Te Vejo Na Lua escrita por awennkire


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oi, não, não é mentira, eu voltei!

Ainda estou sem notebook, então os capitulos demoraram para sair, então terá uma média de 2 a cada mês, infelizmente não consigo fazer mais que isso com o meu celular me limitando, mas espero que não tenham desistido de mim!

O capítulo não foi revisado, quis postar o mais rápido possível então espero que gostem! Mas relevem por favor!

TRANSFOBICOS NÃO PASSARAM!

Boa leitura!



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Segunda começou da pior das maneiras, a frente do prédio de medicina estava tomada por repórteres e estudantes, todos com o mesmo propósito, ver a possível futura imperatriz do Japão. Segundo ordens da primeira dama, estava cercada de seguranças, era o esperado que acontecesse.

Meu olhar caiu sobre as pessoas, os seguranças da instituição tentavam fazer com que todos estivessem calmos enquanto os seguranças pessoais focavam na minha proteção, existia uma chance altíssima de um ataque ou crime de ódio. Parte das pessoas estava indignada com o possível romance, em menos de três dias já existiam grupos de ódio contra o casamento fazendo tudo piorar.

Assim que entrei suspirei me acalmando, olhei em volta e vi grande parte das jovens me encarando de maneira agressiva. Já era o esperado, parte delas lutou para entrar na universidade de Tóquio para tentar estar perto de algum herdeiro dos grandes Clãs e assim, chegar perto do príncipe e agora por minha causa, os sonhos delas se arruinaram. O ódio era mais que esperado, era a comprovação de que agora o mundo já estava me vendo como a próxima princesa.

Meu corpo se arrepiou. Levantei o olhar e sorri de maneira amigável, cumprimentei o máximo de pessoas que pode do térreo e foi em direção ao elevador. Acenei enquanto as pessoas olhavam a porta se fechar, continuei firme, estava em público, não poderia abaixar a guardar. Sabia que se qualquer coisa vazasse para a impressa e seria uma calamidade.

Parei no sexto andar indo em direção à sala 622, o laboratório de microbiologia estava fechado e bati na porta sendo recebida por Orochimaru, um dos professores mais respeitados de toda universidade. Pedi para que apenas dois seguranças entrassem comigo e que os outros três ficassem de guarda em frente à entrada.

Coloquei minha mochila no armário e peguei meu jaleco, o professor me olhava de maneira curiosa e os homens que me acompanhavam estavam em alerta, possivelmente não acreditava que Orochimaru era alguém de confiança e eu sem dúvida conseguia os entender, meu instagram estava repleto de ataques e comentários de fakes. Assim que me aprontei fui em direção a terceira fileira.

— Nesse microscópio tem uma ascaris lumbricoides, vá para a quarta fileira, lá sim tem uma taenia saginata.

Fiz o que me foi instruído e vi que seu rosto estava em meio aos papéis, possivelmente estava corrigindo o trabalho entregue na última semana.

— Já soube? - perguntei enquanto olhava o parasita.

— Do seu noivado? Ainda não foi confirmado, imagino que não esteja de acordo - sua voz era imparcial.

— Realmente, não estou - respondi e suspirei.

— Eu vi seus pais se casarem, assim como vi o escândalo de seus avós - meu rosto foi em sua direção - sempre vi a maneira que o olhava, se declarou para ele quando? - meu rosto se tornou vermelho e escutei uma risada - Pela primeira vez a vi desconsertada, acho que tenho pontos. Mas o Sabaku? Esperava que desistisse dele e se apaixonasse pelo Mitsuki, eu admito - nesse momento minha risada foi alta.

Olhei para os seguranças pedindo para que saíssem, não tinha perigo algum ao lado do amigo de família mais antigo da minha mãe. E assim eles fizeram.

— Não tenho vontade de competir pelo coração dele, quem o tem é o idiota do Boruto - falei e escutei a risada dele.

