Ametista escrita por Karina A de Souza


Capítulo 5
Malditas estátuas que não são estátuas


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Esse capítulo foi dividido em duas partes por questão de suspense.



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Entrei no apartamento com uma sensação ótima. Nunca tinha sentido tanta falta de casa.

Deixei meu celular na mesinha perto da porta, tirei a jaqueta e camisa. Quando comecei a tirar as botas, alguém assoviou.

—Eu devia ficar escondido aqui mais vezes. -Liguei a luz.

—Esse show não é de graça, Harkness. -Avisei, tirando as botas e deixando-as perto da porta. -Como entrou aqui?

—O seu porteiro ficou bem feliz em me dar uma cópia da chave.

—Você dormiu com meu porteiro?

—E por que não? Ele é bem bonito, se quer saber. -Revirei os olhos. -Onde estava? Você desapareceu.

—Estava viajando... Com o Doutor.

—Mentira. Ele não... Ele te chamou?-Assenti, me aproximando e sentando em seu colo.

—Ele veio aqui depois que te mandei pro inferno.

—Aonde vocês foram?-Começou a brincar com meu colar.

—Para o planeta dos Luza. O povo estava sendo escravizado e nós os libertamos, armando uma revolta. Depois fomos para uma base no espaço onde sereias estavam se vingando da tripulação que matou uma delas. Eu quase morri.

—O que aconteceu?

—As sereias quebraram a janela e eu fui parar no vácuo. -Cocei o braço. -Bem que você disse que estar com o Doutor é perigoso.

—Acredite, você ainda não viu nada, Tis. Vai continuar viajando com ele?

—Espero que sim. Está sendo divertido viajar com alguém, resolver as coisas...

—Você e eu nos divertíamos viajando juntos.

—Até você me abandonar. E depois decidir se tornar um Torchwood.

—Você sabe o que aconteceu e por eu fiz o que fiz.

—É, eu sei. Mas eu prefiro os velhos tempos.

—Ah, sim. Só por que você me convencia a fugir do trabalho só pra ficar com você.

—Bons tempos. Sabe, se esquecer um pouco esse seu emprego estúpido como guardião da Terra... Nós podemos resolver essa nostalgia toda.

—Podemos?-Sorri.

—Pode apostar.

***

Acordei com cheiro de café. Passei uns dois minutos da cama, apenas encarando o teto, então decidi levantar e me vestir.

Jack estava na minha cozinha, ele era tão grande que a fazia parecer menor.

—Você fez o café da manhã pra mim?-Perguntei, me aproximando. -Acho que estamos evoluindo.

—Ou talvez eu só estivesse com fome. -Me estendeu uma xícara, dei um gole, era café. -O que vai fazer hoje?

—Em primeiro lugar: procurar uma camiseta de manga longa pra esconder as marcas que deixou nos meus pulsos. -Riu. -Depois... Não sei. Dormir o dia todo, talvez. Esperar meu novo amigo aparecer... Isso se você não decidir ficar.

—Eu realmente tenho que ir para o trabalho. -Deixei a xícara na mesa. -Mas acho que posso me atrasar um pouco...

Me puxou pela cintura, os lábios tocando os meus com urgência. Eu poderia fazer isso o dia todo... Se o som da TARDIS não tivesse interrompido, enquanto a nave se materializava na minha sala.

O Doutor saiu, distraidamente tranquilo.

—Atrapalhei alguma coisa?-Perguntou. Me soltei de Jack, ajeitando a camiseta.

—Sim. -Dissemos, em uníssono.

—Desculpem. Olá, Jack.

—Doutor!-Saudou, correndo para abraçá-lo. -Tis me disse que tinha te conhecido. Quase não acreditei. Ela é um pouquinho mentirosa.

—Ei, Harkness!-Reclamei.

—Mas é verdade.

—Vocês dois são iguaizinhos. -O Doutor comentou, achando graça.

—Eu sou mais bonito. -Mostrei o dedo do meio. -Seja sincero, Doutor, por que escolheria Tis?

—Ela é terrível, mas você também é e viajou comigo. Como vai o trabalho na Torchwood?

—Bem. Estamos... Fazendo o melhor possível, mas nada supera você.

