Ele Ainda Está Aqui escrita por Karina A de Souza


Capítulo 2
Confinados


Notas iniciais do capítulo

Uma coisa que eu esqueci de dizer é que essa história tem apenas cinco capítulos.



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—Jessica? Jessica. -Uma mão sacudiu meu ombro. -Jessica...

Abri os olhos, movendo a cabeça devagar. A cozinha estava escura, mas eu conseguia ver o Mestre bem na minha frente. Me sentei, ignorando a tontura momentânea.

—Você me achou. Você veio.

—É claro que sim. -Me ajudou a ficar de pé.

—Onde o Doutor está?

—Devidamente trancado no quarto dele.

—O que aconteceu?

—Eu não sei. Quando cheguei estava tudo no escuro, o Doutor estava caído no corredor e você aqui na cozinha.

—Talvez eu tenha desmaiado de susto. -Olhei pra mim mesma, tudo parecia em ordem. -Ou sei lá.

—Você disse que Zebediah...?-Assenti. -Você tem certeza?

—Infelizmente, tenho. É ele. Ele nunca se foi de verdade, ele ainda está aqui.

Expliquei ao Mestre tudo o que tinha acontecido desde que o Doutor havia voltado, dois meses atrás, enquanto seguíamos para a sala de controle. A TARDIS ainda estava no escuro, apagada após o ataque de Zebediah.

—Ele está diferente. Está mais... Violento, mais... Não sei explicar. É pior do que antes.

—Devia ter me chamado antes. -Mexeu nos controles, testando-os.

—Eu sei, eu só pensei... Na verdade nem sei o que pensei. -Olhou pra mim.

—Você está bem?

—Acho que sim. Por que isso está acontecendo? Por que Zebediah ainda está aqui? Não devia acontecer, devia? O Doutor abriu o relógio, nós vimos acontecer. O que houve de errado?

—Não sei, ainda. Mas vamos descobrir e resolver isso. -Assenti.

—Obrigada por vir.

—Não está surpresa, está?-Se abaixou, abrindo um painel em baixo dos consoles. -Você me chamou, depois de um tempo fingindo que eu não existo, e aqui estou eu.

—Eu não... Não fingi que você não existia. Apenas... Aconteceram muitas coisas, e eu... Acabei esquecendo de ligar.

—Por dois meses?

—Foram dois meses complicados. -Balançou a cabeça negativamente. -O que?

—Você é uma péssima mentirosa. Estava me evitando...

—Não estava...

—E agora está nervosa por me ver aqui.

—Eu estou aliviada por você ter vindo. Muito. Você é... A parte boa nesse pesadelo. Talvez esteja... Um pouco...

—Nervosa.

—Não. Para de dizer isso. Estou feliz em te ver.

—Depois de me evitar, por que dormimos juntos.

—Você... Não vamos falar de nós. Temos que ver nossa prioridade. Que é o Doutor. Depois falamos de nós.

—E tem algo para ser falado?

—Você claramente acha que eu estava fugindo de você, então a resposta é sim. E até onde sei, não houve tentativa de conversa da sua parte também, houve?

—Eu estava ocupado.

—Por dois meses?-Olhou pra mim, sorrindo.

—Foram dois meses complicados. -Revirei os olhos

—Consegue consertar a TARDIS?

—Vai levar um tempo, mas sim. Por enquanto... -Pequenas luzes se acenderam. -Luzes de emergência. Assim não ficamos no escuro com um psicopata.

—Um? Eu contei dois. -Ficou de pé.

—Você sentiu muito a minha falta, não é?-Dei de ombros.

—Talvez. -Cruzei os braços, me encostando no console. -O que vamos fazer com o Doutor?

—Primeiro a nave, depois o Doutor. Até lá teremos pensado em algo.

—Então não sabe o que fazer?

—Não, ainda não. Você vai ficar?

—É claro que sim, aonde mais iria? O Doutor está aqui e precisa de ajuda.

—Zebediah está aqui também, e você mesma disse que ele está pior que antes.

—Você não vai me apagar e deixar em casa de novo. Se acontecer, eu vou te achar, e vou te bater. -Riu. -Não tem graça. É sério.

—Você não é boa em ameaças, Jessica.

—Parece que não. Acho que vinda de um especialista, a opinião deve estar certa.

—Quando e se quiser ir pra casa, me deixe saber.

—Eu não vou...

—Jessica. -Suspirei.

—Tudo bem. Mas não vou abandonar o Doutor. Eu fiquei, antes, e vou ficar agora.

***

ALGUNS MESES ATRÁS

—Onde acha que ele está?-Perguntei, sentada ao lado do Mestre. A festa de casamento ainda não tinha acabado. Eu nunca tinha visto meus pais tão felizes. Queria poder sentir o mesmo.

—Eu não sei. Em algum lugar onde não vai achá-lo fácil.

—Você me disse para não deixá-lo. Me disse pra ficar com ele. Por que o ajudou a se livrar de mim?

—Ele teria feito isso sozinho. E você precisava de um tempo.

—Um tempo?

—Depois de tudo o que houve, de Zebediah, de levar um tiro, de ver aquela garota morrer... Você precisava de um tempo, Jessica.

—Eu estou bem. Estou ótima. Só quero que o Doutor volte. Quero ter certeza de que ele está bem.

—Você sabe que talvez nunca...

—Vai acontecer. Eu sei que vai. -Ficou de pé.

—Espero que tenha sorte nisso.

—Eu vou te ver de novo?-Assentiu. -Então até a próxima, Mestre.

***

AGORA

Me sentei na cadeira do capitão, cruzando os braços. A nave estava fria. O Mestre estava tentando consertá-la e eu torcia para que fosse algo rápido.

