Livros e Cigarros escrita por Martíou Literário


Capítulo 7
Capítulo 6 - Julieta controladora




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Quando ele sentiu aquele ronronar incomodante perto de seu cangote e perguntara a Jânio o que era, virou lentamente seu rosto para trás encontrando aqueles olhos curiosos como se um lêmure o encarasse. E ela semicerrou-os.

Foi uma sequência de ações desesperadas. Ítalo arregalando os olhos, e berrando quase abafado enquanto se levantava e tropeçava para trás, a gata rugindo e se arqueando e ele jogando algo nela, Leandro e Caíque se mexendo como se vissem duas putas brigando e Jânio correndo atrás de Julieta que só faltou correr pelas paredes.

Ítalo não era de tomar atitudes tão impensadas, e culparia depois o transtorno dos vinte anos que ele criara na cabeça. Leandro e Caíque desviaram a mesa no centro e cada um segurou uma mão carregada de impulso desatinado do rapaz alterado. Enquanto isso, Jânio aproximava-se lentamente de Julieta que estava encolhida e arqueada no outro canto da sala. Suas mãos estavam esticadas pala ela, cuja rugia e se arqueava cada vez mais, mas foi se acalmando ao sentir o toque de seu dono.

Ítalo puxou seus pulsos do agarro dos dois com força e virou para a porta da varanda, com as mãos na cintura, se acalmando.

Ele permaneceu ali para se acalmar e se arrepender como sempre, mas algo estranho chamou sua atenção.

A voz era rouca e confiante, não meio chiado e carregada de amargura como costumava. O rosto de Ítalo era marcado pela intriga, virando-o bruscamente para ela. Ela estava o encarando dos braços de seu dono. Ítalo oscilou para os olhos dela daquela distância, não acreditando que aquela voz tão humana vinha de Julieta, e com essa expressão, rodeou a mesa e ficou de frente para três jovens e um gato.

Ítalo apontou o dedo para ela.

— Você que é uma felina idiota. Ah, é, quando? Ah sabi... – Ítalo deixou a fala pela metade, paralisando, e ergueu os olhos para Jânio em seguida, percebendo a sua mancada.

Ele engoliu em seco e recompôs-se, recebendo um olhar estranhado dos três.

— você é amigo dela? – perguntou Ítalo, incrédulo.

— sim, - respondeu Jânio, com tom de obviedade. - somos amigos.

— Mas ela é um gato, como podem ser amigos?

— Assim como brancos e negros podem, héteros e gays também. – explicou Caíque, com a voz carregada de indignação.

— A escravidão foi abolida, Ítalo. – disse Leandro, compartilhando do mesmo sentimento de seu amigo.

— O casamento gay foi legalizado. – acrescentou Caíque

— Todos se amam. – dessa vez foi Jânio, tomando uma pausa para alternar seu olhar entre os olhos de Ítalo de maneira crítica - E agora quer começar a bagunçar o mundo criando tabus para gatos?

Ítalo ficou calado, olhando para os três sem saber o que dizer. Tava recebendo mesmo uma lição de moral sobre gatos? Logo ele, que tava quase precisando de um transplante de coração por ter o seu quase parado devido a vários gatos caindo do seu forro.

— Devia agradecer então que não nasci no século vinte. – foi a resposta de Ítalo.

Eles não entenderam. Mas olhando para o gato, ele sabia que naquele século essas pragas seriam queimadas como prova do sobrenatural. Ta legal, ele podia se comunicar com gatos, mas aquela gata não era comum, disso sabia, era diferente e talvez mais perigosa. Havia algo de errado nela, e olhando-a naquele momento, se perguntava se duraria algum tempo naquele apartamento.

Parando de amaldiçoa-la de todas as maneias, uma ruga formou entre suas sobrancelhas quando ela fitava fixadamente seu medalhão.

Um olhar fascinado e crítico.

Como de um humano.

Dois dias depois...

Após decidir finalmente se levantar da cama, Ítalo foi, com todas as forças, como se tivesse enfrentado uma batalha, para o banheiro.

Se encarou no espelho, olhando os cabelos crescidos e divididos no meio fazendo uma curva diante das sobrancelhas. Não era obsecado por isso. Mas o espelho tinha um efeito estranho de acentuar seus traços, secar suas bochechas, valorizar suas sobrancelhas grossas e arqueadas, que o fazia parecer mais bonito. E era nesse momento que percebia que estava em um lugar diferente do seu banheiro.

