Aprendendo a Recomeçar escrita por Lelly Everllark


Capítulo 12
Bônus: Sob as estrelas.


Notas iniciais do capítulo

Voooltei e isso com certeza é algum tipo de milagre de fim de ano kkkkk
Espero que gostem da minha volta repentina e do capítulo também!!
BOA LEITURA!! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/768710/chapter/12

“E vai chegando perto de mim

E quando faltar um centímetro

Fecha os olhos e deixa rolar, deixa

Deixa o beijo durar, deixa

Deixa rolar, deixa, deixa o beijo durar”

Um Centímetro — Jefferson Moraes.

  Alice

  Era difícil ver duas pessoas importantes pra mim sofrerem assim, Theo era meu irmão e estava sendo isso a oito anos quando num acidente idiota na estrada eu perdi meus pais e vim morar com tia Beth, a irmã mais velha da minha mãe. E tinha é claro, Cordélia, a patricinha irritante e meio instável que eu fui obrigada a “acompanhar”. Tem pouco mais de uma semana, mas acho que já posso chamá-la de amiga. E sendo eles, o casal que já se conhece a vida toda e pelo que entendi se ama a vida inteira também, é ainda mais triste vê-los brigar e se desentender.

  Só queria saber mesmo o que aconteceu, alguma coisa não se encaixa nessa história. Até Cordélia chegar, Theo nem mesmo dizia o nome dela, mas falava sobre ela, sobre como eram apaixonados e foram felizes até ela ir embora e se esquecer dele, trocá-lo por festas e luxo. E não sei se acredito nisso, as roupas bonitas e saltos para mim parecem mais uma armadura do que seu jeito de ser, fora que Lilly parece ter uma raiva homicida de Theo e isso não é de graça, então por quê? O que de fato aconteceu com eles há dez anos?

  Ainda estou na varanda olhando Sabrina sorrir de modo afetado para Theo que continua com o olhar perdido e a expressão triste desde que Cordélia foi embora sem nem olhara para trás. Pelo que entendi, a vaca que fica dando em cima dos machos alheios veio buscar uma encomenda para sua mãe com tia Beth e como Theo estava vindo pra cá, ela fez questão, é claro, de pegar uma carona com ele. Sabrina tenta conversar com ele, toca seu braço, sorri, mas é perda de tempo isso me faz sorrir, Theo está muito longe, mas sei exatamente onde encontrá-lo, nos olhos castanhos esverdeados de Lilly.

  Sabrina conversa com minha tia e tenta convencer Theo a levá-la de volta, mas ele inventa uma desculpa e sei que é apenas invenção, como tia Beth não diz nada só resta a Sabrina voltar com um dos trabalhadores. Eles esperam o carro chegar aos portões antes de virem se juntar a mim, estamos os três sentados nos degraus. E me irrita um pouco Theo estar observado às vacas pastando muito longe dali calmamente ao invés de estar indo atrás de Lilly.

  - Você não vai atrás dela, não? – pergunto e ele finalmente me olha e nega com a cabeça.

  - Acho que Lilly tem razão, aquilo foi um erro. Se não demos certo quando não haviam diferenças entre nós, agora que somos só diferenças, não vai dar certo mesmo.

  - Por quê? – faço como uma criancinha birrenta e não ligo. – Por que não podem ser felizes se está claro como água que se amam?

  - Nos amamos sim, desde sempre eu acho, mas amor às vezes não é o suficiente.

  - Não acredito nisso! Nem aceito isso! Está sendo covarde – acuso irritada. Por que eles tinham que ser tão cabeças duras?

  - Lice... – ele suspira passando as mãos pelos cabelos. – Não é tão fácil assim, se estivesse apaixonada saberia. - Suas palavras me pegam de surpresa e tem consciência de que ele não sabe, Theo não sabe e penso em dizer a ele. Mas tia Beth me para ao passo que meu primo fica de pé. – Vou indo, tenho um cavalo para examinar.

  Theo se fasta e olho para tia Beth com uma sobrancelha arqueada.

