Tudo e todas as coisas escrita por Bell Fraser, EverMellark, Cupcake de Brigadeiro, Gabriella Oliveira, RêEvansDarcy, Leticiaeverllark, Paty Everllark, DiandrabyDi, Sorvete Ed Sheerano, IsabelaThorntonDarcyMellark, Naty MellarkLi, Kiara, katyyxliss


Capítulo 8
A Maldição do Duque


Notas iniciais do capítulo

Boa noite queridos. Então, chegou a minha vez. Paty Everllark, estou super nervosa aqui.

Em primeiro lugar quero agradecer a todas as autoras maravilhosas, que participam dessa coletânea comigo. O convite, o apoio, o cuidado e o companheirismo. E um prazer imenso participar dessa coletânea com vocês. Obrigada meninas, por tudo.

Aos leitores, obrigada por entrarem em mais essa com a gente. Sem vcs nada disso seria possível.

A classificação indicativa da one é +16

O lindo Banner do capítulo foi feito pela minha querida, Belzinha. A quem eu agradeço pela amizade e o carinho que tem dedicado a mim por todo o tempo que nos conhecemos.

Observação: Embora não haja um crossover, essa história é livremente inspirada no filme “O Feitiço de Áquila” de 1985, dirigido por Richard Donner e estrelado por Matthew Broderick, Michele Pfeiffer e Rutger Hauer. Filme pelo qual sempre fui completamente apaixonada, mesmo antes de começar a escrever fanfics.

Espero que gostem. Boa leitura.

Sinopse:

Sinopse:
Até onde um homem apaixonado, é capaz de chegar em retaliação, por ter seu amor não correspondido? Comprometê-lo-ia a salvação de sua alma para se vingar daquela que o rejeitou?
Até onde um homem apaixonado, é capaz de chegar para fazer justiça àquela a quem ele ama? Comprometê-lo-ia sua honra para libertá-la de uma maldição?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/765201/chapter/8

 

“Há muito não conversamos. Éramos tão íntimos... reconheço. A culpa é toda minha, mas como posso Te olhar nos olhos, depois de tudo que fiz? Fui infiel a meu voto de silêncio, feito no dia que me consagrei a Ti.  Por muito tempo fugi de Tua presença. Isolei-me do mundo e esqueci dos Teus, que jurei um dia cuidar. A vergonha pelos males que causei, impediram-me de enxergar a Tua misericórdia. No entanto, eis que antes de meu  descanso eterno, falas comigo outra vez através de um anjo e me  concedes a graça de concertar os erros de meu passado. Peço-te somente que me ajude, pois não consigo sozinho. Que possas uma última vez se utilizar dessa ferramenta velha que já lhe teve muita serventia outrora. Prometo que dessa vez  irei Te honrar.”

 

Província de Saint James,1748.

 

O local era asqueroso, frequentado por homens de caráter duvidoso e mulheres de péssima fama. As bebidas, apesar do custo elevado, tinham a qualidade questionável. Sobre a comida, não valia a pena tecer comentários, entretanto para Finnick Odair – que passara os últimos quatro de seus dezenove anos, nas masmorras do duque Gale Hawthorne –, aquele antro poderia ser considerado um paraíso na terra.  

— Senhor, mais uma rodada de vinho por minha conta!

— Você já bebeu demais rapazinho. Além disso, tenho dúvidas se terá dinheiro para pagar pelo o que está me pedindo.

Finnick sorriu, estava naquela taberna no meio do nada, há pelo menos dez minutos. Havia bebido duas canecas de vinho tinto e já se preparava para beber a terceira. Sabia que deveria ser prudente, ao invés de chamar tanta atenção para si. Além de fugitivo. Era forasteiro. Com certeza, não tardaria a ter soldados o procurando por toda a província, contudo sua veia narcisista gritava para contar seus últimos feitos.  

— Você sabe com quem está falando, nobre cavalheiro? – O recém-chegado questionou. O ar de superioridade e a pose ilustre, o acompanhavam.

— Não faço a menor ideia, garoto!  

— Finnick Odair – O rapaz estufou o peito, tal qual, um galo garnisé. — Sou o homem que, terá o nome gravado nos livros de história, como o primeiro prisioneiro que ludibriou a guarda do duque Hawthorne e saiu ileso do Capitólio.

O idoso o fitou de cima a baixo. Por um instante sentiu pena, pois só enxergou um menino presunçoso que, mal saíra dos cueiros e que não tinha perfil algum de bandido. Tampouco de ter estado no Capitólio. O Capitólio, era uma prisão de segurança máxima, conhecida por abrigar os piores criminosos do país. Homens sem escrúpulos, condenados por crimes bárbaros. Uma vez lá dentro, era impossível sair. Os guardas do duque eram conhecidos como exímios torturadores.

— Garoto... – O homem o mandaria embora, mas do meio da taberna, alguém gritou:

— Ora, ora. O que temos aqui?

Os olhos de Finnick arregalaram-se e ele perguntou o óbvio.

— Gloss Ritchson?!

Parado a sua frente, estava a maior autoridade militar de Saint James. A última pessoa que gostaria de rever em sua vida, o seu maior carrasco na prisão.

— Para você é, capitão Ritchson. Levante as mãos, porém antes, me dê o ouro que roubou de vossa excelência.

Após ameaçar o homem, lhe apontou uma balestra e continuou dizendo:

  — Seu ladrãozinho. Acreditou mesmo, que conseguiria chegar longe, com essa boca enorme? – O capitão riu. — Está pronto para voltar ao seu, lar doce lar?

