Aprendendo a Recomeçar escrita por Lelly Everllark


Capítulo 16
Dor e recomeço.


Notas iniciais do capítulo

Hellooooo my babys!!!
Eai, como vão vocês? Eu tô ótima caso queiram saber...
E deixando de lado as introduções, espero que gostem do capítulo, dessa vez nem demorei (muito)!
BOA LEITURA ;3



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“Ficou pela metade a nossa despedida

Nenhum de nós teve coragem pra dizer adeus

Se era amor, vai ser por toda a vida

Cada perfume que sentir vai preferir o meu, vai

 

Sentir saudades assim como eu

Em algum momento vai lembrar

De tudo aquilo que a gente viveu

Era amor e amor é singular”

Singular — Loubet.    

  Já tinha quase uma hora que eu encarava o telefone fixo do escritório. Depois da briga com Theo e de nós jogarmos tantas verdades na cara um do outro eu subi para o quarto para pensar, mas não consegui ficar lá mais que alguns minutos, eu precisava de respostas, queria saber a verdade e sei que isso não ia acontecer se eu ficasse encarando a tinta desbotada da parede do meu quarto.

  Então eu desci determinada a falar com minha mãe e tirar toda essa história a limpo. Já que aqui não pegava celular eu precisava do telefone fixo e de coragem para fazer a ligação.

  - Chega! – disse a mim mesma em voz alta.

  A verdade é que eu não queria ligar, por que parte de mim já sabia a resposta para as perguntas que eu queria fazer à mamãe e outra parte não queria acreditar em nada disso, mas eu estava cansada de fugir, eu fiz isso por dez anos, até mesmo me tornei outra pessoa para esquecer, só que agora eu não era mais uma garotinha assustada que teve que ir com os pais, agora eu era uma mulher forte e determinada e não vou mais me contentar com nada menos que a verdade.

  Peguei o telefone e disquei o número que eu sabia de cor. Minha mãe atendeu no segundo toque.

  - Alô?

  - Oi, mamãe, sou eu, Cordélia.

  - Lia! Que bom ouvir sua voz — ela disse animada e eu quase podia ver o sorriso em seu rosto. Isso só tornava as coisas ainda piores. – Por que não me ligou antes? Seu pai me disse que falou com ele há alguns dias.

  - Desculpe. Aconteceram algumas coisas e eu acabei esquecendo de ligar. E como aqui na fazenda não pega celular, dificulta ainda mais as coisas.

  - Aconteceram coisas? — mamãe pergunta como senão tivesse ouvido mais nada do que eu disse. – Que coisas, Lia?

  - Muitas coisas.

  - Não me diga que perdoou aquele fazendeiro interiorano pelo ele te fez? Eu disse ao seu pai que isso era uma péssima ideia! — ela pragueja sem esperar uma resposta. – Vou buscá-la. Vou pedir ao seu pai que suspenda essa palhaçada e vamos até aí trazê-la de volta pra casa.

  - Mãe, não! – a interrompo. – Eu não vou, não sem antes terminar o que eu vim fazer aqui e nem sei se mesmo depois que eu terminar eu vá querer ir.

  - Que história é essa, Cordélia? Como assim não sabe se vai voltar? A menos três semanas atrás você nem mesmo queria ir. O que mudou?

  - Várias coisas mudaram e eu também. Na verdade eu não mudei, só me reencontrei.

  - Cordélia... — mamãe parece chocada e surpresa de mais para dizer qualquer coisa que seja. – O que... O que aconteceu com você?

  - Eu descobri que é impossível esquecer um verdadeiro amor. Por mais que a gente tente, que finja e que fuja ele sempre vai nos encontrar de uma forma ou de outra. E descobri também que quando alguém que você ama te machuca, o estrago é bem maior.

  - É eu sei, eu vi o que aquele fazendeiro — ela diz a palavra com tanta repulsa que parece quase uma ofensa, como se papai antes de ser rico não tivesse sido só um fazendeiro simples. – Fez com você, eu acompanhei, eu...

  - Não – a interrompo mais uma vez. – Mamãe eu não estou falando do Theo. Estou falando de você.

  - De mim? O que quer dizer com isso, Cordélia?

  - Eu vou te fazer uma pergunta e quero que seja sincera comigo. O Theo ligou? Ele ligou mesmo todos os dias no ano em que nos mudamos?

  - Lia, de onde tirou isso? — sua voz soa nervosa. – Aquele cowboy metido a veterinário te trocou, lembra-se?

