Ametista escrita por Karina A de Souza


Capítulo 10
Esse tipo de coisa só acontece comigo


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Esse cap é mais tranquilo, e vemos um pouco da vida de Ametista quando ela não sai com o Doutor ou caçando confusão com seu MV.



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Nem sei por que decidi sair de casa. Minha cabeça estava doendo. Parecia que uma gripe estava começando.

Aquela treta envolvendo meu sangue drenado e aliens vampiros tinha acontecido há uma semana. O Doutor não tinha aparecido, apenas ligado pra verificar como eu estava, e disse que era melhor um tempo de repouso, antes de voltar para a rotina de aventuras malucas.

Lógico que eu não dei bola para o que ele disse. Desde quando escutava alguém? Estava sem meu MV, mas Cardiff também tinha alguns lugares pra se divertir.

Mandei mais uma mensagem para Jack, mas ele disse que estava ocupado. Tá, como se eu fosse cair nessa.

Olhei em volta, brincando com meu copo vazio. A casa noturna estava bem cheia, e eram só dez horas. A noite estava apenas começando. As pessoas se espremiam na pista de dança, e outras, como eu, apenas continuavam sentadas, bebendo e observando. Luzes piscavam o tempo todo e uma versão remixada de I Like It (de Lacuna Coil) explodia das caixas de som.

Meu olhar caiu numa garota na mesa ao lado. Ela parecia bem incomodada, enquanto um cara ficava tentando puxá-la dali. Tentei ouvir o que estavam dizendo, mas o som estava alto demais. Suspirei, larguei meu copo, e me aproximei da garota. De perto, ela parecia muito mais jovem. Não podia ter mais de dezesseis anos, mesmo tentando se maquiar para parecer mais velha. O vestido era apertado, e ela ficava ajeitando o tempo todo, enquanto tentava dispensar o cara em pé ao seu lado.

—Tá tudo bem?-Perguntei. Ela ergueu os olhos pra mim, estava assustada.

—Tá tudo ótimo, docinho. -O cara respondeu, se virando pra mim. -Só estamos conversando.

—Se é apenas uma conversa, então por que não tira suas mãos dela?-Fechou a cara.

—O que é que você tem a ver com isso?

—Tudo. Quando eu vejo um babaca incomodando uma garota, eu tenho tudo a ver. Agora dê meia volta e suma daqui. -Riu.

—Já sei, você deve ser uma dessas feministas irritadinhas e mal amadas... -O agarrei pela nuca, forçando sua cabeça até a mesa. O som a batida chamou atenção de algumas pessoas. A música diminuiu um pouco.

—Você conhece esse cara?

—Não. -A garota respondeu. -Eu disse pra ele parar e me deixar em paz... Mas ele não me ouviu.

—Ah, ele ouviu sim. Mas homens babacas não sabem lidar com um “não”. Você, peça desculpas pra ela.

—Eu não vou pedir nada!-Gritou. Aumentei o aperto na nuca dele.

—Peça desculpas ou eu vou bater tanto a sua cabeça nessa mesa que ambas vão quebrar em pedaços. -Alguns caras tentaram se aproximar para separar a confusão, mas recuaram quando viram meu olhar. -Anda! Pede desculpas!

—Desculpa.

—Como é? Não deu pra ouvir por causa da música. Repete. Repete!

—Desculpa.

—Por...?-Respirou fundo. Eu podia apostar que estava apavorado. Caras como ele nunca esperavam achar uma garota que revida.

—Desculpa por... Eu não fiz nada.

—Não fez? Tem certeza? Pensa direitinho...

—Tá bom, tá bom! Desculpa por... Por assediar você e dizer aquelas coisas...

—Ótimo. Agora, lembre de uma coisa: eu tenho memória fotográfica. Se te ver de novo assediando qualquer pessoa, vou te bater até você se arrepender de ter nascido homem. Entendeu?-Assentiu. -Vá pra casa e reflita sobre a merda que você fez hoje. -O soltei, dando um passo para trás. O cara olhou pra mim e saiu correndo. Algumas pessoas aplaudiram. -Não é só pra achar legal e aplaudir. É pra agir quando alguém não puder se defender. E você, hora de ir, colega. -Ajudei a garota se levantar, ela parecia meio instável com os saltos enormes que usava. -Como se chama?

