Livros e Cigarros escrita por Martíou Literário


Capítulo 14
Capítulo 13 - Poder humano




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Desde pequeno, Ítalo sempre teve Adalberto como seu maior aliado. No entanto tinha esse detalhe que os separava. De um lado, um destemido mancebo clamando por independência, de sua forma, partindo de seus princípios sem exageros, de outro, um homem com quase um século de experiência que acreditava que as pessoas tinham que se unir para as grandes conquistas.

Estava na aula de sociologia com um copo de café comprado da lanchonete de lá, já que o de casa fazia sua barriga revirar. Era a forma que encontrou de se acalmar quando o avô o lembrou que ele já morou na casa de outra pessoa. Algo que gostaria de esquecer para sempre. Mas saiu dali do asilo suando frio.

—.... Ao longo da história, os diversos Status vão modificando a posição política. E ai, vão aparecendo algumas ideias de sociedade. Nós, sociedade civil, temos direitos e deveres, constituídos, pela construção geral. O sufrago universal nos permitirá legitimar uma ação política. Essa sociedade política, por sua vez, irá conduzir as ações do estado e este devera fazer uma deglotina pra sociedade civil. Necessariamente, todos nós, somos seres políticos, o que faz tua abstenção das ações ser um ato político. – ele sorriu. –Captaram a lógica? Então, eu me abstenho, não quero participar deles, de ação política, partidário política, administrativo, mas tanto os outros vão legitimar a ação de uma sociedade política, de um grupo social através do estado, este pode fazer deglotina à sociedade civil. Captaram? E ai, imaginem o estado com todas as suas instituições sociais, escola, judiciário, tudo. É engraçado, pessoal, por ser de tal grande importância que não é comentado nos peitos escolares. E muitas vezes, nós, dos cursos de graduação, queremos logo é uma análise voltada como que é o meu objetivo. Ah, sou de Letras, quero ver logo assunto do curso. Então a relevância da produção de sociologia é sua imersão nessas questões sociais, incentivando nossas ações. O importante nisso tudo geram assim movimentos sociais, que vai legitimar essa questão da organização social.

É mais do que fato que seu pai contribuiu para o ódio com a matéria, mas a sociologia mudou a cabeça de Ítalo, antes ela o irritava, a política o estressava, mas agora enxergava com outra perspectiva. O Ítalo de vinte anos dizia para o de quinze que suas ações, suas vontades, podiam interferir na vida de outros. Algo que seu avô lhe avisara na tarde daquele dia. Mas que droga!

Nesse momento, saiam da sala de filosofia 2015.2 Nicolai com alguns de seus colegas sendo precedidos por ele. Com um sorriso, ele parecia audaz. Suas intenções eram politicas.

Todos eram seres políticos.

Ítalo queria se abster, mas a tempo estava mudando de opinião. Nicolai queria altamente participar, porém, os alunos que assistiam sua passagem pelos corredores sentiam uma alerta altamente perigosa.

O professor esquadrilhou a turma, como se quisesse dirigir-se à todos.

— O que é um movimento social? – perguntou. - Acabamos de ver a greve dos caminhoneiros, né? – lembrou ele. - Vocês acham que essa greve dos caminhoneiros foi um movimento social?

— Foi. – Alguém respondeu.

— Por quê? – perguntou o professor.

— Pelo coletivo. – alguém respondeu.

— É bem coletivo. Que mais?

Houve um silêncio de quase dois minutos.

— É o seguinte, a lógica de movimento social não vai se ter plenamente quando, por exemplo, um grupo vai simplesmente à luta, por não estar mais aguentando, em determinada situação foram protestar. Ok, uma ação é marcada quatro horas da tarde aqui na frente do Campus e seis horas da tarde é finalizada, ponto. Isso ai é considerado uma manifestação social, não um movimento social. Por quê? A lógica dos movimentos sociais será cumprida, necessariamente, passo a passo. Primeiro passo, agitação, o povo começa a se incomodar com as situações de sua realidade, posteriormente, nomeamos excitação um grupo que começa a aumentar e tomar corpo obviamente, depois, nós temos a formalização, essa lógica de organizar o movimento começa a surgir lideres, a lógica de pensar para o coletivo. E finalmente a institucionalização do movimento que é aquilo que foi pensado na agitação, foi negociado e conseguido na institucionalização. Captaram então? A tua cobrança inicial atendida, isso é movimento social. Limitando-se a clamar por melhorias, resultando em nenhum êxito, não considera-se movimento social. Esse sistema, sobretudo, é a lógica, pessoal. Na organização, agitação, excitação, formalização e institucionalização. Seria aqui um caminho necessário para o movimento social. Vamos analisar aqui. Os caminhoneiros queriam que baixassem o diesel, certo? Eles conseguiram?

Alguém respondeu que sim.

— Ai, ó, caracteriza aqui o movimento social. Nós temos uma coletividade agindo para modificar o cenário.

Ele anotou no quadro isso e virou-se para a turma.

Alguém levantou a mão. Era Diego

— É ruim porque em manifestação costumam ocorrer muita violência.

O professor concordou.

Ítalo estava impressionado com essa aula.

Nicolai dobrou do seu bloco para o de pedagogia, calouros de filosofia e química. E as palavras proferidas da boca do professor de Ítalo poderiam sussurrar ao redor dele. Lideres. Manifestação.

— Pessoal, vocês se lembram das manifestações do governo do Brasil em 2012 ou 2013? – perguntou.

Alguns murmúrios.