Não, não estava pronto. Jurou jamais voltar às masmorras. Foi preso aos quinze anos, após furtar um dos animais preferidos do sanguinário, duque Hawthorne – um garanhão puro sangue inglês –, escapou através de um túnel que, levou três anos cavando com uma colher de sopa. Os entulhos sendo dispensados, junto a seus dejetos, nos baldes utilizados para tal fim. Preferiria a morte, a retornar para uma cela fétida na companhia de ratos e escorpiões.

Finnick olhou ao redor, avaliando as possibilidades de fuga. Constatou por fim, não ter nenhuma. O capitão não se achava sozinho, tinha consigo mais cinco soldados.

— Amarrem-no e acabem logo com isso! – Gloss ordenou a seus subordinados.

Boca maldita a minha.— Finnick resmungou para ninguém em especifico. — Esperem! – Por fim gritou. Em seguida, espalmou as mãos no ar tentando, sem sucesso, parar um soldado que invadiu seu espaço pessoal. O indivíduo segurou-o pela gola e lhe tomou a bolsinha de ouro, jogando-a em seguida na mão de seu superior.

— Eu fico com isso, bonitão. – O capitão gargalhou e depois de entregar a balestra, a um de seus soldados, conferiu o conteúdo da sacolinha. — Ou você é um garoto muito corajoso, ou muito burro. Roubar de vossa graça?

— I-isso é m-eu... – O Odair engasgou-se com as palavras devido o aperto em seu pescoço. Não sabia o que fazer. Estava desarmado e pressentia a chegada do pior. Arrependeu-se amargamente de ter parado naquela pocilga.

 P-por f-favor... c-clemência – sussurrou, quase sem forças.      

Saíra das masmorras vivo. Tinha no corpo, algumas cicatrizes de castigos, impostos por seus atos de rebeldia. Todavia, estava vivo. Esvair-se-ia ali, a chance de recomeçar do zero? De encontrar uma boa mulher que, lhe desse lindas crias? De viver coisas, jamais vividas, devido aos anos de reclusão? Sabia-se merecedor do destino, que lhe fora imposto, por seus crimes. Muito destes, realizados por imaturidade ou para não morrer de fome, porquanto queria a oportunidade de se redimir.

— Se eu fosse você, mandaria seu soldado, tirar as mãos de cima desse garoto.

 Uma voz firme, porém, calma interrompeu as reflexões do Odair e destacou-se no fundo da taberna. Junto ao balcão, pôde observar um homem, vestido numa capa de cor escura e capuz. O desconhecido tomou um gole generoso da bebida, antes de se levantar e por fim, afastar o capuz revelando seu rosto.

— Peeta Mellark!?  Então é verdade, estás de volta?

— Sim, estou de volta e, é: Capitão Peeta Mellark, para você.  

— Não me faça rir, Mellark. Só existe um capitão aqui ou melhor, na província de Saint James e este com certeza, não é você.

— Sabe o que é mais engraçado, Ritchson?

Gloss não chegou a responder, pois o tal Mellark prosseguiu:

— Você sempre quis estar nessa posição. Posição, aliás, que um dia voltará a ser minha. Todavia, não é capaz de manter um rapazote, atrás das paredes do Capitólio. Tcs, tsc, tsc, vossa graça deve estar decepcionado com o seu chefe da guarda.   

— Desgraçado! – bradou Gloss, desembainhando a espada e rumou na direção do Mellark. No entanto, não teve sorte, pois o outro se desviou facilmente.

— Você continua o mesmo parvo de sempre. – O Mellark desdenhou e também retirou a lâmina da bainha, logo os dois se enfrentavam como iguais.

O homem que segurava Finnick, o soltou e ofegante, o garoto passou a alisar o pescoço em busca de ar. À sua frente, uma luta de seis homens contra um, acontecia. Visto que os guardas foram em defesa do seu capitão.

A princípio, quem entrasse na taberna poderia considerar a luta desleal, porém, o cavaleiro solitário era melhor em combate. Até quando passou a usar os punhos, ao invés da espada. Sendo que a arma, em dado momento, perdeu-se em meio à balbúrdia de socos e pontapés. O capitão e seus guardas foram desarmados em poucos minutos.

Após realizar a ação de modo calmo, o Mellark voltou ao balcão e terminou a bebida deixada na caneca.

— Levante-se! Você vem comigo – disse ele à Finnick que, encontrava-se boquiaberto jogado no chão.

 Por um instante, o ladrão de cavalos permaneceu inerte a ordem, mas não seria louco de esperar os guardas se recuperarem da surra. Recolheu a sacolinha de moedas em meio aos feridos, colocou-a no bolso traseiro e seguiu no encalço do valentão.

 

❆❆❆❆

 

— Moço, aquilo lá dentro foi o máximo. Aqueles guardas... nossa!  Você acabou com todos eles... nunca vi algo assim. Diga-me, como conseguiu fazer aquilo? É verdade, o que disse lá dentro? Foi mesmo capitão antes do Gloss?

Finnick demonstrava empolgação, ao mesmo tempo em que, tentava acompanhar os passos rápidos do outro. Entretanto, o loiro lhe ignorou parando diante de um belíssimo corcel negro e acariciou sua crina.

  — Vamos amigão, temos um longo caminho pela frente. – Havia suavidade em sua voz, enquanto falava com o animal. Algo que contrastava com sua imagem violenta dentro da taberna.

Finnick teve a oportunidade de analisar seu rosto. Peeta Mellark, como Gloss o chamou, aparentava ter aproximadamente trinta e cinco anos. Os cabelos loiros eram curtos, mas a barba estava por fazer. Não era um homem muito alto, mas bastante forte. No entanto, o que se destacava nele, eram os intensos olhos azuis.  

 — Caso não queira que, aqueles abutres terminem o serviço, que começaram em você antes de eu intervir, sugiro que roube um desses animais e me siga – aconselhou.  

— Eu prometi que mudaria de vida. Não vou mais rou... espere o que disse?

