisava de mim.

—Vilões não costumam correr para ajudar as mocinhas, costumam?-Foi para a porta, saindo enquanto falava.

 

—Só quando gostam delas.

***

Bocejei, ainda deitada o mais quietinha possível, sem querer acordar de vez. Sem todas as funções da TARDIS religadas, a enfermaria permanecia inerte e eu não podia usar a máquina que fabricava remédios ou curativos. O que também significava que estava sem remédios para dormir.

Talvez o Mestre pudesse me arrumar alguma coisa na TARDIS dele...

Um braço envolveu a minha cintura, a apertando.

—Olá de novo, Jessica.

Gritei, me afastando e caindo para fora da cama, mas não havia mais ninguém no quarto. Fiquei de pé, me abraçando. Os pesadelos estavam cada vez mais reais... Estavam saltando para a realidade, me perseguido como Zebediah.

Vesti um casaco e rumei para a sala de controle.

—Achei que tinha ido dormir. -O Mestre disse.

—Perdi o sono. Quer ajuda no conserto?

—Você é péssima em consertar coisas.

—Com certeza sou, ou o Doutor não estaria nessa confusão toda. -Cruzei os braços.

—Não foi o que quis dizer...

—Ainda acha que eu errei, em Nova York, quando... Eu não consegui me aproximar de Zebediah, como você? Acha que... Você tinha dito que eu devia... Devia ter...

—Não, eu não acho que devia ter dormido com ele. -Olhou pra mim. -Você fez o que pode.

—Não foi o suficiente, foi?

—O que está acontecendo não é culpa sua, Jessica.

—Então por que eu sinto que é?

—O que está acontecendo?-Me virei, o Doutor parecia bem confuso, entrando na sala de controle. -O que... Mestre? Como é que você...

—Vim fazer uma visita. -Interrompeu. -Jessica sentiu minha falta. -O encarei, erguendo uma sobrancelha. -Não ouviu que somos amigos?

—Não, na verdade.

—Bem, sua TARDIS teve uns problemas, achei que não se importaria se eu desse uma olhada.

—Ela claramente se importa. -Apontou pra ele. A TARDIS parecia estar dando choques propositais no Mestre de vez em quando.

—Talvez não tenha superado aquela vez que a peguei emprestada.

—Você a roubou. -O Mestre deu de ombros.

—Acontece.

—Não tem problema se ele ficar, tem?-Perguntei.

—Hã... Não. -Respondeu. -Tudo bem. Eu posso fazer isso. -Se aproximou, pegando algumas das ferramentas que o outro estava usando.

—Por que não trabalham juntos?-Ambos olharam pra mim. -É só uma sugestão. Assim acabariam mais rápido. Ou... Talvez não, vocês que sabem.

Me sentei, fingindo lidar com o zíper do meu casaco.

Eu não tinha falado nada do que tinha acontecido entre o Mestre e eu naqueles dez meses de espera. O que eu devia dizer? “Hey, então, lembra o cara que a gente não sabe se é seu amigo ou não, o Mestre? Nós nos vimos durante esse tempo em que você esteve fora, sabe. Nós ficamos bem próximos. E ah, eu dormi com ele, mas não nos falamos desde então, o que não parece uma coisa promissora, mas tudo bem, não pense nisso, você tem seus próprios problemas”. Tá, acho que seria um jeito ruim de contar as coisas.

O que o Doutor podia pensar? Nem eu sabia o que pensar direito.

—"Jessica sentiu minha falta"?-Sussurrei, enquanto o Doutor estava distraído.

—E não é verdade?-O Mestre sussurrou de volta. Cruzei os braços. -Você não contou a ele sobre a gente?

O que sobre a gente? Não tem nada além de que você me ajudou com as mensagens, e que ficamos amigos...

—E aí viramos amantes secretos...

—Amantes? Do que... Você não pode ser da mesma realidade que eu. -Riu. -Não vamos transformar isso em algo sobre a gente. Temos nossa prioridade e você sabe disso.

—É mais um modo de se livrar de mim?

—Se disser mais uma palavra sobre isso, eu vou pegar a ferramenta mais pesada daquela caixa e jogar na sua cabeça.

—Eu adoraria ver isso.

—Você é tão... -Ergui o olhar. -Doutor? Você está bem?

—Claro. -Respondeu. -É só... Uma dor de cabeça de nada. Normal. É essa falta de claridade, faz com que os olhos se forcem e... Você sabe.