Enquanto se ensaboava, pensava que aquele era o dia que combinou de fazer uma visita à sua casa. Aquele era seu terceiro dia ali e já parecia começar a se acostumar, o que era bem surpreendente comparado ao fato do “quanto antes me mudar, mas fácil será para me acostumar” que sempre usava para convencer sua mãe quando pensava em sair de casa cedo. Seu pai havia feito uma ligação no dia seguinte após a mudança perguntando como as coisas iam. Foi legal, ele admite, ter ouvido a voz de seu coroa, mas esperava que só fosse pelos primeiros dias essa coisa de ligar para o filho como se ele estivesse num acampamento de férias. O que ele sabia que não teria nada de ligação naquele dia já que foi o dia marcado para a visita.

Dormir ali era fácil. Talvez fosse a coisa toda do ambiente que não é sua casa. Quer dizer, sua ex-casa. Mais uma coisa que ele se surpreendeu, pensou que não conseguiria dormir direito, pior que na sua casa. Mais uma vez, sua ex-casa. No entanto, ficou até tarde noite passada lendo livros. Tava aproveitando bem essa semana de paralisação na universidade para se acostumar melhor, mais relaxado no seu novo apartamento. Mas sabia que tinha que dar um jeito nesse seu horário de sono.

Revirou os olhos, passando a mão sobre os cabelos, enxaguando-os. Quem queria enganar? Sempre pensava em tentar regularizar o sono, mas admitia que parecia até vicio. Sem falar que a madrugada era como sua melhor amiga, a melhor aliada em seu sossego e acentuadora do seu pequeno mundinho. Soltou um riso pelo nariz, lembrando sobre seu pai ter lhe acusado de estar de mau humor por isso, pelas péssimas horas de sono. E sorriu maldosamente.

Agora ninguém pode me dar sermão. He He He.

Enxugou-se, enrolando a toalha na cintura e saiu do box. Nem acreditava que tinha um banheiro box igual a de seus pais. Limpo, perfumado e confortável para tomar banho.

Se encarou novamente no espelho, os cabelos molhados, a pele pálida, molhada e nua dando destaque a escuridão de suas sobrancelhas e seus cabelos, as pontas agora molhadas passando um centímetro do canto dos olhos.

Quer saber de uma coisa? Tava se saindo bem nessa coisa de se arriscar.

Ele parou um instante, abrindo o guarda roupa. Quem queria enganar. Talvez fosse cedo demais pra falar isso. Poderia comparar as relações de namoro? No início era um mar de maravilhas e depois, um pântano que levava rugas de estresse no rosto para limpa-lo?

Balançou a cabeça, parando de pensar em besteira e separou uma roupa. Arrumou-se e dirigiu-se à cozinha.

Sempre que passava por Julieta, uma troca de olhares afiados acontecia, com farpas telepáticas e assim o mundo parecia passar mais devagar naqueles cinco segundos para Ítalo. Por mais que fosse a gata com o vocabulário mais refinado e engrandecido que conhecera, nessas horas ela não dispensava as gírias e os palavrões.  

Eu to de olho em você, Humano.

Não pense em gracinhas, Felina. Bicho improfícuo.

Mundano desprezível.

Imprestável.

Ignorante, egocêntrico.

Malcriada, arrogante. Seu bicho egoísta, inferior.

Queixinho erguido, descartável.

Vai buscar seu café da manhã na lata dos vizinhos, vai.

Vai tomar seu cafezinho pra desengilhar essa sua cara, seu cocô.

Carniça.

Viadinho.

Filha da puta.

Tua mãe, seu arrombado.

Cachorra.

Macaco.

Verme.

Animal.

E assim entrava na cozinha, onde Jânio mordia uma torrada seguida de um gole de chocolate, tranquilamente. Ele ergueu seu olhar por um segundo para o outro. Morando nesses três dias, contando com aquela manhã, com Ítalo, Jânio aprendeu bastante coisa, hábitos, rituais, como tem dias que ele acordava igual um leão ou seu cabelo ficava amassado em cima e tufado dos lados, deixando a testa maior, o lembrando o palhaço do  it a coisa. Ô bicho feio de manhã, pensava ele. Jãnio nem deixava que o vissem com cara de acordado, até porque ia direto pro banheiro. Mas naquele manhã, ele estava arrumado, de banho tomado, os cabelos perfeitamente alinhados, pelo menos enquanto molhados. Com os orbes claros novamente na bebida, perguntou:

— Parece bem. Andou falando palavrões e jogando impropérios em alguém, Ítalo? – perguntou Jânio.

— Bom dia, colega. - Ítalo deu um sorrisinho enquanto despejava café em sua caneca. – me conhece tão bem.

....

