Tudo e todas as coisas escrita por Bell Fraser, EverMellark, Cupcake de Brigadeiro, Gabriella Oliveira, RêEvansDarcy, Leticiaeverllark, Paty Everllark, DiandrabyDi, Sorvete Ed Sheerano, IsabelaThorntonDarcyMellark, Naty MellarkLi, Kiara, katyyxliss


Capítulo 7
O amor não é um crime


Notas iniciais do capítulo

Olá, lindezas, boa noite a todas... olha eu aqui de novo kkkkk... aconteceram alguns imprevistos e ontem não conseguimos atualizar a coletânea, mas hoje venho trazer-lhes esta one que escrevi no ano de 2016 rss, espero que gostem. Fiz com muito carinho e me inspirei na comédia romântica Loosies. Dedico esta one a todas as autoras divas (companheiras dessa coletânea) e a todos as leitoras maravilhosas que vêm nos acompanhando. Espero de coração que gostem, se tiver algum erro, por favor, me perdoem... Boa Leitura.

Classificação +16

Sinopse

Peeta é um batedor de carteira, claro que não por opção própria. Numa batida, acaba pegando um distintivo de um detetive. Com isso, começa a ser perseguido pelo tal. Sua vida dá uma tremenda reviravolta, pois uma jovem, com quem havia passado apenas uma noite, chega até ele e joga uma bomba em suas mãos, com a qual não contava.

Katniss é uma adorável jovem que, à noite, trabalha como garçonete no bar do ex-namorado e, de dia, faz freelances como fotógrafa. Em uma noite agitada, acaba conhecendo um cara irresistível. Ele era lindo, carinhoso e cavalheiro. O que realmente lhe chamara a atenção foram aqueles olhos de um azul totalmente desconcertante. Ele guardava algum segredo, mas ela já estava envolvida por todo aquele charme.

Seria possível perdoar alguém com uma vida tão bandida?



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Capital, Panem...

 

Quem iria imaginar que um homem bem-apessoado, vestindo um terno de grife, segurando uma pasta preta executiva nas mãos, estaria fazendo uma batida de carteiras numa das estações de metrô mais agitadas da cidade que nunca dorme? Acho que ninguém imaginaria uma coisa dessas.

Peeta Mellark, 30 anos de idade. Estado civil: SOLTEIRO. Cabelos louros, olhos azuis, com 1,80m de altura.

Quem olhasse para ele, acharia que trabalhava em alguma empresa importante ou algo assim, mas o que realmente fazia eram furtos. Furtos de carteiras. Não era a vida que um dia sonhara em ter, mas seu pai foi um viciado em pegar dinheiro emprestado e gastar mais além, que acabou falecendo e, ainda por cima, deixando uma dívida exorbitante para o filho pagar a um agiota.

Peeta levou um choque. Ele sempre tinha sido um garoto muito inteligente na escola, mas não um ladrão.

— A dívida do seu pai agora é sua. Está me entendendo? – determinou Brutus, o tal agiota.

— Ou o quê? – perguntou Peeta.

— Sua mãe e você pagarão com a vida, caso resolva se recusar.

O rapaz sentiu sua espinha gelar naquele momento. Como faria isso? De onde tiraria os cem mil dólares que restavam?

Começou a correr atrás do prejuízo que o pai lhe deixara. Mentira para a mãe e para todos. Dizia que trabalhava em uma corretora de imóveis na Panem Construction. Saía de casa todas as manhãs bem-vestido para ir “ao tal emprego”.

Mas, naquela manhã, não teve tanta sorte, pois sem querer roubara um distintivo policial. Na verdade, era um detetive que estava de folga. Quando chegou em casa, ficou desesperado, mas a “cagada” já estava feita.

Morava em um pequeno apartamento com a mãe num bairro não muito longe do centro.

— Peeta, preparei seu café da manhã. – Sua mãe fazia isso todas as manhãs antes do filho sair para o “trabalho”.

— Obrigado, mãe – respondeu sem tirar os olhos do jornal.

— Filho, hoje à noite vou ao jantar beneficente que a Octavia organizou. Você me empresta algum dinheiro para ajudar na arrecadação do orfanato?

— Cem dólares ajudam?

— Mas é claro. No fim do mês, eu te devolvo.

— Não precisa devolver, mãe – disse ele, tirando o dinheiro de sua carteira e entregando à mãe.

— Obrigada, filho querido. – A mãe guardou o dinheiro consigo e depois sentou-se à mesa para tomar café. – Muito trabalho?

— Bastante – murmurou ele, mastigando sua panqueca.

— Muitas vendas?

— Sim.

— Você é um bom homem, filho. – Effie sempre fora uma mãe afetuosa.

Peeta, após terminar seu café, despediu-se da mãe, dando-lhe um beijo na testa como sempre fazia, e saiu.

 

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Após furtar algumas carteiras e celulares, algo começou a vibrar em seu bolso. Pegou o aparelho e, ao ver quem era no visor, suspirou cansado.

— Alô?

— Peeta, como está sendo o seu dia? Já conseguiu uma boa quantia? – Era Brutus.

— Sim, estou conseguindo. Chego aí em algumas horas.

— Vê se não demora a vir e tenta conseguir algo de mais valor desta vez – exigiu.

Como Peeta não respondeu, o homem falou algumas obscenidades e Peeta já estava mais do que chateado com tudo aquilo.

— Preciso desligar, até mais tarde.

E, então, desligou o aparelho.

Depois do almoço, fez mais algumas batidas e se dirigiu para o pequeno apartamento na periferia da Capital.

— Eu disse para você me trazer algo mais interessante e de valor! – esbravejou Brutus, assim que Peeta despejou na mesa tudo o que tinha pego naquele dia. – Por acaso você é surdo, garoto?

— Foi mal. Acho que as pessoas têm medo de serem roubadas – ironizou o rapaz.

— Me traga ouro, diamantes e não esse monte de lixo. – Brutus socou a mesa.

— Sabe que não roubo este tipo de coisa – disse Peeta com a voz um tanto abatida.

— Ah, você é um furtador honesto. Me esqueci disso. – O homem rabugento se levantou e começou a andar de um lado para o outro. – Quer roubar o que quiser? Ok. Só que nunca irá se livrar de mim. Tem certeza de que quer essa vida pra sempre?

Peeta baixou o olhar e saiu dali. Era sufocante demais sujeitar-se a uma vida criminosa. Queria poder plantar os dólares e colher o restante que faltava e entregar àquele homem tão rude. Mas dinheiro não nascia em árvores. Não é mesmo?

 

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Katniss Everdeen, 26 anos de idade. Estado Civil: SOLTEIRA. Cabelos castanho escuros e olhos acinzentados. 1,60m de altura.

Ela adorava tirar fotos, que depois vendia para um publicitário da cidade.

— Pago dez dólares por cada uma.

O homem analisa cada uma das fotos. Uma mais bonita que a outra.

— Mas é pouco... mal dá para pagar as contas – argumentou ela.