— Dizem, dizem que lá no centro de Macapá tinha vinte mil pessoas caminhando lá. Não consigo fazer esse calculo, mas que tinha muita gente. Agora a ação desse grupo no movimento social ocorreu? Não. E aqui nós não conseguimos nenhuma modificação daquilo que desejávamos. E eu lembro que tem pessoas que se incomodam com movimentos sociais. Mas algumas ações do estado só vão ocorrer com ação dos movimentos sociais. Estes são os principais motivadores de alterações na sociedade. E ai a gente entra na questão educacional, por exemplo, as questões étino raciais que agora são obrigatórios, né, nós temos essa concepção de racial, os livros precisam agregar isso. Fruto de...?

— Movimentos sociais. – respondeu a turma.

O professor sorriu, assentindo.

Isso fez ítalo refletir sobre coisas como democracia. O povo seria qualificado para isso? Ele nunca parou pra pensar. É, nesse momento, as coisas iam tomando outro formato para ele. Politica era realmente mais importante do que pensava. Mas só agora, que decidiu mudar sua vida, que tudo pareceu ter suas verdadeiras cores. Ele franziu a sobrancelhas, que merda de pessoa era ele?

Talvez fosse bom. E quando seu professor falou de pessoas se incomodarem com movimentos, lembrou-se mais cedo da conversa de seu avô. Alguém iria sempre se incomodar.

Nicolai dobrou para o corredor do meio do bloco que ia para o de Letras. Seu sorriso sádico não parecia se incomodar naquele momento. Parecia contente.

— As questão próprias assim da educação básica, obrigatória, movimento social, não foi ação de estado. Essa percepção de universidade, da área de rede publica, gratuita e de qualidade é ação do movimento social. – Tá legal, agora sim sentiu-se tapeado. Até mesmo sua vaga ali dependeu da luta das outras pessoas. Ele suspirou, sentindo-se um idiota. - Nós não sabemos a construção desse cenário. É através de movimentos sociais.  Extremamente importante, extremamente. Da educação simples e passagem de ônibus até a legitimação, por exemplo, das questões educacionais, obrigatoriedade. Agora, sendo a educação básica, obrigatória, for publica e de qualidade, todos os nossos brasileiros que mexem na área de educação básica estão sendo atendidos? Vocês sabem o que é educação básica? – e listou nos dedos. – educação infantil, fundamental e médio. Agora nossos brasileiros na idade de estarem sendo contemplados, todos eles estão?

— Não. – responderam os alunos.

— Por quê? – perguntou o professor. - Pessoal, é uma situação realmente complicada. Eu tive um colega que cuidou da questão da entrega de escola lá em Macapá. Olha, só, realmente, em dado momento, por incrível que pareça, começou a faltar merenda nas escolas, olha só. Quem recebeu isso? Alguns diretores começaram a reclamar. Não, mas está havendo um repasse. Mas o material não chega. O que estaria acontecendo com a distribuição? – Ele começou a bater com a ponta da caneta na mesa, esperando uma resposta. De repente, parou. - O caminhão entregava num comercio aqui de Macapá, olha só. Aquilo que, muitas vezes, é a única forma de alimentação em um dia.

Silêncio.

O professor finalizou a aula, causando uma sensação boa de aprendizagem em Ítalo.

Seu celular vibrou. Puxou do bolso e estranhou uma mensagem.

(07/06/18) Desconhecido: Quanto tempo!

— Mas de quem é esse número?

Seus colegas já saiam da sala. Com os olhos fitos no celular, fez o mesmo, olhou para o lado e Clara regava uma planta presa a um pilar do corredor, sempre atenciosa, pensou ele. Logo lá embaixo, Kaka, o cara responsável pela lanchonete, regava as pequenas árvores entre os blocos.

Foi quando ouviu alguns murmúrios. Ergueu os olhos, com o dispositivo na mão e viu Nicolai, andando com intenções nos passos, mas não parecia que ia fazer algo. Parecia simplesmente andar por ali com um aviso. E havia um exército com ele.

Simplesmente por fazer isso estava botando medo nas pessoas.

Não deixou de notar também que alguns alunos estavam sussurrando sobre as chapas. E que mesmo assim Nicolai não ia parar. Mas não ia parar com o que?

Parou na frente de Ítalo.

— Posso não ter ganhado, mas não significa que parei. – disse o russo antes de continuar seu caminho.

Jânio chegou logo depois com seus amigos.

— Pessoas como ele são perigosas, ficam propagando e persuadindo coisa errada.  – disse Jânio, quase cerrando os dentes.

Ítalo inflou o peito, levando a mão ao medalhão. Uma sensação pavorosa preencheu seu peito.

— Tenho a impressão que de ele ainda vai fazer merda. Sorte que somos seres humanos sem poderes, por que sei que ele iria liderar muito gente.

— Vocês estão enganados. – disse Leandro, aparecendo do outro lado, com os olhos no bando. – Nicolai tem algum poder sim. - E estava mostrando isso quando estava passando por aqueles corredores.

Tudo distorceu na cabeça de ítalo, talvez porque o que via era o que havia previsto e jurava estar com a barriga revirando nesse momento. Sua vida querendo se refletir na vida de Adalberto. Por fim, ele engoliu em seco. Talvez devesse conter-se como sempre fizera. Virou-se, seguindo um caminho contrário de seus amigos parados.

Por um momento suas ações foram estimuladas, mas a volta de sua abstenção já havia se tornado um vício.


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