— Eu disse para me seg...

— Eu entendi o que disse. – Finnick o cortou. — Afinal, por que raios acha que irei te seguir, após tudo que presenciei lá dentro? 

— Você faz perguntas demais e já me fez perder muito tempo nesse lugar.

— Quê? Eu te fiz perder tempo? Por que me ajudou lá dentro? 

— Está vendo? Faz perguntas demais.

— Eu poderia ter dado conta do Ritchson e dos seus homens lá dentro. Eu já tinha tudo sob controle.

O loiro não rebateu, montou o corcel e em seguida puxou suas rédeas com firmeza. no entanto, antes de dar comando para que se movimentasse, um assobio de quatro notas deixou seus lábios. O Mellark olhou para o céu e levantou o braço direito. Não tardou em receber outro assobio como resposta. Finnick procurou a origem do som e ficou abismado ao ver um tordo, planando majestoso, na direção do loiro e em seguida, pousar em seu braço. 

— Sentiu minha falta, pequena? – Beijou a cabeça da ave e ela pareceu deleitar-se com o carinho.

Tordos eram aves tão belas, quanto raras. Finnick estava abismado. Sua surpresa se devia, ao fato daquela espécie estar extinta, devido à ação irresponsável de caçadores que, comercializavam suas penas. Ele mesmo só as conhecia de livros de história e aquele tordo, além de bonito, exalava imponência. Suas penas de coloração acinzentada, eram lindíssimas e valeriam uma pequena fortuna no mercado negro.  

— Você tem um tordo?! – perguntou assim que o loiro pôs a ave em seu ombro direito.

 Não se tinha notícia de humanos que, conseguissem domesticar tal raça, tampouco se aproximarem deles. Tordos eram conhecidos por seu espírito livre e solitário, por isso a pergunta do rapaz. Contudo, aquele animal parecia gostar da companhia do Mellark, que por sinal, carregava sobre si uma áurea de mistério, que amedrontava o Odair. Então, o ladrão decidiu que o melhor, seria deixa-lo partir sem ter sua resposta e rezar para nunca mais encontra-lo. Deu às costas para o outro, no entanto, o destino tinha outros planos para os dois.

— Você não entendeu garoto. Não estou lhe fazendo um convite, estou mandando pegar um cavalo e me seguir! – O homem não parecia blefar.

Uma espada afiada, chegou até seu pescoço e Finnick engoliu em seco.

— Ops! – exclamou, ao sentir o saquinho de moedas deixar seu bolso.

Ficou indignado ao constatar que, o autor do furto foi o corcel, que usou a boca para realizar o ato criminoso.

— Garoto esperto. – O cavaleiro elogiou e o cavalo relinchou em agradecimento. — Isso, fica comigo por enquanto – disse, referindo-se as moedas.

O loiro sabia como convencer alguém a segui-lo. O melhor seria não arriscar. Resignado, o ladrão de cavalos, escolheu um alazão que aparentava docilidade. O desamarrou e subiu em seu lombo.

— Melhor assim. – O Mellark afirmou com cara de poucos amigos, batendo os calcanhares no lombo do cavalo e finalmente, o fazendo galopar. Finnick respirou fundo e o acompanhou. Algo lhe dizia que aquilo era o certo a se fazer.

—  ... Posso ao menos saber para onde estamos indo? 

— Acho justo que saiba o nosso destino, mas não agora. Por ora, procuraremos uma hospedaria segura, onde eu possa descansar.

Cavalgaram por quase duas horas. O sol já dava indícios de se recolher, quando avistaram uma hospedaria. O local tinha ares de mansão mal-assombrado, mas Finnick agradeceria se pudesse tomar um banho quente e se alimentar descentemente. Fez com que o alazão cavalgasse mais depressa, entretanto, o loiro diminuiu a velocidade. Sussurrou algo, no ouvido do tordo e o animal levantou voo para longe deles.

— Nos vemos mais tarde! – Dessa vez, disse um pouco mais alto e Finnick notou que a despedida parecia um tormento para o homem.

Após amarrarem os cavalos, na cerca que rodeava a propriedade, entraram na hospedaria, que se revelava pior em seu interior. Havia teias de aranha e sujeira por todos os lados. Tocaram a sineta três vezes, antes de serem atendidos por um velho caolho.

— O que é? – O velhote os olhou de cima abaixo, os avaliando.

— Quero dois quartos, até amanhã e alguém para cuidar de meus cavalos. – O loiro se adiantou.

— O pagamento é feito adiantado. Os banheiros são coletivos e a janta é servida às 18h00min em ponto. Caso não estejam aqui em baixo nesse horário, ficarão de bucho vazio... Mulher! Ô desgraça! Desça logo!  – O caolho gritou por cima dos ombros, ao final das instruções uma senhora, acima do peso e manca, entrou no cômodo resmungando. — Melhore essa cara, velha feiosa e mostre onde eles ficarão.

O acompanhante de Finnick abriu a capa. Seus bolsos estavam inchados de tantas moedas. Os olhos do casal se arregalaram. Logo a postura de ambos mudou. A mulher, que só resmungava até o momento, abriu um sorrisão desdentado que embrulhou o estomago do Odair. Em seguida, se pôs a caminho das escadas e num acenou, pediu que eles a acompanhassem.

 

❆❆❆❆

 

O jantar não foi dos piores.  O Mellark não quis comer, mas antes de entrar no quarto destinado a si, ameaçou Finnick para que não fugisse. Por sua vez, ele nem tentou. Achava-se cansado demais para tal desventura.  Depois da refeição, bateu na cama e apagou, porém, no ápice da madrugada, acordou com alguém tapando sua boca. Tentou gritar, mas foi impedido. A velha manca, subiu sobre seu corpo e o prendeu contra o travesseiro. Ao lado da cama, o caolho berrava e lhe apontava um enorme facão.