— É pegar ou largar – propôs Caesar Flickerman.

Katniss não teve escolha e acabou aceitando.

Era fim de tarde quando entrou pela porta de vidro do Latier’s bar.

— E aí, como foi seu dia, Catnip? – O moreno que era dono do estabelecimento perguntou.

— Consegui cem dólares... – Ele mal a deixou terminar de falar. Largou as garrafas de bebidas que estava organizando para abraçá-la.

— Meus parabéns, Catnip! Finalmente está tendo seu trabalho reconhecido.

— Não, Gale! Você não entendeu. Ele ficou apenas com dez fotos que eu tirei no parque. Pagou dez dólares por cada uma. – Ela abaixou a cabeça, fazendo bico.

— Não fique assim. – Gale segurou em seu delicado queixo e foi levantando o rosto da amiga aos poucos, até ambos os olhos identicamente acinzentados se cruzarem. – Katniss, já te disse umas mil vezes que pode ficar aqui o tempo que precisar, não cobrarei nada de você.

Gale Hawthorne tinha sido seu namorado há algum tempo, mas acabou não dando muito certo. Os dois eram parecidos demais. Ambos eram teimosos e brigavam bastante.

No fim do namoro, acabaram decidindo ser apenas amigos. Mas, agora, eram grandes amigos e ele a protegia de tudo como um irmão mais velho.

— Obrigada, Gale, você é incrível. – Ela o abraçou apertado.

— Faço tudo pela minha Catnip. Detesto te ver triste – concluiu ele.

— Valeu mesmo. E que horas abriremos?

— Eu vou dar uma saidinha rápida para resolver alguns assuntos. Daqui a pouco, a Madge chega para te ajudar. Daí os garotos também já estarão aqui e vocês cuidam de tudo até eu voltar. Está bem? – Gale arqueou as sobrancelhas e ela confirmou com a cabeça.

— Sim, está bem. Cuidaremos de tudo.

Sabia muito bem que assuntos eram estes. Hazelle, a mãe dele, lutava contra um terrível câncer na tireoide. E, como ela tinha poucas chances de melhorar, Gale corria atrás das papeladas, hospitais e tratamentos para ajudá-la.

Katniss dirigiu-se até seu pequeno cômodo nos fundos. Depois que ela concluiu a faculdade de fotografia, recebeu a notícia de que sua mãe e irmã morreram em um grave acidente de carro. A partir daí, sua vida havia desmoronado, pois o pai já havia morrido quando era pequena e agora sua mãe e irmã?

Ficara desamparada por alguns meses. A faculdade era financiada, então o dinheiro da herança fora praticamente todo para pagar essas despesas. Na época, ela já saía com Gale e, por um tempinho, moraram juntos, mas após tantas idas e vindas, entre discussões e acertos, ela resolveu que tinha que seguir em frente, sozinha. Mas ele não permitiu isso. Não queria vê-la deprimida, sabia o quanto tinha sofrido pela perda da mãe e da irmã caçula.

Um amigo de Gale, Beetee Latier, chamou-o para abrirem um negócio juntos. Uma sociedade, na verdade. E isso começou a dar certo. Muito certo. Infelizmente, há um ano, Latier - o nome que levava no néon bar - morrera de diabetes e, em seu testamento, deixara tudo aquilo ao amigo Gale.

Agora daria um apoio à antiga namorada. No começo, Katniss não quis aceitar a oferta, mas Gale insistiu até ela concordar.

Horas depois, o bar já estava a todo vapor. Madge, atual namorada de Gale, ficava atrás do balcão preparando alguns drinks, assim como Katniss.

— Faz tempo que Gale saiu? – perguntou a loira de olhos verdes para Katniss.

— Umas cinco horas pelo menos. – Madge fez uma cara triste e Katniss se aproximou dela, tocando-lhe o ombro. — Ei, Mad, fique tranquila. Ele vai chegar daqui a pouco.

— Liguei para ele antes de vir para cá, mas não atendeu e nem retornou.

— Ele devia estar dentro de algum consultório médico. Você sabe como tudo está sendo uma barra para ele.

— Sim, eu sei, mas vamos trabalhar, né? – Madge abriu um sorriso para a morena.

— É, isso aí.

Katniss rapidamente preparava alguns coquetéis, para um grupo de amigos que estavam fazendo algum tipo de comemoração. E, no minuto em que se virava para trás, a fim de pegar a garrafa de vodka, uma voz grave e sensual lhe chamou a atenção.

— Ei, tem avulsos?

— O quê? – Ela não compreendeu direito por causa da música alta e da agitação das pessoas conversando em volta.

— Eu perguntei se tem avulsos, KATNISS... Sabe? – Katniss também era uma marca de cigarros.

— Como é que você sabe? – A morena estava concentrada no que fazia.

— O quê? – perguntou ele. O barulho ainda não permitia entender alguma frase coerente.

— Meu nome. Katniss. Como sabe? – Ela riu, entregando os coquetéis para um dos garçons levar até a mesa de amigos.

— Intuição, acho. – Ele lançou um sorriso enviesado a ela e apenas isso bastou para a morena se encantar.

Depois de o bar ter fechado, eles saíram e conversaram na calçada por horas.

— Ainda não sei seu nome. – Ele viu uma porção de margaridas em um canteiro, debaixo de um salgueiro e, colhendo uma, colocou-a atrás da orelha dela.

— Peeta. Peeta Mellark.

Bastou um beijo para dar início à noite romântica. Eles voltaram para o Latier’s – que já se encontrava fechado – e ela buscou suas chaves na pequena bolsa, quando ele já se afastava para ir embora.

— Por favor, não vá. – Os dois se entreolharam por um momento. Eles adentraram no pequeno cômodo e tiveram a melhor noite de amor de suas vidas. Muitos beijos trocados. Carícias e palavras desconexas.

Quando amanheceu, ele a observou por alguns minutos. Ela era linda. Parecia um anjo dormindo. Lembrou quantas vezes ela tinha sorrido para ele naquela noite. E que sorriso encantador, fácil de se perder. Desejou ficar com ela para sempre, mas internamente sabia que isso era impossível.

Entrou no pequeno banheiro e, quando acendeu a luz, viu várias fotos e negativos pendurados. Ela usava aquele pequeno espaço para revelar as fotos que tirava. Ele observou uma foto dela, na qual sorria intensamente, pegou a foto e a guardou para nunca se esquecer daquele rosto angelical.

Rasgou um papel e tentou anotar seu telefone várias vezes e inutilmente não conseguia. Lembrava-se a si mesmo a vida que levava. Ela nunca iria querer ficar com ele de verdade.

Por fim, anotou qualquer número e saiu.

 

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3 meses depois...

 

Peeta estava furtando algumas coisas mais valiosas, já que, se não fizesse isso, trabalharia para sempre, como Brutus havia dito.

Estava andando despreocupado, quando alguém lhe tocou o ombro.

— Oi.

— Ah, oi. – Ele se virou, encarando aquela linda morena.

