Ametista escrita por Karina A de Souza


Capítulo 6
Achei que estava ferrada, então pulei


Notas iniciais do capítulo

Capítulo com uma... Participação especial...



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Atingi o chão com força, rolando um pouco.

—Não ouse voltar aqui!-O homem gritou, fechando a porta do bar.

—Muito corajoso, jogando uma mulher indefesa para fora!

Fiquei de pé, tirando a terra da minha roupa. Era o décimo bar em que fui expulsa.

Comecei a andar, tentando armar um plano. Eu não comia nada fazia... Dias. Não tinha dinheiro e ninguém parecia disposto a ajudar uma mulher com roupas nada comuns e cara de poucos amigos.

Eu não sabia o que tinha acontecido, depois que o Anjo Lamentador me tocou, fui parar em 1630, porém ainda na França.

Estava sem muitas opções: sem o Doutor, sem meu MV. Como eu ia voltar para o século 21? Eu realmente podia voltar?

Não conseguia pensar, muito menos com fome.

Peguei o caminho para a feira, onde talvez conseguisse algo pra comer. Os comerciantes estavam todos bem alertas, pois crianças ficavam ali esperando uma oportunidade de roubar alguma coisa.

Contei até três então corri até a barraca mais próxima, agarrando duas maçãs, e me afastando o mais rápido possível, enquanto o dono corria atrás de mim, me mandando parar e chamando atenção onde passávamos. Minhas pernas reclamaram pelo esforço, mas meu estômago as lembrou por que estávamos correndo como se fugíssemos do inferno.

Desviei de alguns pedestres e algumas carroças, mas um homem surgiu no meu caminho. Tropecei nele, nós dois indo para o chão. As maçãs rolaram para uma poça de água.

—De onde foi que você saiu?-O homem perguntou. Eu mal tive tempo de responder, alguém me agarrou pelo cabelo, puxando até que eu ficasse de pé. -O que está acontecendo?-Se levantou.

—Essa mulher me roubou!

—Ah, roubou? São apenas maçãs, não seja tão dramático.

—Como é?

—Pegue sua mercadoria, eu cuido da ladra. -Segurou meu braço, me puxando para perto dele. Eu estava tão confusa que nem reagi. -Vá de uma vez. E você vem comigo.

Saiu me puxando, enquanto o comerciante recolhia as maçãs.

Eu não tinha reparado antes, mas o homem que praticamente atropelei não parecia em nada com uma pessoa comum de 1630. Ele usava uma camiseta verde, jaqueta de couro e calça jeans. O cabelo era escuro, bem curtinho.

—Você é um viajante do tempo?-Perguntei, enquanto parávamos num beco.

—Como poderia saber o que é isso?

—Olhe pras minhas roupas. -Pareceu surpreso.

—Curioso... Muito curioso... -Fechei os olhos, o mundo estava estranho... -Moça?

—Eu... Acho... Droga.

Desmaiei.

***

Acordei como se tivessem jogado um balde de água fria em mim. Sentei na estreita cama e olhei em volta. Era um quarto pequeno e mal iluminado. O viajante do tempo estava encostado perto da porta, de braços cruzados.

—Você não parece surpresa. Ou confusa.

—Não é a primeira vez que acordo num quarto estranho... Com um homem estranho. -Avisei, sem nem saber por que disse aquilo. -Acho que ainda não fomos apresentados.

—Eu sou o Doutor. -Arregalei os olhos.

—Doutor? Tipo... O Senhor do Tempo que viaja numa cabine de polícia?

—Exatamente. Como sabe disso?

—Nós nos conhecemos!-Fiquei de pé. -Eu sou Ametista. Provavelmente você é uma regeneração antes daquela que eu conheço. Viajo com você.

—Mesmo? Você veio aqui comigo?

—Não... Será que tem algum dinheiro? Estou morrendo de fome.

—Imaginei que diria isso. -Apontou para uma cômoda perto da cama, onde dois pães estavam embrulhados num papel branco. Comecei a comer imediatamente. -Então... Como veio parar aqui?

—Um Anjo Lamentador me tocou. Você e eu estávamos investigando... Então cruzei com um deles. Vim parar aqui... Fim da história.

—Sinto muito.

—Eu não entendi o que houve. Não devia ter morrido?

—É complicado. Anjos Lamentadores levam suas vítimas para o passado... É assim que eles matam... Tirando sua vida de maneira... Delicada.

—Eu tô morta?

—Eu não diria isso.

—Certo. -Passei um tempo pensando. -Você pode me levar de volta?

—Não. Anjos Lamentadores se alimentam de toda a vida que você teria. Você está presa aqui.

—Mas eu não posso... Eu... Eu preciso voltar... Eu tenho uma vida no século 21... Eu tenho... Por favor, me ajude.

—Eu não sei como.

—E se falar com o outro você? Sabe... Tipo... Seu outro eu. O Doutor que eu conheci.

—Então vamos lá...

***

A TARDIS estava a mesma coisa. O Doutor, aquele maluco com o cabelo maneiro, não tinha redecorado nenhum um pouco. Quando entramos na nave, havia um relógio de bolso nos consoles. O Doutor o enfiou na jaqueta antes que eu pudesse olhar direito.

Depois de dizer exatamente a data em que desapareci, o Doutor (socorro, isso vai ser complicado...) entrou em contato com o seu eu futuro.

