Ametista escrita por Karina A de Souza


Capítulo 11
Então eu fiquei super sentimental e o abracei


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas. Gostaria de explicar que esse capítulo é a abertura de uma nova fase da fanfic. Ele foi especialmente feito para ser um gancho para algumas coisas que vão acontecer futuramente na história.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762044/chapter/11

Vesti o casaco, coloquei os óculos escuros, amarrei as botas e coloquei a arma no coldre.

Eu estava bem... Só com uma ressaca infernal, mas pelo menos já tinha me livrado do parasita alien.

Saí do apartamento. O Doutor estava no pátio em frente ao meu prédio. Isso por que a mala da minha vizinha reclamou de um barulho estranho e alto, que eu sabia vir de uma certa nave se materializando na minha sala. O meu porteiro pediu gentilmente que o barulho fosse evitado. E quando eu digo gentilmente, é por que ele foi bem cuidadoso ao falar comigo. Ele sabia que Jack e eu éramos próximos, e não queria perder suas chances com ele.

—Como está?-O Doutor perguntou, quando entrei e fechei a porta.

—Bem. Só de ressaca, mas logo passa, eu costumo ser meio resistente.

—Que surpresa. Algum destino em mente?

—Vamos deixar ser aleatório.

—Então tudo bem. -Jogou alguns números no painel, então saiu correndo pelos consoles, animado como sempre. Esse cara era uma figura. -Que foi? Está me encarando por quê?

—Como sabe que estou te encarando? Estou de óculos. -Sorriu. -Estava só pensando. Jack fala tanto sobre você. Antes de te conhecer, achava que era exagero. Mas até que você é um cara legal.

—Ah, é?

—Pare de graça. Eu não falo isso com frequência.

—Eu percebi. Você é bem... -Cruzei os braços. -Fechada. E parece que é com todo mundo. Jack diz que não sabe muito sobre você.

—Ninguém sabe. Esse é o objetivo.

—Tudo bem, senhorita Mistério. Segure-se!

Agarrei o console, já acostumada com a movimentação maluca da TARDIS.

Nós saímos da nave, pouco depois, num cenário totalmente novo. Eu nunca tinha visto nada como aquilo. Era tudo muito brilhante. Flores enormes e coloridas se estendiam até o céu claro, algumas sumindo de vista. Elas pareciam ter luzes internas e até piscavam.

Os prédios eram altos, e pareciam contornados por luzes de LED azuis, vermelhas e uma infinidade de cores, algumas eu até não conhecia.

Caminhos de pedras douradas serpenteavam pela grama verde escura e fofa. Bancos iluminados estavam espalhados até onde minha vista alcançava, mas muitas pessoas estavam deitadas no chão, em toalhas ou apenas na grama mesmo.

Havia muitos pássaros também, e borboletas, todos coloridos, combinando com o lugar.

—Isso é lindo. -Girei, tentando absorver todos os detalhes e tirando os óculos que foram colocados no bolso. -Eu nunca vi algo assim. Onde estamos?

—Em Luz do Paraíso, ou apenas Paraíso. É um planeta novo. Um dos mais pacíficos do Universo.

—Como Eldamar. -Olhou pra mim.

—Sim, como Eldamar. Você já esteve lá?

—Morei lá alguns meses e sempre volto para fazer compras. Província Dourada.

—As pessoas não usam esse nome há anos. Foi o nome de fundação. -Dei de ombros.

 

—Talvez eu estivesse lá.

—Você é uma caixinha de mistérios, Ametista... Mistérios bem interessantes.

—Você não viu nada ainda. -Começamos a caminhar. -Aqueles pássaros... Parecem fênix.

—E são. -Franzi a festa.

—Mas fênix são pura ficção. -Sorriu.

—São, é?-Uma das aves queimou até virar cinzas, então saiu delas, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

—Uau. Eu posso ter uma dessas?

—Definitivamente não. Elas não são criaturas terrestres.

—E como o mito delas foi parar na Terra?

—Com as histórias contadas por viajantes do tempo ou seres de outros planetas. Boa parte das suas lendas, de seus mitos e folclore vem de fora da Terra. As coisas tem sido assim há anos. É um tipo de globalização universal. Um pouco de tudo, criando a civilização humana. É impressionante.