Água jorrada. Panela. Pia. Esponja. Sabão. Umedecer. Ensaboar. Enxaguar. Fogão. Trim. Trim. Trim. Trim. Coador. Borra de café. Lavar. Enxaguar.

Fabrício estava finalmente coando o café. Foi quase estranho, era três da tarde e ia chamar pelo filho, ecooando “Ít...” pela casa até se tocar de novo.

E nesse momento ouviu o portão ser aberto. Ele olhou em direção ao corredor. Talvez fosse Ítalo, já que o primogênito trabalhava naquele horário.

E apareceu, abrindo um largo sorriso, encantando pela fumaça fumegante e o cheiro inebriante do café.

— olha, Márcia, olha só quem sentiu de longe o cheiro do café. – gritou para mulher que tava no quarto, estudando. Ela exclamou.

— Amor. – encostou-se no batente da porta. – Quem é esse menino? Eu acho que já vi ele por aqui.

— Pois é. – concordou o pai. – Ele tem um rosto bem familiar.

Ítalo riu. Era bem comum eles fazerem aquele tipo de brincadeira já que Ítalo costumava ficar trancado no quarto se ocupando com seus trabalhos de curso e suas histórias.

E sempre que seu pai, quando não pedia pra ele, e tomava a atitude de fazer o café, brincava, porque era o momento que Ítalo saia da toca pra um intervalinho e se deliciar em uma xícara de café, dando uma olhada na natureza diante dos muros da casa.

Ele jogou as chaves no balcão e encostou-se no próprio, cruzando os braços.

— E então, Zé ítalo. – começou seu pai, com um ar sábio e brincalhão. – como é que vão as coisas, meu filho?

— Parece até que moro lá há anos. – respondeu, calmo e natural.

Isso arrancou um olhar bem pasmo dos dois.

— Que foi? Eu to tão espantado quanto vocês. Achei que ia chorar por um tempo de saudade até me acostumar.

Ele jurou que os dois estavam contendo um sorriso de felicidade, sua mãe até do nada fingiu que olhava as apostilhas, que trouxera para a mesa.

— E o menino com quem você mora, gente fina?

— Olha. Não poderia conseguir alguém melhor. – soou convicto, com ar de empresário.

Sua mãe puxou a boca para o queixo, esboçando um ar de impressionada.

Houve um barulho no forro, tomando a atenção dos três.

— No entanto ele tem uma gata. Chamado Julieta. E ela é bem mandona.

Ele riram.

— Viu, foi querer sair daqui. – sua mãe brincou.

Ítalo balançou a cabeça, meio rindo. Sua mãe e comentário de humor quase negro.

— Ítalo, me quebra esse galho, lava essa louça aqui pra mim. – pediu Fabrício.

— Pois é, acho que tenho que ir pra casa. – brincou o filho.

Sua mãe riu.

— Ah é, filho da mãe, espera, que teu filhos vão fazer a mesma coisa contigo.

— Me surpreenderia se eles não fizessem. – comentou Ítalo, já organizando a louça pra lavar, pensando que um gesto de benevolência ora ou outra não mataria ninguém

Sua mãe suspirou, cansada dos estudos e se levantou, indo para perto dele para se servir de um pouco de café com leite.

E ele, enxaguando a louça e colocando do lado, sentia aquela aproximação acanhada de sempre, o que precedia todas as vezes as inconveniências dela.

— Ítalo, tu me ama? – perguntou, em um tom carente e, no fundo, brincalhão. Mas ele sabia que ela sempre parecia meio sério com isso, e ele não era alguém muito emocional, o que fazia com que ele se irritasse fácil come essas atitudes.

— Não. – respondeu ele. Ela sempre brincava com isso, mas tinha vezes que era irritante.

Ela sugou o ar surpresa. E cerrou os olhos para ele.

— Ah é, seu moleque, espera. - Ela o analisou depois, parando de falar do nada, como se algo curioso lhe despertasse a atenção. - Meu filho, teu cabelo tá muito grande.

— Mãe. – parou um instante de lavar a louça. – Acho que ta na hora de saber que a senhora tem que me respeitar. – Alternou o tom, impaciente. Ele bufou e sacudiu as mãos molhadas na pia.

Ela o olhou, sem confusão marcada, apenas prestou atenção.

— Eu... não tenho problemas, não preciso aprender nada. Mas eu não gosto de dizer eu te amo toda, hora, ou ficar abraçando, e também não gosto quando a senhora me forçar a rezar, e diz que tenho que fazer isso, muitos menos que fala do meu cabelo. Sério. Isso é uma diferença humana. – disse tudo de uma vez só.

Ela, com seu tom meigo, disse:

— Mas, meu filho, temos que orar à deus.

