Aprendendo a Recomeçar escrita por Lelly Everllark


Capítulo 20
Mar sem calmaria.


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores!
Dessa vez não demorei (Que milagre! Kkkkk)!
Espero que gostem do capítulo e BOA LEITURA!



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“E aí, o que é que a gente vai fazer?

Diz aí, se você quer e eu também tô querendo você

 

Tantos sorrisos por aí, você querendo o meu

Tantos olhares me olhando e eu querendo o seu

Eu não duvido, não, que não foi por acaso

Se o amor bateu na nossa porta, que sorte a nossa”

Que Sorte a Nossa – Matheus e Kauan.

  - Então, podemos conversar? - mamãe voltou a perguntar e fiz que sim outra vez. Eu não sabia bem onde essa conversa ia dar, mas sabia que precisava dela, pra fechar, encerrar tudo de uma vez por todas.

  - Papai você pode fazer companhia a Theo e Lucas? Eu e mamãe, nós...

  - Claro, vão lá.

  - Você vai simplesmente me deixar aqui, Cordélia? - Lucas pergunta e suspiro. - Eu vim a esse fim de mundo pra te ver e você nem ao menos vai falar comigo?

  - Agora eu não posso, Ok? Eu vou... Preciso falar com a minha mãe antes de qualquer coisa - digo e viro-me para Theo que olha a cena com uma expressão indecifrável no rosto. Toco seu rosto e ele me olha, sorrio tentando melhorar o clima. - Me desculpe por isso, eu te amo e volto já, tudo bem? - lhe dou um beijo rápido bem ali na frente de todos que o faz sorrir finalmente e com isso sigo para dentro de casa seguida pela minha mãe.

  Nós não trocamos nenhuma palavra durante o caminho, não tem sorrisos nem abraços emocionados de saudade, só caminhamos, eu na frente e ela atrás de mim. Esse momento é tão estranho que chego a me perguntar várias vezes se é real, se a conversa que tivemos por telefone foi real também, ainda é inacreditável pensar que minha mãe fez mesmo tudo aquilo. Nós chegamos ao escritório e finalmente ficamos cara a cara, mamãe continua a mesma, com a roupa, o cabelo e os saltos em perfeito estado, não há, há muito tempo, nenhum traço nela da mulher simples que já foi um dia.

  - Bem, estamos aqui, o que a senhora queria conversar? Já não falou tudo por telefone? - minhas perguntas soam mais ácidas e irônicas do que pretendia, mas a verdade é que ainda dói e magoa muito pensar em tudo o que ela fez a mim e Theo.

  - Eu não quero discutir com você, Lia. Não foi pra isso que vim.

  - Ah, não? Pra que veio então? 

  - Vim para levá-la pra casa - ela diz simplesmente e fico sem acreditar.

  - Me levar pra casa? A senhora está se ouvindo? Quando eu finalmente acho que está entendendo. Como assim me levar? Mãe, a gente não está nem se falando, como a senhora quer me levar pra qualquer lugar que seja?

  - Eu não preciso de desculpas para querer o melhor pra você, sou sua mãe. Por isso viemos seu pai e eu, vamos levá-la, seu castigo acabou, a festa pelo que vi está sendo um sucesso então já pode voltar.

  - Aposto que papai nem sabe que você está aqui dizendo essas coisas.

  - “Essas coisas”? - mamãe faz aspas no ar com uma expressão divertida. - Um mês atrás você nem mesmo queria vir pra cá! Agora o quê? Lembrou-se das brincadeiras de criança com aquele cowboy metido a médico e vai simplesmente desistir de tudo?

  - Não fale sobre Theo! Não fale sobre o que não sabe! E eu nunca disse que iria ficar, mas tampouco decidi ir embora. Eu ainda não sei o que fazer, mas a cada minuto eu só tenho certeza de uma coisa, não quero morar no mesmo lugar que você.

  - Lia!? - mamãe parece chocada e seu choque me diverte, não devia, mas diverte.

  - A senhora achou o quê? Que depois de tudo que conversamos, de tudo que você confessou as coisas continuariam as mesmas? Que nada mudaria? Que eu voltaria pra casa e fingiria que nada aconteceu?

  - Não seria assim também, mas eu pensei que depois desses dias todos você finalmente veria que o que fiz foi por você e deixaríamos isso tudo no passado - as palavras cada vez mais absurdas de mamãe fazem meu estômago revirar.