— Meu filho sempre foi ingênuo quando o assunto é amor, mas acredito que ele o corresponda - quando ele falava, estava correto, principalmente nas pessoas em volta do seu filho mais novo.

— Vai ter que lutar contra Sarada.

— Creio que sim, mas ele ainda é um Orochimaru e não irá desistir assim - afirmei, o azulado não desistia, ele sempre demonstrou e o louro sempre foi lerdo para perceber.

— Espero que sim, será um escândalo, imagino que saiba.

— Sabe que sei, mas ele me viu lutar para ser quem sou hoje, então acredito que se ele o amar irá até o fim - sorri assenti com a cabeça, ele não estava errado e se eles lutassem fariam história assim como tantos casais.

— Ele o teve como inspiração, não existe outra pessoa que ele se orgulhe mais - sorri e voltei a anotar o que entendia do parasita, para saber em que fase estava.

Orochimaru era e sempre será a inspiração dos filhos, aos 18 anos se assumiu um trans não binário para a família, adotou o nome e passou para seus filhos adotivos. Falava abertamente comigo sobre o amor dos filhos, ele os amava assim de tudo e todas e os defendia a todo custo, mas não queria que passasse pelo ódio de ter uma pessoa trans como parentela. 

Me lembro da infância e acredito que Orochimaru jamais saberá do bullying sofrido pelo seu filho mais velho, Log. Ele atualmente trabalha como engenheiro, porém sofreu diversas represálias na escola e nunca mencionou a Orochimaru, nunca quis se sentisse menor que incrível. Ele sempre soube quem era, sua luta e não deixaria que pessoas dissessem o contrário e assim se fez. Orochimaru nem ao menos sabe o que acontecia e Log sempre se orgulhou dele, quando apresentou sua atual esposa, na época sua namorada, a ele sabia que se estivesse um resquício de desprezo não continuaria o relacionamento porém mais tarde foi descoberto que ela também é uma mulher não-binário e passou a tomar como exemplo Orochimaru.

— Alguma data para a confirmação? - escutei sua voz

— Não, ainda não sei - respondi desenhando o parasita que no microscópio.

— Se quiser conversar, apenas me chame, você é como minha filha - sorri verdadeira, Orochimaru sempre soube tornar o ambiente calmo e tranquilo.

Cresci em meio a família Orochimaru, que foi excluída e renegada pela sociedade. Com apoio e compreensão sempre estive junto a essa família e sempre dividi tudo que que tinha com Mitsuki, ele era recluso e atualmente estudava economia em Oxford, mas sempre que podia ligava para ele contando as novidades, quando falei dos sentimentos de Sarada sobre Boruto ele pediu para apoiá-la, dizendo que jamais o teria para si, mesmo que o louro fosse gay, ainda era um Uzumaki e jamais poderia estar em um escândalo como o de um romance com um regado do clã Hyuuga.

O tempo passou rápido e fui em direção a minha primeira aula, sendo essa de microbiologia. Uma aula comum e que mesmo me causando tédio, assistia da melhor maneira possível, com postura e atenta a tudo a minha volta. A manhã se passou rápido e as matérias estavam relativamente fáceis.

Fui em direção ao almoço, tinha recebido uma mensagem de Shikadai para acompanhá-lo junto da primogênita dos Uchihas. Com a bandeja na mão fui em direção a mesa que estavam, assim que cheguei recebi o olhar de compaixão de Sarada, todos o refeitório me olhavam de maneira curiosa e cochichavam entre si sobe a mestiça que estava com o príncipe. Sorri em resposta, nenhum deles mencionaria o filho do Imperador.

A comida não tinha forma ou graça, não conseguia acreditar que estava acontecendo isso. Shikadai me olhava de forma compreensiva e me sentia ainda pior, não estava aguentando os olhares de pena. Eu estava sofrendo, mas a última hipótese era demonstrar isso. Peguei meu celular e fui em direção as mensagens. Vi que tinha uma mensagem nova de Shinki pedindo para ligar para ele quando pudesse, suspirei, ignorei e fui a conversa com o Nara.