— Sou eu, Katniss – disse, apontando para si mesma. Ela estava sem jeito. Preocupada que ele não se lembrasse dela.

— Eu sei, Katniss. Me lembro de você. – Ela pareceu um pouco mais aliviada. — Faz um tempo, né? Três meses?

— Isso, exatamente três meses – enfatizou ela.

— E, como vai?— Os dois perguntaram ao mesmo tempo.

legal – ele disse. — Quer dizer nem tão...

— Estou grávida! – Soltou ela rapidamente.

— O quê? – questionou ele, meio atônito.

— Estou grávida.

— Meus parabéns... Hã... isso é bem legal. – Ele parecia sem jeito ao coçar a nuca. – E de quanto tempo?

Três meses.

— Você disse três meses? – Ele não podia acreditar naquilo.

— É seu, Peeta. Tentei te ligar, mas parece que teve algum problema com seu telefone. Algum bloqueio, ou sei lá.

— Vem aqui – chamou, puxando-a para um canto mais reservado, estavam na estação de metrô, muitas pessoas transitavam por ali naquela hora. — Nós só fizemos uma noite.

— Na verdade, fizemos algumas vezes naquela noite – declarou ela com veemência.

— Tá, eu sei, mas foi só naquela noite. – Peeta estava desconcertado com aquilo.

— Uma vez é o que basta, sabia?

— E como sabe que é meu? – Ela não pensou duas vezes antes de dar uma bofetada em seu rosto. Virou-se para ir embora e ele continuou ali falando: — Ei, isso é uma pergunta legítima.

— O que você está pensando que sou? Uma vadia que sai por aí abrindo as pernas para qualquer um? – Sentiu-se ofendida.

Katniss não era uma garota dessas. Só porque trabalhava em um bar, não queria dizer que levava uma vida leviana. Ela era uma garota boa e honesta.

A única coisa que queria era contar a ele e, já que tinha feito isso, sentiu vontade de sair correndo dali. E foi o que fez.

— Espere, espere... me desculpe – suplicou ele, segurando-a pelo braço.

— Não me toque! – exclamou, desvencilhando-se dele. — Não me toque nunca mais – determinou.

— Vamos conversar...

— Conversar o quê? – Katniss estreitou os olhos, cruzando os braços sobre o peito, como se esse gesto a pudesse proteger. – Só te procurei para o caso de, um dia, seu filho querer te conhecer e você saber da existência dele. Agora já sabe – sustentou ela.

Ela saiu dali secando as lágrimas que rolavam por seu rosto. Ficara muito triste, pois ela já se sentia completamente apaixonada por ele.

Droga! – esbravejou Peeta, condenando-se a si mesmo por ter sido um babaca com ela.

Nem viu a noite passar e, pela manhã, enquanto tomava seu café da manhã, alguém apareceu na cozinha, vestindo apenas um roupão xadrez por cima de uma samba canção.

— Bom dia, garoto – disse o homem.

— Quem é você? – Quis saber.

— Sou Haymitch.

— Ah, Haymitch é...? – Peeta se sentiu confuso e invadido. — Mãe! – gritou.

Logo, Effie apareceu, também vestindo um roupão, mas era de seda.

— Pensei que estivesse trabalhando, querido. – Effie se encontrava extremamente vermelha, como se tivesse sido pega no flagra, o que talvez fosse verdade.

— Quem é esse cara? – Peeta insistiu em saber.

— Esse é o Haymitch, filho. Somos amigos há um tempo...

— Não contou a ele? – perguntou Haymitch, aproximando-se de Effie e abraçando-a pela cintura.

— Não tive tempo, Hay...

— Contar o quê? – Peeta estava confuso.

— Somos amigos como acabei de dizer... fazíamos parte do grupo beneficente. Daí ontem, durante o jantar, conversamos um pouco mais e, bem, acho que já estava na hora... – Effie estava toda atrapalhada. — Haymitch me deu este anel e pediu para que fosse morar com ele.

A cabeça de Peeta dava mil e uma voltas.

— Como assim? Eu vou matar esse cara. – Peeta levantou furioso e avançou até o homem que, em seguida, deu-lhe um soco no olho direito.

No outro dia, ele lamentava-se no apartamento de Brutus.

— Desembucha, garoto? Parece um zumbi. – Brutus tirava sarro com a cara de Peeta.

— A zumbilândia seria um alívio perto da merda de vida que tenho agora.

— Conta para mim, que eu te apoio. – Seguiu um silêncio excruciante. — Conta, vai – insistiu o homem.

— Engravidei uma garota. – Brutus começou a rir. — Que bom que faço você rir. É engraçado, não é?

— Cara, você tá ferrado. – Brutus segurou o rosto do rapaz com firmeza e deu uma boa avaliada no local do soco. — E foi ela que fez isso?

— Ai, não aperta... – Peeta gemeu de dor pelo simples gesto. — Não, não foi ela.

— E ela vai ter essa criança?

— Eu não sei, essa opção nunca veio à tona.

— Seria uma idiotice se ela tivesse esse filho. Por que iria querer criar um filho sem o pai? Ainda mais sendo seu? – Brutus deu uma tragada em seu cigarro.

— Não consegui pensar em nada.

— Escuta, dê uma boa grana para ela se livrar disso.

Aborto? Veio esta questão à mente de Peeta.

— É, talvez. – Peeta se levantou e saiu dali.

— Se não fizer isso, vai se afogar de tanta fralda suja. – Foi a última frase que Peeta ouviu ao sair dali.

Claro que ele não faria uma coisa dessas. Ele poderia ter aquela vida criminosa, mas matar um ser? Um serzinho inocente? Jamais!

À noite, Peeta foi até o Latier’s. Chegando lá, deu uma boa olhada em volta, mas não a viu.

— Oi, boa noite. Por favor, posso falar com a Katniss?

— E quem deseja? – Gale semicerrou os olhos.

— Um amigo.

— Ah, então você a conhece do Distrito 4?

— Sim, isso.

— Cai fora, trouxa, ela é do Distrito 12.

— Por favor, só preciso conversar com ela. – Peeta já se preocupava com aquela situação.

Naquele mesmo instante, Katniss apareceu e Gale segurou Peeta pelo colarinho, perguntando:

— Kat, conhece esse cara? – Ela negou, então Gale arrastou Peeta até a porta dos fundos e o lançou para fora, fazendo-o cair sentado no chão, próximo às lixeiras. — Fique longe dela! – ameaçou.

Katniss pensou por um momento o porquê de ele estar ali. Depois, foi até os fundos e o viu praguejando algo.

— Tudo bem, eu vou embora – disse ela, dando meia volta.

— Oh, não! Katniss, não vá – pediu ele.

— O que veio fazer aqui? – perguntou de braços cruzados.

— Vim te perguntar se vai abortar – apontou para a barriga dela, que praticamente não aparentava nada.

— Você é inacreditável, sabia? Isso aqui não é um cachorrinho abandonado. – Desta vez, ela ia entrando, quando a voz dele a fez parar.