  - Você está mesmo se ouvindo, mãe!? Pelo amor de Deus! Olha os absurdos que está falando! Eu entender? A senhora é que tem que entender a loucura que fez e como aquilo me machucou, você não estava fazendo nada por mim, estava fazendo por si mesma, para simplesmente poder sair por aí dizendo que tem uma filha formada, administradora de empresa e sei lá mais o que. Mas não se preocupou comigo, com o que a Cordélia, o que eu queria. E mesmo depois disso tudo você ainda não entendeu?

  - Lia...

  - Não me chama assim! Eu não sou essa imagem que você ajudou a criar, nunca fui! E se você não consegue enxergar isso então não me conhece. E caso à senhora queira saber, eu vou ficar - digo em parte para irritá-la, mas em parte por que é verdade, eu não conseguiria ir embora, não mais, não depois de tudo, não quando acabei de reencontrar Theo.

  - Cordélia você está exagerando, isso é apenas uma birra não é? Para me irritar, já que sabe que não a quero aqui, é isso, certo?

  - Sinto muito decepcioná-la dona Cíntia, mas estou apenas te dizendo à verdade, vou ficar e ninguém, nem mesmo você, vai me fazer mudar de ideia! - minha mãe me encara em choque, como se só agora compreendesse realmente o que minhas palavras significam.

  - Cordélia, por favor, pense o que está dizendo. Olha a loucura que está inventando! Vou só fingir que não disse nada, está confusa por causa de todo tempo aqui, é isso. Eu prometi a Lucas uma conversa com você, fale com ele, se entendam e esqueça essa besteira, Ok? - mamãe vai vomitando essas palavras cada vez mais absurdas e minha vontade é rir, rir mesmo, pra valer.

  - Ainda bem que quem prometeu qualquer coisa ao Lucas foi você, não eu, nossa conversa foi ótima mãe, ainda te amo, mas provavelmente nunca mais confiar em você. Agora tenho que ir cumprimentar papai e recepcionar os convidados, espero que goste da festa.

  - Lia! Cordélia! - ela me chama, mas já estou a meio caminho da porta e não olho para trás.

  Sigo pelo corredor ainda ouvindo mamãe me chamar, mas não me arrependo ou hesito, afinal, essa conversa sem sentido durou bem mais que o necessário. Não sei nem o que é pior, saber que mamãe aparentemente sempre foi assim, ou saber que ela não entende, não entende mesmo o que fez. Suas palavras vão martelando na minha cabeça várias e várias vezes enquanto sigo outra vez para o jardim, tornando tudo ainda pior.

  O primeiro a me encontrar é papai e antes mesmo de dizer qualquer coisa eu o aperto em um abraço que preciso mais que tudo nesse momento. Ele não pergunta nada, só me abraça de volta e permite que eu fique ali, na segurança de seus braços.

  - Lilly, meu amor, o que aconteceu? Você e sua mãe brigaram? - ele pergunta depois de alguns minutos e finalmente me separo dele.

  - Antes fosse - digo irônica ajeitando o cabelo. - Se a gente tivesse brigado pelo menos eu estaria brava e não magoada como estou agora. 

  - O que vocês conversaram?

  - Ah, o de sempre, que ela jura ter feito tudo aquilo para o meu bem e ainda não entendeu como aquilo me machucou. Mamãe veio até com um papo de que vocês vieram juntos pra me levar embora. Você não veio pra isso não, veio, papai?

  - Não - ele sorri. - Eu vim pra ver como você estava, como estavam as coisas por aqui e como a festa tinha ficado. Se e somente se, você quisesse voltar, eu disse a sua mãe que poderíamos levá-la de volta. Mas a julgar pelo modo como me perguntou agora a pouco, você não quer isso, quer?

  - Não - é a minha vez de sorrir. - Não quero e isso foi uma das coisas que mamãe usou pra me magoar, como se eu tivesse tomado essa decisão simplesmente por que queria irritá-la e não por que eu quisesse mesmo ficar. Ela me disse várias coisas horríveis, uma ferindo mais que a outra.

  - Eu sinto muito por isso, Lilly - papai diz suspirando. Nós começamos a andar e nos afastar do jardim e da festa, um jeito de termos essa conversa com o mínimo de privacidade. - Sua mãe realmente acha que fez aquilo tudo para o seu bem, na cabeça dela, ela estava te protegendo. Dando-lhe um futuro melhor, um que ela não teve. Pelo menos não até sairmos daqui, então na cabeça dela se você ficar vai estar presa, como ela se sentia. Sua mãe não entende que é aqui que você se sente livre, do mesmo jeito que pra ela a cidade é sua liberdade.