—Elisa.

—Eu sou Ametista. -Saímos da casa noturna. -Você não tem idade para entrar aqui, tem?

—Eu... Comprei uma identidade falsa. Queria ver se era tão legal como todo mundo diz. Todas as garotas da minha sala vão em lugares assim.

—Nem sempre o que os outros fazem é legal. Você veio aqui sozinha, podia ter se encrencado. Pelo amor de Deus, você não vê os jornais?

—Vejo. Mas pensei... Pensei que não ia acontecer nada. -Esfregou o rosto, borrando a maquiagem -Obrigada. Você foi maneira. -Ri.

—Maneira?

—É. Deixou aquele cara apavorado. Você é tipo uma heroína das garotas?

—Não. Só faço minha parte. Quando ver uma garota precisando de ajuda, vá lá e ajude. -Assentiu

—Eu vou. Mas não sei se consigo ser tão ameaçadora. Você luta?

—Depende do dia. -Nos aproximamos de um táxi. -Você tem dinheiro?

—Tenho. Obrigada. -Abri a porta.

—E toma cuidado, okay? O mundo é uma merda para as garotas.

Assentiu, entrando no banco de trás. Fechei a porta e recuei, vendo o táxi se afastar, então me virei e fui para casa.

***

Acordei com o corpo todo dolorido como se tivesse sido pisoteada por uma multidão. Era oito horas da manhã. Apenas me virei e tentei voltar a dormir, mas agora não achava uma posição confortável.

Prendi o cabelo para tirá-lo do rosto e praticamente me arrastei até a cozinha. Tinha bastante coisa na despensa, coisas que Jack tinha comprado na semana anterior, enquanto bancava meu enfermeiro particular. Sem muita fome, revirei o armário atrás de uma barra de cereal, e desabei no sofá.

Eu nunca ficava doente. A última vez tinha sido cinco anos atrás, quando fiquei gripada um mês inteiro. Desde então não tive mais nada.

Acabei cochilando no sofá, e acordei com minha cabeça explodindo. Fui atrás de um analgésico na cozinha e voltei a deitar, só acordando três horas da tarde, e sem fome.

Será que eu tinha contraído algo nas viagens? Algum tipo de vírus ou uma doença por causa do aparelho usado para drenar meu sangue? Mas o Doutor tinha feito um exame completo em mim com a TARDIS, e disse que estava tudo bem comigo.

Levantei, devagar, e fui tomar um banho. Talvez fizesse eu me sentir melhor.

Bem... Não fez.

Parei em frente ao espelho, após terminar de me secar. Ia voltar a dormir e se não melhorasse... Talvez iria ao médico? É isso o que as pessoas fazem quando estão doentes, não é?

Minhas costas começaram a coçar. Tirei a toalha, tentando ver se algum bicho tinha me mordido, então congelei. Tinha uma coisa vermelha, esquisita, presa na parte inferior das minhas costas. Hesitante, estendi a mão. Seja lá o que fosse, não saía.

—Mas que p...

Me enrolei na toalha e fui atrás do meu celular no quarto. Encontrei o aparelho no bolso do meu jeans esquecido no chão, onde eu tinha deixado após voltar da rua na noite anterior. Procurei o número do Doutor nos meus contatos, ligando pra ele em seguida. Tive que fazer isso três vezes até ser atendida.

 

—Finalmente!

—Ametista? Algum problema?

—Sim. Acho que estou encrencada. Tem uma coisa esquisita nas minhas... -A ligação foi cortada.
Encarei o celular, indignada. Ele tinha desligado na minha cara?

Antes que eu pudesse ligar de novo, gritando todos os palavrões que eu conhecia, a TARDIS começou a se materializar na sala.

—O que houve?-O Doutor perguntou, tropeçando para fora da caixa azul. Coloquei as mãos na cintura.

—Você parece desesperado. O que andou bebendo na minha ausência?

—Que tipo de encrenca?