—Querem que eu os deixe sozinhos?-Zombei.

—Seria ótimo.

—Imbecil.

Nós três acabamos sentando para tomar café. Jack não conseguia parar de bombardear o Doutor com perguntas, então de vez em quando eu enfiava um pedaço de bolo na boca dele para calá-lo. Nunca tinha visto ele tão empolgado.

—Ametista disse que vocês se conheceram na Agência do Tempo. -O Doutor comentou. Sorri, brincando com a minha xícara.

—Você não vai conseguir informações sobre mim com Jack. Ele só sabe dez por cento da minha vida. É bem justo, considerando que ele tem seus próprios mistérios.

—Eu já tentei arrancar umas confissões dela. -Jack contou. -Mas Tis sabe guardar segredo como ninguém. Na verdade, acho que “Ametista” nem é o nome dela.

—Você nunca vai saber. Assim como nós não sabemos o nome do Doutor, não é?

—Nada mais justo. -O Senhor do Tempo retrucou.

—Tudo bem, eu tenho que ir. -Jack anunciou, beijando minha mão e ficando de pé. -Preciso trabalhar. Doutor... Foi ótimo te ver de novo. -Colocou o sobretudo. -E toma conta da Tis. Ela é maluca e às vezes esquece de tomar cuidado.

—Pode deixar.

—Ametista, toma conta dele também. -Bati continência. -Até mais. -Saiu. Olhei para o Doutor.

—Nós vamos sair hoje?-Perguntei.

—Se você quiser ir... -Começou.

—Certo. -Levantei. -Vou trocar de roupa... A menos que você não se importe comigo indo de camiseta e calcinha.

—Eu definitivamente prefiro que troque de roupa.

—Você é gay?

—O que?

—Não tem nada de errado se for. Olha o Jack, por exemplo. O cara é praticamente o rei dos LGBTs.

—Quanto você bebeu essa manhã?-Olhei para a minha xícara.

—Eu sabia que ele tinha colocado vodca no café de novo!

***

—Eu adoro os anos 20. -Comentei, observando um grupo de garotas caminhando pela calçada. -As roupas são uma gracinha, por mais que eu evite vestidos.

—Você usava um quando nos conhecemos. -O Doutor disse, me virei pra ele, que estava lendo um jornal, sentado perto da TARDIS, usando óculos.

—Fazia parte do meu disfarce. Eu sou mais fã de jeans, camisetas e jaquetas de couro. O que está procurando?

—Você viu os cartazes?-Olhei em volta.

—Yeah. Muita gente desaparecendo. Não é incomum. Estamos numa cidade grande. Pessoas desaparecem o tempo todo.

—Trinta e duas pessoas desapareceram só esse mês. É um número alto.

—E você não vai sossegar enquanto não descobrir o que é que está acontecendo.

—Exatamente. -Me aproximei dele, vendo o jornal por cima de seu ombro.

—Alguma conexão entre as vítimas?

—Parece ser aleatório. Mas todos com menos de sessenta anos.

—Alguma pista?

—Nada. E pela época... Não me surpreende muito. -Fechou o jornal e tirou os óculos. -Acho que devíamos investigar.

—Sabia que ia dizer isso.

—Certo, há dois pontos opostos em que os desaparecimentos aconteceram. Vamos nos dividir.

—Tem um celular?

—Emprestado, mas tenho.

—Certo. Me dê seu número. -Entreguei meu celular. O Doutor digitou o número rapidamente e me devolveu o aparelho. -Se tem alguma coisa aqui, podemos acabar ferrados, então vamos manter contato o tempo todo.

—Você está ficando cada vez melhor nisso. -Dei de ombros.

—Gosto de séries policiais.

***

 

—Você acha que é alguma coisa alien?-Perguntei, trocando o celular de lado e desviando de um grupo de garotos que brigavam em frente à um colégio.

—Não seria a primeira vez.

—Eu espero que não seja uma frota de Cybermans. Eles são difíceis de lidar.

—Conhece Cybermans?

—Lógico. -Um homem apressado esbarrou no meu ombro. Gritei um palavrão pra ele e continuei meu caminho. -Estive em muitos lugares e épocas, conheço formas de vida alienígenas. Ou seja lá como essas coisas possam ser chamadas.