—Você fala da Terra e dos humanos como um pai orgulhoso. O planeta só está lá por sua causa. Acho que você é padrinho da Terra.

—Ah, não... Não sou só eu. A Torchwood tem feito um bom trabalho, assim como a UNIT, e Sarah Jane Smith. Humanos cuidando de humanos. E são perfeitos nisso.

—Mas você é um guardião do planeta há muito tempo. Jack disse que você esteve aqui desde sua primeira regeneração.

—Estive. Era bem diferente naquela época, não ligava para os humanos... Mas quanto mais se convive com vocês... Mais humano se fica. É automático. Pena que não são todos que pensam assim.

—Tipo o Mestre?-Ergueu uma sobrancelha. -Jack me falou dele. Eu não estava nessa galáxia quando aconteceram as tretas com ele. O Senhor do Tempo disposto a escravizar os humanos e destruir quem quisesse. Seu povo é... Gente fina.

—Não tem todos são... Eram... Assim.

—Certo. Nem todos. Acontece. Uns humanos são bem filhos da...

—Linguajar.

—Mas nem todos.

—É, e nem todos tem a língua suja e modos duvidosos. -Sorri.

—Uma boa parte tem. E se eu fosse tão ruim, você já teria me expulsado da TARDIS.

—Tenho esperança de que posso ser um bom exemplo pra você. -Ri.

—Ah, é claro. Estou me sentindo tão boazinha. -Ele se aproximou de uma das árvores, pegando uma pequena fruta dourada, e estendeu pra mim. -O que é pra ser isso?

—Experimenta.

—Não é venenoso?

—Não. -Peguei a fruta. -Olhe em volta, todos estão comendo. -Dei de ombros, dando uma limpada na fruta com meu casaco, então dando uma mordida nela.

—Hum. É bom. Tem gosto de pêssego. E um leve toque de maçã.

—Todas as árvores daqui dão frutos comestíveis. -Pegou uma das frutas douradas para si.

—Bom saber. Vai que eu pego alguma coisa venenosa? Parece o tipo de coisa que aconteceria comigo.

—É. Parece. -Voltamos a caminhar.

Em algum lugar, alguém tocava uma flauta. Luz do Paraíso parecia uma terra de contos de fada. E mesmo eu, toda trabalhada num jeito rebelde e sombrio, não conseguia detestar o lugar.

—O Povo do Céu. -Murmurei.

—O que?

—Quem vive aqui. É o famoso Povo do Céu, conhecido por ver possibilidades do futuro. -Olhou em volta. -Eles são tipo uns videntes e... Doutor?

—Eles previram sobre uma das minhas acompanhantes. Eu nunca soube o que eles viram. Não falam sobre as possibilidades daqueles que... Que morreram.

—Eles são bem estranhos, se parar pra pensar. Conheço algumas “lendas” deles... Bem esquisito...

—Ah, Ametista!-Olhei para frente. Um homem alto se aproximou, abrindo os braços para me abraçar. Recuei, erguendo o punho.

—Eu não abraço conhecidos, por que abraçaria um desconhecido?

—Não sou um desconhecido. Sou eu. -Apontou para o próprio rosto. -Eu sou o Doutor!

—Ai, meu Deus. -Olhei de um Senhor do Tempo para o outro. -De novo não. Qual seu número de regeneração?

—Onze. Oh, olá, magrelo. -Sorriu para sua versão mais nova. -Tão magrinho...

—Você sou eu?-O Décimo Doutor perguntou, olhando o outro de cima abaixo.

Esse Doutor que surgiu agora não tinha muito em comum com o Doutor que andava comigo. Seu cabelo castanho era um pouco mais longo, e mais escuro. Suas roupas ainda eram esquisitas, e contavam com uma gravata borboleta.

Independente de sua regeneração, o Doutor não era muito ligado à moda.

Uma garota se aproximou, mexendo na bolsa distraidamente. Era um pouco mais baixa que eu, tinha cabelos curtos e castanhos, e usava roupas de professorinha.

—Ah, essa é a Clara! Clara Oswald. -O Décimo Primeiro Doutor disse. Ele mexia tanto as mãos que eu mal conseguia acompanhar. -Clara, essa é Ametista. Era minha acompanhante. E esse... Era eu. Ou... Sou eu? Regeneração é uma coisa bem complicada.

