Ametista escrita por Karina A de Souza


Capítulo 4
Isso no seu bolso é uma chave de fenda sônica ou está feliz em me ver?


Notas iniciais do capítulo

Não me culpem pelo título sugestivo, foi ideia da Ametista! Kkkkkk



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—Passa pra cá. -Mandou. Recuei, parecendo uma criança birrenta.

—Eu já disse que não.

—Faz parte das regras.

—Danem-se as suas regras.

Essa discussão toda era culpa do Doutor. Ele disse que eu devia entregar meu Manipulador de Vórtex, como parte das regras para viajar na TARDIS. As outras regras falavam sobre roubos e uma pá de coisas estúpidas que eu me recusei a ouvir.

—Passa pra cá, Ametista. -Insistiu. Bufei e soltei a pulseira, então entreguei o MV pra ele. -Dói seguir regras?

—Só o meu ego.

Depois que o Doutor guardou meu MV, saímos da TARDIS.

—Estamos numa base. -Comentou. -Parece ser de grande porte...

—Wou. Olha aquilo!-Me aproximei da janela. -Um buraco negro. Adoro buracos negros. Não estamos sendo sugados por ele, estamos?

—Acho que não. Estamos parados. Na verdade... Totalmente parados. -Franziu a testa. -Não tem nem uma leve vibração.

—Vamos investigar então.

 

Me virei e saí da sala, atenta caso ouvisse algum som. A base parecia bem morta. Enquanto caminhava, ao lado do Doutor, tive a impressão de ver algo passando numa janela, mas quando olhei de novo, não havia nada.

De repente, três homens armados surgiram na nossa frente. Dois deles vieram pra cima de mim, me agarrando e colocando contra a parede.

—Tirem as mãos de mim agora!-Gritei, chutando um e tentando me soltar. Todo mundo estava gritando, eu mal conseguia me ouvir.

—Silêncio!-O Doutor gritou, todo mundo calou a boca imediatamente. -Soltem ela.

—Só queremos ter certeza de que não é uma delas. -O homem mais afastado disse. O nome bordado em seu peito era Stan.

—Uma delas?

—Uma sereia. Stuart, verifique. -Um dos homens que tinha me agarrado ergueu um aparelho retangular, apontando pro meu rosto.

—Humana. -Avisou, recuando e me soltando. O terceiro homem, Grant, fez o mesmo.

—Se me agarrarem de novo, -Comecei. -vou socá-los até desmancharem em pó.

—Não precisamos partir pra violência. -O Doutor disse, me puxando para perto dele. -Por que acharam que ela podia ser uma sereia?

—Por que há dias elas têm nos aterrorizado. -Stan respondeu.

—Estamos no espaço!-Lembrei.

—Olhe pela janela.

Segui o olhar dele. Havia uma mulher do lado de fora... Bem... Não era uma mulher. Não de verdade, pois uma mulher não podia estar do lado de fora. Tinha longos cabelos azuis, e uma cauda negra brilhante, assim como seus olhos. Ela era linda. E assustadora.

—Recuem, agora. -Stan mandou. -Antes que ela comece a cantar. -Abriu uma porta, todos passamos rapidamente por ela, que foi fechada. -Sereias de buraco negro. Seus cantos ecoam pelo vácuo, atraindo homens para a morte.

—Conheci uma espécie parecida. -O Doutor disse. -Alguém já foi pego?

—Toda a nossa tripulação. Havia trinta e dois homens aqui.

—Nenhuma mulher?

—Tinha uma médica, mas ela foi sugada para fora quando tentou salvar o irmão. -Parou, parecendo ter notado algo pela primeira vez. -Quem diabos são vocês? Como entraram aqui?

—Eu sou o Doutor. Essa é Ametista. -Acenei com a mão, não me sentindo muito propensa a ser amigável com os caras que me agarraram do nada. -Viemos na minha nave. Está na outra sala. Vocês tem algum plano para as sereias?

—Só queremos sobreviver. Não conseguimos nos comunicar com as outras bases... Estamos perdidos.

—Eu posso dar uma olhada na comunicação.

—Então vamos até a minha sala.

—Ametista.

—Oi?-Perguntei, me virando pra ele.

—Permaneça atenta. -Bati continência.

—Sempre. -O Doutor saiu com Stan. Stuart e Grant pareciam sem saber o que fazer, evitando olhar pra mim. -Então... Qual dos dois vai pedir desculpas primeiro?

***

Enquanto as imagens das câmeras carregavam, fiquei rodando na cadeira, me sentindo um pouco entediada. A base tinha uma energia esquisita, meio pesada. Talvez pelo número de mortes.

Boa parte da base tinha sido lacrada. As sereias às vezes faziam os homens quebrarem os vidros pra sair. Os três sobreviventes fecharam as passagens até as salas abertas, então havia pouco espaço para onde ir. As áreas em vermelho no mapa que Stuart me entregou estavam lacradas.

As imagens das câmeras finalmente carregaram. Comecei a pesquisar as cenas das mortes. Era um pouco perturbador. O canto das sereias me deixava arrepiada de medo.