De: Akimichi Cho-Cho

Para: Nara Shikadai

Não me olhe assim, alguém pode desconfiar que não estou de acordo ou que existe algo de errado.”

No momento que enviei uma comoção se fez na porta do refeitório, olhamos e puder ver Inojin ao lado de Metal e Boruto. Senti olhos sobre mim e vi o rosto de Shikadai feliz em minha direção, se levantou dizendo que iria pegar café e Sarada pediu chá e confirmei querendo o mesmo que ela. Inojin acenou para nós e sentou ao lado de Sarada, Boruto se sentou ao meu lado ficando oposto a Uchiha, não a deixando feliz, pude ver no olhar dela. Metal foi em direção a Shikadai dizendo que buscaria bebidas.

Uma conversa se alojou quando o grupo estava completo, as risadas se tornaram animadas e relaxei sem me importar com as visões das pessoas. Metal falava sobre o problema que estava tendo com uma caloura de enfermagem, a forma que ele falava tornava tudo mais animado, ele nem ao menos a conhecia, mas ela sabia que quem ele era e o odiava por isso. Vi Shikadai o confortar, mas com um riso preso, as pessoas sempre gostavam do Lee no primeiro momento, animado, divertido e bonito, vindo de uma família sul coreana então tinha um ar delicado e gentil, mas ainda protetor, que fazia qualquer pessoa gostar dele ou se apaixonar a primeira vista, porém, uma pessoa pode resistir aos encantos dele. O que sem dúvida é uma surpresa.

E o dia passou tão rápido, sem me importar com os problemas envolvendo meu futuro casamento, senti que pelo menos ali, com eles, não importava se tinha seguranças em volta de nós - inclusive com todos eles, sem excluir nenhum, tinha pelo menos dois seguranças acompanhados -, mesmo sendo o menor número, e que a maior parte estava nos cantos vigiando cada movimento das pessoas que passavam. Eu pude esquecer que era a Akimichi e sorri, e consegui permanecer com ele até o dia terminar.

...

Os dias começaram a se passar rápido, não tinha resposta dos Sabaku, e para mim, acreditava que tinham desistido dessa ideia fantasiosa de casamento. O boato começou a se abaixar quando relacionaram o fato dele comigo com o apoio em relação ao futuro novo membro da família, apenas como suporto emocional amigável, e não romântico. Meus dias se tornaram mais calmos e tudo tinha se apaziguado.

Colocava a matéria de imunologia em dia, gostava da relação dele com a medicina e possivelmente seria minha escolha de carreira, trabalhar nessa área seria um sonho realizado. Senti meu celular vibrar e instintivamente o peguei me odiando por não ter o desligado. Olhei e era uma nova mensagem de Shinki dizendo que me ligaria logo depois. Tudo que me perguntava era porque, após mais de duas semanas sem notícias, eles resolve aparecer. O celular começou a vibrar rapidamente e atendi a chamada.

— Alô

Olá, é o Shinki.

— Eu vi sua mensagem, aconteceu algo? - minha mente borbulhava de curiosidade, algo que nunca consigo evitar.

Já decidiram a data do noivado e se nada der errado, foi feito uma votação e concordaram em deixá-la terminar e trabalhar como médica.

A fala dele foi sem rodeios e fez travar, o casamento aconteceria, não tinham desistido essa idiotice. Suspirei e respondi.

— Entendo, quando acontecerá o noivado? - respondi ainda formulando a frase dele e percebi que tinha recebido o aval de ser a primeira pessoa a trabalhar. Todos que escolhessem seguir as tradições, ser um príncipe, imperador ou até mesmo da família real, não podiam trabalhar em área alguma, assim como em qualquer.

Ainda esse mês.