— Olhe... espere... Foi um choque quando me contou... – Começou a falar meio atrapalhado.

— Também foi um choque para mim – confessou ela.

— Eu quero pagar por um bom médico. Para você ter uma boa gestação – explicou ele. – O que me diz?

— Digo que você é um babaca. – Ela ainda estava brava.

— Ok, realmente sou um babacão, mas o que me diz?

— Vou pensar nisso. – Ela já abria a porta para entrar, quando a voz dele ressoou:

— E como te encontro? Não tenho seu número.

Ela jogou um cartão para ele, contendo o telefone do bar do Gale.

— Pode me ligar aqui no Latier’s.

 

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— Estou indo, filho. Se precisar de mim para algo, me ligue.

O loiro arregalou os olhos pela manhã, quando notou sua mãe com uma enorme mala.

— Mamãe, cuidamos um do outro, lembra? – Peeta não queria aceitar o que a mãe estava fazendo.

— Não quero que cuide de mim, filho. Com o Hay, cuidaremos um do outro.

— Foi este o arranjo entre vocês dois?

— Não, filho, não é isso. Eu amo o Haymitch. Não como amei seu pai ou como amo você. É um amor diferente. Um dia você vai conhecer alguém e vai ver como é. – Peeta não disse nada, ainda estava chateado. — Ele pediu para você jantar conosco amanhã à noite... para um recomeço. – Ela colocou um pequeno papel na mesa contendo o endereço e o número de telefone. — Estou feliz, Peeta. Não poderia ficar feliz por mim também?

Ela abriu a porta e, antes de fechá-la, Peeta a chamou:

— Mãe, cuidado para não queimar as camisas dele, como faz com as minhas. – Com o tom brando e divertido do filho, Effie soube que ele refletiria sobre o que estava acontecendo.

Logo, o celular de Peeta começou a tocar. Era Brutus, querendo prestação de serviço, mas o rapaz recusou, dizendo que tinha um compromisso. De fato, tinha mesmo. Ele havia ligado para uma clínica e marcado uma consulta para Katniss.

Quando estava trancando a porta da escada que dava para os apartamentos, alguém o encarou, dizendo:

— Peeta Mellark? É você, certo? – O rapaz conheceu aquele brutamonte. Era o tal detetive, Plutharch Haevensbee, do qual sem querer pegara o distintivo.

— O quê?

— Este é seu nome? Mora aqui?

— Me chamo Cato, vim apenas visitar minha tia – mentiu.

— Então, não mora aqui?

— Não – mentiu novamente e, no mesmo instante, uma vizinha abria a mesma porta que ele acabara de trancar.

— Peeta! Bom dia, fiquei sabendo que sua mãe vai se casar. Parabéns! – A mulherzinha saiu rindo e Peeta a xingou em pensamentos.

O detetive avançou e Peeta saiu correndo sem parar um segundo.

Correu até chegar ao apartamento de Brutus.

— Me pegaram! – Socou a porta assim que a fechou.

— Quem te pegou garoto? – Brutus fingiu preocupação.

— Os tiras! Sem querer, roubei um distintivo de um detetive. Agora ele está na minha cola. – Peeta estava com as duas mãos na cabeça. — Me aguardavam na entrada do apartamento como bestante.

— Eles te seguiram até aqui? – Brutus foi até a janela espiar.

— Não.

— E como sabe?

— Eu sei. – Peeta estava tenso. — Brutus, preciso de umas cem pratas. Prometo te devolver. Preciso dormir em um hotel esta noite. Não sei como descobriram isso – refletiu Peeta.

— Eu não tenho nada para você. Será que não foi sua namoradinha que te delatou?

— Não. Ela não sabe o que eu faço. – Então, Peeta saiu dali vagando e se escondendo até anoitecer.

Depois, ligou para o Haymitch que atendeu com uma voz sonolenta, dizendo que Effie estava dormindo. Peeta não quis incomodar e desligou com um “até amanhã”.

Quando percebeu, estava batendo à porta da morena. Ele insistiu e insistiu até ela abrir a porta meio grogue de sono.

— O que você quer?

Ele ficou sem graça de repente, perdeu a fala na frente dela. Isso vinha acontecendo, quando começava a pensar naquele lindo anjo.

— Er... v-vim p-para t-te te dizer que temos uma consulta amanhã às 14 horas.

Ela olhou para trás e observou o relógio.

— São quase três da manhã. Então... – fingiu pensar. – Eu te vejo daqui a umas onze horas? Da próxima vez, tente ligar antes. Ah, me esqueci, você não é de fazer isso. – Ela ia fechando a porta, quando ele a impediu.

— Espere, estou tendo uma noite difícil. Será que eu não podia entrar e tomar um drink?

— Não sei se reparou, mas nós estamos fechados.

— Posso entrar por um minuto? Um minutinho... não tenho mais para onde ir. Por favor – suplicou ele e Katniss pensou por um momento.

— Só um minuto – determinou.

Então, Peeta entrou e ela o levou até o bar.

— Tem um cigarro? – perguntou ele.

— Grávidas não fumam – ironizou ela, levantou uma parte do balcão e ligou uma luz. — Ainda quer um drink?

— Quero – respondeu ele. – Um Scott, obrigado.

— E aí... quer me contar o que aconteceu? Por que está no prego? – questionou ela, servindo-o.

Prego, isso é giria do Distrito 12?

— Como sabe que eu sou do Distrito 12?

— Sou um ótimo vidente. – Peeta lançou uma piscada para ela.

— Então, me conte, senhor vidente. O que te fez bater à minha porta, no meio da noite?

— O síndico do meu prédio me colocou pra fora.

— Ok. – Ela saiu de traz do balcão e puxou uma banqueta para se sentar.

— Posso te perguntar uma coisa? – Peeta deu um esbarrão proposital no ombro de Katniss, quando se sentou ao seu lado.

— Pergunte.

— Aquele gorila do Gale é seu namorado?

Ela riu um pouco.

— Ciúmes?

— Curiosidade.

— Não, não é... quer dizer, ele já foi, mas faz tempo. Agora ele só cuida de mim. Como um irmão mais velho. – Ela respirou profundamente. – Ele te mata, se souber que está aqui. E se souber que foi você que me engravidou.

— Ele sabe sobre o be...

— Sabe – respondeu ela, cortando-o. — Por que quer saber tanto sobre ele? – Peeta pareceu desconfortável com aquilo.

— Ah... nada não... é que ele é bem diferente de mim. – Ele bebeu o líquido do copo e a encarou. — Só estou pensando que, quando nós ficamos... ele... quer dizer, você... ah, esquece. – O copo se encontrava vazio e ela o encheu novamente.

— Quer saber por que fui para a cama com você naquela noite? – ele assentiu. — Foram os seus olhos.

— Meus olhos? – desconfiou ele.

— É. Gostei dos seus olhos. Você tem os olhos muito ternos.

— Foi para a cama comigo, por que tenho olhos atraentes?