— Onde está seu amigo? Onde ele escondeu o ouro?

Finnick não conseguia respirar. O peso era insuportável sobre seu peito.

— Destape a boca dele, sua mula manca! Como ele irá falar, o que  quero ouvir?

 O Odair tossiu.

— V-você... n-não devia tratar sua esposa assim.

— Não se faça de engraçadinho comigo! – Ao terminar a advertência, o homem empurrou a esposa e jogou Finnick no assoalho. — Fale, o que quero saber ou te darei de comida aos meus porcos.

— Eu não sei!

— Levante-se! – O velho mandou e o obrigou a sair do aposento.

Com o casal atrás de si, Finnick desceu as escadas devagar e chegou ao terreno. Lá, ouviu a voz da mulher em bom tom pela primeira vez.

— O outro deve ter fugido com todas as riquezas, homi! Vamo mata este pra faze carne salgada. Nossa dispensa já ‘tá vazia.

Finnick fez uma careta.

— Por favor, não me digam que a carne do jantar...? – Teve medo de continuar o questionamento. Muitas histórias circulavam nas masmorras, sobre um casal de loucos que saqueavam, matavam e comiam seus hospedes, em uma hospedaria ao sul. Eles estavam no sul.

— Vou perguntar uma última vez. – O rapaz sentiu a faca gelada em sua garganta. Fechou os olhos, pressentindo não ter escapatória dessa vez. — Onde está o ouro?

— Eu não sei... por favor, sou muito novo para morrer. – Tentou argumentar, mas foi lançado na lama.

— Mata ele marido! Mata ele! Ele parece suculento demais. – A bruxa gritava e ria de um jeito histérico, causando arrepios em Finnick. 

—  Farei isso, ao menos não saio no prejuízo.

Finnick sentiu a pressão aumentar em sua jugular e foi como se sua vida toda, passasse diante de seus olhos, nos instantes em que a lâmina era pressionada, em seu pescoço. Entretanto, um uivo irrompeu a escuridão da noite e foi seguido por sons de passos ágeis, vindos de encontro ao trio.

— O-quê...? – O velho ainda tentou dizer algo, todavia, um imenso lobo negro, abocanhou sua jugular.

Homi! 

 A mulher foi em defesa do esposo, mas o lobo voltou-se para ela sem piedade. O cenário de terror estava formado, diante de um Finnick estático. O corpo decrepito do caolho, jazia na lama e sua mulher se debatia aos gritos, enquanto o animal lhe mordia na curvatura do pescoço.

Tudo aconteceu rápido. Após assassinar o casal, o lobo ergueu-se nas patas traseiras e uivou para a lua. O animal retornou a ficar sobre as quatro patas e de repente, notou o sobrevivente. A passos curtos, o lobo aproximou-se de Finnick, pouco menos de dois metros os separando. O bicho era tão belo, quanto enorme. A pelugem negra, reluzia na obscuridade e os olhos da besta eram, inacreditavelmente azuis.

— P-por...

 Finnick não conseguiu pensar no que dizer. O espaço existente entre os dois, foi eliminado por iniciativa do lobo. O rapaz virou o rosto para a direita e fechou os olhos, enquanto seu pescoço era cheirado. Prendeu a respiração, ante o hálito quente em sua face, mas assim que o fez, ouviu um canto suave ao longe. A canção, também chamou a atenção do animal que, pendeu à cabeça no sentido da voz e desistiu de sua presa.  

O Odair se levantou depressa, assim que o bendito se afastou, mal olhou para os corpos e lembrando-se dos cavalos. Correu para a cerca, onde havia os deixado.   

—  Tcs, tcs, tcs, venha garotão. Vamos sair daqui... – disse nervoso, enquanto puxava um agitado corcel pelas rédeas.

— Eu não faria isso, se fosse você. – Uma voz graciosa, impediu sua ação. — Ele não aceita ser montado por quem não conhece.

Defronte uma mulher vestida, numa longa capa negra, se encaminhou até o ladrão e tomou as rédeas de suas mãos.  O ambiente escuro e o capuz que ela usava, dificultava de ver seu rosto.

— Q-quem... é a senhora? – inqueriu, mas antes de obter a reposta, outro uivo poderoso os interrompeu. Então, Finnick recordou-se do lobo. 

— Moça, tem um lobo assassino à solt...

 A garota voltou o rosto para ele e sorriu. Posicionou o indicador direito, sobre os lábios, num pedindo de silêncio.

— Xiu.

 Apenas um sussurro. Entretanto, hipnotizou o rapaz que, enfim pôde ver seu rosto. Ela era Linda! Rosto delicado, lábios pequenos, olhos num tom cinza tempestuoso que o desconcertara. A mulher acariciou a cabeça do cavalo e questionou se ele tinha sentido falta dela.

 — Vamos garoto – disse para o animal que, retribuiu o carinho, encostando a cabeça em sua mão. 

— Moça, você ouviu o que eu falei?

— Sim... tem um lobo assassino— sussurrou a última parte da frase.      

A mulher montou no corcel que não a repeliu. Assim que chegou à cerca – que limitava a propriedade –, o lobo negro se juntou a ela, mas antes que ambos partissem, a fera negra, parou e fitou Finnick intensamente.

Céus!  – exclamou. O corpo inteiro tomado pela tremedeira.

Assustado, Finnick embrenhou-se pela floresta e correu até avistar um pequeno celeiro.

Seria aquele um abrigo seguro?

Adentrou o espaço em disparada, entretanto, ao passar pela grande porta de maneira, sentiu uma forte pancada na nuca e não viu mais nada a partir dali.