Ele suspirou. Um suspiro bem aproveitoso, fechando os olhos e soltando como se todo o estresse súbito fosse junto.

Ítalo só fez virar-se para a louça novamente e terminar aquilo. Esteve mal dez minutos ali e já conseguiram o fazer sair do sério. Quando terminou, serviu-se de um copo de café e foi para o pátio da frente, o esfriando-o, e encontrou seu pai numa escada de metal branca pouco descamada, limpando o forro.

— Olha, vou te dar um toque, não é nem um sermão, é só um toque mesmo. – avisou.

Ítalo, esfriando o café, ergueu o olhar para ver aquela expressão que já esperava, a testa franzida de Fabrício com uma linha fina na boca.

— Ali na praça, tem um monte tomando essa tal pedra noventa. – Meu Deus do céu, já não bastou sua mãe comentando daquela noite. - E todos os dias eu vejo ela ali. – Ítalo pareceu que ia falar algo, mas seu pai o interrompeu – não, espera. Sei que gosta de beber, mas essas coisas são só pra estragar a vida dos outros.

— E acha que eu não sei pai. Que eu não tenho ciência disso?

— E acha que os alcoólatras não sabem também a hora de parar? – Isso foi uma pergunta retórica. – todos eles sempre dizem, não eu sei quando parar, não se preocupa não. A indústria desses produtos sabe também disso, eles fazem justo pra viciar. Por que acha que é tão barato?

Ítalo deu nos ombros.

— Por que só vem 300 mls?

Seu pai o olhou como se fosse um olhar ultimato, mas conteve-se em repreender ítalo.  Ele voltou a esfregar o forro enquanto continuava com aquele conselho.

— Eu to te falando isso porque conheci muita gente assim, meu filho. Isso só serve pra estragar a vida alheia.

Não sabia se era pela força ou se sentiu uma mudança na voz. Ia sair dali assim que achou que mais um pouco seu pai fosse chorar. Ele estava se virando para ir, finalmente levando o café a boca, girando o corpo para as cadeiras do pátio ao mesmo tempo que virava o copo de café como se fosse tequila.

Nesse momento, sua mãe apareceu, desesperada.

— Como é que é Ítalo, tú tá fumando pedra?

— E esse café ta amargo.

Havia um mini arco Iris em meio a um borrão da água borrifada da boca de ítalo quando virou-se com aquele absurdo. Seu pais lhe encaravam, quase não conseguindo ignorar aquele arco Iris se dissipando.

Ítalo abriu e fechou a boca diversas vezes para responder aos dois. Mas tinha mesmo uma forma de conversar com aqueles dois? Desistiu, apertando os lábios e fechando os olhos como se contasse até dez. quando os abriu, aspirou o ar e disse.

— Não, mãe, não estou. E obrigado por avisar só agora, pai. Como sempre.

E foi embora.

@0_o@

Quando Jânio entrou, uma perna de Ítalo estava esticada em um armário e outra no chão, o corpo retraído na poltrona enquanto lia um livro. Que flexibilidade. Jânio achava estranha essa desenvoltura dele, teve uma vez que ele estava com uma vasilha de açaí na mão e de calabresa em outra e precisava abrir a porta para Caíque, e esticou a perna e abriu. Aquilo foi ao chocante.

Ítalo estava no sofá em na parte maior larga depois de ler o livro e Julieta no meio da parte fina, olhando a televisão com uma postura como se fosse a professora Minerva do Harry Potter disfarçada de gato. Às vezes realmente achava que Julieta fosse um animagus Ele separou uma comida e sentou-se na frente da Tv junto com os dois.

Ítalo gostava de assistir a teoria do big bang, mas Howard e Raj tinham uma amizade tão gay, que sempre que erguia os olhos com certa cena, Pegava Jânio o olhando com estranheza. Mas ele virou-se para a TV.

— Não é o que ta pensando. – tentou-se explicar Ítalo.

— É o que eu to pensando? – Era evidente que Jânio se fazia de desentendido.

— Nada. – Respondeu Ítalo, num tom baixo e acanhado, afundando-se ainda mais no sofá.

— Por que não coloca na TV?

Ítalo deu nos ombros.

 - você esta assistindo.

— assisto qualquer coisa. – disse Jânio, numa expressão de tanto faz.

Então Ítalo colocou a série para os dois assistirem.

— Isso parece uma coisa pra nerds, tú não é nerd.

Ítalo sentou-se no sofá, à vontade, e ergueu o queixo presunçosamente.

— Sou sim, um nerd literário.

— Isso existe? – quis saber Jânio, na inocência.