  - Por que fez isso?

  - Por que já tem muita coisa acontecendo para Theo se preocupar que a irmã mais nova está apaixonada pelo melhor amigo.

  Eu arregalo os olhos surpresa.

  - Como a senhora sabe?

  - Não sou cega, Alice, eu vejo o jeito que olha pra ele e vejo o jeito que ele olha pra você – sorrio, sorrio como uma idiota.

  - A senhora acha que ele pode gostar de mim assim?

  - Quem sabe – ela dá de ombros. – Isso vai ter que perguntar a ele.

  - Então nunca vou saber – digo e ela ri.

  - Não ri, tia! Eu estou falando sério. Não tenho coragem. Às vezes eu queria ser uma garota da cidade corajosa como a Cordélia.

  - Pois saiba que Cordélia é tudo, menos uma garota da cidade corajosa, ela é sim, corajosa, muito. Mas não por que morou na cidade e sim por que enfrentou seus medos. Sabia que a Lilly nasceu aqui?

  - Claro, aqui na vila, ela morou na fazenda até ter quinze.

  - Não – tia Beth nega com a cabeça. – Aqui – ela aponta para a casa atrás de nós. – Cordélia nasceu nessa fazenda, nessa terra, dentro das paredes dessa casa. Fui eu quem ajudou a mãe dela no parto. Ela é tudo, menos uma garota da cidade.

  Minha tia fica de pé, sorri e resolve seguir para sua casa mais adiante no terreno da fazenda. A ideia de que Lilly literalmente nasceu aqui me faz sorrir, ela é realmente uma garota da fazenda. Vejo tia Beth ir recolher a roupa do varal e penso que poderia ser feliz assim, como ela é, vivendo na simplicidade, cuidando da casa, dos filhos e da terra. Talvez um dia quem sabe, eu realize esse sonho. Mesmo por que a pessoa com quero torná-lo real parece nem me ver, como posso se quer imaginar que Hugo vai gostar de mim assim?

  Eu o vi pela primeira vez quando tinha quinze anos, Theo estava voltando em definitivo para casa depois da faculdade e o trouxe junto, Hugo perdeu os pais quando jovem e morava com os avós que também faleceram pouco depois dele se formar. E depois disso o que eram visitas que aconteciam às vezes se tornou uma vida, com seu trabalho na fazenda e o apartamento na vila, mesmo que meus tios o tenham convidado para ficar conosco, ele preferiu seu espaço.

  Nesse dia em que Theo havia nos prometido uma visita, eu estava ajudando tia Beth com a roupa, com os cabelos pendendo de um rabo de cavalo frouxo e o vestido molhado, estava um desastre com uma cesta de roupas nas mãos e ele chegou como sempre com sua caminhonete velha que dizia manter por “motivos pessoais” e hoje sei que é por causa, dela, por causa da sua Lilly. Ele desceu e antes que eu pudesse se quer deixar a cesta no chão, Hugo saiu da caminhonete e sorriu pra mim, um verdadeiro príncipe digno dos meus sonhos de menina, com os cabelos escuros, o jeans apertado, as botas e os olhos escuros que me arremataram ali, talvez seja besteira, ma acho que me apaixonei a primeira vista.

  No início era sim uma admiração boba de menina, ele é lindo e fiquei encantada, mas depois se tornou algo mais, era diferente, não era mais só sua aparência que contava, era seu riso fácil, as brincadeiras que sempre fazia comigo, sua vontade de viver e coragem mesmo depois de tudo que passou. Hugo é um homem admirável e é isso, ao longo desses quatro anos a admiração se tornou paixão e talvez quem sabe, até mesmo amor. Mas é só, observá-lo de longe e vê-lo ser de todas mesmo meu, é a única coisa que consegui, nós conversamos, rimos juntos e ouso dizer que nos conhecemos muito bem, mas no fim, eu sou só a irmã mais nova do seu melhor amigo e isso é o que mais me dói.

