Equidistante escrita por Gaia


Capítulo 7
Desvios e honestidade




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(A imprevisibilidade do clichê)

Desviar de seu caminho usual para ir para ir embora do trabalho era um esforço que valia a pena. Se tinha uma coisa que Magnus odiava era situações desconfortáveis causadas por erros facilmente evitáveis. Ele até estava trabalhando por mais tempo para não ter que  se colocar em uma situação que não queria. A verdade é que tinha se adaptado bem ao turno da noite e sentia que estava prestes a concretizar o seu sonho.

A rua paralela não era nem um pouco charmosa e peculiar como a da padaria, mas talvez essa fosse a graça de Nova York, afinal. Cada rua era diferente e a surpresa podia estar em cada esquina. Provando a tal da imprevisibilidade que ele tanto gostava.

Mas quando Magnus pensou no imprevisível, ele imaginou food-trucks de comidas exóticas, artistas de rua ou perímetros fechados para alguma gravação de filme. Não um esbarrão com a pessoa que estava tentando evitar para começo de conversa. Isso não era imprevisível. Se alguma coisa, era dolorosamente previsível, uma peça irônica do destino, provando mais uma vez que realmente o odiava. Só faziam duas semanas, o mundo podia pelo menos esperar mais um pouco.

“Alexander!” Ele berrou involuntariamente depois de bater de frente com ninguém menos que Alexander Lightwood.

Magnus não conseguiu distinguir o que Alec tinha protestado com a trombada, estava ocupado demais xingando mentalmente o universo. Quando ele finalmente conseguiu olhar para frente, viu que seu ex-pretendente estava o encarando fixamente, como se estivesse analisando sua expressão. Se ele tivesse um espelho, saberia que o que Alec estava vendo era uma expressão de total e completo pânico, além de desconforto.

“Por que você não me ligou?” Alec finalmente se manifestou, depois do que pareceu ser uma eternidade em  um silêncio julgador.

O coração de Magnus apertou. Não por causa da pergunta indiscreta ou pelo desconforto da situação. Foi por causa da honestidade naqueles olhos claros, brutal honestidade que tinha o atraído para começo de conversa. Lá estava Alexander Lightwood de novo, como da primeira vez, sendo corajoso, direto, completamente indiferente a condutas sociais pré-estabelecidas, tirando Magnus totalmente de sua zona de conforto.

Por um segundo, ele invejou a sua franqueza. Ele queria responder a verdade. Que não ligou porque achou que Alec não queria nada com ele, que estava confuso, que não saberia o que dizer. Que uma ligação tornaria tudo o que aconteceu real e ele não saberia lidar com isso. Que não saberia explicar porque se afastou sem ter que dissertar sobre uma vida de inseguranças.

“Eu não tenho o seu número.” Resolveu dizer, escolhendo uma verdade que não poderia estar mais longe do real motivo.

O olhar taciturno e receoso de Alec se transformou. Era felicidade que Magnus via no brilho que tinha surgido em seus olhos? Ou estava imaginando coisas para satisfazer as suas fantasias?

“Se tivesse, você me ligaria?” Ele perguntou imediatamente e Magnus teve certeza que não era sua imaginação, Alec estava realmente satisfeito com a sua resposta. Estava aliviado por Magnus não tê-lo rejeitado. O coração dele apertou mais um pouco.

“Você que sabe onde eu trabalho, por que não passou na padaria?”

“Você não respondeu a minha pergunta.”

“Porque foi uma pergunta muito idiota.”

Finalmente, Alec foi pego de surpresa. Ele ergueu as duas sobrancelhas, sem entender e Magnus passou a mão pelos seus cabelos espetados, tentando encontrar palavras para explicar o que estava pensando sem parecer um completo lunático. Mas Alec estava parado ali na sua frente, vulneravelmente honesto, sem nenhum filtro, totalmente preparado para qualquer coisa que Magnus pudesse dizer. Então resolver responder fragilidade com fragilidade e foi o mais honesto que conseguiu ser, depois de tanto tempo se escondendo por trás de suas barreiras: 

“Claro que sim! Se você quer saber, eu pensei em te ligar logo depois que você saiu da minha porta naquela noite. Mas ainda bem que não liguei, porque isso… Nós, qualquer coisa que isso seja. Não pode acontecer.”

Alec piscou algumas vezes, absorvendo aquilo, mas Magnus percebeu que ele ficou feliz com a sua honestidade e se permitiu expirar o ar que estava segurando.

“Por que não?”

Honestidade com honestidade, Magnus reafirmou em sua mente.

“Porque é óbvio que você é um destruidor de corações, Alec. E eu já tive meu coração quebrado muitas vezes.” Ele murmurou, quase sussurrando a última parte, torcendo para que Alec não percebesse todas as inseguranças e dores que transbordavam daquela frase.

(A imprevisibilidade do amor)

“Eu… Quê?” Alec não podia acreditar no que estava ouvindo. De todos os motivos pelos quais ele imaginava  que Magnus não tinha ligado para ele (porque beijava mal? Por sua desinteressante personalidade? Por sua falta de tato?), ele nunca imaginaria que era por um que não podia ser tão mais longe da verdade.

