Ametista escrita por Karina A de Souza


Capítulo 17
Duas ruivas, um maluco e uma longa história


Notas iniciais do capítulo

Olá. Adivinhem quem tinha ido dormir, não conseguiu e veio postar a história? Yep. Eu mesma!
Hoje, teremos muitas participações especiais.



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Eu estava atrasada de novo para o trabalho, mas não era nem por ter perdido a hora. Minha perna machucada não me deixava andar muito rápido, então eu estava bem lenta. E se forçasse demais, os pontos iam acabar abrindo... O que tinha acontecido no domingo, obrigando Jack a trazer Owen até meu apartamento, para refazer os pontos.

Me sentei num banco. Aquela droga estava doendo de novo, o remédio ainda não tinha feito efeito. Me ajeitei no banco, achando melhor ficar ali até a dor passar, olhando o movimento das ruas...

Aí aconteceu algo que eu jamais ia esquecer e que ronda minha mente até hoje.

O Doutor estava lá. Do outro lado da rua, olhando pra mim. E havia algo na expressão dele... Algo que fez meu coração apertar.

—Doutor?

Ele apenas acenou com a cabeça e se afastou, sumindo rapidamente das minhas vistas. Então ouvi o som da TARDIS... E sabia que algo tinha acontecido.

***

—Bom dia. -Ianto saudou, quando passei pela porta. -Owen disse que quer dar uma olhada no seus curativos de novo.

—Não vai dizer que estou atrasada?

—Isso seria rude, considerando o que você passou recentemente.

—Certo...

—Tis!-Jack se aproximou correndo e agarrou meus braços. Ele parecia agitado. -Você o viu? Viu o Doutor?

—Como sabe disso?-Recuou, sem me soltar. -Você o viu também?

—Sim. E não fomos os únicos. Nós temos que ir.

—Mas eu...

—É importante, Tis. Muito importante.

—Jack, o que tá rolando?

—Você vai entender, mas nós temos que ir agora.

—Ir aonde?

—Eu te conto no caminho.

E ele realmente fez isso, então, quando nos reunimos numa lanchonete com Sarah Jane Smith, Martha Jones, Mickey Smith e Wilfred Mott, eu não estava mais tão confusa. Todos conheciam o Doutor e os três primeiros haviam viajado como acompanhantes oficiais na TARDIS. Wilfred era avô de Donna Noble, ex-companheira do Doutor. Jack já tinha me contado sobre eles em suas histórias sobre o amigo Senhor do Tempo.

E, como fui descobrir depois, todos tinham visto o Doutor.

Sarah Jane o viu quando o velho amigo salvou seu filho, Luke Smith.

Martha e Mickey foram salvos de um Sontaran pelo Doutor.

Wilfred o viu no casamento da neta, Donna.

Jack viu o Doutor num bar, onde o Senhor do Tempo acabou lhe apresentando Alonso Frame.

—Quem é Alonso?-Perguntei.

—Falamos disso depois. Você disse que viu o Doutor.

—Sim, eu vi. Parei no caminho do trabalho, por causa da minha perna, e vi o Doutor do outro lado da rua. Foi tão estranho.

—Nunca o vi daquele jeito. -Martha comentou. -Ele parecia...

—Estar se despedindo.

—Se despedindo?-Wilfred perguntou. -Onde ele iria?

—Quem o acompanha atualmente?

—De acordo com os registros, -Jack começou, brincando com seu copo. -você foi a última acompanhante oficial.

—O Doutor me deixou permanentemente para ir à Gallifrey. -Sarah Jane comentou. -Mas seu planeta não existe mais. Eu não entendo o que o faria ir atrás de cada amigo se despedir assim.

—Mas só nós o vimos?-Mickey perguntou.

—Não consegui contatar mais ninguém, então não sei. -Jack respondeu.

—Aquilo com certeza foi uma despedida. -Comentei. -Mas não é a cara do Doutor, é?-Sarah Jane negou com a cabeça.

—Oh. É claro. -Wilfred murmurou. -É claro, é isso...

—Isso o que?-Olhou de rosto em rosto.

—O Doutor vai morrer.

—Como é?-Martha perguntou.

—Ele disse isso. Eu achei que não ia acontecer... Mas é. Houve uma profecia... E ele disse que não ia morrer de verdade, mas era como a morte pra ele.

—Ele vai regenerar. -Declarei. -Vai se regenerar e se despediu por que acha que vai morrer.

De repente, ninguém disse mais nada, e o silêncio foi se estendendo enquanto cada um de nós imaginava o Doutor regenerando sozinho por aí.

Nunca pensei que algo sobre ele podia me deixar tão triste.

Passei dias perturbada com tudo o que tinha acontecido. O Doutor não devia ficar sozinho, muito menos num momento tão delicado.

Falei com Tosh, e sem dar detalhes, pedi algumas dicas de como construir um programa capaz de rastrear uma nave, que, no caso, era a TARDIS. Depositei toda minha esperança nisso, e quando o programa ficou pronto, eu sabia que só podia esperar.