❆❆❆❆

Chutinhos, nada agradáveis em suas costelas, foram os responsáveis por acorda-lo.  A cabeça latejava e ainda deitado no chão, reclamou: 

— Mãe, me deixe dormir.

Finnick colocou as mãos no local da dor e coçou os olhos, tentando se acostumar com a claridade, proveniente do telhado quase sem telhas.  Tinha tido sonhos estranhos. Talvez tivesse bebido demais na taberna.  Na taberna?

— Acorde!

A voz grave invadiu seus ouvidos e o fez sentar-se numa rapidez impressionante.

— Hã ...? Droga, eu não acredito. Não foi um sonho?

  Finnick despertou por completo e avaliou tudo ao redor.  Encontrava-se no celeiro abandonado, no qual, se lembrava de ter se abrigado após a fuga. A poucos centímetros, uma viga de madeira, revelava o que o atingira ao entrar no local.

— Era bem obvio que se esconderia aqui. Não é um homem tão inteligente, como diz ser. O Mellark murmurou, enquanto afastava com os pés, a viga. Em sua opinião uma armadilha, provavelmente feita pelo casal de carnívoros para pegar viajantes desavisados.

— Onde você estava seu maldito? Eu quase morri essa noite! Tinha um lobo e uma mulher...

— Precisamos sair daqui! Sondei nas primeiras horas, o capitão e seus homens, não estão muito longe daqui.

 Finnick se colocou a segui-lo, mas ao sair, se surpreendeu ao ver o alazão. Contudo, a surpresa maior ficou por conta do corcel que estava ao lado dele.

— O que o seu cavalo ...?

— Isso não é da sua conta. Ande logo!

— Não é da minha conta? Não é da minha conta? – gritou. O homem parou por um segundo e o encarou, a fisionomia dizia tudo. Sem melhores opções, emparelhou a seu lado.

Caminharam em total silêncio por horas. Até o início da tarde, quando alcançaram uma clareira.

— Temos que apertar os passos ou não alcançaremos as ruinas de Madre de Dios, antes de anoitecer. – O loiro disse no habitual tom arrogante.

—  Madre de Dios? O que pretende fazer nas ruínas.

— Não pretendo fazer nada nas ruinas. Porém, para alcançar as terras do duque Hawthorne, precisarei passar antes por Madre de Dios.

— Você não pode estar falando sério? – Havia pânico na voz do ladrão.  — E-eu jamais retornarei aos domínios do duque – gaguejou.

— O único homem que fugiu das masmorras, com certeza conhece uma passagem secreta para entrar lá. Como já deve ter percebido, não sou alguém que conseguiria entrar nos domínios do duque, pela porta da frente.

— Nem morto retornarei aquele lugar. Pode me matar se quiser – disse decidido.

— Não se fazem mais homens como os de antigamente – resmungou o loiro ao soltar uma lufada. — Tem uma divida de gratidão comigo por ter salvado sua vida.  

— Eu não sou um cavalheiro das antigas. Obrigado por ter salvado minha vida, mas...

— Eu o recompensarei bem por seus serviços. Terras, ouro, título de nobreza... Posso te conceder o que desejar.

 Finnick desconfiava que o sujeito falasse a verdade, porém não se tratava de covardia, mas sim precaução recusar a tentadora oferta.

— Jamais poderei usufruir do bônus que me ofereces, caso eu retorne ao cárcere. Gale Hawthorne, além de governante dessas terras, também é conhecido por ser um homem sem alma. Ele nunca terá misericórdia de um ladrãozinho de cavalos feito eu.

— Você não voltará ao cárcere. Quanto à misericórdia do duque, quando eu o matar, não precisará mais se preocupar com ela.

— Você irá matar o duque?

— Sim, matarei o maldito no dia do seu aniversário.

— Daqui a dois dias? Quando todos os olhos de Saint James, estiverem voltados para o seu soberano? Você só pode estar louco. Não irei a lugar algum com vo...

O Odair não concluiu a frase. Ambos olharam para o céu em alerta, pois o tordo lançava sobre eles, assobios desesperados, alertando-os do perigo iminente.

— Garoto, temos que...

 Era tarde demais, não havia mais tempo para montar nos cavalos e fugir, em meio às árvores que cercavam a clareira, mais ou menos dez homens revelavam sua presença, dentre eles o capitão Ritchson.

— Em suas andanças pelo mundo, aprendeu a rezar, Mellark? – Gloss tinha um curativo na testa e exalava ódio em sua fala. O loiro respirou fundo, demonstrando enfado e pareceu irritar mais o homem. — Irei acabar com você e darei sua carne de comidas aos cães.

— Isso não acontecerá hoje, Ritchson! – O Mellark respondeu sério e desembainhou a espada.

— Esse homem de fato é louco! – Finnick sussurrou e mesmo tendo testemunhado que o outro era um insigne lutador, sabia que ele não daria conta de todos os guardas sozinho. — Senhor me ajude! – pediu aos céus e ergueu os punhos fechados em postura de luta. Ao menos, alguns bons sopapos, teria que dar para ajudar. 

 Como mais cedo, o loiro eliminou quatro homens, sem grandes dificuldades depois de ter desembainhado a espada. O Odair entrou numa luta com um jovem e o derrubou, com um soco no nariz. O segundo que encarou, lhe deu mais trabalho, porém conseguiu desmaia-lo após tê-lo asfixiado. O tordo também participou do confronto, furando os olhos de um dos sujeitos. Os três que restaram, fugiram do local sem olhar para trás.

 Finnick respirava ofegante, enquanto olhava a alguns metros o Mellark e Gloss num embate ferrenho. Onde o vencedor, foi o loiro.

— Ele está morto? – Finnick perguntou, assim que se aproximou do corpo jogado no chão.