— Eu disse olhos ternos – corrigiu ela. — Além disso, gostei de conversar com você. É divertido, carinhoso, cavalheiro... e tem um belo bumbum. – Os dois acabaram por rir. — Não sei... sobre aquela noite... eu só quis que durasse pra sempre. – Ele quis dizer algo, mas não conseguiu. — A propósito, é melhor você ir. Tenho um longo dia daqui a pouco.

— Eu sei, na verdade, nós dois temos um longo dia. Te encontro às 14 h e 45 min, na Rua 39 com a Avenida Tributos.

— Não precisa fazer isso. É só deixar o dinheiro que eu vou sozinha.

— Eu não vou te deixar sozinha. Vou te acompanhar, ok?

Ela assentiu e ele se foi.

Quando Katniss se deitou, toda aquela noite veio à sua mente. Os intensos beijos dele. A veneração que ele teve com seu corpo. Os toques. Suas mãos macias em contato com as suas. Com toda certeza, ele fora o homem com quem ela mais sentiu prazer. Apenas por uma noite, mas sentiu. Algumas lágrimas banharam seu travesseiro.

 

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No dia seguinte, Peeta foi até a esquina onde ficava seu apartamento e percebeu que o carro do detetive Haevensbee estava lá à espreita.

Droga – praguejou.

O dinheiro que precisava levar até à clínica estava dentro de seu apartamento. Sua última saída foi ligar para ela...

— Espere aí... deixe-me ver se entendi. Você quer que eu invada seu apartamento e pegue seu dinheiro. E, se alguém me perguntar, é para eu dizer que sou a faxineira? – Katniss tentava entender o plano “mirabolante” de Peeta.

— É isso aí. Você sabe... eu não posso entrar lá.

— Tudo bem, eu te ajudo.

Ele entregou-lhe as chaves e ela seguiu tranquilamente até lá. O detetive deu-lhe uma boa encarada, mas não desconfiou de nada. Nunca tinha visto aquela garota.

Katniss, ao entrar no apartamento, viu a bagunça que ali estava.

Certamente o apartamento estava precisando de uma faxineira.

Ele havia dito onde escondera a grana e ela pegou um pequeno bolo de dinheiro, guardando-o em sua bolsa. Resolveu conhecer o apartamento e se deparou com várias fotografias de Peeta ainda pequeno. Uma lhe chamou muito a atenção. Ele era apenas um bebê. Ficou fitando-a por um tempo, tentando imaginar se seu filho ou filha se pareceria com o pai. Será que teria os mesmos olhos azuis? Pediu internamente que sim.

Trancou tudo novamente e saiu dali para se encontrar na próxima esquina com ele. Peeta guardou o dinheiro na parte interna de sua jaqueta preta.

— Obrigado, Katniss. Você é um anjo. – Tocou-lhe as bochechas e ela não teve palavras para proferir.

Logo mais, já chegavam de taxi à clínica. Bem na entrada, um cara deu um forte encontrão com Peeta, que praguejou alguma coisa contra o homem.

— Por favor, tenho uma consulta marcada. – Katniss informou à recepcionista.

— Como se chama?

— Katniss Everdeen.

— Preencha este formulário e já, já você será chamada.

— Não sei se posso fazer isso. – Peeta cochichou no ouvido da morena, enquanto ela preenchia o formulário.

— Tecnicamente você já fez. Agora eu tenho que me cuidar – falou ela com delicadeza.

— Não, Katniss, você não entende... eu não posso ser pai... eu... – Peeta levou as mãos até a cabeça e corria os dedos entre os fios de cabelo, em um claro sinal de nervosismo.

— Tarde demais para dizer isso. Você não acha? – disparou ela, levantando.

— Katniss vamos embora e esperar...

— Esperar? Esperar o quê? – Katniss exaltou a voz e alguns casais que ali estavam começaram a encarar a cena dos dois. — Queria que você estivesse no meu lugar. Acha que é fácil eu ir para casa, tomar duas aspirinas e pensar que está tudo bem? Você não tem noção de quantas vezes vou até o banheiro para vomitar e geralmente, é o Gale que sempre segura meus cabelos enquanto me ajoelho, e não você! – apontou o dedo no peito do rapaz. — Então, cala a maldita boca! – Peeta a encostou na parede, prensando seu corpo ao dela.

— Kat... por que... – Naquele exato momento, ele olhou na direção da entrada e viu o detetive que não saía de seu encalço entrando.

— Ah, agora você perdeu a fala. Que lindo! – Peeta a beijou com paixão e desespero.

— Kat, posso te pedir uma coisa? – sussurrou com aquela voz sedutora.

— O quê? – Ela se encontrava meio perdida por conta do beijo.

— Corre! – ordenou.

— Parado! – gritou o detetive, mas neste momento ele já corria de mãos dadas com ela.

Eles dobraram várias esquinas e becos. Ela estava quase sem fôlego e não entendia nada do que estava acontecendo. Correram cada vez mais, desviando entre as pessoas.

Katniss chamou por um táxi e logo entraram ofegantes. Peeta deu o endereço de Haymitch para o taxista.

— Olá, chegaram cedo – cumprimentou Haymitch, assim que abriu a porta para os dois. — Eu disse à sua mãe que era um jantar e não um almoço.

— É... pois é. Estávamos aqui por perto. – Peeta ainda tentava acalmar os nervos.

— Tudo bem, entrem. Sua mãe já vai chegar.

— Ela não está? – perguntou Peeta.

— Não, ela foi levar meus dois sobrinhos até o museu. Tenho que ir ao mercado. Sua mãe é bem detalhista e caprichosa, sabe? Mas podem entrar e fiquem à vontade.

Eles fizeram isso e Haymitch saiu.

— Vai, desembucha... – pediu Katniss. – Me explique o que aconteceu. Por que fomos perseguidos pela polícia? Em que tipo de problema você nos meteu? E quem é você de verdade?

— Tudo bem. Tudo bem – Peeta estava tenso, precisava de uma bebida, então, serviu-se e sentou-se no sofá da sala. — Eu não trabalho na Panem Construction.

— Então, não é um corretor de imóveis?

— Não. Sou um batedor de carteiras. – Ela começou a gargalhar. — Que graça tem isso?

— Batedor de carteiras, é? Então, é por isso que a polícia da Capital está atrás de você?

— Ouviu falar no detetive que teve seu distintivo roubado?

— Hum... – Ele abriu sua carteira e lhe mostrou. Ela mal podia crer naquilo e teve até que se sentar um pouco. — Ah, não dá para acreditar nisso. O pai do meu filho rouba bolsa de velhinhas.

— Ei... nunca tirei nada de alguém que pareça ter menos do que eu, certo?

— Então, é tipo o bom samaritano?

— Quer saber, você não conhece nada sobre a minha situação.

— Verdade, não sei mesmo.

— O que está dizendo? Sou o mesmo cara que você conheceu naquela noite, só que com um trampo diferente.

— Você é louco? Isso não é um trabalho de verdade, Peeta! Você é um ladrão...