O Doutor parou para falar com algumas pessoas, então continuei caminhando em silêncio, atenta à movimentação ao meu redor.

Devia ser outono. O vento frio espalhava folhas secas e os cheiros da cidade: café, flores de uma pequena floricultura, perfumes fortes e caros, da chuva que tinha parado fazia pouco tempo. Eu gostava da França. Às vezes parecia um lugar fora da Terra.

—Ametista, ainda está aí?-O Doutor perguntou.

—Sim. Descobriu alguma coisa?

—Nada. Está esfriando, reparou?

—Sim. Devia ter pego uma jaqueta mais grossa. -Parei em frente à uma igreja. -Jesus, essas estátuas me apavoram. Já ouviu falar na teoria de que são pessoas reais engessadas?

—Que estátuas?

—Estátuas em geral. Principalmente essas de anjos. -Me virei para a rua. -Acho que tenho fobia de estátuas.

—Ametista...

—Como seria o nome dessa fobia? Estatofobia?

—Ametista, olhe para a estatua agora!-Virei de novo, encarando o anjo de pedra. Alguma coisa parecia diferente...

—Isso é algum tipo de terapia...?

—Não pisque, não desvie o olhar.

—Não estou entendendo...

—Me escuta. Preciso que fique encarando a estátua. Como ela é?

—É um anjo... Alto... Está cobrindo o rosto... Doutor, tem algo errado com a estátua...

—Não é uma estátua. É um Anjo Lamentador. Você sabe o que é isso?

—Não sei. Acho que não... Sei lá, não consigo pensar direito. Acho que... Eu juro que tem algo errado...

—Onde você está?

—Eu não sei. Só fui andando e andando... Espera, tem que ter uma placa...

—Não tire os olhos do Anjo!

—Okay. Okay, estou... Eu sei. Eu sei o que tem de errado... Ele se moveu. Tem uma garrafa no chão. Ela estava na frente da estátua... Agora está atrás... Essa coisa se mexeu quando eu estava de costas.

—É o que eles fazem. Por isso preciso que você continue o encarando, não pisque.

—O que acontece se eu deixar de olhar?-Hesitou antes de responder.

—Você morre. -Respirei fundo. Meus olhos estavam começando a arder, eu queria piscar. -Quantos anjos tem?

—Eu só vi um. Mas... Pode ter outros. Isso é possível?

—Sim. Acho que sei como aquelas pessoas sumiram.

—Foram os Anjos?

—Sim. Ametista?

—Eu não aguento não piscar. Preciso dar o fora daqui.

—Eu vou achar você, apenas espere.

—Meus olhos estão ardendo. Eu... Vou... Sei lá... Vou correr.

—Ametista, não, essas coisas são rá...

Comecei a correr, sem coragem de olhar para trás. O Doutor estava gritando alguma coisa no celular, mas eu mal podia ouvi-lo.

Virei numa esquina e esbarrei com tudo na parede de um galpão. Quebrei o vidro com uma pedra e entrei. Estava escuro ali, pouca luz do sol estrava pelas janelas. Caminhei um pouco, ligando a lanterna do celular.

—Ametista!

—Estou aqui. -Respondi, colocando a chamada no viva voz. -Consegui me esconder. Não sei onde aquela coisa está. -Olhei em volta, então congelei. -Merda.

—Tis?

—Tem outro aqui. Merda. Ele tá bem aqui na minha frente.

Eu nunca tinha visto nada como aquilo. Um anjo de pedra, com asa e tudo, que não era uma estátua, e sim uma coisa que mata pessoas.

A luz do meu celular começou a piscar. A ligação estava falhando.

—Doutor, o que eu faço?-Perguntei, recuando enquanto o Anjo avançava. -Doutor? Eu posso matar essa coisa?

—Eles... Um ao outro... Luz... Passado...

—Doutor?-A lanterna apagou. -Doutor, o que eu fa...


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Notas finais do capítulo

Siiiiim, o capítulo acabou no meio de uma palavra. O que acham que aconteceu? Eu não vou dizer nadinha. Spoileeeeeers!
Só posso dizer que adoro acabar capítulos num momento importante, que nem nas novelas kkkkk
Até mais!



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