Com a resposta dele apenas concordei e abaixei meu olhar, sentia as lágrimas se formando. Tudo que eu menos queria era aquilo, sonhava em me casar com alguém que me amo e que fosse correspondida, um casamento com Shinki é uma mera conveniência diplomática. Eu era uma peça no meio fantasioso e tudo que desejava era sumir, ir embora e jamais volta.

— Irei hoje confirmar os detalhes sobre nosso relacionamento e o que falaremos a imprensa.

Apenas concordei com um murmúrio e ele desligou, se falasse qualquer coisa choraria. Vi meu caderno já molhado e meu corpo passou a tremer. Não conseguia me controlar, eu precisava ir embora o mais rápido possível. Planos se formulavam na minha mente, ir para o Brasil e ficar com algum parente distante que me receberia de braços abertos não era algo a se descartar. Entrar em um escândalo amoroso com um plebeu prejudicaria os negócios familiares, não era uma opção. Fugir para uma área remota do Japão com o dinheiro da minha conta secreta feita para uma emergência que me ajudaria a me manter por certa de oito meses, tempo suficiente para arranjar um trabalho.

A última opção parecia tão tentadora, a mais provável de dar certo. Avisaria meus pais e eles diriam que fiz uma viagem sabática. O que já ocorreu antes com uma prima distante, herdeira de uma marca de maquiagem, fugiu para um país qualquer europeu e voltou apenas dois anos depois quando os pais desistiram de casa-lá com um herdeiro de um império chinês, também de maquiagem. Queriam a fusão das marcas, mas tiveram que desistir.

Minha mente borbulhava e aceitei que não tinha outra escolha, iria embora.

...

A carta estava em cima da escrivaninha, meu destino era Konoha, cidade natal do meu pai. Nela pedia para que não viessem me procurar, que iria voltar logo, mas que não me casaria com o Sabaku, pedia desculpas, porém afirmava que não desistiria. Quando tudo se resolvesse, iria voltar a universidade e continuaria como se nada tivesse acontecido.

Meu cabelo antes longo agora estava curto acima do ombro para maior facilidade da peruca que usava, de cor preta e longa, me ajudaria a me misturar ao contrário do ruivo alaranjado que tinha. Usava lente acastanha, os olhos amarelados da minha família materna era algo único e seria fácil me identificarem. Sai pela saída lateral que quase nunca era usada e fui em direção à estação de trem. Não tinha mais volta e eu sabia.

...

Demorou cerca de quatro horas para perceberem meu sumiço, tempo suficiente para já estar na antiga casa dos Akimichi. Meu celular apitava a cada um minuto, acumulou mais de 40 mensagens de meus amigos e cerca de 70 ligações dos meus pais.

Liguei minha internet móvel e fui em direções as notícias, nenhuma delas mencionava o casamento do príncipe ou o sumiço da primogênita dos Akimichi. Não queriam um escândalo e iriam se manter assim. As ligações cessaram e respirei fundo. A casa estava bem conservada, foi o último lar da minha avó até se mudar para Tóquio e passar seus últimos momentos conosco.

Liguei à luz e a casa continuava da maneira que me lembrava, sem dúvida meus pais pagavam para limpar e manter a casa em seu estado de tempos em tempos. Fui em direção a cozinha, conferi casa parte e decidi que deveria encher a dispensa. Ainda não escurecera e dava tempo de ir comprar comida, retirei o dinheiro para esse mês em Tóquio. Não podia deixar que tivessem a chance de rastrear o cartão.

Minha ida ao mercado foi tranquila, fiz as compras para uma semana,  na próxima compra faria uma lista mais elaborada. Fui em direção ao meu antigo quarto. Ele parecia tão pequeno naquele momento, meus olhos acabaram se enchendo de lágrimas com as lembranças da correria pela casa, da minha avó rindo dizendo que eu deveria parar ou não faria meu doce favorito, brigadeiro, eu amava e ninguém mais sabia fazer, só ela e eu parava me sentando na cozinha vendo ela ir em direção ao fogão e fazer as coisas.