—Você nem sabe o que é e está agindo como se fosse um caso de vida ou morte.

—Talvez eu esteja cansado de ver todos morrerem. -Engoli algumas provocações e comentários ácidos. -O que aconteceu?

—Eu acho que posso estar doente

—Acha?-Dei de ombros.

—Não costumo adoecer. E tem uma coisa esquisita nas minhas costas.

—Que tipo de coisa esquisita?

—Acho que devia ver. -Deu um passo para trás.

—Talvez depois que você se vestir.

—Certo. -Ajeitei a tolha em volta do corpo. -Já volto.

Me vesti e voltei para a sala o mais rápido possível, encontrando o Doutor jogando sua chave de fenda sônica para cima e a pegando repetidas vezes. Ele parecia bem agitado.

—Está tudo bem?-Perguntei.

—Não ligue pra mim. Isso é sobre você. -Apontou a chave de fenda sônica na minha direção. -Hum... Okay. Mostre suas costas. -Me virei, erguendo a parte de trás da blusa. -Wou.

—É pequeno, mas me deixou preocupada.

—Pequeno?

—Era quando olhei antes.

—Bem... Lamento informar, Ametista, mas essa coisa cresceu.

—Que?-Tentei olhar para as minhas costas. -Cresceu?

—Está enorme.

—O que é essa coisa?

—Parece... Tem o formato de uma trepadeira... Ah.

—O que? O que é?

—Acho que é um tipo de parasita. E não deve ser terrestre.

—Parasita?-Me virei pra ele. -Isso vai me matar?

—Eu não sei... Eu nunca vi isso antes.

—Mas acha que isso pode... Acabar me matando?

—Ametista, eu não sei...

—Está sendo sincero? Não está falando isso só pra não me deixar em pânico?

—Não estou mentindo. Eu juro. -Assenti.

—Okay. O que a gente faz agora?-Parou um momento, refletindo. -Doutor!

—Me deixa pensar. Certo. A primeira coisa é não entrar em pânico.

—Tarde demais.

—Depois descobrir o que é e como tirar. -Jack abriu a porta e entrou. Ele ainda tinha a chave extra que conseguiu com o porteiro.

—O que está fazendo aqui?

—Você não me atendeu, achei que podia ter acontecido alguma coisa. -Respondeu. -Algum problema?

—Acho que tenho um parasita alien nas minhas costas. O Doutor está me ajudando.

—Parasita alien?-Me virei, erguendo a blusa. -Uau. Isso é... Nunca vi nada assim.

—E cresceu de novo. -O Doutor avisou. -Uma parte está na sua nuca agora.

—Merda. -Resmunguei, me voltando pros dois. -A gente precisa tirar essa coisa de mim imediatamente.

—Tis. -Jack alertou. Segui o olhar dele.
Aquela coisa vermelha se estendeu pelos meus braços e pernas, como uma trepadeira faria, se enrolando e crescendo.
Não consegui mais ficar de pé, minhas pernas perdendo força de repente, e caí sentada no chão.

—O que tá acontecendo?-Perguntei, tentando levantar, mas sem conseguir fazer meu corpo obedecer.

—Laboratório da TARDIS, agora. -O Doutor disse, abrindo a porta da caixa azul. -Jack.

—Okay. -Murmurou, me pegando no colo. -Você está mais pesada do que eu me lembrava. -Apenas olhei feio pra ele.

O laboratório da TARDIS era enorme, mas não parecia ser muito usado. O Doutor disse, enquanto Jack me colocava numa maca, que há anos não usava o local, mas ele era automaticamente limpo com frequência, pela própria nave, assim como todas as outras salas.

—Preciso de uma amostra. -O Doutor avisou, colocando os óculos e se aproximando. -Ametista, a área afetada é sensível?

—Não sei.

—Sentiu isso?

—Isso o que?-Assentiu pra si mesmo.

—Ótimo, nada sensibilidade.

—Como sempre. -Jack zombou. O encarei. -É brincadeira. Você vai ficar bem. Não vai, Doutor?

—Vai. Claro. -Um ponto do meu braço ardeu, como se tocado pelo fogo. -O que foi?