Olhou para o loiro. A espada jogada a seu lado, as mãos no joelho e o corpo inclinado para frente, demonstravam o quanto havia sido difícil a luta. Seu braço direito sangrava, pois estava seriamente ferido. 

— Temos que sair daqui. Outros estão a caminho.

Assim que terminou a frase, Finnick percebeu que o Mellark olhava para o céu, o tordo voava baixo e continuava a emitir assobios agitados.

— Ela fala com você?

— Não temos tempo...

— Eu não creio nisso... é demais para minha cabeça. O que mais falta acontecer? Um tordo que se comunica com um homem. Um lobo assassino, perambulando durante a noite e tendo a companhia de uma mulher misteriosa...

O loiro ajeitou a postura com dificuldades, enquanto o ladrão reclamava, andando de um lado a outro. Recolheu a espada e seguiu até o corcel, mas não chegou monta-lo.

— Desgraçado!

A agilidade com que tudo aconteceu, surpreendeu aos dois. O capitão, que antes se encontrava praticamente morto, apontou e disparou uma balestra na direção do Mellark, no entanto, a flecha não chegou até ele. O tordo – numa clara atitude defensiva –, entrou na frente do objeto, recebendo-o no peito.

— Não!

 O Mellark gritou, as íris mudando de cor e as lágrimas imediatamente chegando aos olhos, até que encarou Gloss. A fúria o dominou de um jeito que, o ladrão jamais vira em outrem. De posse da espada, foi em direção ao capitão, Finnick virou o rosto e encolheu-se, estava chocado diante a cena que se seguiu.

Após decepar a cabeça do chefe da guarda, o Mellark tomou a ave em seus braços e começou a dizer-lhes palavras incompreensíveis. Com cuidado, retirou a capa que vestia e envolveu o pássaro.

— Por favor... – Foi até Finnick e o agarrou pela blusa, a dor latente em suas feições. — Leve-a para o antigo Mosteiro de São Bento...

— Mas senhor, ela está morren...

— Cale a boca! – O loiro se achava desnorteado e colocou a ave em seus braços, o animal estava perecendo. O loiro trouxe o corcel até eles e ajeitou-lhe a cela. – Aguente firme, por favor, minha pequena. – O Mellark despediu-se da ave com uma carícia em sua cabeça. Em seguida, obrigou Finnick a montar o cavalo.

— Senhor, ele não me deixa monta... – O Odair tentou falar assim que se acomodou sobre o cavalo que começou a se agitar.

 — Por favor, amigão, ela precisa de você – falou o loiro, ao corcel que se acalmou. — Procure por Don Abernathy. Diga que Peeta Mellark lhe enviou. Ele saberá o que fazer. Terá que chegar ao monastério, antes do pôr do sol... – Peeta mal respirava ao dar o comando. — Garoto, se deixa-la morrer, eu juro, por tudo que é mais sagrado que mato você.  Agora vá!

Bateu no lombo do cavalo e por sorte o rapaz não foi ao chão. 

 

❆❆❆❆

 

— Mais um passo e será seu último! – Do alto da muralha, que guardava o mosteiro, um homem berrou.

Ele se vestia feito um monge. Possuía um arco de caça em suas mãos e sobre o muro de pedras, deixou uma garrafa de bebida, de onde tomou um gole.

— Senhor, por favor, preciso de ajuda! – Finnick disse no mesmo tom.

— E quem disse que poderá encontra-la, dentro desses muros? Vá embora ou atirarei em você.

— Senh...

Finnick sentiu uma flecha passar raspando ao seu lado e fincar-se em uma árvore próxima.

— Suma daqui rapaz!

— Peeta, vim em nome de Peeta Mellark – explicou o rapaz tudo de uma só vez. 

— Em nome de quem?

— Peeta Mellark, senhor. Procuro por Don Abernathy. A ave dele foi gravemente ferida e está à beira da morte.

— Céus! Por que não falou logo? Sou eu quem você procura.

 Os grandes portões de madeira foram abertos. Finnick desceu do cavalo, logo o monge veio e retirou o tordo de seus braços.

— Há quanto tempo ela está assim?

— Muito tempo.

— Resista querida, resista... só mais um pouco. O sol já irá se pôr... Que os céus me ajudem.

  O homem seguiu por um extenso corredor e antes do final deste, entrou em uma das celas, colocou a ave sobre a cama e acendeu uma vela que estava sobre a mesinha de cabeceira. Fez uma breve oração e lembrou-se da presença do Odair.

— Siga até o fim deste corredor e desça as escadas, lá encontrara uma cozinha que dará para um jardim, Annie esta lá.

— Annie?

— É. Ela é uma jovem ruiva, provavelmente fará um escândalo ao vê-lo. – O sacerdote pareceu analisar o próprio pedido, mas deu de ombros. – Diga para vir depressa, preciso dela aqui. Agora!

Finnick fez o que o religioso mandou. De fato, encontrou a jovem no jardim cuidando das flores e como o previsto, ela se assustou ao vê-lo. Ia gritar, mas o jovem tapou sua boca.

— Socor...

— Não te farei mal, precisa me ouvir.

 

❆❆❆❆

 

— Toalhas limpas, bacias, água fervente... Acho que, tudo que o tio Haymitch pediu está aqui.

— Tio Haymitch? Aquele monge bêbado, que está cuidando do pássaro, é seu tio?

— Sim. – A garota abaixou a cabeça, aparentava tristeza pelo xingamento direcionado ao tio. – O monge que está cuidando da ave, é meu tio. – Fez questão de frisar o título. 

— Desculpe-me, não queria ofende-lo, mas ele me pareceu assustador com aquele arco e aquela garrafa, logo que cheguei.

A garota não falou mais nada, pegou a bacia e as toalhas sobre a pia, porém quando foi pegar a chaleira, Finnick a impediu.