Ítalo soltou um riso fungado e deu nos ombros.

— É o que parece.

E ficaram a assistir a televisão novamente.

— A propósito, li sua historia, é muito boa. Por que não publica um livro logo?

— Livro físico você quer dizer? Sim. Mas é meu plano. Publicar na internet, ser conhecido, ir para o Kindle, depois para o físico.

Ele tragou e soltou no ar. Ítalo nem viu quando ele pegou aquele cigarro.

— Mas já pensou em escrever algo de humor? Lembro que chegava a ler algo assim na internet.

Ítalo franziu o cenho e estreitou os olhos para TV. Que pergunta nada a ver, pensou.

— nunca tentei, na verdade.

— Só acho que podia tentar. Olhe bem eles.

Ítalo roçou a barba de três dias enquanto prestava atenção nos diálogos.

— Hum. Eles costumam usar banalidades curiosas e engraçadas, mesclando e servindo para algum propósito. É, acho que posso.

Jânio o encarou no mesmo momento, depois para a TV.

— Você concluiu só com esse pedaço de cena? – perguntou, deixando transparecer seu assombro. Foi tanto que parou ate de fazer carinho em Julieta. A gata olhou com ódio para Ítalo por ele atrapalhar e distrair o dono dela.

— É mais do que óbvio, na verdade. – respondeu Ítalo, simplista.

Só havia uma coisa na qual ítalo gostava daquela felina. Ela era gamada no mundo da magia, assim com ele. Mas o penetrante olhar dela era como Malfoy olhava para Hermione, como se sentisse nojo e pensasse, olha só esse sangue ruim, andando pelo meu apartamento. Aff, Mundanos. Não sabem se colocar em seus lugares.

Ela mandava em tudo. Suas garras e seus dentes intravenosos eram expostos para fora com um rungido. E era por isso que Jânio não sabia por que o colega nunca conectava o notebook à TV. Só agora, com ele presente, porque quando a gata assistia Harry Potter, ninguém podia se intrometer.

Ele fez umas pesquisas depois de achar sua raça muito curiosa e descobriu que se chamava Mau egípcio. Tão a cara dela

Pelas pesquisas, procurou sobre a personalidade dessa raça de gatos, e encontrou que eles eram confiantes e a forma de caminhar era sempre em alerta, o que daria a impressão de um gato agressivo. Ítalo riu tão alto, pois de confiança ela tinha de presunção, e impressão na agressividade era o cacete. Com certeza as pessoas que escreveram aquilo nunca falaram com um gato na vida. Um dia, se encontrar mais pessoas como ele, escreveria um artigo dizendo toda a verdade, mostrando como esses indivíduos eram tão ou mais inteligentes que os próprios humanos.

Havia tantos absurdos em suas pesquisas, como em eles serem afetuosos e brincalhões. Mas o que essas pessoas tinham na cabeça para propagarem tantos absurdos? Ele já tentou, ah se sentou fazer carinho nela, mas ela reagiu como se e ele fosse fazer alguma maldade. E sobre o senso de territorialidade, Ítalo não tinha dúvidas..

Havia outras informações ali que ele não deixou de estudar, mas ficou preocupado com a questão da independência, isso servia para todos os gatos? Ta bom, ele entendia, mas só queria saber se essa independência servia para uma gata que lia livros quando Jânio e Ítalo não notavam, que ia ao banheiro sempre que tinha a chance e colocava, sem pedir para ninguém, os filmes do Harry Potter para produzir.

O que há de errado com essa felina?

Ítalo analisou a forma como os dedos se Jânio se abriam e fechavam num acariciar sobre o manto denso dela. O manto cor de fumaça com manchas pretas. Quanta ironia. E observando aquela cena com mais atenção, a forma elegante da gata e a maneira como Jânio afagava seus pelos, com sua pele cor de oliva, era como ver Cleópatra com o seu precioso e venerado bicho.

Ítalo balançou a cabeça depois de um rir pelo nariz.

Só pode ser brincadeira.

tom de pele, os olhos, os traços, nada poderia negar dele ser um descendente. Mas que besteira estava dizendo. Ainda bem que Jânio não lia pensamentos.

Desviou os olhos para a gata.

E então, aposto que você deve ser Cleópatra disfarçada de bicho.

Ela olhou para ele, meio que espantada, depois cautelosa e semicerrando os olhos em seguida.

Ítalo nunca teve medo de gatos. O único sentimento era raiva pelo estragado que faziam em seu forro. Mas aquele olhar... Aquilo foi temeroso, não era uma gata comum.

Ele engoliu em seco e desviou os olhos para a televisão.


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