Livros e Cigarros escrita por Martíou Literário


Capítulo 6
Capítulo 5 - Lar doce lar e um infernozinho à parte




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E saiu correndo como um raio quando Ítalo arremessou, com toda sua raiva acumulada, na beira do muro perto dali, causando um estrépido de bater o coração de todos. E ficou respirando, o peito rubicundo, aparentemente subindo e descendo, parecendo maior. Não tinha coragem de uma coisa dessas, estava realmente sem paciência, tirado do sério. Desse jeito virou-se para seus pais, que estavam brancos. Além deles, Emília estava no degrau que descia para a área, o encarando, chocada. 

Esse foi o dia em que Ítalo perdeu a paciência.

Determinado tomar uma atitude para mudar isso.

Mas deixaria para depois, pois logo que se virou para os pais, um tremor aconteceu.

Foi uma coisa estranha sentir como se sua casa tivesse pulado do lugar, até mesmo vertiginoso, e não era exatamente como se fosse cair, mais todos estavam com os braços meio erguidos como se prevenissem equilíbrio.

E ao parar, o pai de Ítalo ficou olhando para todos os cantos. Márcia ainda assustada, mas com uma postura impressionantemente robusta.

Depois de não achar algo que ele parecia procurar, Fabrício o encarou, chocado. Era diferente. Em um momento o encarava com uma alerta nos olhos como se se metesse com ele, ficaria doido, mas agora parecia ofendido. Olhava ofendido para Ítalo. O estudante nem mesmo havia absorvido o que acabara de acontecer e já olhavam para ele como se ele tivesse culpa daquele tremor esquisito.

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A casa de ítalo localizava-se na última rua de sua cidade, descendo uma ladeira. E atrás da casa dele, em um pátio arejado e com redes, podia-se ver, além dos muros, os anhingas erguendo-se em três metros e buritizeiros ao longe.

Aquilo era acolhedor e plácido, como ele sempre gostou. E sentir aquele sossego às sete da manhã, com um ar nutritivo, era uma sensação gostosa. Sabia que ia sentir falta disso.

Meia hora antes de se envolver naquela paz estava acordando de um pesadelo. O terremoto antes parecia apenas curioso para ele, mas agora isso estava começando o assustar. Toda hora isso estava circulando pelo seu inconsciente e ele não tinha a mínima ideia do porquê. Talvez tudo que estivesse vivendo repentinamente o deixasse confuso.

Ele realmente não havia previsto que seus pais fossem levar um susto quando o viram chegando afobado da universidade antes de simplesmente avisar que iria se mudar. Claro, eles pediram para Ítalo se sentar e explicar melhor aquela notícia, e ele contou tudo, revelando seus sentimentos e toda a história, óbvio, omitindo alguns detalhes de sua quase morte. Seus pais expressaram uma mistura de espanto, choque e ofensa que o fez se sentir tão mal que quase chorou. E percebeu que foi injusto com eles até porque era segunda e havia combinado sem hesitar de se mudar quarta. Tão repentino. Tão Ítalo.

No dia seguinte ele arrumou a casa inteira e se fez a disposição somente para os pais, depois, deitou-se no chão cansado e mirou os olhos no forro branco, sentindo seu momento pela última vez, antes, de no dia seguinte, se mudar.

E ali estava ele e o alvorecer do tão grande esperado dia seguinte.

A voz de sua mãe conseguiu chegar até seus ouvidos naquele momento, arrancando-o daquele instante embebido de paz. E entrou na cozinha para se servir de uma caneca de café e conversar um pouco com a chefe daquele lugar.

Por mais que gostasse de café preto, acabava trazendo um incomodo na barriga quando ele ficava com fome. Por isso que passou a colocar, às vezes, uma colher de leite.

— Como assim, claro que sabia que eu ia morar sozinho um dia, mãe. – lembrou-a, com um tom de impaciência carregado na voz. Ele sabia que explicar a ela sobre isso não seria muito bem recebido por Márcia.

Ele tomou um gole do café.

Esta parou no meio da cozinha, o que era estranho, porque estava pra lá e pra cá, puxando gavetas, pegando colher, copo e do nada parar foi bem preocupante. Era porque tinha algo sério a dizer, pelo menos pra ela.