  - Você não respondeu minha pergunta, mãe. O Theo ligou ou não?

  - Ligou — ela responde de má vontade. – Mas depois do que ele te fez eu achei melhor te proteger. Eu achei que falar com ele só te deixaria pior então eu...

  - Então você simplesmente disse a ele que eu não queria falar com ele!? – digo irritada. – Você não tinha esse direito!

  - Ele te magoou, te trocou e te fez chorar por quase um ano inteiro! Você era uma criança que achava que amava aquele cowboyzinho então eu tinha o direito sim de te proteger!

  - Achava que amava? – repito sem acreditar. – Como você pode falar assim sobre os meus sentimentos! Como pode dizer que não eram verdadeiros!? Como pode se quer pensar depois te tudo o que viu que eu não o amava de verdade? Eu chorava por que queria falar com ele e você diz simplesmente que não deixou que fizéssemos isso!?

  - Agora que você está aí eu sou a vilã? — mamãe pergunta e não consigo acredita em suas palavras. – E quando você viu aqueças fotos? E quando disse você mesma que não queria mais nada com ele? Que o odiava? Alguns dias aí e você simplesmente se esqueceu do que aconteceu?

  - Não, mãe, não esqueci. Mas ouvi muitas coisas e quero que me diga a verdade. Você diz que não quis que eu me machucasse, mas e antes? E antes das fotos? No dia em que chegamos? Nas primeiras semanas em que tudo o que eu queria era voltar correndo pra cá, ele ligou? Theo ligou pra mim?

  - Cordélia... — ela suspira e sei que está evitando o assunto, mamãe era boa nisso, evitar assuntos, dar voltas nas pessoas. – Isso é mesmo importante? Você está formada, é linda, rica e está de casamento marcado com Lucas, vamos só deixar o passado no passado, Ok?

  - Ele ligou, não ligou? – pergunto com a voz tremula. Dói acreditar que ela fez mesmo isso, mas a cada minuto que passa, a cada palavra que ela diz é mais difícil de negar que mamãe não esteja mentindo. – Nós finalmente nos encaramos aos berros e conversamos sobre o que aconteceu. Theo disse que ligou e eu sei que ele ligou, por que ele disse que ligaria, mas você sempre corria e atendia ao telefone e eu sempre perguntava se era ele e você negava e eu acreditava, por que é a minha mãe e por que supostamente devia cuidar de mim e me desejar o melhor. Mas aparentemente não foi bem isso que aconteceu, foi? Como você conseguiu aquelas fotos do Theo? A Sabrina te mandou de bom grado ou você mesma pediu a ela que tirasse? Responda-me! Diga alguma coisa!

  - Você quer mesmo ouvir, Cordélia? — sua voz soa dura, fria. – Ele ligou. Ele ligou todos os malditos dias do ano e eu só queria que ele ficasse longe! Queria um futuro melhor pra você! Queria que tivesse tudo o que eu não tive! Uma vida de luxo, estudo, um casamento com algum homem importante o suficiente para te merecer, queria mais! E foi tão difícil fazer com que você o esquecesse que parasse de perguntar. Eu fui aí algumas semanas depois que viemos pra cá, passei uma tarde, você passava o dia todo chorando no quarto então não deve nem ter notado que passei o dia fora. Eu ia pedir a ele que parasse de ligar, que a deixasse viver, ser livre e crescer, coisa que você definitivamente não faria aí nesse fim de mundo, não queria nem mesmo ir à faculdade! Mas eu sabia que falar com ele não adiantaria nada, eram duas crianças que juravam estar apaixonadas, nunca parariam de lutar então sem querer eu encontrei com Sabrina, não sei bem como chegamos ao assunto, mas ela queria o Theo e eu o queria bem longe de você, então pedi a ela que tirasse as fotos e me mandasse, não seria difícil de você acreditar que ele tinha outra uma vez que supostamente não tinha mais te ligado. Eu só quis te proteger de você mesma e desse sentimento que não te levaria a lugar nenhum, fiz o que achei certo e faria outra vez se preciso, só queria que fosse feliz, Lia.

