Ametista escrita por Karina A de Souza


Capítulo 12
O pior primeiro dia de todos


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Hoje é o primeiro dia de Ametista como uma agente da Torchwood. Será que ela vai se acostumar com a vida nova ou jogar tudo pro alto como fez no último emprego? Com essa daí não dá pra se duvidar de nada...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/762044/chapter/12

Sem nenhuma surpresa eu acordei atrasada.

Me arrumei em tempo recorde, e saí com um pedaço de pizza numa mão e uma lata de refrigerante na outra. Não era um café da manhã saudável, mas eu estava com pressa.

Quando cheguei na baía, Jack estava andando de um lado para outro, impaciente.

—Achei que não ia aparecer!-Comentou. Me aproximei, exausta por ter corrido tanto.

—Eu perdi a hora.

—Que novidade. Vamos. -Começou a andar, o segui, revirando os olhos. -Essa é a entrada comum. Uma fachada, como um ponto de ajuda ao turismo, mas você pode entrar por aqui. Eu sei que tem medo de altura, então não vai querer ir pela outra.

—Que seria...?

—Tipo um elevador. Fique longe dele.

—Não precisa dizer duas vezes.

Entramos na pequena construção, era cheia de mapas, e folhetos. Atrás de um balcão, um homem mexia no celular.

—Esse é o Ianto, nosso faz tudo. -Jack apresentou. -Já ouviu falar dele.

—É, já. -Cruzei os braços.

—Essa é Ametista.

Tenho certeza que o mesmo olhar avaliador que estava no meu rosto, era o mesmo que de Ianto. Mas ele disfarçou bem rápido, acenando com a cabeça. Se Jack percebeu um climão entre seus dois ficantes, não nos deixou perceber.

Pegamos o caminho para dentro da base, enquanto Jack explicava rapidamente algumas coisas sobre o local.

Era maior do que eu pensava. O pensamento me fez lembrar da TARDIS e eu acabei sorrindo. Um olhar rápido era o suficiente para reparar na bagunça semi organizada. A base era um caos, mas um caos que eu podia lidar.

Algo enorme passou por cima da minha cabeça, me pegando desprevenida. Jack riu.

—Que coisa é essa?-Perguntei, tentando localizar o que tinha me assustado.

—Nosso cão de guarda. -Levei alguns segundos para me recompor.

—Seu cão de guarda é um dinossauro?

—O nome exato é pterodátilo.

—Não deixa de ser um dinossauro! É um dinossauro, Jack! Voando aqui dentro!

—Ele não vai te devorar, caso seja esse o problema. -Cruzei os braços. -Não seja dramática. Pessoal, podem vir aqui um momento?-Três pessoas se aproximaram, duas mulheres e um homem. -Essa é Toshiko Sato, nossa especialista em computação; o médico Owen Harper e Gwen Cooper... Nossa ex policial de estimação? Seria isso?-Ela revirou os olhos. -Essa é Ametista... Apenas Ametista, nossa nova especialista em armas. Bom, Tis, nós separamos uma sala pra você testar e guardar suas criações. E também um canto ali. -Apontou para uma mesa perto de nós.

—Uau. Você já preparou tudo.

—Claro. Eu te conheço, sei o drama que faria caso nada estivesse pronto. -Sorri.

—Parece que me conhece mesmo. -Fui para a minha mesa, dando uma olhada no que tinha lá e deixando minha bolsa ao lado da cadeira.

—Tem listas de onde encontrar os materiais que você pode precisar, e caso não tenha o que precisa, fale com Ianto.

—Okay.

O grupo se dispersou.

Sentei no meu lugar, ligando a tela do computador e usando a senha que Jack tinha deixado para fazer o login. Imediatamente uma tela azul apareceu com o logo da Torchwood e meu nome num canto.

Comecei a dar uma olhada nos programas, além dos arquivos. Havia coisas sobre o Doutor, mas não pude abrir antes que Toshiko se aproximasse.

—Se precisar de alguma ajuda com os programas, é só avisar. Alguns criados pela Torchwood podem ser um pouco complicados.

—Tudo bem... Hã... Obrigada. Aviso se precisar. -Jack tinha dito que eu não devia ser rude com meus colegas de trabalho. Ia ser um desafio e tanto. Às vezes eu o fazia e nem percebia.