— Ítalo, você pretende mesmo me deixar? – perguntou com uma prosódia na voz imaculável e carregada de mágoa.

Essa não, ela ta fazendo aquilo de novo.

— Claro que não, mãe. Não é só por que eu pretendo me mudar um dia que eu vou abandonar a senhora. Um dia não, hoje. Eu já havia lhe explicado sobre isso antes.

— Credo, meu filho.

Ítalo suspirou, fechando os olhos momentaneamente. Tudo bem, tinha uma parcela de culpa tudo nisso nessa repentina mudança.

— Mãe, eu não sou egoísta para não ter empatia pela pessoa. Eu tomo bastante cuidado antes de tomar decisões. Já me imaginei um dia quando eu tiver um filho e também desejaria que ele morasse em casa pra sempre. Mas não podemos ser egoístas, as pessoas tem rumos diferentes, temos que deixa-las seguir, assim como seu pai já deixou você seguir. Não é só porque eu vou me mudar de casa que eu a abandone, é praticamente um lugar pra eu dormir.

Se eu pudesse colocar a senhora, papai, o vovô e minha cachorra dentro de uma caixa e mantê-los só para mim, seria puro egoísmo. Não que eu quisesse fazer isso. É triste encarar essa realidade, mas temos que deixar as pessoas irem, não podemos prendê-las.

Elas podem ser nossas sem uma corrente em seus pescoços.

E parou para encarar dois pares de olhos de sua mãe carregados de algum peso, seja porque ele tivesse alguma razão e ela teria que engolir ou porque ele levou a sério em trazer aquele discurso, que a deixou abismada, mas esta queria conter-se o quanto podia. No entanto, suas marcas de expressão, depois de alguns seguintes de absorção das palavras do filho, aprofundaram-se ainda mais num semblante confuso.

— E seu irmão? – perguntou ela.

As sobrancelhas dele se ergueram na hora, dando nos ombros.

— Eu já falei da Sasha.

Ela estreitou os olhos para ele, puxando uma cadeira para si em seguida, enquanto os revirava. E aquele último comentário trazia uma reviravolta no clima todo.

— Vê se se cuida, pateta. E poe uma água pra ferver pro meu leite. – disse ela, naturalmente.

Ele torceu o canto da boca, desaprovando aquela atitude enquanto lavava a panela de café e erguia o olhar para o céu. Ele ia sentir falta daquela pia, quando seu pai, sempre às três da tarde pedia para ele passar um café e sempre que ele lavava o coador usado da manhã, erguia o olhar para aquela janela horizontal de vidro, mirando no céu. A atividade fornecedora de idéias que o fazia sempre destravar seu cérebro nos bloqueios.

Talvez tenha sentido o olhar de Márcia em suas costas quando ele, do nada, parou o que fazia, como se algo viesse à sua cabeça. Ele achara impossível ela ter compreendido. Mas era mãe. Tinham um poder mágico de sentir as coisas que os filhos podiam ainda nem saber. Talvez um dia saberia se descobrir não ser estéril. Apoiou as mãos na borda do balcão, mostrando-se completamente pensativo.

Depois de uns instantes precisando daquele tempo que ele realmente pensou que seria ignorado pela atenção da mãe, terminou o que tinha que fazer e cuidou de preparar suas coisas.  As únicas coisas que ele esqueceu foram livros didáticos, Enciclopédia Barsa Universal e um quadro na parede com a vista do rio amazonas.

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Música: Secrets - One Republic

Ítalo e sua família estavam na frente da casa, as malas já dentro do carro e a picape do tio pronta pra partir com os objetos maiores. Seu pai e irmão que ajudarem a por tudo nos automóveis. Ítalo sentiu-se diferente por um momento. Por ter pessoas fazendo coisas por ele ser o motivo. E era estranho, ver seu pai, irmão, tio e alguns empregados do tio colocando aqueles móveis com ar de mudança porque Ítalo decidiu se mudar. Não era que ele não garantisse a ideia, mas sentiu uma sensação na garganta. De que agora era ele decidindo pela sua vida. E suspirou. Um suspiro que pareceu ecoar fantasmagoricamente ao redor dele, como vozes do além.

Ele sempre se preparou para sair dalí e era por isso que sentia tudo quase como se fosse na frieza.

E naquele último instante, sua mãe deu uma última insistida sobre essa mudança.