  - Feliz? – meu riso é de escárnio. Eu não acredito, não consigo se quer acreditar em suas palavras, no que fez. No que foi capaz apenas para conseguir que eu fizesse e me tornasse quem ela queria. Estou tremendo enquanto seguro o telefone, mas não é medo, é raiva, crua, pura e simples. Parte de mim está chocada que minha mãe tenha feito isso, outra parte pouco se importa que ela seja minha mãe, essa pequena parte só quer mandá-la à merda. – E em que parte dessa sua ideia maluca você acha que eu fui feliz!? Eu chorei mamãe, por quase um ano! E mesmo depois daquelas malditas fotos e de ter o coração partido eu ainda queria vê-lo, abraçá-lo! Você diz que meus sentimentos não me levariam a nada, mas quem me machucou foi você! Quem partiu meu coração foi você! Quem me separou do homem que eu amava foi você! Quem me impediu de ser feliz foi você! Você acabou com a minha vida no minuto em que me obrigou a ir embora daqui e não satisfeita com isso, ainda me fez odiá-lo por dez anos quando ele não teve culpa de nada. Como pode dizer que queria que eu fosse feliz se foi você quem destruiu minha felicidade? – quando termino de falar vejo as lágrimas pingarem nos papéis em cima da mesa, eu tinha começado a chorar e nem tinha me dado conta.

  - Lia, por favor...

  - Não me chama assim! – exclamo limpando o rosto, não vou chorar, não mais, isso eu me recuso a fazer. – Eu não sou a Lia, nunca fui e você sabe disso. Eu só me tornei essa patricinha mimada por que isso era o mais longe do meu verdadeiro eu que eu consegui ir. Mas ao invés de me impedir, você me incentivou, eu deixei de ser eu, de me importar, de sentir. Tornei-me outra pessoa e você ficou feliz com isso! Na época eu achei que você me entendia, que estava me ajudando, mas era fácil ajudar quando foi você quem causou o estrago. Você alguma vez ao menos se sentiu mal com o que fez, mamãe?

  - Eu estava ajudando você! — ela ainda insiste e a cada segundo que passa tenho mais certeza de que não vou conseguir perdoá-la. – Eu não me arrependo de nada do que fiz e se não fosse seu pai e esse castigo estúpido, você nem mesmo descobriria nada disso, voltaria com o Lucas e todos voltaríamos a nossas vidas e seriamos felizes.

  - Você está ao menos se ouvindo!? – pergunto sem acreditar. – Você sabe o quão loucas essas sua palavras soam? Todos seriamos felizes? Você talvez ficasse feliz, o Lucas quem sabe, o papai? Nem tanto, ele me conhecia o suficiente para saber que eu nunca quis nada daquilo. E eu? Eu nunca seria feliz de verdade fingindo ser alguém que eu não sou! Sabe o que mais me dói, mãe? Não foi nem o que você fez, isso já tem dez anos, eu poderia tentar perdoar, talvez até esquecer. O que me dói mesmo são suas palavras agora, o que me dói é que você simplesmente não entendeu que suas ações me machucaram mais que tudo, e que não entendeu também que eu nunca quis nada daquilo, mas você não me deu escolha além de aceitar. O que me dói é que talvez, depois de tudo que você me disse, eu nunca seja realmente capaz de te perdoar de verdade. Eu te amo, mãe, mas não consigo mais acreditar mais em você.

  - Lia... Cordélia, por favor, me entenda eu só quis o seu bem, eu...

  - Tchau mãe, eu preciso esfriar a cabeça, depois a gente conversa, manda um beijo para o papai – peço como se tudo estivesse bem, por é mais fácil assim e desligo logo em segui sem dar chance a ela de falar mais nada.

  Coloco o telefone no gancho e olho um logo momento para ele repassando toda a minha conversa com minha mãe. É surreal, assustador e doloroso pensar que foi ela mesmo que fez isso. Que nem hesitou antes de me separar de Theo sem nem pensar em meus sentimentos, em como doeria e como eu me sentiria. Quero chorar e dessa vez me permito, por que digo a mim mesma que será a última vez que choro por essa história, que agora está tudo resolvido e a única coisa que quero agora é ser feliz, com ou sem Theo, eu finalmente quero ser feliz.

  Em algum momento da minha enxurrada de lágrimas começa a chover do lado de fora, os pingos de água batem nas janelas fechadas e isso me faz sorrir, o tempo está combinando perfeitamente com o meu estado de espírito. Já algum tempo o sol se pôs e a noite escura onde o céu parece estar desabando me traz paz, essa chuva parece ter sido enviada para lavar minha alma e estou tentada em ir até lá fora me molhar um pouco, deixar a chuva levar todos esses sentimentos ruins para que eu me sinta leve, livre, que eu me sinta eu mesma outra vez.