—São suas criações?-Apontou para a pasta que coloquei na mesa. Assenti, empurrando o material para ela, que o abriu e começou a folear. -Parecem armas incríveis. Alguma está pronta?

—Não. Como civil é difícil conseguir material pra elas.

—Agora vai conseguir. Bem, se precisar de alguma coisa, estou bem ali.

—Okay, obrigada. -Sorriu e se afastou.

Abri um arquivo sobre o Doutor. A Rainha Vitória, criadora da Torchwood, havia declarado que o Doutor era um inimigo. Eu até entendia. Como confiar num ser do espaço que surgiu do nada, falando de coisas aliens antes que essas coisas fossem minimamente normais?

Nos arquivos sobre a agência, estava explicado que havia pelo menos quatro bases. A Torchwood Um era em Londres, mas tinha sido destruída numa treta envolvendo Cybermans, Daleks e, claro, o Doutor.

A Torchwood Dois ficava em Gales, e essa era a única informação sobre ela (como se tudo sobre a agência não fosse misterioso).

A Torchwood Três era em Cardiff, onde eu tinha sido empregada, e fazia um bom tempo que estava sendo comandada por Jack. Me perguntei quem em sã consciência o colocaria numa tarefa importante, mas eu já tinha o visto focado, então podia entender como ele podia ter um cargo desse. A base tinha sido construída em Cardiff por causa de uma fenda, de onde provavelmente tinha saído o pterodátilo que agora sobrevoava lá no alto.

A Torchwood Quatro, para o espanto geral, tinha desaparecido. Também não havia informações sobre ela, nem sua antiga localização. Fiquei me perguntando como uma base dessas poderia sumir.

Eu estava acostumada com empregos cheios de mistérios. A Agência do Tempo era assim. Nenhum dos agentes podia sair falando das missões. Acho que era o trabalho ideal pra mim, eu guardava segredos desde que me entendia por gente.

Depois de dar mais uma olhada em alguns arquivos, decidi começar a trabalhar. Jack saiu com parte da equipe, deixando apenas Toshiko e eu na base.

Comecei a rabiscar uma arma que estava na minha cabeça há tempos: algo capaz de destruir os Anjos Lamentadores. O Doutor tinha explicado que eles eram de pedra (seus corpos “físicos”), o que os tornava meio indestrutíveis, mas eu não ia só deixar isso pra lá. Aquelas drogas de estátuas demoníacas quase me ferraram irreversivelmente. Se cruzassem comigo de novo, eu faria questão de mandá-los para inferno.

A lata de lixo ao lado da minha mesa encheu. Meu lado perfeccionista não ia permitir que qualquer coisa fosse criada. Tinha que ser uma arma perfeita, ou seria apenas um rabisco descartado.

Quando consegui terminar o rascunho, anotei num canto da folha os materiais que ia precisar na confecção...

Aí meu celular tocou.

—Jack, eu estou ocupada. -Avisei, deixando a ligação no modo viva voz e voltando para o meu trabalho.

—Vai ficar ainda mais. Precisamos de uma mãozinha extra aqui no centro.

—Acho que isso não faz parte do meu trabalho.

—Eu sou seu chefe, então acredito que posso dizer o que é ou não seu trabalho.

—Isso não se caracteriza como abuso de poder?-Riu, sendo abafado por um som estranho.

—Acho que ele foi para aquele lado! Tis, vem pra cá. Owen, lá, lá!

—Estou ocupada.

—Tis...

—Eu posso ir. -Toshiko se ofereceu, parando atrás da minha cadeira.

—Não, Tosh, quero a Ametista aqui. Você tem algumas coisas para terminar...

—Eu também tenho!-Interrompi.

—Ametista. -Bufei, ficando de pé.

—Tudo bem, tudo bem. Já estou indo.

***

—Jack é sempre um chefe tão filho da mãe?-Perguntei, andando ao lado de Gwen. Ela tinha ido me buscar na base. Riu, colocando o cabelo atrás da orelha.

—Nem sempre. Ele só quer ter certeza de que você sabe quem está no comando.

—Eu vou dar um soco nele se ele não parar com isso logo. Certo... O que estamos procurando exatamente?-Tirou o celular do bolso, me mostrando uma foto de uma coisa esquisita, humanoide, com tentáculos e laranja. -Que diabo é isso?