Enxuguei a lágrima que teimava em cair e fui procurar outro quarto, um maior para facilitar o fato de que não tinha mais de cinco anos de idade, mas era na verdade uma jovem nobre fugindo das responsabilidades algo que não era novo ao sol, porém me fazia pensar o quão fútil podia ser, pessoas viviam em condições piores e era apenas um casamento, comparado a não ter o que comer deveria se nada.

A culpa começou a me invadir e comecei a hiperventilar, era apenas um casamento, não importava o que ele tinha feito, não importava quem ele era, eu era apenas uma garota fútil e mimada e tudo o que estava acontecendo era minha culpa, se tudo estivesse acabado a anos atrás nada disso estaria acontecendo. Meus olhos giravam que procurando algo que nem ao menos me lembrava o que era, minha mente borbulhava e as lágrimas surgiam. Eu não merecia o que tinha e eu sabia.

Meu telefone novamente começou a tocar, mas não de um toque eu me lembrava. Cada um dos meus contatos recebia uma música diferente, olhei a tela e confirmei, diziam que era número desconhecido. Por deslize, porque mais no que ninguém sabia que não podia atender nenhuma ligação, aceitei a chamada e tudo que escutei foi um grito raivoso de resposta.

Akimichi, onde você está? - a voz era grossa e raivosa o que tornava impossível uma distinção.

— Oi... - foi o que tive coragem de responder.

Onde você está, porra? - eu logo reconheci a voz, era um Sabaku, mais precisamente meu noivo.

— Tenho que ir, tch...

Se você desligar essa merda... Onde você está? - não me deixou responder - Não precisa responder, eu sei e eu vou atrás de você e vou te trazer de volta, você não irá fazer nada, entendeu? Fique longe de tudo que possa te machucar! Não se machuque Cho-Cho, por favor.

A última frase não foi clara, na verdade foi sussurrante e quase inaudível. Escutei o telefone sendo desligado, ri comigo mesma, Shinki não sabe onde estava ou muito menos imagina onde estou. Respirei fundo ignorando e fui comer o pacote de batatas apimentadas que tinha comprado junto com uma lata de chá verde com limão. Precisava de uma televisão e iria comprar uma no dia seguinte, mas logo iria escurecer e iria assistir algumas séries pelo celular, deveria procurar um emprego o quanto antes.

Bocejei e percebendo que logo iria dormir, tratei de apagar as luzes acesas. Olhei a céu já estrelado, o tempo passou tão rápido e pela primeira vez em anos vi um céu tão estrelado no Japão, não era comum aqui, o céu quase sempre estava limpo e a lua forte, mas nunca tantas estrelas, sorri e adormeci.

...

Escutei batidas na minha porta, meu rosto se tornou pálido, não conseguia olhar em direção a ela, me escondi no quarto, olhei em volta e não tinha nada que pudesse me defender. Corri para o closet do quarto e me escondi lá dentro. Meu coração estava acelerado, tudo que passava na minha cabeça era medo, medo de morrer assim, precisava pedir desculpas para meus pais, não vou ver meu irmão crescer.

Escutei as portas sendo abertas e me encolhi ainda mais, meu corpo estava entre as roupas pretas que tinha trago, com sorte não seria vista. Comecei a lacrimejar, mas tudo que consegui fazer foi manter segurar o desespero, precisava me manter calma.

Os passos se tornaram mais próximos e algumas lacrimejar já começaram a correr. Eu morreria ali, não teria uma morte calma ou veria meus pais de novo. Eu sou a culpada disso estar acontecendo. Talvez fosse o carma, os deuses afirmando que não deveria brincar com minha vida, morreria sem vê-los uma última vez por ser egoísta e não aceitar o matrimônio.