  Livro-me desses pensamentos e fico de pé, remoer o passado e pensar no que não tenho não vão fazer as coisas melhores, talvez eu tente a ideia de Cordélia e arrume alguém para beijar, ou ao menos rir comigo, só não posso pensar tanto nisso a ponto de esquecer-me de viver, até por que, como diria Lilly, Se Hugo não me quer, tem quem queira! Rio do pensamento e resolvo ir atrás da minha patricinha favorita, a essa altura ela já deve ter esfriado a cabeça e posso finalmente descobrir o que aconteceu.

  Encontro Cordélia sentada na grama perto da entrada para a cachoeira, eu não vou muito lá, moro de medo de altura e não sei nadar, mas pelo que tia Beth disse, era o lugar favorito dos dois, o tal lugar especial de que tanto falam. Sento-me ao lado da patricinha e nós duas olhamos o céu que está começando a se colorir com as cores do por do sol. Espero que fale ou chore, mas Lilly sorri e decido que isso é o suficiente por enquanto. Nós ficamos ali sentadas na grama até ela me explicar que conhece Sabrina da escola e ódio era mutuo naquela e aparentemente é até hoje, ela não explica exatamente o que aconteceu, mas sei que de algum jeito tem a ver com dez anos atrás, por que se não fosse isso, ela não teria terminado o que quase começou hoje de manhã com Theo, não assim por nada. Até por que, eles são aquele tipo de casal que só de olhar, você sabe que se amam mais que tudo.

  E mesmo que eu diga isso a ela, Cordélia não quer saber, não quer ouvir e nem pensar sobre isso, então parei de falar, mas já que não posso fazer nada sobre a minha vida amorosa, posso ao menos tentar resolver a dos outros, né? Mesmo que eu ache que Lilly não concorde com isso. Nós ficamos até ver o pôr do sol e depois fomos até a casa de Cordélia ajudar tia Beth com o jantar, não demorou muito a estarmos na mesa com tio Jorge, nenhum dos meninos apareceu e descobri que ambos foram dormir na vila. Lilly parecia aliviada, e eu também estava, tinha que tomar coragem e falar com ele, mas não tinha ideia do que fazer e nem como fazer, eu era uma covarde, isso sim.

  Acordei no dia seguinte cedo como de costume, tomei banho, troquei-me e coloquei um dos meus muitos vestidos e fui atrás de trabalhar, acompanhar Cordélia às vezes era bem cansativo. Encontrei tio Jorge a caminho da casa da fazenda e ele sorriu quando me viu, vindo me cumprimentar.

  - Bom dia, Alice.

  - Oi, tio. Indo conferir a colheita?

  - Sim. Indo ver a Lilly?

  - É, tenho que cuidar da nossa patricinha – digo e ele sorri. – Vou lá então.

  - Alice – ele chama assim que começo a andar e me volto para encará-lo.

  - Sim?

  - Aqui – ele me estende uns papéis amassados do bolso. – Quase esqueci.

  - O que é? – pergunto lendo e me dando conta que são duas entradas para um parque de diversões.

  - Ele chegou à vila ontem, vá com a Cordélia.

  - Só nós duas? – pergunto surpresa e tio Jorge faz que sim.

  - Beth disse que precisavam de um passeio. Eu mesmo as levo mais tarde, o que acha?

  - Que o senhor é incrível! – digo sinceramente pulando em seu pescoço para abraçá-lo. – Obrigada! – agradeço assim o solto. – Obrigada mesmo.

  - Não há dê, senhorita. Agora pode ir – ele indica a casa e faço que sim correndo até lá, subo as escadas da varanda aos pulinhos de felicidade.

  Cumprimento tia Beth que está entrando na cozinha e sigo direto para o quarto de Cordélia. Bato na porta.

  - Já acordou patricinha? – pergunto e ouço o barulho de coisas caindo. – Está tudo bem aí, Cordélia? Estou entrando!

  Abro a porta e Lilly está, para o meu alívio, catando algumas maquiagens do chão, vou até ela ajudá-la.

