Equidistante escrita por Gaia


Capítulo 6
Mentira e negação são coisas muito diferentes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/760193/chapter/6

(Cobranças)

“Alec Lightwood, você está atrasado!” Isabelle parecia extremamente feliz ao constatar o fato, que para Alec não era nada menos que desastroso. “Por favor, me fala que foi porque você não conseguiu acordar?”

Ele se contentou em acenar com a cabeça e ela sorriu ainda mais.

“Jace! Alec conseguiu dormir! Ele arranjou um namorado!” Ela gritou por cima do seu computador, sem se preocupar com discrição. 

“Izzy!” Alec exclamou, inconformado ao ver as faces de seus colegas virando-se para encará-lo.

Ela irmã ignorou o escaldo.

“O quê? Vai me dizer que foram exercícios?”

“Não.” Respondeu, a contra-gosto.

“Eu estou tão orgulhosa!” Isabelle exclamou, agora segurando as mãos de Alec.

Jace apareceu, igualmente satisfeito com as notícias.

“De nada.” Falou simplesmente, como se o crédito por uma boa noite de sono fosse todo seu.

“Pelo quê?”

“A ideia foi minha de você arranjar alguém, não foi?” Jace respondeu, com um sorriso maroto que Alec e Isabelle conheciam bem demais.

“Cala a boca. Nos conte tudo, Alec! O que aconteceu exatamente?” O olhar de desprezo que Isabelle tinha reservado para Jace se transformou imediatamente ao olhar para Alec. Ela realmente estava orgulhosa e sua preocupação sempre foi genuína, ele não podia ignorá-la, como certamente queria.

“Nada aconteceu! Sai com um cara, choveu muito e tive que ficar na casa dele até a tempestade passar. Voltei tarde e consegui dormir. Eu falei que era o café.”

“Isso é triste, Alec. Triste.” Jace murmurou depois de um balanço de cabeça e se afastou, claramente decepcionado.

“Mas e aí? Vocês vão sair de novo? Que cara?” Isabelle continuou a indagar e Alec soube que ela não iria descansar até saber todos os mínimos detalhes de seu encontro desastroso do dia anterior.

Então ele contou tudo. Falou sobre como Magnus estava vestido como se tivesse saído de uma sessão de fotos, sobre o caminho silencioso, as conversas desconfortáveis e sobre como ele parecia extremamente interessante com suas aventuras. Lembrou da tempestade, do cheiro dos pães e da sua arte e, finalmente, reviveu o beijo. Contou como nada naquele beijo pareceu normal, como se ele nunca tivesse realmente beijado alguém na sua vida, até aquele momento.

“E depois?” Isabelle ouvia atenta, sentada confortavelmente na mesa de Alec enquanto lixava as unhas, sem se importar com os olhares julgadores de seus colegas de trabalho que claramente estavam tentando trabalhar.

“Eu fui embora.” Alec respondeu, tentando pegar alguns papeis de baixo da perna dela, desesperado para mudar de assunto ao perceber o quanto tinha compartilhado.

“Quê?” Isabelle desviou o olhar das unhas e encarou Alec, incrédula. “Você está me dizendo que se beijaram apaixonadamente e você simplesmente foi embora? Depois de ter sentido coisas que nunca tinha sentido antes?”

“Ele que se afastou. Ele não quer nada comigo.” Alec murmurou, encarando a parede. Já era doloroso o suficiente lembrar daquela cena sem ter dois pares de olhos julgadores o analisando com atenção. Ele tinha saído do loft desnorteado, sem saber o que fazer, mesmo sabendo exatamente o que queria fazer: voltar. Mas Magnus o tinha afastado e ficado em silêncio, claramente arrependido de ter feito qualquer movimento. Será que Alec beijava tão mal? Será que Magnus só estava vendo se podia salvar o resto de sua noite terrível?

“Alec! Óbvio que não! Escuta, você vai passar na padaria hoje, né?” Ela perguntou, procurando a atenção dele.

“Não! Por que eu faria isso?” Essa era a última coisa que Alec queria fazer. Passar pelo momento constrangedor de rever um pretendente de um encontro ruim, alguém que claramente o tinha rejeitado. Alguém cujo olhos e cheiro ainda o assombravam.

Ele se odiou por não ter pensado antes que não poderia mais frequentar o seu lugar favorito na cidade. Por que tinha sido tão burro? É claro que não ia dar certo e que ele não poderia mais entrar lá, pelo menos até James voltar ou outra pessoa entrar. No que raios ele estava pensando em ter chamado Magnus para sair? E por que ele não conseguia parar de pensar nele desde que saiu de seu loft?

“Porque vocês tem que sair de novo!” Isabelle quase gritou, agora recebendo alguns pedidos de silêncio. “Alec, eu não consigo lembrar da última vez que você se interessou o suficiente por alguém a ponto de chama-lo para sair. Ou da última vez que você me descreveu um beijo como se estivesse em uma novela de época. Você tem que dar outra chance pra esse cara, ele claramente fez efeito em você.”

Ela estava certa, Magnus realmente tinha causado uma impressão. Alec não conseguia parar de pensar em seus olhos e seus lábios e no cheiro de seus pães. Mas tudo tinha limite, inclusive o ignorar da razão. Ele tinha que aceitar que tinha sido rejeitado, que Magnus não queria nada com ele, que tinha o afastado e o deixado ir embora, sem nenhuma esperança de retorno.