— Ei, não me julgue, ok? Meu pai deixou uma dívida de trezentos mil dólares que pegou com um agiota e minha mãe nunca trabalhou. Eu não tive escolha.

Katniss se encolheu. Não sabia o que dizer diante daquilo.

— Por que não contou à polícia? – Enfim falou.

— Porque o cara ameaçou matar a minha mãe – falou ele, sentindo-se um derrotado.

— E por que ainda rouba? - perguntou ela.

— Eu ainda estou devendo cem mil. – Deu uma última golada em sua bebida.

— Isso é demais para mim – disse Katniss, levantando-se e indo até a jaqueta que ele havia tirado e colocado sobre uma cadeira.

— O que está fazendo? – questionou ele, enquanto ela vasculhava todos os compartimentos da peça.

— Eu não vou ficar aqui e trazer uma criança ao mundo, que terá que visitar o pai na penitenciária da Capital no Natal. – Peeta soltou um resmungo. — Cadê o dinheiro, Peeta?

— Está aí no bolso interno. – Ela averiguou, mas não tinha nada ali.

— Não está, não.

Então, ele começou a procurar e nada achava.

— Você deve ter pego, enquanto me estapeava lá na clínica.

— Você me beijou, lembra? Como eu ia roubar? – Ele começou a andar de um lado para o outro. — Será que não foi aquela hora em que um cara te deu um encontrão? – Peeta pensou por um segundo e bingo. Ela começou a rir. — Nossa, clássico. Um batedor de carteiras sendo roubado por outro.

Neste momento a porta se abriu e Effie entrava com dois lindos meninos louros na faixa dos oito anos de idade.

— Olá, chegou cedo filho. Nossa! – admirou-se Effie com a presença da morena. — Você é linda. Nem me lembro qual foi a última vez que Peeta trouxe uma garota para me conhecer. Sou Effie, muito prazer. – A gentil mulher estendeu a mão para Katniss, mas Peeta interveio.

— Ela já estava de saída, mãe. – Ele se virou para Katniss. — Então, te vejo mais tarde.

— Ei, Peeta Mellark, não seja rude. Talvez ela queira ficar para o jantar. Vou fazer o prato favorito do Peeta, frango cremoso – falou a mulher com ânimo para Katniss, que sorriu.

— Hum... delícia. – A morena passou a mão em seu ventre e intercalou o olhar entre Peeta e a mãe. — Eu adoraria.

— Que bom. Vou começar a preparar. – Effie se dirigiu à cozinha.

— Eu ajudo. – Katniss se prontificou, indo atrás dela, mas Peeta a segurou pelo braço e cochichou em seu ouvido.

— Está tão faminta assim?

— Esqueceu que estou comendo por dois?

— Só não conta isso para ela.

— Ah, puxa vida, por que eu ia aborrecer a vovó?

 

$$$ $$$

 

— Como conheceu o Peeta? – Effie quis saber, enquanto Katniss a ajudava na cozinha.

— Temos um amigo em comum.

— Sabe, ele gosta de você de verdade.

— Ah, é?

— Sim, ele fica todo atrapalhado na frente da garota com quem realmente se importa.

Katniss deu um meio sorriso. Ela o amava, mesmo depois de toda a descoberta.

Effie colocou o frango picado e já emaranhado no creme de cebola no forno e disse que iria tomar banho, mas pediu gentilmente para Katniss vigiar. A morena começou a escutar risadas e, quando se dirigiu até a sala, viu Peeta brincando com os sobrinhos do Haymitch. Seu pensamento foi longe, imaginando como seria se estivesse assim com o filho deles.

No jantar, tudo ia muito bem até Haymitch falar do emprego de Peeta.

— Peeta, Effie me disse que você trabalha vendendo imóveis?

Katniss e ele se entreolharam.

— É – disse sucintamente.

— E como vai indo?

— Em seus altos e baixos.

— Você não me disse que estava tendo problemas para pagar o aluguel? – Katniss soltou, encarando Peeta, que a repreendeu com o olhar.

— Bom, se precisarem de alguma ajuda, venham me procurar. Me liguem. – Haymitch se ofereceu.

— Hay tem uma joalheria na cidade. – Effie falou com animação. — E, se precisarem de um belo anel de noivado, digam ao Hay. Ele faz um bom preço.

— Obrigado, mamãe. – Peeta se sentiu enciumado, pois Haymitch ficava o tempo todo abraçando e beijando sua mãe.

— Katniss é fotografa profissional, Haymitch. – Effie estava encantada pela morena.

— Na verdade, fotografia está sendo mais um freelance. Atualmente, trabalho meio período num bar de um amigo meu. Não é muita coisa, mas pelo menos é um trabalho honesto. – Ela encarou Peeta.

— Tem razão, quanto a isso – afirmou Effie.

— Effie disse que você é do Distrito 12? – perguntou Haymitch.

— Eu sou sim, e estou pensando em voltar para lá. Uma antiga amiga da minha mãe é dona de um estúdio de fotografia. Ela me fez um convite para trabalhar com ela. – Katniss deu mais uma garfada em uma porção generosa do frango e o levou até a boca, saboreando-o.

— O quê? – Peeta se surpreendeu e sua mãe o encarou incerta. — E você planejou me contar isso quando? – perguntou ele à morena, enquanto limpava a boca com o guardanapo.

— Bom, eu não estava planejando nada com você – respondeu e Effie logo tentou disfarçar o clima.

— Como está o jantar?

— Está muito bom, tia Effie. – Os sobrinhos gêmeos de Haymitch responderam juntos.

Katniss logo pôs a mão na boca, sentindo algo em seu ventre.

— Desculpem-me, pessoal.

— Oh, querida precisa usar o toalete?

— Aqui na casa do tio Hay só há um banheiro. – Bastou um dos garotos pronunciarem isso e Katniss levantou-se rapidamente, sentindo que não aguentaria segurar nem mais um segundo.

Ela se encostou no beiral e escorregou até o chão, colocando as mãos no abdômen. Sentia uma forte dor aguda no baixo ventre.

— Katniss... você está bem? – O desespero começou a tomar conta de Peeta. — O que você tem? – Ela começou a gemer de dor. — Respire, respire... – Então, ele começou a dar várias lufadas rapidamente, com o desespero ainda estampado em seus olhos.

— Eu não estou em trabalho de parto, seu babaca. Estou grávida apenas de três meses. – Ela soltou tudo de uma vez.

— Peeta, oh, meu Deus!

— Mãe... – Effie acabou por desmaiar.

Já no hospital, Effie passava bem, enquanto, em uma cama ao lado, Katniss dormia profundamente.

— Por que não me disse, Peeta? – questionou sua mãe.

— Eu não queria te aborrecer, mãe – suspirou ele.

— Me aborrecer? Por que ter um neto me aborreceria? – indignou-se Effie. — Ela quer o bebê? – Peeta respirou fundo. — Você a ama? – continuou ela.

— Eu... eu não sei mãe... eu não sei, como vou saber o que é amor? – desabafou.

— Quando ela disse que ia embora, como se sentiu?