Os passos vinham em minha direção. A porta foi aberta e segurei minha respiração. Os passos pararam e olhava para a fresta na porta assustada, a pessoa era alta e estava toda de preto. Ela olhou para o closet e veio até mim, meu coração acelerou ainda mais mesmo sem saber como aquilo era possível.

A porta foi aberta e recebi um olhar raivoso esverdeado. Meu cérebro tentava processar o que estava acontecendo. Era Shinki, ele havia me encontrado

...

Estava sentada no futon e ele estava ao meu lado. Não tinha falado nenhuma palavra desde que tinha me encontrado, havia começado a chorar desesperadamente encolhida ainda entre as roupas e ele não teve coragem de me tirar de lá, apenas esperou eu sair e me sentar ao seu lado.

— Me desculpe - o pedido veio dele - eu nunca tinha a chance de me desculpar com você de verdade, espero que aceite - não sabia como responder - eu não tenho escolhas quanto a esse casamento, eu não quero que me odeie, só quero manter a boa convivência - assenti com a cabeça surpresa.

Não esperava isso vindo dele, na verdade eu simplesmente não esperava nada vindo dele. Ele era tudo que mais odiava e mais queria ser, ele era um homem japonês com uma linhagem ancestral, em toda sua vida não sabia o que era racismo, xenofobia ou machismo e tudo o que queria era ter seus privilégios. Não conseguia deixar de olhá-lo, o vi pegando o celular e enviando uma mensagem de texto a alguém. Ele me olhou novamente após enviar.

— Eu preciso levá-la de volta, não me odeie.

Levantou e me deu a mão para que pudesse me levantar, disse que deveria guardar minhas coisas o mais rápido possível ou logo teria meus pais na porta da casa. Desceu dizendo que me esperaria na sala e assim se fez.

...

Eu me odiava, ele me encontrou em tão pouco tempo, devo ser realmente uma péssima fugitiva ou meu carma continua tramando contra mim, não consegui me manter longe dele nem por dezoito horas. Ele me encontrou e agora me caiu a ficha, ele me viu no momento mais vulnerável que já tive, chorando aos prantos pensando que morreria encolhida em meio as roupas amontoadas no chão.

O fitei surpresa, ele havia me achado e eu nem imaginava como, qualquer pessoa que me conhecesse imaginaria que iria para qualquer lugar menos Konoha, lá foi onde conheci ele e todas as pessoas importantes na minha vida, cresci com eles e sempre o encontrava nas férias. Mas lá passei os piores momentos que já tive, ninguém me acharia louca o suficiente para voltar para lá, porém tudo indicava que ele sim.

Ele dirigia concentrado na pista, fazia três horas que estávamos na estrada e ele não havia falado uma palavra se quer. Eu me voltei para a pista quando uma forte visão de flash’s vieram em direção ao carro, quando vi tinha diversas pessoas a nossa volta e escutei Shinki xingando baixo as piores palavras possíveis. Ele teve que diminuir a velocidade para não causar algum acidente. 

O dia estava claro, como o Imperador explicaria seu único filho chegando durante a manhã com um garota que já foi um exposta como supostamente sua namorada. Meu estômago embrulhou de medo, eu acabei de destruir tudo que minha família criou pois sem dúvida agora o casamento foi desfeito, Sabaku no Gaara não é o tipo que aceita confusões e fofocas na mídia. Estava feliz porque provavelmente não me casaria, mas não conseguia ficar feliz sabendo o que tinha causado a toda minha família.

Estávamos chegando em casa e novamente estavam cercado de repórteres e paparazzis. Assim que chegamos o portão principal se abriu e entramos. Não podemos falar nada para não gerar mais alvoroço para todos, meu corpo estava bambo e assim que desci do carro quase cai, mas Shinki me segurou rapidamente e pudemos ouvir gritos maiores vindo de fora, ele capitaram o momento e isso seria pior que o inferno.