—Olá. -Clara saudou, estendendo a mão pra mim e para o Doutor ao meu lado. -Coincidência estarmos todos aqui.

—Eu estava pensando nisso. Mas é sempre divertido encontrar regenerações passadas.

—Depende, às vezes, do que acha divertido. -O Décimo Doutor avisou.

—Ah, não seja mal humorado.

—Eu não...

—Ametista. -Sorriu, virando pra mim. -Faz um bom tempo que não a vejo.

—Jura?-Perguntei. -Por quê?

—Spoilers. Nada de spoilers. -Cruzei os braços.

—Não ligo para spoilers.

—Eu ligo. Alguns podem ser desagradáveis. -Olhei para o Décimo Doutor, que conversava com Clara, apontando para algumas flores e árvores.

—Então você usa gravata borboletas agora?

—Gravatas borboletas são legais. -A ajeitou, orgulhoso.

—Você continua maluco pelo jeito.

—Algumas coisas nunca mudam. -Olhou para sua regeneração anterior. -Você não se importa se eu roubá-la só um pouco, se importa?-O Décimo Doutor fez que não.

—Não devia perguntar pra mim?

—E perder a chance de te irritar?-Riu, me puxando para andar com ele. -Sabe, Tis... Você é uma das minhas acompanhantes favoritas, por que é um desafio. Normalmente escolho pessoas...

—Boas? Gentis? Corretas?-Tirei o casaco, amarrando-o na cintura.

—Você é boa. Tem uma quedinha pelo perigo, gosta de armas e adora uma encrenca, mas isso não te faz uma má pessoa.

—Se isso é verdade... Por que não estou com você? Por que está com essa Clara? Onde eu estou no futuro?

—Isso é um spoiler...

—Dane-se o spoiler. -Respirei fundo. -Eu estou morta? É por isso que não estamos juntos?

—A vida separa as pessoas, às vezes mais do que a morte.

—Entendi. Eu morri e você não sabe como contar.

—Você não está morta.

—Então onde... -Suspirou, agarrou minha mão e começou a correr. -Onde nós vamos?

—Dar o maior spoiler da sua vida!

A TARDIS estava diferente, tanto por dentro quanto por fora. Mas a maior mudança era no interior.

—Você redecorou. -Comentei. -Eu gostei. Parece bem mais organizada assim.

—Era hora de deixar a bagunça para trás... Chegamos!

—Sério? A TARDIS nem balançou... Como fez isso?

—Segredo. Vamos lá. Você queria saber onde está no futuro... Eu vou mostrar

—Está falando sério?-Saiu da nave. O segui, agitada.

Estávamos em Cardiff. O Doutor me puxou até a rua, e apontou para uma mulher que andava tranquilamente, sem saber que estava sendo observada por nós. Ela e era eu.

—Aquela...

—É você. -Interrompeu, sorridente. -Sabe onde está indo?-Neguei com a cabeça. -Está indo para a base Torchwood. Jack contratou você.

—Eu vou virar uma agente da Torchwood? Sério? Isso é...

—Legal?

—Esquisito. Há anos não tenho um trabalho.

—Viu? Você não está morta. Não fique se preocupando com o futuro. Ele vai acontecer de uma maneira ou outra. Apenas deixe tudo acontecer naturalmente. É o melhor. Acho que devemos voltar agora. E se puder não contar ao homem palito, seria bom. Acredito que ele não ia aprovar esse spoiler.

—Então será nosso segredo. -Começamos a voltar para a TARDIS. -É... Até que você não é ruim... -Riu.

—É um elogio?

—Talvez.

***

UMA SEMANA DEPOIS

Rolei na cama, resmungando alguns palavrões, e tateei o criado mudo em busca do meu celular, que tocava 16 Shots alto demais para o horário. Quem é que tinha coragem de me ligar às nove da manhã?

—Que é?-Murmurei.

—Bom dia, Tis. Como está? Eu estou ótimo, obrigado por perguntar. -Suspirei.

—Jack, você sabe por acaso que horas são?

—Sim. É hora de pessoas estarem fora da cama, fazendo algo útil.

—Ah, é? Dane-se. -Riu. Esfreguei os olhos, reprimindo um bocejo. -O que você quer?