—O Doutor me disse uma coisa, ontem.

—É mesmo?

—Disse que não enfrentou o ciborg... Por que achou que você o tinha enviado. Você enviou?

—Não. Não enviei. -Assenti.

—Okay.

—Você acreditou em mim tão fácil?

—Não sei quando aconteceu... Mas eu aprendi a confiar em você. O que é engraçado, e estranho, por que um tempo antes de você aparecer na TARDIS pela primeira vez, nosso único contato foi quando tentou matar o Doutor e eu. Imagino que se não tivesse recebido aquela mensagem... Eu ainda estaria achando que você é um maluco psicopata. Agora eu sei que você é só um psicopata mesmo. E um cara legal.

—Legal?

—Mesmo que tente esconder. Não sei o que teria acontecido se outra pessoa tivesse respondido a mensagem. Me pergunto às vezes por que mais ninguém respondeu. Era do Doutor que estávamos falando. Algum amigo devia ter vindo, não é?

—Ninguém poderia vir. -Olhou pra mim. -Eu bloqueei a mensagem depois de recebê-la.

—O que significa?

—Significa que fui o único que a recebi, Jessica. Ao bloqueá-la, impedi que qualquer outra pessoa pudesse receber também.

—Você o que? Por... Por que fez isso? Outros teriam vindo...

—E atrapalhado. Nós resolvemos tudo, não resolvemos? Pelo menos, em parte.

—Por que não me disse antes?

—Por que eu não sabia se ia entender.

—Tudo bem. -Me levantei.

—Jessica...

—Eu só preciso pensar nisso um pouco. Vou estar no meu quarto, se precisar de alguma coisa.

—Você ficou com raiva?

—Você me deixou como sempre deixa, Mestre. Confusa.

***

—Você precisa gritar desse jeito?-O Mestre perguntou, recuando.

—O que está fazendo aqui? Eu tranquei a porta. Você não pode sair entrando e me acordando desse jeito. Tem um psicopata tentando me pegar! Eu achei... Achei que Zebediah tinha entrado.

—Desculpe. Não quis te assustar. Você não apareceu desde ontem, pensei em ver se está tudo bem.

—Estou bem. O Doutor?

—Não está mais no quarto. Talvez tenha acordado como Zebediah e... Se perdido por aí. Acredito que vá aparecer em algum momento.

—Descobri que não é fácil se livrar dele. -Fiz uma pausa. -Eu realmente não entendo. Por que ele é tão obcecado por mim? Isso não entra na minha cabeça.

—Zebediah acredita que está no topo... Como um tubarão que caça peixes pequenos.

—Um caçador.

—Exatamente. -Se sentou na ponta da cama. -Ele a vê como uma presa, vê todos assim. Presas e oponentes, mas não acha que alguém esteja acima dele.

—Eu o observei em Nova York. É diferente comigo. Não entendo por quê.

—Por que você não se vê como ele a vê. Você é a única presa que ele não conseguiu.

—E se conseguir? Acaba? Porque eu não acho que vai acabar. Não acho que essa obsessão dele pode ter um fim.

—Terá um, quando nos livrarmos dele.

—Pelo menos dessa vez o Doutor não vai lembrar de nada. Não vai saber o que Zebediah andou fazendo... Nem que ele mesmo me colocou nessa quando foi me buscar.

—Jessica, eu não acho que o Doutor escolheu ir buscá-la. -Franzi a testa.

—Não entendo...

—Você disse que o Doutor não sabe que Zebediah ainda está aqui, e vice versa. Eu acho que ambos sabem, inconscientemente. O Doutor a buscou... Mas algo mudou? Não. Ele continua enfiado dentro dessa nave, e evitando você. Por que a buscaria se ainda sente culpa sobre você?

—Ainda não entendo.

—Zebediah acordou de repente nesse lugar que não sabe onde é, e com um objetivo não concluído.

—Eu.

—Exato. Ele atirou em você, mas não acho que saiba o que houve depois. O desejo dele de terminar o começou se impregnou no Doutor de modo inconsciente, e ele buscou você, sem saber que estava te trazendo por que Zebediah queria.

—Se o Doutor soubesse disso...

—Jamais teria te buscado.

—Agora é tarde, não é? Aqui estou eu. -Suspirei.

—Eu posso te levar pra casa.

—Eu não vou embora. Vou ficar, vou ajudar a trazer o Doutor de volta e mandar Zebediah de volta pro lugar de onde ele veio e nunca deveria ter saído. -Fiquei de pé, arrancando o adesivo de cura, que já estava gasto. Talvez só mais um resolvesse totalmente o problema.

—Você é teimosa.

—Uns diriam determinada. -Toquei seu braço. -Sei que quer apenas ajudar, mas vou ficar bem aqui.

—Eu sei que vai.

—Não deveríamos arrumar a TARDIS e pousar em algum lugar?

—Enquanto estamos no espaço, estamos confinados aqui dentro, o que confina Zebediah. Se ele sair dessa nave e o perdermos de vista, será como em Nova York.

—Entendi. Não precisamos que aquilo tudo aconteça de novo. Tudo já está bem complicado.


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Notas finais do capítulo

É isso, um capítulo de revelações. Eu já sabia desde a primeira história o motivo do Doutor não ter enfrentado o Ciborg e que o Mestre havia bloqueado o pedido de socorro da Jessica, e até pensei em contar nas notas finais, mas como decidi continuar a história, deixei para revelar aqui.
Até o próximo capítulo.

P.S.: Para quem se interessar, recomecei Idris e estou no primeiro capítulo.



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