Encontrei meus pais sentados na sala de estar, minha mãe estava sendo acolhida pelo meu pai com um rosto que denunciava choro, quando levantou estava bamba e foi segurada assim como o Shinki me segurou - e ainda continua me segurando - pelo meu pai.

Veio em minha direção e me abraçou fortes sussurrando desculpas e tocando em mim como se não acreditasse que estava em sua frente. Meu pai me olhava assustado e pela primeira vez durante toda minha vida o vi chorar e me abraçar sem minha mãe se desvincular e mim. Não conseguia falar mais nada e sabia que meu rosto estava contorcido de surpresa, ao invés e alegria e felicidade.

Assim que me soltaram que um dos empregados tinha levado a mala para meu quarto e percebi a  presença de todos os Sabaku, o rosto do patriarca estava calmo, não demonstrava surpresa, alegria ou qualquer coisa. Apenas calmo e sem emoção alguma. Sua esposa Tenten por outro lado me olhava solidária, algo me dizia que o casamento deles também foi por conveniência. Enquanto Shinki estava sério e com um olhar que conhecia bem, mas não sabia definir como era.

— Sinto muito - me reverenciei e direção a todos presentes.

— Filha, você está bem, só isso importa agora - a voz veio da minha mãe, tão gentil e calma - Obrigada Shinki, por encontrá-la.

O agradecimento me pegou de surpresa e me questionava se meu plano teria dado certo se Shinki não tivesse me encontrado, provavelmente. Ele sorriu em resposta e acenou com a cabeça, seu pai o olhou e depois a mim.

— O casamento não será cancelado, será anunciado daqui a duas horas antes que tudo isso esteja nos jornais.

Meu rosto estava em choque, ele não cancelou o bendito casamento depois da minha fuga e do flagra. Ele queria uma boa visão internacional, os líderes de diversos países de maioria negra - em grande parte latinos - não estavam contentes com eles depois do assassinato de um jovem negro a sangue frio em Quioto. Eles estavam mais empenhados em erradicar o racismo ou ao menos fingir isso e diversas campanhas estavam sendo feitas, mas eu era uma peça importante.

Meu pai levou Gaara para o escritório enquanto minha mãe me levou até meu quarto. Naquele noite recebi a visita de Tenten, conversar com ela foi no mínimo esclarecedor. Quando terminamos nossa conversa me abraçou e após me beijar na testa, me deixou apenas com Shinki. Deitada em minha cama ele me olhava como se eu fosse uma boneca de porcelana prestes a quebrar a qualquer momento.

Quando tentava me ajeitar na cama ele me colocou me puxou e me colocou sentada dizendo ir precisava tomar banho e pela primeira vez vi um misto de surpresa, confusão e dúvida no seu rosto. Ele não poderia entrar nesse momento, porem estava cuidado de mim como um cão e seu isso.

— Estarei na porta, me chame caso precise de algo.

Assenti e fui para o closet pegar as roupas necessárias, novamente com sua ajuda. Após o banho ele continuou me ajudando, tudo que era de objeto afiado estava tirando do quarto, “ele acha que eu vou me matar?” minha mente se questionava, porém não tinha forças o suficiente para contestar, precisava dormir e assim adormeci, com ele ao meu lado e mesmo que tenha sido um sonho ou uma alucinação, possivelmente uma peça pregada por minha mente, sentir seus dedos fazendo um leve carinho em minha cabeça me fez ter bons sonhos.


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Notas finais do capítulo

Tive que escolher alguém com características parecidas com a de Shinki, no Japão não é comum adoção e na verdade lá não tão bem visto e o imperador adotar sem duvidas não iria acontecer então precisava de alguém que me lembrasse ele e a primeira que me veio à mente foi Tente e eu amei esse casal e não espere muito casais apenas heteros, vai ter bissexualidade, panssexualidade e inclusive assexualidade então respeite ou não leia.

Obrigada por ler e deixe seu comentário.



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