***

—Está se curando mais rápido do que pensei. -Owen comentou, terminando de trocar meus curativos. Ele parecia tão profissional que dava pra pensar que era outra pessoa.

—Que bom. Achei que precisaria amputar minha perna.

—No começo, também achei. Sabe... Andei pensando... Queria falar com você, mas é difícil te encontrar sozinha.

—Cuidado com o que vai falar. Minha mão está ótima para socar alguém.

—Não é isso. -Se afastou. -Dias atrás você cuidou de Ianto quando ele se feriu. E, pelo que vi depois e ele contou... Você foi precisa como uma enfermeira. Já trabalhou na área da medicina, Ametista?

—Não. Só estudei o necessário, para emergências. -Assentiu, desconfiado.

—Certo. -Fiquei de pé, recolocando a calça.

—Lamento, você não vai descobrir nada sobre mim, Owen.

—É um desafio?-Ri.

—Não. E não há nada para ser descoberto. Eu sou como um fantasma.

—Até fantasmas tem histórias.

—Eu, não. E eu o aconselharia a não ir atrás disso. Muitas pessoas foram e acabaram ferradas. -Cruzou os braços.

—Isso é uma ameaça?

—Não. É um spoiler. -Sorri e comecei a me afastar. -Faça o que quiser com essa informação.

Passei na minha mesa para ver como estava o programa, antes de ir embora, e fui pra sala de Jack... Apenas para encontrá-lo com Ianto.

—Ei!-Ambos se afastaram. -No trabalho? Sério?

—Como se a gente nunca tivesse se agarrado aqui dentro, Tis. -Jack zombou. -Tem espaço pra mais uma.

—Nojento. -Bati a porta com força, me afastando o mais rápido possível sem forçar demais a perna esquerda.

Definitivamente era hora de ir pra casa.

***

—Você não sabe bater antes de entrar?-Perguntei, encarando o reflexo de Jack no espelho.

—Eu tenho uma chave, por que ia bater?

—Você não mora aqui, sabia?

—Você só está reclamando por que ficou irritada por me ver com Ianto.

—Ah, cala a boca. -Pegou a caixa que estava na pia.

—Vai pintar o cabelo?

—Não é da sua conta. -Tirei a caixa dele, devolvendo-a para o lugar onde estava. -O que você quer?

—Quero que não fique brava comigo. Nós somos amigos há muito tempo. Odeio ficar brigado com você.

—Nós não brigamos.

—Não. Você está só fazendo aquela coisa do “Vou te tratar mal para te punir”. Prefiro quando a gente briga.

—Mesmo quando jogo coisas em você?-Sorriu, se aproximando.

—Mesmo assim. E quando tenta me bater fica mais divertido ainda.

—Idiota.

—Eu sempre vou estar aqui, Tis. Não importa com quantas outras pessoas eu durma. Você sempre vai ter um espaço enorme na minha vida, por causa da nossa amizade e dessa confiança toda entre a gente.

—Está falando isso pra que eu me acalme e vá pra cama com você.

—Também. -Revirei os olhos. -Não, é brincadeira. Você sabe que é importante, não sabe?
Podia ser verdade. Mas Jack sempre foi mais importante pra mim do que eu era pra ele. E isso não me machucava tanto quanto poderia machucar.

—É, eu sei, Jack.

—Perfeito. -Tirou o sobretudo. -Vamos lá, eu te ajudo a pintar o cabelo... A cor vai ficar ótima.

—A gente devia pintar o seu também, uma cor que combine com o meu...

—Sim, sim. A equipe toda devia pintar, aí formamos um arco-íris...

—Idiota...

E foi assim, falando besteiras, que meu dia foi se encerrando, enquanto eu tentava não pensar na expressão do Doutor, indo enfrentar sua morte sozinho.

***

Naquela sexta feira, Jack dispensou todos mais cedo, por causa da calmaria na cidade, então o pessoal decidiu ir beber. Acabei recusando sem nem pensar no assunto, e quando questionada, apenas disse que tinha trabalho a fazer. Foi automático.

Não havia trabalho nenhum. Eu só queria ficar de olho no meu programa de rastreamento. Alguma coisa em mim dizia que era o que eu devia fazer. E foi o que eu fiz... Por horas e horas... Até adormecer.

Estava num sonho sem sentido, que envolvia praia, batatas e Ian Somerhalder, até um som irritante me despertar.

Me sentei, confusa e presa na névoa de sono, tentando entender o que estava acontecendo. Aí a ficha caiu. Meu programa tinha rastreado a TARDIS.
Eu tinha achado o Doutor.

Fiquei de pé, esfregando o rosto para tentar despertar, e digitei as coordenadas no Manipulador de Vórtex.

Estava animada. Não me sentia assim desde que achei Jack em Cardiff poucos anos atrás.