 — Eu te ajudo. – Sorriu para a garota que aparentava ser um pouco mais nova que ele, mas ela não retribuiu.  

Quietos, ambos seguiram pelo corredor. Assim que Annie abriu a porta do quarto, Finnick ficou atordoado. Sobre a cama, onde antes deixara o tordo, a mulher misteriosa da hospedaria estava deitada com uma flecha fincada em seu peito.

— Obrigada querida. – O monge agradeceu a sobrinha, ao mesmo tempo, em que retirava a bacia de suas mãos e fechava a porta na cara dos dois.

 

❆❆❆❆

 

 — E-la... ela é o tordo?

— É.

— E o Mellark, e-ele é...

— O lobo. – Annie concluiu, o que Finnick ia dizer.

— M-mas como... como isso é possível?

Annie suspirou antes de explicar tudo ao rapaz. A garota revelou a história que lhe fora contada, pelo tio, desde que seus pais morreram e ele a acolheu no antigo Mosteiro de São Bento.

— Peeta Mellark e Katniss Everdeen. Ele capitão da guarda do duque Gale Hawthorne, e ela filha do marquês de Florência, Joseph Everdeen.  Os dois viveram a história de amor, mais linda que Saint James já viu... 

 A menina contou com detalhes toda a saga vivida pelo jovem casal.

  — Saint James, era uma das províncias mais próspera do país. Antes de se tornar o ditador sem coração que conhecemos, o duque era um bom homem. Cuidava bem de seu povo... era comum vê-lo comemorar o êxito das colheitas, junto aos camponeses nos festivais. Em uma dessas festas, onde toda a província comemorava, ter sido novamente, agraciada com a fartura de grãos, Gale Hawthorne viu pela primeira vez, o grande amor de sua vida...

— Katniss Everdeen? – Annie afirmou num aceno. – O duque se apaixonou por ela?

 — Você é testemunha da mulher estonteante que ela é...  Quando a viu dançando junto às outras moças, ele se encantou com sua beleza. O duque cortejou-a insistentemente. Tentou de todas as formas conquistá-la, mas os sentimentos de Katniss já pertenciam a outro... 

— O Capitão lobo? Digo, o Peeta Mellark?

— Quando percebeu do que o nobre era capaz, Katniss ocultou quem era seu eleito, temia pela vida de seu amado. Todavia, o Hawthorne usou de seu poder e influência para descobrir, quem era o dono do coração de sua amada. Ele ficou possesso ao descobrir que, seu melhor amigo, era o detentor de tais sentimentos. Em sua mente insana, julgou ter sido traído por seu capitão, então...

— Então ele os amaldiçoou.

— Sim. O duque fez um pacto com as sombras e condenou a própria alma a escuridão... Sob o sol, Katniss é o tordo majestoso, que você trouxe até nossa casa...

— E a noite, Peeta é o um lobo assustador, que vi agir na hospedaria.

— O duque jurou que, se ela não fosse dele, homem nenhum jamais a teria.

— Sempre juntos, porém, eternamente separados. – Finnick resumiu. — Como ele descobriu sobre os dois? – manifestou curiosidade.

 A garota ergueu-se do banco com a expressão culpada na face.  Estavam no jardim do convento desde que Don Abernathy fechou a porta do quarto.

— Meu tio era o confessor e amigo íntimo dos dois...

— Seu tio os traiu? Traiu o juramento que fez, ao aceitar ser sacerdote?

— O duque é um homem terrível, Finnick ... – Annie fechou os olhos, as lembranças dos momentos de tormento passados, nas mãos de Gale Hawthorne, invadindo sua mente feito uma avalanche.

— Não há um dia, em toda a minha vida, desde aquele dia, que eu não me arrependa do que fiz aquelas duas crianças.

Ambos sobressaltaram-se com a chegada intempestiva do monge ao jardim.

 — O senhor não teve culpa tio. O duque me mataria, caso não contasse. – Annie foi até o tio e o abraçou.

Finnick apiedou-se, imaginando o quanto a culpa corroía o pobre sacerdote, por desonrar o voto de silêncio, feito no dia de sua ordenação. O rapaz não sabia, tampouco poderia imaginar que Haymitch já havia sido um religioso zeloso e muito dedicado a sua vocação. No entanto, após o ocorrido, não se sentiu mais digno de exercer seu ministério. Enclausurou-se assim, atrás das paredes do mosteiro abandonado e só não se entregou a morte, por causa da sobrinha, que passou ser a única alegria de seus dias.

— Ele falou comigo em sonho, Annie. – O homem disse, ainda com a sobrinha nos braços.

— Ele quem, tio? – ela perguntou confusa.

— O Todo Poderoso! 

— Quem?

— O Criador. Julguei estar bêbado ou quem sabe louco, minha menina. Mas quando você trouxe Katniss até mim – apontou para Finnick —, eu soube que Ele havia escutado minhas orações...

Finnick não entendia nada que o monge estava dizendo. O sacerdote se afastou da sobrinha e seguiu convento adentro. Os jovens se entreolharam e seguiram-no de perto. O Abernathy entrou em um dos quartos, retirou alguns papeis de uma gaveta, os espalhando em seguida sobre a cama.

 — Katniss e Peeta, terão a oportunidade de confrontar o duque juntos. – O Abernathy estava eufórico.

— Juntos? Ela como uma mulher e ele como um homem? Isso é impossível tio.

— Não, não é impossível Annie. – O homem riu e buscou uma folha repleta de desenhos e rabiscos em meio à papelada. – Rapaz, qual é mesmo seu nome?

— Finnick Odair, senhor.

— Odair, pegue essa vela e traga até aqui.

Finnick fez o que o homem pediu, pegando o castiçal sobre a prateleira e o entregando. Annie sentou-se na beirada da cama, tão intrigada, quanto o rapaz.