—Ah. Sei. -Olhei para o Mestre, ele não tinha cara de quem estava caindo nessa.

—Eu... Vou ficar bem. -Se levantou. -Eu volto logo. -Saiu da sala de controle.

—Tem algo muito errado acontecendo.

—Vou ter que concordar. -O Mestre disse.

—Acha que é Zebediah, tentando assumir?

—Parece a única explicação no momento.

—Vou ver como ele está. -Me levantei.

—Não é seguro.

—Assim como estar nessa nave. Talvez ele nem vá virar Zebediah agora. Talvez possa se controlar.

—Ou talvez Zebediah dê as caras e acabe te matando no corredor. -Ficou de pé. -Devíamos trancá-lo.

—Estaríamos trancando o Doutor também. Você sabe como ele ia se sentir. Sequer sabe o que está acontecendo agora.

—E exatamente por não saber que a trancou nessa armadilha junto com Zebediah.

—Não é culpa dele!

—Se ele não tivesse se escondido daquele maldito ciborg...

—Ele não estava com medo do ciborg ou de você. Eu já vi o Doutor lidar com coisas que causam pesadelos. Ele não quis ir atrás de você... Por que se importa com você. Pode odiá-lo agora, Mestre, mas o sentimento não é recíproco. Ele não se escondeu por covardia, se escondeu para não ter que lutar com alguém que se importa. -Não houve resposta e não parecia que haveria. -Vou ver como o Doutor está.

Saí da sala de controle. Era difícil encontrar uma amizade tão complicada quanto aquela dos dois Senhores do Tempo.

—Doutor?-Chamei, caminhando lentamente.

Eu conhecia apenas os corredores próximos à sala de controle, que levavam ao meu quarto, à cozinha, ao guarda roupa, à biblioteca, à enfermaria e uma estranha sala com uma bagunça indescritível que às vezes eu achava ser o quarto do Doutor. E talvez fosse.

—Doutor?

Com as luzes verdes de emergência sendo a única fonte de luz agora, os corredores pareciam todos diferentes e meio assustadores. Eu não queria me perder ali e dar de cara com Zebediah... Ou talvez outra coisa que pudesse aparecer de repente. O Doutor uma vez tinha dito que havia fantasmas na TARDIS, mas eu não sabia se ele estava falando sério ou não.

—Doutor!

Os Senhores do Tempo tinham feito algo incrível ao criar uma nave capaz de viajar pelo tempo e espaço que era muito maior por dentro do que por fora. Mas talvez mapas não fossem a praia deles, por que eu nunca havia achado nenhum. Havia um desenhado com giz em algumas paredes, mas eram feitos por mim, com apenas a parte que eu conhecia da TARDIS.

—Doutor!

Parei. Devia ter trazido uma lanterna. As luzes de emergência estavam apenas nas partes essenciais da nave, e a partir do outro corredor havia apenas escuridão.

De repente as luzes normais da nave se ascenderam lentamente, tão claras que meus olhos demoraram um pouco até se acostumar.

Aí Zebediah estava bem na minha frente.

Eu tinha chegado tarde... Sem surpresa nenhuma. Comecei a recuar, me preparando para virar e correr.

—Já percebeu que na maioria das vezes você é que vem até mim?-Perguntou.

—Nunca estou indo até você, e sim até Doutor.

—Doutor, Doutor, Doutor. Sempre esse Doutor. Mas ele nunca aparece.

—É mais complicado do que pode imaginar. Por enquanto. Seus dias estão contados, de novo.

—Estão? E quem vai fazer algo, você? A pobre e indefesa Jessica? Sempre correndo pra se esconder, sozinha...

—Sozinha?-Uma voz perguntou, atrás de mim, então o Mestre ficou ao meu lado. -Olhe de novo.

—Ah. Você. Certo. Eu devia imaginar que ela ia correr pra você de novo. -Suspirou. -Nenhuma surpresa.

Olhei de Zebediah para o Mestre. O que íamos fazer? Virar as costas e deixá-lo lá? Não era como em Nova York. Os três estavam confinados no mesmo lugar. Abri a boca para perguntar “E agora?”, mas de repente havia dois homens se agredindo fisicamente bem na minha frente.

—Mestre, não!

Saí do lugar, tentando agarrar o braço de Zebediah e afastá-lo do outro, mas ele virou repentinamente e seu punho acertou o meu rosto.


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Notas finais do capítulo

É, as coisas não estão dando muito certo por aqui.
Até o próximo domingo, no penúltimo capítulo.



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