— Mas pra que? – quis saber ela. De inicio, Ítalo sentiu desgosto da sua expressão de repugnância àquela ideia, como se mudar fosse desnecessário e ridículo.

Ele sorriu.

Ah, mãe. Eu tenho mesmo que aceitar isso.

Ele soltou as malas pequenas um instante e pediu para o motorista/empregado do seu tio o esperar, e se aproximou deles. Ele tentaria mais uma vez. Se não, deixaria que ela aceitasse aos poucos. Imaginou que fosse difícil para seus pais aceitarem mesmo.

— Mãe. – chamou-a - Sabe quando a senhora está numa loja e vê algo muito bonito, que possa dar um certo ar de extravagância, como um cachecol. E quer usar, por que é leve, bonito e te deixa bem?

Ela fez que sim, com os olhos um pouco apertados pelo sol.

— E vem uma pessoa e pergunta o porquê você vai usar? Como se fosse pra nada? Não seria chato alguém se intrometer?

Ela concordou, não hesitando muito, e parecendo menos conflituosa, talvez curiosa até onde ele queria chegar ou porque o tom dele parecia diferente, como um homem mais resoluto. Talvez o momento mais decidido que ela já presenciou vindo dele.

— Exato. Eu quero, vou me sentir bem, sempre imaginei me mudar, não estou te abandonando e não quero que ninguém me julgue por isso. Não seja a mulher que te julga por comprar um cachecol no Amapá, porque todos somos diferentes, todos seguimos um rumo diferente na vida, todos nós temos nossas vontades, e temos respeitar. Quero que a senhora respeite a minha, assim como um dia eu sei que tenho, por mais que seja difícil, respeitar do seu futuro neto. – ele sorriu, com um brilho nos olhos. – então só apoie, porque é tudo que a senhora pode fazer.

O rosto dela, numa lentidão sentida, foi para trás, como se algo tivesse a atingido. E seu rosto ganhou um semblante abatido. Mas ergueu um pouco o queixo, tentando firmar-se, engolindo em seco. Ela suspirou e assentiu.

Ah, mamãe, pense em minha mocidade, em quanto seu egoísmo pretende sacrifica-la, assim como minhas vontades e meu rumo, como meus aprendizados e minha maturidade. Pense nisso ou pelo menos sinta, as mães sempre sentem.

E o abraçou.

Ele olhou para o pai e o irmão, que o encaravam impassíveis, sem dizer nada, como se procurasse por uma resposta.

— Não negue pelo menos um abraço. – ela disse em seu ombro e sorriu. Acolheu-a com um abraço como se desse a ela a liberdade de visitar seu mundinho.

Ele não gostava muito de abraçar. Mas era verdade, era como as almas e mentes se conectassem e fosse a única forma da pessoa sentir a outra, seus gostos e seus mundos.

Então a apertou, mostrando que iria sim, sem dizer, sentir saudade e que a amava. E talvez a fizesse se sentir melhor para parar de lhe encher o saco. Surpreendeu Fabrício com um abraço também, finalizando com um tapinha nas costas. Até mesmo condescendeu um abraço na pimenta da sobrinha. E o seu irmão, olhou-o por um segundo e virou-se para o carro, como se fosse nada demais.

E entrou no automóvel, que partiu em direção da sua nova vida. Só esperava realmente não ter azar nisso como costuma sempre ter.

Não quando ele, definitivamente, iria começar a contar sua própria história.

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O carro dobrou na esquina para a rua onde se erguiam prédios, e no meio dela, Jânio e mais dois garotos o esperavam na frente da porta do condomínio. Ítalo imaginou que ele estivesse se esforçando pra compensar aquela cena. Assim ele tomou um suspiro. Não se preocupa, garoto do beck, agora que já arrisquei, vou aguentar não importa o que seja.

E saiu de dentro do carro, meio tímido e sem jeito em recomeçar já que nunca se mudou sozinho na vida. Apertou os lábios e estendeu a mão para eles.

— Como foi a viajem? – perguntou Jânio, dando um aperto convidativo em sua mão.

— Hã. – Ítalo apertou um pouco os olhos, pensativo e respondeu. - Meditativo.

O outro abriu um sorriso, mais a vontade e com uma ponta de divertimento.

— É bem a sua cara.