A TARDIS estava num quintal. A casa de dois andares estava no escuro, o que indicava que não havia ninguém lá. Me aproximei da porta da nave, ansiosa, e a abri com a chave que o Doutor tinha me dado e eu não a tirava desde que o deixei.

Como ele estava agora? Tinha regenerado? Como era seu rosto? O mesmo que eu tinha visto, aquele gentil e jovem?

Entrei na nave. Estava diferente, com um toque laranja e sem aquela bagunça familiar. Só podia significar uma coisa: o Doutor tinha mesmo regenerado.

Uma garota ruiva saiu de trás dos consoles, a testa franzida. Era alta, magra, enfiada numa mini saia e numa blusa fina.

—Como entrou aqui?-Perguntou. Mostrei a chave.

—Estou procurando o Doutor. Ele está?-Ela hesitou. -Eu era companheira dele.

—Certo. Eu vou chamá-lo. -Sumiu por um corredor.

Comecei a olhar em volta, admirando o novo interior. Era lindo.

—Ametista?-Me virei.

Ele tinha regenerado mesmo. Mas eu conhecia aquele rosto. Jovem, amigável, o cabelo castanho escuro um pouco longo, ainda magrelo e alto... Meu Doutor. Novo rosto, mesma pessoa.

—Hey... Você está diferente. -Comentou, se aproximando devagar. -Alguma coisa por aqui... -Fez gestos rápidos apontando para a parte superior do meu corpo.

—Pintei e cortei o cabelo.

—Ah, é isso. Eu gostei. Vermelho. Ficou bom. -Parou um momento, torcendo as mãos. -Não parece surpresa com meu... Novo eu.

—Eu já o vi antes. Ainda não deve ter acontecido pra você.

—E o que achou do meu novo rosto?-Sorri.

—É um bom rosto. É jovem.

 

—Eu sou jovem.

—Não, não é. -Sorriu também. -Está usando essa coisa. -Fiz um gesto para seu pescoço.

—Gravatas borboletas são...

—Legais. É, eu sei. -Abriu os braços timidamente. Será que ele esperava ser rejeitado? O abracei. Droga. Esse cara sabia me deixar sentimental.

—Você está me abraçando.

—Eu sei. Você mereceu. -Me afastei para olhá-lo. -Você estava sozinho?

—Sozinho?

—Na regeneração. Ficou sozinho quando aconteceu?

—Sim. Fiquei.

—Você não devia. Nunca fique sozinho. Não merece isso.

—Talvez eu não mereça as pessoas.

—Você não merece a solidão, Doutor. -Voltou a sorrir. A garota ruiva apareceu de novo, tentando esconder sua curiosidade.

—Certo, apresentações. -Bateu as mãos uma vez. -Essa é Amy Pond, minha atual companheira. -A garota acenou. -Amy, essa é Ametista... Uma velha amiga e ex-companheira. Espera... Como foi que me achou?-Sorri.

—Pronto para ouvir uma longa história?

—Mais pronto impossível!-Girou no lugar. -Vamos lá, todos para a cozinha, podemos ter chá e biscoitos para a história. Acho que teremos muitas histórias hoje, vocês não acham?-E saiu andando. Amy olhou pra mim, segurando o riso.

—Então... Ele sempre foi maluco assim?-Perguntou.

—Sim. -Respondi. -É melhor se acostumar.

—Vamos lá, ruivas!-O Doutor chamou. -Hora das histórias!

Amy e eu trocamos um olhar, então caímos na risada.

Eu tinha achado o Doutor, e ele continuava maluco. Tudo estava bem.


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Notas finais do capítulo

Yeeep, Ametista fez um programa capaz de rastrear a TARDIS. Quem disse que ela era só um rostinho bonito? Kkkkk
Siiiim, Tis está RUIVÍSSIMA minha gente. Eu não resisti. Quando vi o visual ruivo da Cristina Scabbia acabei sendo influenciada a mudar o visual da Tis. ♥ (Podem dar uma jogada no google pra conferir se quiserem)
Caso não tenha ficado claro, a TARDIS estava no quintal da Amy, o mesmo visto na série.
E o Doutor apareceu... Essa foi a última aparição do Décimo nessa fanfic. Agora estamos lindo com o Décimo Primeiro Doutor.
Comecem suas apostas... Tis vai ficar com o Doutor e Amy? Ela volta para sua vida na Torchwood? O Doutor vai sumir de novo? Ametista vai pegar no pé dele mais do que já fazia antes com o Décimo?
Bem, lembram que ela tinha encontrado com esse Doutor lá atrás e ele lançou um baita spoiler pra ela? Então, é por esse motivo que ele foi escolhido pra essa "missão": por que ela o encontraria lá na frente. Lembrando que o encontro ainda não aconteceu na linha do tempo dele, e que lá ele estava com a Clara.
Bem... Há mais novidades chegando.
E no próximo capítulo... O humor de Ametista não anda nada bom, sua amizade com Jack dá outra balançada... E alguém vai se casar.
Até maaaais! ♥



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