“Ok, Izzy, eu passo lá hoje.”

Era mentira.

(Memória seletiva)

“Eu não acredito que eu fiz isso de novo.” Magnus reclamava, enquanto acariciava o seu gato Chairman Meow no braço da poltrona na qual estava confortavelmente sentado.

“O quê, exatamente?” Catarina respondeu, enquanto saboreava um dos croissants que Magnus tinha preparado  naquela noite chuvosa.

“Me apeguei.”

“Elabore.” Ela pediu, distraída com o recheio abundante que caia nos seus dedos.

“Você sabe, o de sempre. Vi um par de olhos bonitos, me deixei levei pelo desejo, beijei o sujeito, senti como se meu coração fosse explodir e que eu nunca fosse encontrar alguém igual, deixei-o ir embora e agora eu sinto que-”

“Espera, volta.” Catarina soltou o croissant no prato, de repente prestando uma atenção incomum para o assunto. “Sentiu como se seu coração fosse explodir e nunca fosse achar outra pessoa igual? Isso é novo.”

“Eu disse isso? Eu quis dizer que o beijo foi bom.” Magnus corrigiu imediatamente, desviando o olhar.

“Magnus.”

“Catarina.”

Ela revirou os olhos e agora foi para perto do amigo de infância. Não existia nada que os dois não compartilhassem e percebiam bem quando o outro estava mentindo, inclusive para si mesmos. Catarina sabia que Magnus não se apaixonava facilmente. Sabia que ele mantinha seu coração lacrado a sete chaves porque já tinha sido machucado demais. Ele não era desvendado facilmente e muito menos cativado.

Suas barreiras tinham sido solidificadas há muito tempo e não era qualquer um que podia quebrá-las. Claro que Magnus não deixava de se divertir, mas realmente se apaixonar era um ato tão estranho quanto não cozinhar todos os dias. Por isso que quando Catarina pegou o brilho no seu olhar e as palavras que escaparam descontraídas, ela não teve dúvidas de aquilo não tinha sido um encontro qualquer.

“Me conta desse Alec Lightwood.” Ela insistiu, agora prestando total atenção.

Magnus não queria falar nada. Ele percebeu que ela pegou a sua fraqueza assim que ele mesmo a percebeu quando a escutou em sua voz. Catarina era inteligente o suficiente para não acreditar em nada que não fosse a verdade e o conhecia bem o bastante para impedi-lo de mentir para si mesmo.

Chairman Meow se espreguiçou e pulou para o chão, deixando Magnus sem saber o que fazer com as suas mãos. Ele estava ciente do olhar de Catarina e sabia que não podia fugir. Então ele falou. Descreveu o encontro como lembrava, desastroso no começo, iluminador do meio e maravilhoso no final. Descreveu os olhos azuis penetrantes, a presença quase militar e o zero senso de estilo de Alec. Descreveu como teve o impulso, -contrário a qualquer racionalidade de seu ser- de beijá-lo e como se arrependeu por ter se afastado, por ter sido forçado a pensar. E por fim, descreveu exatamente como se sentiu quando a porta fechou e ele ficou sozinho no loft.

“Eu quis que ele voltasse.”

“Magnus…”

“Ele deve ter achado que eu não queria nada, que eu me arrependi de tê-lo beijado, porque fui eu que me afastei. Mas eu só me afastei porque foi demais… Demais muito rápido, entende?” Ele de repente quis muito que Catarina entendesse o que ele estava falando, que pudesse pelo menos convencer uma pessoa de que suas inseguranças da sua mente faziam sentido.

“Você tem que sair com ele de novo.” Foi tudo o que ela disse, depois de um longo tempo em silêncio.

Mas ele não podia. O que iria dizer? Que sentia que já o conhecia há anos, mesmo tendo passado poucas horas juntas? Que nunca se sentiu daquele jeito beijando outra pessoa? Que não sabia o que era aquilo, mas estava desesperado para descobrir?

“Eu não posso. Ele deve achar que eu sou maluco ou desesperado. Quer dizer, depois de um encontro péssimo, eu o convido para a minha casa e ainda o beijo. Até eu ficaria incomodado. A não ser que a pessoa fosse aquele cara gato do último filme que vimos, ai talvez eu-”

“Ele retribuiu!” Catarina apontou, interrompendo seus devaneios. “Magnus, eu te conheço, você sabe ler sinais. Não me diga que esse cara não pareceu afim de você. Ele que te chamou pra sair, afinal.”

“Os sinais diziam claramente que ele estava muito arrependido de ter feito isso.” Magnus respondeu, sem tentar maquiar a verdade que tinha sigo jogada cruelmente na sua cara naquela noite.

Sua amiga revirou os olhos ao mesmo tempo que seu pager tocou.

“Salvo pela fragilidade do corpo humano.” Ela reclamou, levantando-se e pegando as suas coisas no cabideiro. “Promete que vai dar uma segunda chance?”

Magnus viu os olhos determinados de Catarina e suspirou, ele não merecia toda aquela preocupação e afeto, e certamente não merecia cobranças e palpites sobre a sua vida amorosa, mas estava agradecido de qualquer forma. Pelo menos tinha alguém que se importava. Somente por ela, ele disse:

“Tá, você venceu! Se ele aparecer, eu o chamo para sair de novo.”

Era mentira.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Dá pra cheirar a negação no ar? Haha

Enfim, curtiram? Comentem, criticas são sempre bem vindas :D

Beijocas :*