Ítalo soltou um riso nasal.

— O Caíque e Leandro vão me ajudar a levar as coisas lá pra dentro. – avisou Jânio.

Ítalo abriu a boca pra falar, saindo um som meio engasgado. Não queria dar trabalho pra ninguém e tinha a sensação, pela cara de vontade dos garotos, que, Jânio, por mais nada aparente que seja, os forçou a estarem ali.

Mas logo os dois se dispuseram a pegar a armação da cama, já perguntando onde estava o caminhão de mudança, que na verdade era uma picape vindo logo atrás do palio de onde Ítalo desceu. Talvez os becks fossem mais gentis do que parecesse.

Ítalo olhou para trás.

— Não é um caminhão, não tenho muita coisa, só a cama, e mais algumas coisas. É na picape do meu tio, deve tá vindo.

Houve uma buzina. Os dois sumiram num estalar de dedos em direção a picape. Jânio se aproximou, olhando para como o tio de Ítalo era uma figura.

— Quem deras eu ter um tio desses. – e riu. – Sei que você parece ser bem reservado, mas se ele quiser fazer essas propostas pra mim.

O tio de Ítalo era um cara que se tornou empresário só sabendo o básico do português e matemática. Era um ótimo homem, mas gostava de falar uma besteira. Não perdia dois segundos em se encontrar com o sobrinho e já oferecer cinco garotas de bordel pra ele se matar na noite. Ele tinha um bigode volumoso e uma barriguinha proeminente marcada pelo cinto, dando um ar de xerife humilde de cidade.

Ítalo volveu sua atenção para Jânio, que ria do tio de Ítalo, mas encarou o novo colega de quarto e o sorriso desapareceu um instante.

— Como é que tá? – perguntou Ítalo. – sabe, daquele dia.

Depois de Jânio ficar meio surpreso dessa pergunta sobre a saúde dele, seus olhos claros desviaram por um momento sem exagero algum para trás Ítalo.

— To de boa. Não demora mais que dois dias... sabe... pra passar tudo.

Ítalo assentiu, já que não podia dizer mais nada pra alguém que acabou de conhecer.

E assim forçou um riso, como quem quer mostrar que ta tudo bem.

— Só espero não ter de assustado. – revelou Jânio e chutou uma pedra, voltando a encara-lo como de dois buracos para um rio dourado lhe encarassem.

Ítalo balançou a cabeça.

— Não esquenta a cabeça. Não é como se eu já não tivesse perto disso.

— Não vai tomar benção do teu tio, seu moleque? – chamou o tio, com aquela voz de idade e grave. Estava chegando nos sessenta, mas vivo e sólido como uma rocha.

Ítalo e Jânio riram, descendo o meio fio pra cumprimenta-lo.

Depois disso, o letrado se sentiu melhor e talvez mais confiante quando seus colegas começaram a ajuda-lo a carregar as coisas dele, gentilmente. Não só porque o tio de Ítalo enfiou uma nota de cem reais no bolso do sobrinho pra ele comprar umas pizzas ou tenha oferecido uns xiris pra ele e os amigos, o que fez os garotos ficarem bem animados e Ítalo balançar a cabeça.

Não era tanta coisa, apenas a armação da cama, uma mesa de mármore com desenho de xadrez, muitos livros, produtos pessoais, as vestimentas, prateleiras e uma cômoda.

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— Toma. – Ítalo entregou uma das notas de cinquenta para Caíque para ele pedir a pizza. Mas este evitou erguendo a mão.

— Não tenho telefone. – tomou a desculpa óbvia pelos olhos do Letrado.

— Toma usa o meu. – inventou ítalo

Então Caíque foi direto ao ponto.

— Por que você não pede? – quis saber. Naquele momento, Ítalo reparou que ele tinha algumas sardas ao redor do nariz, fazendo-o parecer mais danado.

Hesitante, Ítalo admitiu.

— Eu não sei fazer isso. – revelou, meio que encolhendo um dos olhos, envergonhado.

— Você não sabe pedir uma pizza? – perguntou Caíque, incrédulo.

— Não. – retrucou. - Como é que se fala com o cara da pizza? – ironizou.

Nem a pau que vou admitir que meus pais que sempre faziam isso.

Ele supôs que caíque só não revirou os olhos pra ele porque ele que tava pagando. O outro pegou quase puxando o celular e discou o número.