  Fico de pé e estou descalça, passo direto pelos saltos jogados no chão e vou em direção à sala de estar, a casa está vazia e silenciosa, tia Beth e Alice foram gentis o suficiente para me deixar ter essa conversa com minha mãe a sós, passo pela cozinha, a luz está acesa e tem um bilhete de minha tia dizendo que o jantar está no forno, isso me faz sorrir, mesmo no meio dessa confusão toda ela não deixa de cuidar de mim. Agora não sinto fome, mas mais tarde quem sabe. Vou em direção à varanda e quando abro a porto levo um susto, a figura encharcada a minha frente quase me faz ter um ataque do coração.

  Theo está parado a poucos passos dos degraus da varando, molhado dos pés a cabeça. A chuva forte cai sobre ele e sua camisa escura está colada ao corpo forte, os cabelos escorrem água, mas ele não parece meramente incomodado com isso, sua expressão ao me ver é o mais lindo sorriso e só quero correr até ele e me atirar em seus braços, mas agora não sei mais se tenho esse direito.

  - O que está fazendo aí? – pergunto quando o silêncio se torna constrangedor, Theo ainda está parado exatamente no mesmo lugar, assim como eu ao lado da porta.

  - Esperando você? – sua resposta soa quase como uma pergunta. – Eu não sabia se podia entrar, mas não consegui esperar, queria te ver, você me pediu tempo e eu já estou aqui estragando tudo, mas não consegui...

  - Eu gostei que veio – digo sorrindo, Theo é e sempre será alguém que só trabalha com a sinceridade, com ele nunca vai haver fingimentos. – Eu conversei com a minha mãe.

  - E o que ela disse? – sua curiosidade é legitima, não há deboche ou coisa parecida, ele só quer saber o que aconteceu.

  - Sinceramente?

  - Claro.

  - Disse que fez mesmo aquilo tudo, mentiu sobre suas ligações, pediu a Sabrina que enviasse as fotos, me ajudou de bom grado a te esquecer e que faria tudo de novo se preciso, que era pra me ver feliz – minha ironia é tanta que acho que Theo pode vê-la escorrendo pelos meus lábios. – Ainda não consigo acreditar, mas ela fez e confessou. E quero me desculpar, você nem teve culpa de nada e eu te acusei injustamente todos esses anos.

  - Lilly... – ele sorri ainda sob a chuva. – Eu também te acusei sem saber, nós fomos enganados e nos culparmos por isso só piora as coisas e faz quem quer nos separar ganhar mais uma vez.

  - E o que a gente faz agora?

  - Vamos ser felizes, só assim vencemos, só assim passamos por cima de tudo isso. Eu sei que você quer tempo pra pensar, mas saiba que vou estar aqui te esperando como disse que faria. E dessa vez nada vai me fazer mudar de ideia sobre você.

  - Eu te amo – digo sem pensar, Theo parece surpreso com a declaração repentina, mas não me importo, dessa vez vou fazer o que meu coração quer. E é por isso que vou até Theo debaixo da chuva e me atirou em seu pescoço, ele me segura antes que eu caia e sorri. – Amo você e não preciso de mais tempo nenhum, preciso de você, preciso viver o que nos foi negado. Quero voltar a ser sua Theo, do jeito que era antes de partir, quero aquele sentimento de estar em casa outra vez, será que podemos ter aquilo outra vez ou é tarde de mais?

  - Para o nosso amor nunca é tarde de mais, eu te amei quando nem mesmo sabia o que era o amor e vou continuar amando pra sempre. Amo você, Lilly. E você não tem ideia do quanto eu quis apenas tomá-la em meus braços e fazê-la minha outra vez no momento em que a vi naquela estrada. Mas saiba que não tenho planos de deixá-la ir, está bem com isso?

  - Como nunca estive em muito tempo – digo antes de puxá-lo para um beijo sob a chuva que nos lava, limpa e sela mais uma vez nosso amor.

  Ele é apenas o início do nosso caminho para aprendermos a recomeçar e dessa vez, no que depender de mim, sermos muito felizes.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Pra mim foi forte, intenso e bem fofo esse final. Agora que nosso casal vinte finalmente se acertou (e eu espero que fiquem assim por um bom tempo!) no que depender de mim vamos ter algumas cenas bem fofas, por que eles merecem! #SóVemMelação kkkkkk
Mas é isso, espero que tenham gostado, comentem!
Beijocas e até, Lelly ♥



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