— Me senti péssimo.

— E, quando estávamos a caminho do hospital, como você se sentia? – Effie continuou a colocar tudo em perspectiva. Como ele não respondeu, ela continuou: — Às vezes, é preciso quase perdermos algo, para percebemos o quanto aquilo é valioso para nós. – Peeta sorriu para a mãe, sentindo orgulho dela. — Agora, vou deixá-los a sós.

Então, levantou-se e foi. Peeta ficou ali parado, refletindo as palavras sábias de sua mãe. Ele sentou-se na cama, ao lado do corpo daquela morena que mais parecia um anjo, o seu anjo.

Peeta acariciou os braços da morena e ela foi despertando aos poucos. A primeira coisa que ela viu diante de seus olhos foi aquele sorriso maravilhoso, que parecia mais um sol resplandecente.

— Oi – disse ele.

— Oi – devolveu ela.

— O médico disse que você vai ficar bem – informou Peeta. – Disse que você só precisa descansar.

— E quanto ao bebê? – Essa era a maior preocupação dela.

— O bebê está bem – assegurou Peeta, demonstrando carinho com a entonação de sua voz e ela virou o rosto, abatida. — Ei, não se preocupe. O bebê vai ficar bem. Você vai ficar bem.

— É que eu pensei que tudo se resolveria... eu não sei o que eu vou fazer. – Katniss desatou a chorar.

— Ei, ei, acalme-se. É o que nós vamos fazer. Não é apenas você, somos nós – falou determinado. – Certo?

— Qual é, Peeta? Você não quer ter o bebê. A gente mal se conhece. Você nem lembrava do meu nome até alguns dias. – Havia tristeza em sua voz.

— É isso mesmo o que você acha? Que eu nem me lembrava do seu nome? – Peeta abaixou a cabeça com um sorrisinho maroto. — Quer saber a verdade? – Ele levou sua mão até os cabelos da bela morena à sua frente e ficou afagando-os.

— Quero. – Katniss queria entender tudo aquilo. — A verdade seria boa.

— Depois daquela noite, eu não conseguia parar de pensar em você. Eu pensava tanto em você, que achei que iria enlouquecer. E, quando finalmente pensei que tinha tirado você da cabeça... – Peeta deu um estalo com os dedos. — Lá estava você bem diante de mim. Fiquei tão nervoso que nem conseguia falar.

— Por que não me ligou? – soluçou ela.

— Eu estava apavorado... e quando acordei naquela manhã, olhei para o lado e você estava tão linda, Katniss. Você é tão linda! Parece um anjo. – Ela estava vidrada em seu relato. — Isso nunca tinha me acontecido antes. Daí deixei o destino decidir. – O rosto de Katniss já estava banhado pelas lágrimas. Sentia um misto de sensações. — Não chore, por favor. Eu sei, sou um completo idiota, um estúpido por deixar o destino decidir. – Ele começou a enxugar as grossas lágrimas que insistiam em rolar sobre o delicado rosto dela. — Eu me arrependo de tudo, mas eu nunca esqueci seu nome, Katniss.— Ela tentou afastar a mão dele que acariciava seu rosto.

— E por que eu deveria acreditar? – questionou, então Peeta pegou sua carteira e tirou de dentro uma foto do rosto de Katniss e mostrou a ela, que segurou rapidamente.

— Venho carregando isso comigo há três meses. Tenho problemas com compromissos – assumiu, dando de ombros.

— É sério? Acha que não notei isso? – Ele acabou rindo da forma cômica com que ela falou.

— Eu não vou fugir disso agora, certo? – prometeu ele, retomando a compostura. – Este é meu compromisso com você.

— Não posso ficar com alguém que rouba as pessoas. – Ela voltou a chorar.

— Então, estou fora. Vou largar isso. – Peeta queria uma mudança em sua vida, na verdade, precisava disso. — Só me dê uma chance. Provarei isto a você, mas me dê uma chance – implorou.

— E vai largar tudo mesmo? Por mim? – Katniss o questionava entre soluços.

— Sim, por você.

Ela pensou por um segundo, analisou e disse:

— Está bem, então.

Peeta deu o mais gigantesco sorriso e se aproximou dela, beijando-a com ímpeto. Com amor, com desejo e promessa. Estavam se beijando tão vorazmente, que chamou a atenção de uma enfermeira que ali entrava.

— Ei, ei, parem com isso. A hora da visita terminou e ela precisa descansar.

Peeta se levantou fez que ia sair e, então, na hora em que a enfermeira se retirou, ele voltou rapidamente até Katniss e roubou-lhe mais um beijo.

Saiu dali e começou a vagar pela Capital. Precisava de um plano para pagar o que restava ao Brutus e se livrar de uma vez por todas de tudo aquilo. Perambulou até amanhecer e, quando chegou perto do apartamento do homem, viu-o conversando com os policias e, então, tudo começou a fazer sentido na cabeça do rapaz.

Os policias sondando sua casa. Eles na clínica e aquele cara que deu um encontrão e roubou todo o seu dinheiro. Brutus tinha feito algum acordo com os tiras. Era isso, ele sabia onde Peeta iria estar. Passara todas essas informações a eles.

Precisava fazer algo para acabar com aquilo e já vinha um plano em sua mente. Esperou por um tempo e, depois, foi falar com Brutus.

— O que você quer? – perguntou o homem com a mesma voz mal-humorada de sempre.

— Tenho um grande negócio para você.

— É mesmo? Estou ouvindo?

— Você gosta de diamantes, não gosta?

Era um plano perfeito. Brutus fingiria que ia comprar algum anel de diamante para sua noiva – que ele não tinha – e depois iria fazer o Haymitch levar boa quantidade até seu apartamento que, segundo Brutus, estaria dando uma festa e faria uma surpresa para a tal “noiva”. Mas, na verdade, um outro cara contratado por Brutus passaria pelo local combinado entre eles e roubaria o Haymitch. Seria o plano perfeito. Peeta passou todo o esquema para Brutus. Tudo sairia bem e sua dívida estaria quitada para sempre.

Assim que o rapaz saiu dali, pegou seu celular e discou um número.

— Haymitch, preciso falar com você.

Depois de Peeta ter se encontrado com seu futuro padrasto, ele foi até o hospital para ver sua amada. Tinha passado em uma floricultura e comprado algumas rosas vermelhas para ela.

— Peeta. – Ela sorriu, assim que ele apareceu em seu campo de visão.

— Oi. Como se sente?

— Estou bem melhor. Os médicos disseram que posso ir para casa ainda hoje. Estão apenas esperando os resultados de alguns exames. – Ele parecia meio agitado e não passou despercebido por ela. — Você está bem?

— Sim, estou bem.

— Essas flores são para mim? – Peeta pareceu acordar, já que parecia estar com a cabeça em outro lugar.

— Oh, sim, são para você – afirmou, estendendo o buquê.

— Obrigada, elas são lindas – agradeceu ela, cheirando as rosas.