  - O que aconteceu, aqui? Passou um furacão?

  - Quase, eu passei por aqui com meu desastre. Esbarrei na penteadeira e quase que derrubo não só as maquiagens, mas ela e o espelho junto. Está fazendo o que aqui tão cedo?

  - Meu trabalho, sou sua babá afinal – digo e ela sorri. – E por falar em cuidar de você, tio Jorge me deu ingressos para o parque de diversões que chegou à vila, vamos?

  - Não estou afim – ela resmunga ficando de pé para guardar as coisas de volta a seus lugares.

  - Ah! Larga de ser chata, patricinha, vamos!

  - Não quero vê-lo, Ok? Vão vocês. E não, não estou fugindo!

  - Primeiro que está fugindo sim e segundo que vamos ser só eu e você. O tio Jorge vai nos levar e trazer, um programa de garotas. Que tal?

  - Bem – Lilly sorri. – Se for assim, eu aceito. Que horas?

  - Mais tarde a gente vê o horário, agora vamos ver se dá pra salvar alguma coisa – aponto seu pó que provavelmente quebrou e a ouço gemer enquanto sorrio.

  Nossa tarde passa entre restaurações de maquiagem, Lilly trabalhando e eu ficando entediada no escritório e enchendo o saco dela. Quando chega perto das 18h00m começamos a nos arrumar, por que sei que Cordélia precisa de uma eternidade pra isso e às vezes eu também. Faço um trança lateral no cabelo, não curto maquiagem, mas passo rímel e batom, resolvo colocar um de meus muitos vestidos, esse é tomara que caia amarelo claro, uso um cinto de couro marrom e uma bota de salto baixo da mesma cor. Sinto-me ótima e isso é tudo que me importa.

  Quando chego ao quaro de Cordélia com a certeza de que terei que fazê-la trocar de roupa, surpreendo-me ao vê-la, seus cabelos estão soltos e naturais, a maquiagem é leve, mas o batom vermelho a faz parecer incrível, ela usa um short jeans, uma regata preta, um salto da mesma cor e para completar o look uma camisa xadrez azul. Quase posso imaginá-la com quinze anos, com vestidos floridos como os meus e botas, mesmo por que, algo me diz que essa é a verdadeira Lilly.

  - Está incrível – digo sinceramente. – Onde conseguiu o short e a camisa? Por que tenho quase certeza que não o trouxe de casa.

  - Comprei antes de ontem na cidade. E obrigada pelo elogio, imaginei que fosse gostar, você também está linda. Vamos?

  - Vamos!

  Despedimo-nos de tia Beth e seguimos para a caminhonete com o tio, fomos conversando todo o caminho até a vila e acho que por isso a viagem pareceu ter durado muito menos, quando tio Jorge estacionou perto da praça, já podíamos ver as luzes e a movimentação do parque, eram umas 20h30m e a vila estava a todo vapor. Combinamos com que ligaríamos quando quiséssemos voltar e nos despedimos do tio Jorge para aproveitar a noite fresca. Hoje o céu estava claro e cheio de estrelas, para alivio de Lilly não parecia que iria voltar a chover tão cedo.

  - Vamos primeiro em qual? – pergunto depois de entrarmos, havia muito tempo que não vinha a um parque e se fosse julgar diria que Cordélia também não. Seus olhos num tom de castanho esverdeado pareciam encontrar lembranças e encantamento em quase tudo e isso sempre me fazia sorrir, nos conhecíamos a pouco, mas eu só queria que ela fosse muito, muito feliz.

  - Na roda-gigante, que tal?

  - Nem pensar! – vetei sentindo o estomago embrulhar, só a ideia me dava náuseas.

  - Por quê?

  - Por não quero – cruzei os braços e Cordélia riu.

  - Vai me dizer que tem medo de altura?

  - Dá pra parar de rir?

  - Você é mesmo igualzinha a ele – ela sorri. – Theo também morre de medo de altura.

  - Como sabe? – pergunto realmente curiosa e ela dá de ombros.