— Eu estudei as estrelas anos a fio. Não me pergunte como, não é algo fácil de explicar. Na hora nona, daqui dois dias, quando o duque completar quarenta primaveras... – O homem colocou o castiçal sobre a cama, colocou a folha de papel ao lado do objeto e impediu com a mão, que a chama da vela iluminasse o papel. — A lua irá impedir o sol de brilhar por alguns minutos, nesse exato momento, Peeta e Katniss terão a oportunidade de confrontar, Gale Hawthorne como um casal e enfim acabar com a maldição.

Todo o fenômeno do sol encoberto pela lua, que o monge relatava, parecia surreal demais ao jovem. Entretanto, havia tanta convicção nas palavras de Don Haymitch Abernathy, que era impossível não crer no que ele dizia, contudo Finnick lembrou-se de algo crucial.

 

❆❆❆❆

 

— Ela não aguentará uma viagem, nestas condições, Finnick. É muito arriscado.

— Annie, temos que impedir que o capitão lobo cometa uma burrada de grandes proporções. Se tudo que seu tio disse, for mesmo verdade, não temos tempo para esperar que Katniss se recupere, pois, o Mellark matará o duque antes disso.  

— Finn tem razão, Annie. – O Odair abriu um sorrisão para a moça deitada na cama.  Gostou de ser chamado pelo apelido carinhoso, com o qual, se apresentou a ela. — Peeta está há algumas horas a nossa frente. Caso ele mate o duque, irá nos condenar a viver para sempre feito animais irracionais.

Milady...  – Finnick penalizou-se ao ver as lágrimas brotarem nos olhos da bela mulher. 

Assim que acordou, Katniss agradeceu aos três por terem salvo sua vida e cuidado dela com tamanho carinho. Um agradecimento especial foi feito ao ladrão. Por um instante, era como se os dois se conhecessem de outras vidas. Um sentimento fraternal os envolveu de um modo inexplicável.  

Ele faria qualquer coisa para não a ver sofrer mais.

— O sol já está nascendo. – Ela olhou para a janela. – Em breve me transformarei. Posso viajar em segurança desse jeito. Talvez seja a última vez... Haymitch.

— Sim, querida. – O monge que se mantinha em silêncio, até o momento, levantou-se e parou ao lado do leito de Katniss.

— Quero que me prometa. – Ela estendeu a mão para alcançar a do religioso.

— Qualquer coisa que quiser.

— Se chegarmos tarde demais...

— Não chegaremos tarde, querida.

— Peeta deixou um rastro de sangue por onde passou, Haymitch. Gale já está a sua espera, caso aconteça o pior com ele... – Katniss confessou aos três, que não conseguiria viver sem Peeta, se Gale o matasse e ela sabia que atentar contra a vida do duque dentro dos muros do Capitólio, no dia de seu aniversário, era suicídio. — Por favor, tire a minha vida.

Annie pôs as mãos na boca, angustiada diante do pedido da mulher e Finnick ficou chocado com a radicalidade do mesmo. 

— Não posso fazer isso – desesperado, o monge colocou-se de pé e deu às costas para a Everdeen. – Não pode me pedir isso – finalizou.

— Olhe para mim. – Hesitante, ele virou-se para ela. – O que vê?

O religioso não conseguiu sustentar o olhar por muito tempo e encarou o assoalho.

— Gale nos condenou a uma vida pela metade. Um segundo, um mísero segundo, entre o nascer e o pôr do sol, é quando podemos quase nos tocar. Nada mais que isso... me prometa Haymitch... você nos deve isso.

— Vocês têm uma chance Katniss, precisa crer...

— Somente me prometa, Haymitch!

Um silêncio aflitivo seguiu-se por um tempo antes de  Haymitch responde-la.

... Sim, eu prometo. – Dom Abernathy respondeu tão baixo que, por pouco Finnick não conseguiu ouvir.

Era impossível saber se, Haymitch Abernathy cumpriria a promessa feita a Katniss, naquela cela do monastério. Tampouco, se tudo que o religioso profetizara sobre o confronto do casal com o duque Hawthorne, de fato se concretizaria e eles conseguiriam libertar-se da maldição. A única certeza que, Finnick Odair tinha no momento, era a de que não fora coincidência do destino – o encontro dele com todas aquelas pessoas –, em especial, Peeta Mellark e Katniss Everdeen...

Pelo contrário.

 O Todo Poderoso, tinha planos maiores para cada um deles. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oieeeee. *Foge para as montanhas, Paty*

Acalmem-se queridos. A maldição do Duque não termina aqui como puderam perceber. Sei que parei num momento crucial, mas foi preciso. Explico-me:
Assim que comecei a escrever essa one Short o personagem do Finnick (assim como o ator principal da obra em que me inspirei ) cresceu demais e eu queria contar toda essa trama do ponto de vista do Peeta. Tipo. Quando ele conheceu a Katniss e se apaixonaram, como era a amizade deles com o Haymitch, o tempo em que ele era o capitão do duque e seu melhor amigo, as tramas arquitetadas por Gale Hawtrhorne por inveja do casal... tantas coisas que eu teria que escrever mais de vinte mil palavras para concluir essa história, então resolvi fazer uma spino-off contada do pov de nosso amado loiro. Com efeito, a one, “A maldição do Duque” acabou se tornando um grande prólogo dessa obra que posteriormente lançarei no meu perfil.

Explicações dadas. Espero que tenham gostado e continuem gostando de nossas histórias.

Deixe seus comentários. Saber o que estão achando dessa coletânea nos incentiva muito a continuar com esse projeto que foi pensado com muito carinho para alegrar vcs.

Bjs e até.





Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tudo e todas as coisas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.