—Não fazemos a mínima ideia. Veio pela fenda e está causando muita confusão. Tosh está tentando ver se está nos registros, mas até agora nada.

—Okay. -Paramos numa bifurcação. -A gente devia se separar. Eu vou pela direita. Dizem que direita dá sorte.

—Jura?-Dei de ombros.

—Superstições de Boeshane.

—Tudo bem. Tome cuidado.

—Você também.

Nos separamos.

Continuei andando, pronta para pegar a arma, e atenta à sinais da criatura alien fugitiva. Achei que talvez tivesse indo pelo lado errado, mas algumas latas de lixo caídas no chão e uma gosma laranja estranha indicaram que o alien tinha passado por ali.

Uma mulher saiu correndo de uma rua lateral, gritando e tropeçando pelo caminho.

—Tudo bem?-Perguntei.

—Tem uma coisa lá! É um monstro!-E voltou a correr.

—Acho que encontrei o alien.

Peguei o caminho de onde a mulher veio, pegando a arma. Havia mais gosma no chão, e a trilha dela parava em baixo de uma ponte.

Parei de caminhar, tentando ouvir alguma coisa. Eu me sentia observada, só não sabia de onde.

Aí alguma coisa enorme e pesada se jogou nas minhas costas. Caí no chão de cara, a arma voando para fora do meu alcance. Os tentáculos da coisa se enrolaram no meu pescoço e peito, não me deixando respirar. Era como ser apertada por correntes de aço. Se não me soltasse logo, ia sufocar até a morte.

Consegui rolar, mas a criatura não me largou, mais tentáculos se enrolando em mim, alguns agarrando meus pulsos. Eu não ia conseguir levantar, não conseguia gritar... Estava ferrada.

Tentei agarrar o tentáculo que estava apertando meu pescoço, mas quanto mais eu o puxava, mais forte ele apertava. Manchas começaram a atrapalhar minha visão. Eu não podia fazer mais nada.

Gwen surgiu do outro lado da ponte, a arma em mãos, mas não parecia saber o que fazer. Ela gritou algo que não ouvi, então som de tiros estouraram ao lado da minha cabeça e o aperto em mim sumiu.

Me arrastei pra longe da criatura, respirando para sobreviver.

—Você está bem?-Jack perguntou, se abaixando ao meu lado e colocando a mão nas minhas costas.

—Graças à Deus você tem uma mira ótima!-Gwen exclamou. -Achei que ia acertar a cabeça dela.

—Por um momento... Eu também achei.

—Você atirou?-Perguntei, sentando e esfregando o pescoço dolorido. -Perdeu a droga da noção? E se tivesse me acertado?

—Tis, aquela coisa ia te matar.

—Se eu tivesse levado um tiro, ia morrer de qualquer jeito! Você podia ter enfiado uma bala na minha cabeça!

—Mas não aconteceu, então pode se acalmar.

—Podia ter acontecido!

—Centenas de coisas podiam ter acontecido com você hoje, mas não aconteceram. Eu sei que estava com medo. Está tudo bem agora. -Olhou por cima da minha cabeça. Ianto e Owen tinham acabado de se juntar à Gwen. -Melhor removermos logo o corpo do alienígena antes que acabemos tendo que lidar com uma plateia.

—Uma mulher viu essa coisa.

—Gwen encontrou ela no caminho, a mulher não vai lembrar de nada. -Me ajudou a ficar de pé. -Tudo bem?

—Só estou dolorida onde ele me agarrou, mas vou ficar bem. -Tossi. Nos afastamos da criatura morta.

—Quer que Owen te examine?

—Não. Ninguém toca em mim, eu estou bem.

—Tudo bem... Nós logo vamos voltar para a base, só precisamos limpar essa bagunça.

—Okay.

—Gwen, traga o carro pra cá...

Cruzei os braços, recuando até uma mureta e sentando.

Hoje era o pior primeiro dia de todos.

***

—Você é mesmo uma cabeça dura. -Jack disse, se ajeitando na cadeira. Olhei feio na direção dele.

—Senta aí e cala a boca.

—Tis, eu já disse que isso tudo é inútil.