—Olha, orelhas menores!-Segurei o riso. -Olá, regeneração futura.

—Só pra registro, qual seu número de regeneração?-Perguntei.

—Eu sou o Nono.

—Okay. Pode continuar. -Me aproximei da tela, vendo a imagem do Décimo Doutor.

—Estou com Ametista.

—Você está bem?-O Décimo Doutor perguntou. Assenti.

—Ela quer voltar pra casa.

—Isso é impossível.

—Estive pensando... Talvez não seja.

—Você tem um plano?-O Nono Doutor sorriu.

—Com certeza tenho. Há um ponto frágil no Universo. Se eu posicionar minha TARDIS nesse ponto em 1630 e você fizer isso em 1920, nesse mesmo ponto, só que de frente pra nós, Ametista pode pular de uma nave para outra. -O Décimo Doutor parecia animado.

—Sim, sim! Então ela passaria pelos anos, recuperando sua energia pega pelos Anjos Lamentadores, e consegue voltar para o século 21. Ah, isso é brilhante!

—Espera aí!-Pedi. -O que seria “pular” exatamente?

—Você vai pular de uma TARDIS para a outra. Estaremos exatamente um na frente do outro, então você salta.

—Vai dar certo?

—Bem...

—Não tenho certeza. -O Nono Doutor completou.

—E se der errado?-Perguntei.

—Então toda sua existência é apagada de uma só vez. -Arregalei os olhos. -Mas não pense nisso. Você só tem uma chance. Quer arriscar?

—Eu... Hã... Não tenho certeza se é uma boa ideia...

—Você quer voltar para o seu tempo, não quer?

—Tudo bem... Podem preparar suas TARDIS. Eu vou saltar.

O Nono Doutor nos guiou para as coordenadas exatas do ponto frágil no Universo e as mandou para sua versão futura.

Enquanto isso, eu estava roendo as unhas, fazendo sangue sair de uma delas. E se o plano não desse certo? E se minha existência se resumisse à nada, assim que eu falhasse? Não era um plano cem por cento seguro.

—Tudo bem, aqui estamos nós. -O Nono Doutor avisou, indo abrir as portas da TARDIS. -O outro eu já está lá.

—Aonde?-Fiquei ao lado dele.

—Bem na nossa frente, mas não podemos vê-lo. Tudo o que você precisa fazer é pular. Não prenda a respiração.

—Pular. Não prender a respiração.

—É. Pegue impulso e... Pule. -Assentir.

—Pegar impulso e pular. Okay. Posso fazer isso. -Me virei pra ele. -Obrigada.

—Você ficou nessa situação por minha causa. Era o mínimo que eu podia fazer. Boa sorte.

—Valeu. -Parei por alguns segundos, então o agarrei pela jaqueta, beijando-o. Quando recuei, ele parecia surpreso.

Me afastei até os consoles, respirei fundo e comecei a correr, saltando quando cheguei na porta.

Foi uma sensação estranha. Era como se estivesse atravessando água. Pareceu levar uma eternidade, e ao mesmo tempo foi muito rápido.

Caí com tudo no chão da outra TARDIS. Levei um tempinho pra me orientar, então fiquei de pé, um pouco tonta.

—Eu consegui? Eu consegui!-Gritei. O Doutor parecia um pouco espantado.

—Você acabou de me beijar?

—Não. Eu beijei sua versão mais nova. -Me ergui na ponta dos pés e o beijei. -Agora acabei de beijar você.

—Certo... -Correu para a tela. Fechei a porta. -Conseguimos, ela atravessou. -Me aproximei dele.

—Isso é ótimo, Ametista!-O Nono Doutor exclamou. -Bom... Acho que é aqui que nos despedimos... Até mais. -Acenei.

—Até. -A imagem dele sumiu da tela. -Você conseguiu.

 

—Dois de você são capazes de salvar o dia, mesmo que seja impossível. -Comentei. -Devíamos reunir você e suas outras versões mais vezes.

—Desculpe.

—Pelo que?

—Eu não pude evitar que os Anjos Lamentadores chegassem até você.

—Eu estou aqui agora, não estou? Você me salvou, você e o cara maneiro da jaqueta. Estou bem. Aliás... Bem e pronta para a próxima aventura... Depois que você me levar para jantar. Estou faminta.

—Certo, mas primeiro temos que fazer algo sobre os Anjos na França.

—Mas eu estou morrendo de fome!

—Que tal comida pra viagem?

—Aí sim. -Sorriu.

—Então allons-y!


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Notas finais do capítulo

Talvez vocês não tenham percebido, mas há uma dica sobre o passado da Tis nesse capítulo. Eu não posso dizer qual é, mas está aí. Algumas migalhas sobre o passado dela estão espalhadas por certos capítulos. Banquem os detetives! Kkkkk
O relógio de bolso citado pertencia à Aurora, a primeira protagonista da Série Universo.
Tá, é muita doideira esse lance de "pular entre os anos", eu sei. Não lembro de onde tirei a ideia, mas gente, isso é ficção. Coisas sem sentido acontecem por que é assim que elas funcionam ficcionalmente. Entenderam? É isso aí mesmo.
Sim, Ametista beijou os Doutores, superem, ela é doida kkkkk
Enfim, o próximo capítulo será... Explosivo.
Até maaaais! ♥



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