  - Acho que o conheço bem de mais, fora que eu sempre tinha que implorar para que ele fosse à roda-gigante comigo, a ideia era só nos beijarmos em paz, então ele sempre cedia mesmo que estivesse odiando a ideia – Lilly sorri como uma boba e sei que o que quer que seja que está entre esses dois não vai ser nada quando eles realmente decidirem ficar juntos. O brilho nos olhos enquanto falam um do outro chega a cegar.

  - Mas pode tirar seu cavalinho da chuva que não sou Theo, não vou beijar você muito menos ir naquela coisa.

  - Ok – ela suspira. – O que sugere então?

  - Bate-bate ou quem sabe montanha russa, o que acha?

  - Pode ser, vamos lá caipira.

  - Vamos, patricinha.

  Estamos saindo do bate-bate quando Lilly esbarra em alguém, a pessoa a segura e ela sorri assim bate os olhos em Marcelo. O cara é um gato, mas já pegou a vila inteira, definitivamente não faz o meu tipo, mas Cordélia não parece compartilhar da minha ideia, por que sorri.

  - Olá Cordélia, finalmente nos reencontramos – ela pega a mão dela e beija o dorso jogando seu charme e reviro os olhos.

  - Oi, Marcelo. Não imaginei que o veria aqui.

  - Nem eu, quer dar uma volta? – ele olha direta mente pra mim e dou de ombros.

  - Vai lá, Lilly, acho que vou comprar pipoca lá na entrada.

  - Tem certeza? – ela está realmente preocupada e isso me faz sorrir.

  - Claro, pode aproveitar a companhia e ir à roda-gigante. Eu vou comer e quem sabe ir tentar a sorte naqueles jogos com prêmios. Você está com seu celular, certo? Quando bem... Terminar, me liga, pode ser?

  - Ok, vou lá então, qualquer coisa me liga também! – ela pede se afastando com Marcelo e sorrio, talvez a noite de uma de nós tenha salvação afinal.

  Sigo de volta para perto da entrada e estou terminando de pagar minha pipoca doce quando as duas últimas pessoas que imaginaria ver estão entrando no parque, Hugo e Theo me veem antes que eu possa se quer tentar sair dali, eles vêm em minha direção e só me resta suspirar e cumprimentá-los.

  - Lice? O eu faz aqui? – é como Theo me aborda dou de ombros com punhado de pipoca na boca.

  - Tio Jorge me trouxe – digo depois de engolir. – Pipoca? – ofereço, mas sou solenemente ignorada.

  - Veio sozinha? Cadê a Lilly?

  - Vim com ela e ela saiu em um encontro – digo e sei que Cordélia adoraria ver o choque estampado no rosto do meu primo.

  - Encontro!? – Theo está berrando e atraindo atenção na entrada do parque, que ótimo. – Como assim? Com quem?

  - Nós encontramos o Marcelo por acaso e eles resolveram ir à roda-gigante sozinhos por que você sabe que eu não entraria naquela coisa nem amarrada.

  - E você simplesmente deixou ela ir com ele? – eu até poderia achar o ciúme bonitinho se eu não estivesse com medo dele bater em alguém.

  - À roda-gigante, certo? Eu vou é... – ele olha para a roda brilhante mais adiante e depois pra mim.

  - Pode ir lá, cara, eu fico com a Alice – Hugo se pronuncia e suas palavras me pegam de surpresa, eu sozinha com ele? Quando foi que isso virou essa confusão?

  - Pra que você vai atrás da Lilly? – pergunto ignorando as últimas informações. – Ela não quer ser resgatada, quer ser deixada em paz, tenho certeza.

  - Ah, mas ela vai ser deixada em paz, assim que eu encontrá-la e dar na cara do Marcelo. Hugo cuide da Alice, já volto – Theo diz já se afastando sem me dar alternativa além de ficar imóvel e desconfortável ao lado do cara de quem eu gosto sem ter nem ideia do que fazer.

  - Alice?

  - Hum? – resmungo com a boca cheia de pipoca sem olhá-lo.

