O Conto da Piedade escrita por Glasya


Capítulo 8
Capítulo VII — Caracóis e Lesmas




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Na manhã seguinte, Chara e Toriel preparavam juntas seu café da manhã, reservando alguns sanduíches para comer nas ruínas. Desse modo, não precisariam voltar para casa para comer. Após um curto toque da campainha, Chara depositou sobre a mesa sua xícara e prontamente rumou para a sala, abrindo a porta e quase caindo no chão com o susto ao ver o que havia atrás dela: um fantasma.

— Desculpe… — Disse a figura fantasmagórica, em um tom lamentoso — Eu não queria te assustar… Eu… Só vim entregar isto à Toriel… Me desculpe por estragar o seu dia…

Antes que Chara pudesse dizer algo, o fantasma desapareceu deixando pra trás um grande balde cheio de lesmas vivas.

— ECA…

— Chara? Quem era? — Toriel se aproxima da menina, e abre um sorriso ao reparar no balde de lesmas — Ah! Ele trouxe! Que gentil…

Ela se abaixou e ergueu o balde do chão com uma das mãos. Algumas lesmas escapuliam pelas bordas, ficando grudadas no exterior do balde.

— Essas lesmas vão dar uma torta maravilhosa! — Cantarolou a cabra, alegremente.

— Torta? Peraí… Você. Vai. Comer. As lesmas? — Chara sorria por fora, mas tentava conter a ânsia de vômito por dentro.

— Ora, mas é claro! São super nutritivas, e saborosas também! Você vai ver!

Chara não conseguia tirar os olhos dos pequenos vermes úmidos e viscosos. Alguns já haviam escorregado pela parte externa do balde, deixando um rastro gosmento por onde seu corpo invertebrado acabou de passar. Só aquela visão já era suficiente para embrulhar seu estômago. Imaginá-los como recheio de uma torta, com sua textura gosmenta e pegajosa trazia à sua boca parte do seu conteúdo estomacal.

— Não faça essa cara, você nem provou ainda!

— Q-que cara? — Chara sorriu para disfarçar a repulsa.

— É um alimento comum entre os humanos também! Já ouviu falar de escargot?

“É nojento do mesmo jeito…” — Pensou a menina, enquanto observava Toriel tampar o balde para evitar a escapada das lesmas, e  acomodando-as na parte inferior da sua geladeira.

— Pobre Napstablook, tão distraído! Nem sequer esperou pelo pagamento. Acho que vou ficar devendo até o próximo carregamento…

— “Napstablook”? Esse é o nome dele? Ele sumiu tão depressa, parecia meio mal. Espero que não tenha sido culpa minha…

— Oh, não, meu bem. Ele é muito tímido, fica nervoso sempre que conhece alguém novo. Ainda mais humanos, que são raros aqui em baixo. Mas não se preocupe, ele não é fofoqueiro, não vai contar a ninguém que você está aqui.

— Como assim? Pra quem ele contaria? Tem mais gente aqui em baixo? Onde estão?

Apenas ao ouvir as indagações da garota Toriel percebeu que falara demais, e já era tarde pra voltar atrás: ela não tinha como desconversar, a mensagem havia sido bem clara e Chara não era idiota. Também não poderia falar a verdade e arriscar perder outra criança. Precisava ganhar tempo para selar definitivamente a entrada das ruínas, caso contrário, já sabia o destino que a aguardava além delas.

— Não vai querer conhecê-los.

— Por que?

— Porque são maus, minha filha. Especialmente o rei.

— Como assim, “maus”?

— Ora, mas que tipo de pergunta é essa? São… Maus, ué. Odeiam humanos.

Chara ergueu uma sobrancelha. De certo não havia caído na mentira deslavada.

— Por que?

— Porque… Houve uma guerra no passado, e os humanos mataram muitos monstros… E nos selaram no subsolo. É por isso.

— Então… É isso que tem atrás daquela porta lá em baixo? Outros monstros?

— Não é educado xeretar a casa dos outros sem permissão, querida. — A voz de Toriel tomou um tom grave e severo, fazendo Chara se retesar um pouco.

— Desculpa… Eu só tava curiosa… Aquela é a saída das ruínas?

De repente, Toriel agarrou-a pelo braço com um pouco mais de força do que desejara; a menina tentou fazer força para o lado oposto, a fim de se livrar, mas não teve sucesso. As garras da cabra estavam firmemente fechadas em volta de seus braços.

— NUNCA MAIS SE APROXIME DAQUELA PORTA! VOCÊ ME ENTENDEU? — Toriel lhe deu uma sacudida.

Com medo, Chara assentiu, sem entender a súbita mudança de atitude de sua anfitriã que até então se mostrara tão bondosa e paciente. Como se finalmente se desse conta de suas ações, Toriel soltou a menina e levou as mãos à boca, gaguejando mil pedidos de desculpas. Chara agora se sentia mal não apenas por ter irritado a cabra, mas também por fazê-la se sentir culpada. Como não conseguia pensar em nada para dizer no momento, a menina se limitou a acenar positivamente com a cabeça rumar para o quarto, de onde só sairia no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Demorou mas saiiiiiu! Desculpem aí, semana que vem vai ser bem mais tranquilo de postar ♥



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