—Lembra dos rascunhos de armas que você me mostrou semana passada?-Fiz apenas um som de concordância, torcendo para a ligação acabar logo e eu retornar para o meu sonho maravilhoso com Enrique Iglesias (desculpa, nada de detalhes, ou serei censurada). -Eu achei muito bons. Tis, o que diria se eu dissesse que quero contratá-la?

—O que?-Me sentei, um pouco mais alerta. -Pra ser uma agente da Torchwood?

—Exatamente. Seria ótimo uma especialista em armas. E, é claro, você vai ter um salário. -Sorri. -Tis?

—Eu... Eu aceito.

—Ótimo. Então... Você pode se organizar e vir amanhã. Lembra da entrada que eu falei?

—Sim, sim. Lembro.

—Me encontre lá, de manhã cedo.

—Tudo bem. Jack, por que isso agora? Por que me contrataria? É um emprego sério, e eu...

—Você é ótima. Vai se dar bem. -Meu sorriso aumentou. -Tenho que desligar. Até amanhã, Tis.

—Até -Desliguei, abaixando o celular e olhando pra ele, o sorriso ainda no rosto.

O som da TARDIS flutuou até a janela aberta do meu quarto. Eu tinha que contar a novidade para o Doutor.

Vesti um casaco longo, calcei um par de chinelos e corri para o pátio do meu prédio, encontrando o Senhor do Tempo fora de sua nave, limpando algo que eu não podia ver. Parei um momento, observando-o.

Agora eu sabia por que havia deixado o Doutor. Eu tinha escolhido ficar, escolhido criar raízes. Tinha uma casa e um emprego. A vida de acompanhante tinha acabado.

—Hey, oi. -Saudei. O Doutor se virou.

—Você não parece pronta. Cheguei muito cedo?

—Em parte, sim. Eu tenho uma coisa pra contar. Jack me ofereceu um emprego na Torchwood. E eu aceitei. -Ele levou um tempo para processar isso.

—Jura? Isso é fantástico.

—É. E... Isso significa que você e eu vamos seguir caminhos diferentes.

—É, isso também. -Cruzei os braços, o vento frio me deixando arrepiada.

—Você vai ficar bem?

—Claro. Todos se vão algum dia, eu só pensei... Que você ficaria mais tempo.

—Sinto muito.

—Não. Tudo bem. -Colocou as mãos nos bolsos da calça azul. -É ótimo ver que você está... Tendo um bom caminho para trilhar. Um objetivo, sabe, sem ser sua obsessão por imortalidade. Fico feliz.

—Certo. Hum... Você é um cara maneiro, Doutor. Foi legal conhecer coisas novas ao seu lado. Você me fez ver um lado heroico que eu nem sabia que tinha. Então... Obrigada.

—Você sempre teve isso, Ametista. Só precisava de um empurrãozinho. Tivemos boas aventuras juntos.

—Tivemos.

—Uma última vigem?-Balancei a cabeça negativamente.

—Melhor não. Tenho algumas coisas pra ajeitar... Começo a trabalhar amanhã.

—Okay. Ah... Um momento. -Entrou na TARDIS e saiu pouco depois. -Seu Manipulador de Vórtex. -O entregou para mim. Coloquei o MV no pulso. -Bom... -Estendeu a mão. -Adeus... Tis. -Sorri, puxando-o para um abraço. -Isso é novidade.
—Eu só abraço caras legais. -Me afastei. -Adeus, Doutor.

Me virei e comecei a caminhar de volta para o prédio, se olhar para o Senhor do Tempo atrás de mim.

Assim que fechei a porta, a TARDIS fez seu som uma última vez, se desmaterializando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Yep, não tivemos vilões ou uma grande aventura dessa vez. Eu queria algo mais tranquilo.
A acompanhante que o Doutor fala, aquela que teve possibilidades vistas pelo Povo do Céu, é Joanne Watson (fanfic A Garota de Vestido Azul).
Tis agora seguiu um caminho diferente... Mas e o Doutor? Será que vão se encontrar de novo? Seria a Décima regeneração, a Décima Primeira ou outra? Fica aqui o mistério...
No próximo capítulo, Tis tem seu primeiro dia de trabalho... Como é que ela vai se sair?
Até mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ametista" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.