—O que você fez?-Perguntei. -Isso dói!

—Jura? Eu só tentei pegar uma amostra...

—Parece que me queimou. -Deu um passo para trás.

—Então não é sensível ao toque, mas entra na defensiva ao se sentir ameaçado. Seja lá o que for, tem algum tipo de inteligência.

—Que maravilha. Tira logo essa coisa de mim.

—Eu queria que fosse tão simples... -Murmurou, se afastando até uma bancada. Jack segurou minha mão, um sorriso tranquilizador no rosto. -Parece que estou esquecendo de alguma coisa... Ametista, alguma ideia de quando isso começou?

—Ontem.

—O que você fez ontem?

—Nada demais. Só fui num bar.

—Na Terra?

—Sim. -Começou a andar de um lado para o outro.

—Não é algo terrestre. Definitivamente não é. Tudo bem... Vermelho... Possui uma leve inteligência... Enfraquece o hospedeiro... Vamos lá... No que não estou pensando? É claro!-Berrou, assustando Jack e eu. -O “laboratório” dos strigoi, onde você foi drenada, era horrível. Acho que mais espécies andaram por lá. Eles faziam experimentos e testes... Foi lá que você se contaminou.

—E...?

—E... -Parou. -E... Eu não sei, mas já sabemos como surgiu. Banco de dados!-Correu para um computador num canto. -Vamos... Vamos...

—Eu já comentei que você surta em momentos assim?-Jack riu.

—Isso!-Se virou pra mim, um sorriso afetado no rosto. -Ametista... Se prepare para ser curada!

***

No fim, água salgada fez o parasita murchar e desgrudar da minha pele. Foi uma sensação bem esquisita, e o Doutor disse que se não tivéssemos feito aquilo, matando aquela coisa no processo, eu acabaria morta em menos de dois dias. Ele também disse que não gostava de saídas que acabam com morte, mas sempre colocaria seus amigos em primeiro lugar.

Depois disso, Jack insistiu que uma comemoração era necessária.

E foi assim, senhoras e senhores, que eu acabei bêbada num planeta distante.

—Para com isso. -Reclamei, pegando de volta o copo que o Doutor tirou de mim. -É minha bebida.

—Você já bebeu demais.

—Eu só estou comemorando. Podia ter morrido hoje. Você que disse. -Apontei pra cara dele. -Ou você mentiu?

—Não, não menti. Só acho que já bebeu o bastante.

—Meu Deus, você nunca se diverte?

—Encher a cara não é o sinônimo de diversão.

—É sim. Diz pra ele, Capitão. -Jack apenas riu e deu de ombros. -Eu estou errada?

—Não. Está bêbada. Jack, acho melhor levá-la para a TARDIS...

—Todo mundo cala a boca! Eu amo essa música!

Saltei do meu lugar, correndo para o balcão do bar e subindo nele. No momento, muito alcoolizada, eu não me perguntei por que 16 Shots (da Stefflon Don) estava tocando num bar fora da Terra.

Eu provavelmente teria ficado muito tempo dançando em cima do balcão se não tivesse tonteado e tropeçado para baixo, segundo segurada por Jack antes de cair no chão.

—Hora de voltar pra casa, Tis. -Avisou.

—Ah, não...

—Doutor.

—A festa acabou. -O Senhor do Tempo avisou, se aproximando e tocando meu rosto com as mãos.

Apaguei.


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Notas finais do capítulo

Eu gostei especialmente de escrever a primeira cena, por uma questão bem pessoal e pra deixá-los conhecer esse lado diferente da Tis. Quando ela diz que "o mundo é uma merda para as garotas", se trata de experiência própria, mas não havia ninguém para defende-la.
O fato de uma música humana estar tocando num bar fora da Terra foi inspirado por uma cena onde Taylor Swift toca num bar de anões, numa cena da série literária Magnus Chase. Ou seja, zoeira pura.
No próximo capítulo temos DUAS participações especiais. Eu não posso dizer quem são, mas tô doida pra que chegue a próxima quarta, para poder postar.
Bem... Até mais!



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