  - Eu nunca tinha pensando desse jeito – admito. A fazenda sempre foi pra mim o melhor lugar do mundo, eu nunca podia imaginar que mamãe não gostasse tanto assim daqui.

  - Eu sei. E sei também que você é um ser humano muito especial e é só por isso que vai relevar o que sua mãe está fazendo. Logo mais nós vamos embora e você terá paz – papai diz sorrindo e dá uma piscadela. Seu peno teatrinho me faz rir.

  - Assim espero.

  - Vamos voltar para a festa? Por que acho que os convidados vão começar a perceber que a anfitriã sumiu – papai diz divertido e eu aceito o braço que ele me estende para voltarmos juntos.

  A primeira coisa que vejo quando alcanço o jardim são os olhos azuis de Theo sorrindo pra mim. Meu cowboy me estende a mão que aceito sorrindo, ele me puxa pra si no instante em que me solto do meu pai. Os lábios quentes e doces de Theo são a última coisa que sinto antes de fechar os olhos e aproveitar esse momento que me deixa mais leve depois de tudo o que aconteceu desde que o vi pela última vez há algumas horas, mas que pra mim pareceram uma eternidade.

  - Me dá gosto vê-los assim – a voz de papai nos trás de volta a realidade me obrigando a separar-me de Theo. Meu pai sorri divertido observando-nos e seu sorriso me faz sorrir também. – Já posso sonhar com netos?

  - Pai! – o repreendo corada e isso só faz Theo gargalhar.

  - Acho que é um pouco cedo pra isso ainda, Ricardo.

  - Muito cedo – eu concordo. – Vamos com calma.

  - Mais? – papai pergunta divertido. – Vocês estão esperando há dez anos se forem mais devagar que isso param.

  - É baixinha, seu pai tem razão, que tal começarmos as tentativas? – Theo pergunta sugestivo e como resposta lhe dou um tapa no braço. – Ai – ele reclama massageando o lugar que bati.

  - Dá pra parar falar disso na frente do meu pai? E recuso-me a tentar qualquer coisa com você até esclarecermos nossa situação! – digo cruzando os braços e ele me olha curioso.

  - Que situação?

  - Como assim “Que situação”? O que somos, Theo! A gente voltou, mas voltou a ser o que exatamente? Ficantes? Namorados? Noivos? A gente nem falou sobre isso e você querendo falar de filhos. Uma coisa de cada vez.

  - É só isso? – ele sorri. – Então é fácil resolver, nós...

  - Cordélia! – a voz da minha mãe nos alcança e preciso de todo meu autocontrole para não grunhir de frustração. – Lia, você não pode fugir de mim assim, ainda não terminamos de conversar.

  - Primeiro que eu não estou fugindo e segundo que terminamos sim, definitivamente terminamos.

  - Certo – ela suspira olhando feio para Theo ao meu lado. – Não vim aqui brigar, só queria te pedir que fizesse algo pra mim, sim?

  - Um... Favor? – pergunto sem ter certeza e ela faz que sim.

  - Isso – mamãe sorri de um jeito meio estranho e num movimento súbito segura minhas mãos entre as suas. – Você buscaria um porta-retratos que ficou no nosso antigo quarto e o levaria até o carro, por favor? Queria levá-lo comigo e se guardá-lo no carro não vou esquecer. Você me faz esse favor? Tenho uns velhos amigos para cumprimentar.

  - Você não falou nada sobre porta-retratos, Cíntia – papai a olha com um olhar questionador e mamãe descarta a informação com a mão.

  - Só lembrei dele agora, você vai, Cordélia?

  - Certo, tanto faz – concordo apenas para acabar com esse momento estranho. Solto minhas mão das de mamãe.

  - Eu vou com você – Theo anuncia e mamãe o olha feio.

  - Não. Você fica. Quero ter uma conversa com você.

  - Mãe... – começo, mas é Theo a me interromper.

  - Tudo bem, Lilly, vai lá. Eu quero mesmo dar uma palavrinha com a sua mãe.

  - Tem certeza?

  - Sim – ele diz olhando diretamente pra ela e é o olhar de papai que procuro, ele assente concordando.

  - Eu fico de olho aqui – diz e meio hesitante dou um beijo rápido em Theo e sigo outra vez para a casa da fazenda.

  Quando estou subindo os degraus que levam aos quartos no andar de cima tenho a sensação estranha de que alguma coisa está prestes a acontecer. Talvez seja só impressão pela conversa inacabada que deixei para trás entre mamãe e Theo, mas mesmo assim não gosto nenhum pouco da sensação.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam?
Quero opiniões, o que pode acontecer ainda?
Beijocas e até, Lelly ♥



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