“Não me faça repetir.” Magnus tinha desviado o olhar agora. Alec conhecia essa manobra, era mestre nela. Demonstrava insegurança, ansiedade por uma resposta desagradável.

“Desculpe, eu só estou impressionado por você achar isso de mim.” Rapidamente afirmou, querendo esclarecer aquilo o mais rápido possível.

Magnus voltou a olhá-lo, agora com seus olhos demonstrando uma real curiosidade, um pingo de esperança que há tempos tinha ido embora.

“O que isso quer dizer?” Ele perguntou, quase como se estivesse tentando se defender de uma acusação grave. Como Magnus podia ser tão cego? Como ele não percebia o que Alec estava tentando dizer?

“Que está óbvio que, de nós dois, você é o único que pode ser taxado de destruidor de corações.” Ele esclareceu diretamente, tentando ao máximo não usar um tom hostil ou sarcástico.

“Não me faça rir! E eu não sei se eu fico ofendido ou-”

“Magnus, eu não tenho um encontro há mais de três anos. E eu certamente nunca tive o coração de alguém para… Destruir.” Alec soltou, sem pensar.

Ele não queria ter falado tanto, não queria ter exposto suas vulnerabilidades assim, mas era tarde demais. Ele já estava exposto desde a primeira vez que tinha chamado Magnus Bane para sair, sabendo que provavelmente não tinham nada em comum. Tinha exposto no encontro, quando retribuiu o beijo de forma tão obviamente sedenta. E tinha exposto de novo naquela noite, quando perguntou porque ele não tinha ligado.

E agora, se uma coisa que Alec estava, era vulnerável. Suas palavras só provavam isso. Mas apesar disso, continuavam verdades. A dura e real verdade que tinha o tornado mentiroso para os seus irmãos e si mesmo. Porque, por muito tempo, ele negou essa parte da sua vida, a parte que o consumia, que o impedia de dormir, o vazio que o fazia focar no trabalho de forma quase obsessiva.

Precisava admitir o que faltava. Precisava reconhecer a dor, o vazio, a carência.

Encarou Magnus e viu, em seus olhos mágicos, uma compreensão que nunca tinha visto em outro olhar. Nem de seus irmãos, nem de sua família, nem de nenhum amigo que tivera na infância. Magnus entendia. Ele também estava vulnerável, ele também estava se arriscando, também estava reconhecendo o vazio e tentando saciá-lo.

“Eu acho que se não tivéssemos perdendo tempo assumindo coisas, talvez…” Magnus finalmente falou, inquieto.

“Talvez o quê?” Alec perguntou prontamente, precisava saber o resto daquela frase como precisava de café na tarde que se conheceram.

“Você não achou que o nosso encontro foi péssimo? Quer dizer, nós não temos nada em comum, não conseguimos manter uma conversa se quer! E ainda assim, você…”

Alec só o encarou, esperando ele terminar. Ele não ousaria negar aquilo, era a verdade. Só mais uma daquelas tais verdades duras e reais que ele precisava reconhecer.

“Talvez não totalmente péssimo, quer dizer, o fim foi… O que eu estou tentando dizer é que, apesar de tudo, eu não consigo parar de pensar em você.” Magnus finalmente disse e Alec soltou o ar que estava involuntariamente segurando.

“Eu também não. E realmente não faz sentido. Você é totalmente fascinante e eu sou… Normal.” Admitiu, vocalizando mais uma vez o seu mais profundo interior, para que não sobrasse mais nada que os impedisse de seguir em frente com aquilo, o que quer que fosse.

Magnus então riu e Alec não conseguiu segurar o sorriso involuntário que surgiu em seus próprios lábios. 

“Normal? Alexander, eu fiquei o encontro inteiro tentando te impressionar. Contando histórias extravagantes das minhas viagens de baixo-orçamento porque você parece um super-herói.”

“… Super-Herói?”

Então, eles começaram a gargalhar. Risadas que estavam presas há muito tempo, risadas descontraídas, aliviadas, realmente felizes. Risadas que previam um futuro que ainda não sabiam, mas estavam prontos para descobrir.

“Acho que temos que parar com esse lance de expectativa e realmente tentar nos conhecermos.” Magnus finalmente sugeriu e Alec sentiu que já o conhecia infinitamente melhor depois daquela interação brutalmente honesta do que no encontro.

Honestidade com honestidade.

“Concordo."

 


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Notas finais do capítulo

Inverti a ordem dos POV nesse capítulo por motivos de: era preciso. Admito que a Monica (para quem viu FRIENDS) em mim deu uma leve surtada, porém sacrifícios têm que ser feitos em prol da história.

Eu queria muito que o primeiro encontro depois do awkward date fosse POV Magnus, porque eu precisava salientar a honestidade do Alec. E também queria muito que o resto fosse POV Alec porque eu queria que ele ficasse todo in love. Essa explicação faz sentido na minha cabeça. Enfim, curtiram?

Beijocas :*