—Não me deixa nervosa ou vou abrir um buraco do tamanho de Londres no seu braço.

—Você pelo menos sabe o que está fazendo?

—Claro que sei. Procurei no Google. -Amarrei uma tira de borracha no braço dele.

—Meu sangue não é mágico, Tis. Ele Não transforma ninguém em imortal.

—Eu só estou testando todas as alternativas. Depois preciso de amostra de saliva.

—Mais alguma coisa, doutora?-Sorri maldosamente, pegando a seringa.

—Amostra de urina seria bom.

—Isso está indo longe demais.

Já devia ter passado da meia noite. O resto da equipe Torchwood tinha ido para casa. Pedi que Jack ficasse e contei a ele meus planos. Eu nunca tinha pensado em usá-lo como pesquisa, e de repente pareceu uma boa odeia, depois de ver Owen examinando o alienígena morto.

—Eu só preciso tentar, tudo bem? E você disse que me ajudaria.

—Quero ajudar. -Jurou. -Mas não tenho as respostas que você quer.

—Talvez tenha. E não sabe disso. Okay... Vai ser só uma picadinha.

—Você não tem que desinfetar a área?

—Por quê? Você não vai pegar uma infecção e morrer. -Enfiei a agulha no braço dele, tentando tomar cuidado para não exagerar na força.

—Pesquisou no Google, é?-Assenti, sem olhar pra ele. -Você já fez isso antes.

—Por que acha isso?-Retirei a agulha, entregando um algodão para que Jack colocasse no local perfurado. Soltei o torniquete.

—Seu olhar... Essa... Confiança. Já fez isso antes.

—É uma ótima teoria. -Enchi o tubo coletor cuidadosamente, não queria ter que repetir o processo.

—É um daqueles seus mistérios?-Sorri.

—Talvez. -Joguei a agulha e as luvas no lixo. -Primeira etapa, feita.

—O que vai fazer depois com... As amostras?

—Analisar. E... Esperar pelos resultados.

—O que acha que eles dirão?-Dei de ombros. Eu realmente não fazia ideia. -Tis, eu vivi por séculos. Já vi e fiz de tudo. Meu sangue não vai te fazer imortal.

—Jack, eu pelo menos tenho que tentar, okay? Tentar achar respostas, tentar... Chegar à algum lugar. Você também faria isso se estivesse no meu lugar. -Fiz uma pausa. -Eu quase morri hoje. E não fiz nem metade do que queria fazer. Jack... Eu não quero morrer. -Ficou de pé, me puxando para um abraço.

—Você vai ficar bem, Tis. Você sempre fica bem.

—Nem sempre.

—Mais um mistério?-Me afastei para olhá-lo.

—Mais um. -Sorriu.

—Tudo bem... O que fazemos agora?

—Acho que tenho umas ideias.

—Acho que gosto das suas ideias. -Ri.

—Jack Harkness... Você é meu cara favorito.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sim, a Torchwood realmente tem um dinossauro na base kkkk Maluquice é o que não falta por lá... Nem por aqui.
Eu pesquisei bastante coisa sobre a Torchwood pra esse capítulo, mesmo tendo visto a série. Meu foco foram as outras agências, que me deixaram bem curiosa (principalmente a que desapareceu sem deixar rastros).
Planejei toda a última cena antes de assistir a quarta temporada da série Torchwood (O Dia do Milagre). Lá, como alguns de vocês sabem ou não, as pessoas simplesmente param de morrer. Ninguém mais morre. Isso acontece por causa da "Bênção" e Jack está totalmente ligado com isso. Acabei não alterando os acontecimentos de Ametista para encaixar a quarta temporada de maneira alguma (a criação da "Bênção", por exemplo). Então aqui, nada é revelado sobre Jack, seu sangue ou a "Bênção".
E eu realmente pesquisei no google como tirar sangue de uma pessoa... Ando fazendo umas pesquisas beeem estranhas ultimamente kkkk
No próximo capítulo, Tis vai lidar com uma de suas armas e descobrir algumas coisas sobre companheiras antigas do Doutor... Será que deixando-o para trás ela escapou de alguma coisa?
Até mais!

P.S.: "Eu não quero morrer" foi uma referência ao 10th Doctor... Por que sim :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ametista" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.