Ítalo caiu sentado no sofá, suspirando cansado e sentindo-se livre de todo o trabalho da mudança. Agora só restava esperar pela pizza que havia pedido. Mas sua atenção foi tomada pelo seu colega de quarto que não parecia muito bem.

— O que tem ele? – perguntou para o primo de Jânio que estava com o celular no ouvido. Caíque não parara de coçar, às vezes, com um certo desespero e agonia, a virilha.

— Problemas com a namorada. – explicou.

Seu celular vibrou também. Tomou um suspiro acalmante com antecedência quando viu que era seu pai.

— Sabe o que ela tem? Vocês nunca vão saber pelo que a gente ta passando.

— Quem disse que não, acha que não vou ficar velho e passar pela mesma coisa?

— Ai, ítalo, por favor.

— Tá pai, mais alguma coisa?

— Só... entende isso. – voltou a suavizar a voz. Aquele aspecto de sua fala fez ele se sentir mal. Seu pai consumava voltar a diminuir o tom quando só queria paz, não importando se era visto como errado ou se a situação era inconveniente para ele. E isso fez ítalo repensar se deveria ou não achar uma maneira de condescender.

— Eu entendo pai. Mas eu só expliquei para ela o equivoco. Não posso também ensinar pra vocês alguma coisa? Seria injusto ela ter esses problemas e continuar sem eu explicar. – esclareceu, referindo a situação da “bebedeira e gritos”.

— Ítalo. – Fabrício mostrou-se repreensivo.

Tá, dessa vez ele revirou os olhos e suspirou no maior silêncio para seu pai não ouvir.

— Tá, era só isso. Fica com Deus. – disse Fabrício.

— Ta bom. – Ele nunca ia dizer de volta, mas esperava que seu pai compreendesse também. – Pai. – chamou.

— Fala, meu filho.

— Sei que eu pareço uma pessoa complicada e indiferente, mas não significa que eu não me importe. Sim, eu entendo.

Fabrício ficou em silêncio.

— Ta bom, meu filho, boa noite, se cuida. Qualquer coisa, liga.

Ele sorriu.

— Ta bom, pai. Tchau. – Desligou e encarou a tela do LG. Eu posso não ter dito isso em voz alta, mas espero que percebam que eu amo vocês.

Colocou o dispositivo em cima da mesa e encostou a cabeça no sofá, pensativo. Droga, ele não deveria ter tido esse momento estranhamente família. Tava indo tão bem. Tava se esquecendo do início do dia ao olhar os anhingas. Uma hora dessas deve estar ventando lá. Lembrou ao ouvir o vento farfalhar as folhas da árvore perto da varanda. Lembrou-se da área de trás da casa.

Era por isso que ele decidiu se mudar, porque nada mais para sua vida se resumia em certo e errado. Sua mãe tinha razão nos gritos dos vizinhos e sobre ela se equivocar, mas seu pai chega com questão da mãe sempre estar com problemas de saúde e drogas na família que mostram que a questão tem vários lados.

E ítalo sabia que tudo poderia ser melhor com ele fora dali. Ele poderia viver na sua paz, sua família também. E assim a compreendê-la melhor. Compreender melhor a vida.

Jânio jogou-se no sofá ao seu lado, com um bufo frustrado. Caíque trouxe a pizza e cada um pegou um pedaço, todos jogados e cansados. Leandro saiu do banheiro e se sentou na ponta do chaise, ligando a televisão onde passava malhação.

Ítalo se sentia em casa. Sentimento que durou até um ruído contínuo e estranhamento gutural o deixar desconfortável. Aquilo fez um arrepio prender-se na sua nuca de tão paralisado que estava.

— O que tem atrás de mim? – perguntou numa voz tensa e trêmula.

Jânio, naturalmente, olhou para o lado e depois voltou sua atenção para a TV e para uma revista que lia.

— Minha amiga, Julieta.

Com suspense, Ítalo virou seu rosto em direção ao ronronar que o inquietava no lugar encontrando duas orbes grandes e amarelas num olhar impassível dentro de uma face emoldurada pro orelhas grandes e pontiagudas. Mas semicerraram-se em fendas para ele.

Estou de olho em você, humano.

Só pode ser brincadeira, destino.


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