Todas as mortes eram iguais. As sereias cantavam e os homens faziam de tudo para irem atrás dela, flutuando no espaço e sendo sugados para os buracos negros.

Apenas duas mortes eram diferentes: a da médica que tentou segurar o irmão e foi puxada para fora e a morte do capitão. Aumentei a imagem. O homem surgiu correndo na sala de controle, então começou a apertar alguns botões desesperadamente. Stan surgiu do nada e atirou nele duas vezes.

—O capitão surtou. -Quase pulei de susto. Stuart coçou a nuca, o olhar preso na tela. -A base é móvel. Ele tentou nos mover até o buraco negro.

—Parece que as sereias tem um poder de controle muito grande. Como o som da voz delas passa por essas paredes? E como ecoam lá fora?

—Ninguém sabe. Um dos meus colegas estava trabalhando nisso, investigando e estudando as sereias, mas elas o pegaram. Ele foi o primeiro a morrer.

—Estudando como?

—Só estudando. -Cruzei os braços.

—Sei. Stuart, há armas nessa base?-Assentiu. -Que tipos de armas?

—O padrão do século 37.

—Então são uma droga. Detesto armas do século 37. As do século seguinte são melhores.

—Como pode saber disso?

—Só sei. -Fiquei de pé, pegando o mapa. -Vou dar uma volta por aí. Enquanto isso, reúna todas as armas que tiver.

Eu queria encontrar o Doutor, mas enquanto passava os olhos pelo mapa, localizei o laboratório, que estava na área azul, e meu instinto disse que era bom dar uma passada lá.

Caminhei depressa, evitando olhar para as janelas. Podia ver as sereias rondando, pelo canto do olho, com suas caudas negras, esperando pela próxima vítima.

—Vocês não me assustam, vadias. -Avisei, mostrando o dedo do meio pra elas. -Já vi coisa muito pior.

Cinco minutos depois estava no laboratório. A porta estava destrancada, então entrei, acendendo todas as luzes. Odeio a escuridão.

Stuart teve uma reação bem estranha quando perguntei como o amigo dele estava estudando as sereias. Isso estava me incomodando.

Olhei em volta. O laboratório estava uma bagunça e tinha um cheio estranho... Meio... Salgado e que deixou meu nariz irritado.

—Estão escondendo alguma coisa aqui, garotos?-Murmurei, começando a revistar o local.

Meu instinto nunca falhava.

Me aproximei de um dos armários ou sei lá o nome, que tem gavetas onde corpos podem ser guardados. Eram comuns em necrotérios. Puxei a primeira gaveta. Não havia nada. Puxei a segunda, então me afastei, cobrindo a boca e o nariz com a mão. O cheiro salgado vinha da sereia espacial. Ela estava toda aberta e furada, como se alguém tivesse a dissecado. E alguém tinha, não é mesmo?

Eu podia entender por que as sereias estavam tão furiosas.

Saí do laboratório, tentando achar a sala de comunicação no mapa. Precisava contar para o Doutor o que tinha descoberto.

Então eu o vi cruzando o corredor. Chamei seu nome, mas ele nem ouviu. Larguei o mapa e comecei a correr atrás dele.

—Doutor? Você está... -Parei. Ele estava destravando uma das portas. Duas sereias estavam do lado de fora, cantando. -Ah, merda...

Me joguei em cima dele, derrubando-o, mas era tarde demais. A porta estava aberta, sugando tudo o que podia para fora.

Eu estava segurando com força na quina do corredor, o Doutor preso só pelas minhas pernas, enquanto lutava pra se soltar. As sereias ainda cantavam.

—Se você não parar com isso, seu grande imbecil, nós dois vamos morrer!-Gritei.

Eu precisava fechar a droga da porta, mas nunca ia chegar ao painel antes de ser puxada pra fora.

—Chave de fenda sônica!-Berrei, lembrando das coisas que Jack me contava. -Onde está sua chave de fenda sônica?

—Me solta!-Gritou, tentando me empurrar.

Soltei uma das mãos, vasculhando a roupa dele. Aquela coisa tinha que estar em algum lugar.

—Onde ela está? Doutor!-Parei. -Espero que isso na sua calça seja a chave de fenda sônica e não o que eu estou pensando. -Enfiei a mão no bolso dele, achando, em fim, a maldita chave de fenda sônica. -Como isso funciona?-Apontei para o painel. -Fecha! Fecha! Fecha!

A porta deslizou lentamente, fechando em seguida. As sereias se calaram. Desmoronei, exausta, o rosto enfiado no peito do Doutor.

—Ametista, o que é que você está fazendo em cima de mim?-Perguntou, assustado.

—Esqueceu?-Olhei pra ele. -Você acabou de se declarar pra mim e a gente começou a se agarrar.

—O que?-Ri.

—Você tá me devendo uma. -Me levantei. -Eu salvei a sua vida, gracinha.

—As sereias...?-Ficou de pé.