  - Você vai ficar parada aí no meio da entrada para ser atropelada mesmo? – ele pergunta e como se só para confirmar sua suposição umas crianças passam correndo e quase me derrubam, Hugo me segura e no instante seguinte estou em seus braços exatamente igual a duas noites atrás e a sensação é a mesma, de que meu coração pode sair pela boca a qualquer momento, cada ponto onde seus dedos me tocam estão em chamas.

  Nossos olhares estão um grudado no outro e nossos narizes quase se tocando, por uma fração de segundo nada mais importa, não vejo ninguém a nossa volta e tudo que faz sentido é nossa pequena bolha de sentimentos arrebatadores. Seu olhar sobre mim agora não tem nada de amigável, não é um cara cuidando da irmãzinha do melhor amigo, é o olhar de um homem sobre uma mulher e isso mexe comigo a ponto de sentir as pernas bambas. Só que nosso momento é interrompido quando mais alguém esbarra em nós e quase caímos, Hugo me mantém de pé, mas se afasta no instante seguinte, ele parece tão mexido quanto eu, seu olhos escuros o denunciam mesmo que pareça querer manter a maior distância possível entre nós.

  - Você está bem? – ele pergunta e aceno positivamente ainda tentando normalizar a respiração.

  - Estou ótima. Obrigada. Vamos a algum brinquedo?

  - Isso! Vamos – Hugo parece quase aliviado com a ideia e isso me faz suspirar de frustração, ele quer tanto assim se livrar de mim? No fim eu realmente não sou nada pra ele, e já devia estar esperando por isso, mas mesmo assim dói. – Em qual?

  - Qualquer um – digo sem um pingo de animação. – A montanha russa talvez?

  - Vou adorar – ele sorri e meu coração volta a se alvoroçar todo, meu cérebro já entendeu que não vai rolar nada, mas como explicar isso ao idiota do meu coração apaixonado? – Vamos? – ele estende a mão e só por hoje vou aceitar o que puder, depois vou esquecê-lo e desistir, mas por hoje aceito sua mão e seus sorrisos, por hoje vou fingir que Hugo Tavares é meu.

  Seguimos de mãos dadas até a fila da montanha russa e não nos soltamos, nem falamos, só ficamos ali desfrutando do calor da mão um do outro, e em determinado ponto da espera Hugo começou a fazer carinho na minha mão e acho que nem tinha se dado conta disso, por que continuou até sermos chamados e termos que nos soltar para entrar no carrinho. Sentamo-nos lado a lado e no momento em que a trava de segurança nos prendeu e o carrinho deu um solavanco antes de começar a andar, descobrir que isso tinha sido uma péssima ideia.

  - Hugo – choramingo e ele me olha. – Dá tempo da gente sair daqui, né?

  - Não – ele sorri divertido e o carrinho começa a ganhar velocidade, engulo em seco. – Por quê? Está com medo?

  - Não! – eu quase grito quando descemos de uma vez e me agarro à camisa dele, o carrinho faz uma curva fechada e não ligo mais, só fecho os olhos e tento gritar o mínimo possível.

  - Fica calma, Alice – Hugo pede, mas despencamos outra vez e estou gritando de mais para respondê-lo. Nossa viagem parece demorar uma eternidade, mas são só alguns minutos. Quanto sinto o carrinho parar volto a respirar normalmente. – Já pode abrir os olhos.

  Faço isso e o vejo sorrindo pra mim, ainda estou agarrada a sua roupa e o solto, Hugo é o primeiro a descer, ele me oferece a mão e aceito por que ainda estou tremula e cair é a última coisa que preciso.

  - Vem, vamos sentar ali – ele me leva a um banco de madeira e nos sentamos. – Se tinha medo, por que foi?

  - Por que não me lembrava de ser tão ruim – digo sinceramente e ele ri, de um jeito tão espontâneo que me faz sorrir também ao mesmo tempo em que aquece meu peito. Seus olhos escuros me hipnotizam e quando me dou conta tenho uma mão em seu rosto, Hugo fecha os olhos e se inclina para receber o carinho.