— Katniss, sei que ontem eu disse que podia pular fora, mas eu preciso fazer isso pelo menos uma última vez.

— O que você quer dizer? – Ele começou a andar de um lado para o outro.

— É um tanto complicado... só preciso que confie em mim. Quer dizer, a única razão de estar te contando é porque quero ser honesto.

— Ser honesto comigo? Você ainda não me disse nada.

— Eu sei... olha... eu não posso. – Ele estava nervoso, pois não podia dizer nada a ela, essa era a condição para o plano rolar direito. — Eu gostaria de poder te contar tudo.

— Tenta fugir ou contar para alguém e eu juro que eu mato você e mato ela.

Essas foram as palavras que Brutus havia falado a ele naquela tarde.

— Eu prometo a você que amanhã estará tudo terminado. Só preciso que confie em mim. – Peeta tentou tocá-la, mas ela não permitiu.

— Talvez amanhã eu não esteja mais aqui. – Ela estava furiosa mais uma vez.

— Me dê só um dia e aí te explico tudo. – Peeta tentou beijá-la, mas ela não permitiu, então ele se levantou. — Katniss, eu te amo. – Furiosa, pegou o buquê de rosas e jogou nele.

— Sai daqui!

 

$$$ $$$

 

— Olha, sei que é amigo do Peeta, mas não posso tirar os diamantes da loja e levá-los até o seu apartamento. – Fazia meia hora que Brutus chegara à loja de Haymitch, falara um nome falso a ele e tinha dito que era amigo de Peeta.

— Sr. Abernathy, vamos fazer o seguinte. – Brutus tirou um bolo de dinheiro de dentro do terno. — Vou adiantar quinze mil, como garantia, daí, se minha noiva não ficar com nada, o senhor me devolve.

Haymitch pensou um pouco e disse:

— Tudo bem, então. Vou guardar o dinheiro no cofre da loja e ainda vou levar três pares de brincos para sua noiva ver. – Sorriu, ajeitando tudo em uma maleta preta.

Pegaram um táxi e pararam próximo ao cruzamento City Circle e logo o comparsa de Brutus passou e pegou a maleta.

— Nossa, Sr. Abernathy... eu sinto muito. Foi minha culpa – fingiu preocupação.

Haymitch pegou o celular e discou o número da polícia.

— Alô, polícia, eu fui roubado. Levaram minha maleta com aproximadamente meio milhão de dólares. Toda minha vida estava dentro daquela maleta – lamentou ele ao telefone.

 

Mais tarde...

 

— Ei, Brutus, você demorou! – O tal comparsa estava sentado no sofá da sala do apartamento de Brutus.

— O cara é um chato, mala sem alça. Pediu que eu o acompanhasse até a delegacia para dar depoimento. – Brutus pegou a maleta roubada e a pôs sobre a mesa, pegando em seguida uma faca para abri-la.

— Não é melhor esperarmos o Peeta?

— Aquele babaca não vai ganhar nada. – E assim forçou a tranca da maleta até escancará-la.

Quando conseguiu, viu um bilhete e um distintivo policial.

“Foi mal, Brutus, não é pessoal, são apenas negócios”.

— Todos parados, polícia! – Naquele instante, quatro policiais bem equipados entraram no apartamento, prendendo Brutus e o comparsa.

Então, tudo fez sentido para Brutus, enquanto estava sendo algemado. Peeta armou tudo com Haymitch e, na mesma hora em que estavam na loja de diamantes, Peeta também estava lá, mas escondido e trocara as maletas, para Brutus ser incriminado.

Agora tudo ficaria bem. O detetive Plutarch Haevensbee tinha reavido seu distintivo e ainda prendera dois criminosos.

Peeta abandonara de vez essa vida, mas ainda havia um detalhe a ser resolvido.

— O que está fazendo aqui, seu babaca? – Gale estava mais uma vez furioso com a presença de Peeta ali no Latier’s. Deu um tremendo soco no olho esquerdo do rapaz e o lançou para fora dali. Na verdade, jogou-o pela porta dos fundos. — Não volte mais aqui!

Peeta ficou ali por um tempinho até ela aparecer, segurando um cigarro entre os dedos.

— Você está bem? – Ela sentou-se ao lado dele no chão.

— Não. – Katniss deu um risinho e estendeu o cigarro para ele.

— Qual é a marca? – perguntou.

— Sei lá, acho que é KATNISS.

— Eu parei. – Ele sorriu para ela.

— De fumar ou de roubar?

— Os dois. – Então, ela jogou longe o cigarro, enquanto ele pegava alguma coisa no bolso de sua jaqueta.

— O que é isso? – perguntou Katniss, ele abriu a pequena caixinha preta aveludada e lhe mostrou um lindo anel de noivado.

— Eu bem que poderia me ajoelhar, mas como estou na sarjeta, provavelmente isto não seria romântico.

— Isso não seria do seu último furto, seria? – questionou ela, levantando as sobrancelhas.

— Não, Haymitch me fez por um ótimo preço e ainda deu desconto. – Peeta fez uma careta e gemeu. — Katniss...

— Eu sei. – Ela o cortou. — Haymitch me visitou no hospital e contou o que vocês iam fazer.

— E, ainda assim, você deixou o Gale me massacrar?

— Bom, eu estava muito zangada por você não ter me contado. – Ele riu e ela averiguou os hematomas em seu rosto. — Ele fez um bom trabalho. – Peeta gemeu mais um pouquinho. — Ah, tadinho... pode deixar que eu vou cuidar de você.

— Então, você aceita se casar comigo? – Ela encarou aquele homem, pelo qual se apaixonara perdidamente.

— Sim, eu aceito.

— Tem certeza? – brincou ele e Katniss acabou por torcer os lábios, fazendo careta.

Peeta colocou o anel em seu anelar esquerdo, onde se encaixou perfeitamente.

— E, agora, o que acontece? – Katniss o encarou apreensiva.

— O amor não é um crime – declarou ele. — Vamos nos amar para sempre!

No mesmo instante, avançaram um contra o outro e começaram a se beijar fervorosamente.

Gale não aceitou o Peeta logo de cara, mas a essa altura, já não podia fazer mais nada, pois a Catnip estava apaixonada. Hazelle ainda estava fazendo vários tratamentos e o filho não a abandonara nunca. Madge foi morar com ele e até faziam planos para o futuro.

Katniss aceitou o emprego no estúdio de fotografia no Distrito 12. Claro, Peeta foi junto e a ajudava como seu assistente. E, mais algumas semanas depois, ele conseguiu um emprego que ajudaria a sustentá-los. Financiaram uma boa e aconchegante casa, num condomínio chamado: Vila dos Vitoriosos. Aos poucos, montaram o quarto e o enxoval para o bebê que chegaria dali a alguns meses.

Agora tudo estava bem. Tudo estava completo. Finalmente seriam uma família.

 

FIM


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Espero que tenham gostado. Uma ótima semana a todos... Nós nos vemos em breve. Aguardem que a Paty vem no domingo com uma delícia de one... Beijos e abraços.



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