—É. Você quase fez a gente ser morto. Parabéns. -Entreguei a chave de fenda sônica. -Da próxima vez não deixa ela no bolso da frente.

—O que?-Sorri. Ele parecia tão confuso.

—Ah, eu preciso te contar uma coisa...

—Espera um pouco, eu tive uma ideia... -Começou a se afastar depressa. Suspirei, seguindo-o.

—É realmente importante... Para aí, você é muito rápido... Doutor...

—Depois você me conta!-Parei de andar, vendo-o sumir no corredor.

—Idiota.

—As sereias são implacáveis. -Me virei, era Stuart.

—Eu nem posso culpá-las. Foram vocês que começaram.

—Do que está falando?

—Eu vi a sereia morta no laboratório. Vocês a capturaram, então as outras vieram se vingar. Não é?

—Elas estão indo longe demais...

—Sequestrar, matar e dissecar um ser vivo é o que?

—Ela nem era humana.

—Não justifica o que fizeram. Ela era viva. Tinha uma vida e vocês a mataram. Quer saber? O Doutor e eu devíamos deixar vocês aqui pra que elas enfiem vocês naquele maldito buraco negro...

Ele veio pra cima de mim do nada e numa velocidade absurda. Segundos depois estava me arrastando num aperto tão forte que eu mal conseguia respirar ou gritar. Tentei acertá-lo, mas era difícil do jeito que eu estava.

Stuart abriu a porta de uma das salas, me jogou para dentro e trancou. Fiquei no chão por alguns segundos, tossindo e respirando fundo.

—Abre essa porta!-Gritei, finalmente conseguindo levantar. Bati na porta branca. -Me deixa sair! Me deixa sair daqui!

Me virei, tentando achar outra saída... Então soube que estava ferrada.

Havia uma janela enorme no lado oposto. Cinco sereias estavam do lado de fora e suas expressões não eram nada amigáveis.

—Vocês não vão me convencer a sair. -Avisei. -Seu canto não me afeta.

O vidro da janela começou a vibrar. Primeiro de um jeito fraco, então mais forte, fazendo as paredes vibraram também. As sereias estavam cantando, mas eu não podia ouvi-las.

—O que estão fazendo?-Gritei. -O que acham que vão fazer?

O vidro começou a rachar. Só tive alguns segundos para pensar que estava definitivamente ferrada, antes de toda a janela quebrar e eu ser sugada para fora.

***

Tinha uma voz masculina cantarolando, fazendo os pelos da minha nuca se arrepiarem. E havia uma menina chorando... Era eu. Eu estava chorando. Não... Sim. Eu estava chorando. E gritando. Por que ninguém me escutava gritar? Ninguém me ouvia... Ninguém nunca ouviu...

—Ametista, acorde. -Abri os olhos. Não havia mais choro, nem um homem mau cantarolando. Pisquei, um pouco confusa, e consegui encarar o Doutor. Estava deitada no chão da TARDIS e tinha uma máscara de oxigênio no meu rosto, a tirei. -Como se sente?

—Estranha. -Murmurei. -O que aconteceu?

—As sereias quebraram o vidro da sala onde você estava. Você foi jogada pra fora. Ficou no vácuo por trinta segundos.

—Eu não morri?

—Não. Eu estava na TARDIS e vi pela câmera quando você foi sugada. Consegui te puxar para dentro. Mais alguns segundos e você...

—As sereias... Eu sei algo sobre elas... Mas não consigo lembrar... -Me ajudou a ficar de pé. Stan, Stuart e Grant entraram na TARDIS, então eu me lembrei. -Eles mataram uma das sereias. -Sussurrei. -É por isso que as outras estão tão furiosas. Eles assassinaram uma delas. Stuart me prendeu naquela sala quando eu disse que sabia. Eles são assassinos. Nós temos que deixá-los aqui.

—Isso faria de vocês assassinos. -Stan avisou. -Nos deixem aqui e morreremos.

—Estou morrendo de pena de vocês... Espera... Não, não estou. Doutor...

—Nós vamos levá-los. -Interrompeu. -Tem uma base perto daqui. Vocês ficarão lá.

—Nos leve para a Terra. -Stuart pediu.

—Não. Não tenho que fazer isso. Vocês mataram uma das sereias e quase causaram a morte de Ametista. Eu sequer tenho que ajudá-los. -Se moveu para os consoles. Me segurei. O Doutor não avisou para os três fazerem o mesmo.

Pra um cara amante da paz, ele adorava uma vingança de leve.


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Notas finais do capítulo

No fim das contas, nada podia ser feito sobre as sereias. Essa espécie habita os arredores de buracos negros, a base nem devia estar por lá. Se você invade o território de um predador, as chances de se tornar uma presa são enormes.
Esse lance das sereias surgiu de um daqueles Writing Prompt, que são aquelas ideias que o pessoal lança pros outros desenvolverem. Esse era sobre sereias espaciais que levam homens para buracos negros.
É isso, por hoje. Até o próximo capítulo!



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