  - Por que faz isso comigo? – sussurra tocando minha mão que está em seu rosto e enviando correntes elétricas por todo meu corpo. – Você é território proibido.

  - Hugo? – chamo surpresa com o que ouvi. – Como assim “território proibido”?

  - Não é nada – ele diz se afastando do meu toque e ficando de pé. – Não é nada, quer outra pipoca? Que tal...

  - Do que você estava falando!? – exijo ficando de pé. Não me importo de estarmos num local público, uma vez na vida vou ter coragem.

  - Não é nada, Alice. Nada que precise se preocupar, eu disse que entendia então vou ficar longe.

  - Disse a quem? Ficar longe de quem? De mim? Quem pediu pra ficar longe de mim!?

  - Fica calma – ele diz se aproximando e não me movo, não me acalmo e só consigo pensar que Theo é provavelmente o idiota que pediu para ele ficar longe e que Hugo é ainda mais idiota por fazer isso.

  - Não quero me acalmar, quero só saber o que acha de mim – digo reunindo toda minha coragem, os olhos escuros de Hugo se arregalam.

  - Eu não posso fazer isso, Alice, não posso...

  - Mas eu posso – dou um passo em sua direção, ele parece relutante, mas não se afasta. – O que quer fazer, Hugo?

  - Eu...

  - O que quer?

  Mas ao invés de dizer, ele mostra me puxando para si pela cintura, e finalmente, depois de tanto sonhar, seus lábios estão sobre os meus. O gosto é doce, suculento e me faz arrepiar dos pés a cabeça, sinto suas mãos em minhas costas e o puxo para mais perto pela nuca. Meu coração bate descompassado e nunca um beijo mexeu assim comigo, ele morde meu lábio inferir e sorrio durante o beijo. Afastamo-nos e ele me dá vários selinhos antes de finalmente nos separamos de vez. Seu sorriso reflete no meu e estamos os dois sorrindo como bobos.

  - Isso foi...

  - Um erro – Hugo completa antes que eu o faça e seu sorriso morreu, assim como o brilho em seus olhos, ele se afasta como se eu pudesse feri-lo e não o contrário, quando ele está claramente partindo meu coração. – Eu não devia ter feito isso.

  - Mas fez! – rebato com raiva. Lágrimas não, nunca lágrimas por que não sou assim. – E sei que gostou!

  - Não façam as coisas ficarem piores, Alice. Eu realmente não devia ter feito isso. Você me perguntou o que eu achava de você, então lá vai, você é só a irmãzinha do meu melhor amigo, então não vamos fazer isso outra vez, Ok? – suas palavras cortam mais que laminas afiadas, machucam de um jeito que não achei ser possível.

  - Ok, eu já entendi, isso não vai se repetir, eu te garanto – respondo ríspida dando meia volta e seguindo outra vez para a entrada do parque.

  Não me viro para ver se ele me segue, não choro e também não vou implorar. Só fingir que nunca aconteceu. Se para ele eu sou só a irmãzinha de Theo, para mim ele vai ser só o amigo idiota do meu irmão, nada mais. Agora é só convencer meu coração que ainda bate descompassado pelo beijo disso também e eu estou livre desse maldito sentimento avassalador e que só fez me machucar até agora.

  Lilly tem razão, estar apaixonada é uma droga.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado de capítulo que ficou GIGANTESCO, a Alice é um neném e não merece nada disso e o Hugo ou é um amigo muito leal ou um idiota completo, o que acham?
E o que será que vai acontecer quando o Theo encontrar a Cordélia no próximo capítulo? Quero opiniões!
E foi isso, beijocas e até,
Lelly ♥
PS: Eu vou deixar o book trailer aqui outra vez, por que eu já disse a vocês que amo ele? Kkkkkk se já viram ignorem, se não viram podem ficar a vontade!!
https://www.youtube.com/watch?v=-5x1ulscBKg



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aprendendo a Recomeçar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.