O Conto da Piedade escrita por Glasya


Capítulo 21
Capítulo XX — Retribuição Kármica


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões pelos mais de seis meses de hiato. Eu sei que é uma merda quando o autor some sem dar satisfação e quando volta sequer dá uma certeza de que vai postar com certa periodicidade, mas eu juro que vou tentar fazer valer a pena o tempo e a leitura de vocês! Muito obrigada pelos comentários e pela força, isso me motiva muito, muito mesmo.



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Sans sabia que algo estava errado. Tinha que estar. Nenhum humano, nem mesmo aquela princesa sinistrinha, havia sido tão prejudicial ao subsolo quanto Frisk; e agora a filha daquele crápula estava à solta, se embrenhando na família real como uma erva daninha, esperando o momento certo para transformar a vida de todos em um inferno. Ele precisava fazer alguma coisa.

— “chara”... — Pronunciar esse nome lhe dava calafrios. — o que é que cê tá tramando…?

Sans encarou o enorme quadro na parede de seu quarto. Nele estavam dispostas inúmeras fotografias, anotações e alguns pequenos objetos, tudo o que servisse como uma forma de registro de eventos. Ele também mantinha, trancado em uma caixa sob sua cama, um diário com páginas datadas no qual escrevia todos os dias, sem exceção. O fazia para que assim tivesse evidências concretas de alterações na trama do tempo, como já ocorrera mais de uma vez.

Revisou uma a uma, cada fotografia, cada anotação. Se lembrava perfeitamente do momento em que deixou cada uma delas ali, e isso significava que até então estava tudo em ordem. Por enquanto. Se havia algo que Sans aprendera com os humanos, é que nada ficava em ordem por muito tempo quando se tinha um deles por perto.

— como você escapou do laboratório sem manipular o tempo…? ninguém tem tanta sorte. que tipo de poder é o seu? ou será que você é só uma trapaceira suja? — Pensar em voz alta o ajudava a manter o foco. Por vezes gravava sua própria voz e a ouvia repetidas vezes, sempre que se sentia sem saída.

Mesmo que a humana não tenha alterado a linha do tempo, deixá-la circulando pelo subsolo era um risco a todos. Alphys já a teve sob custódia uma vez, era só questão de tempo até que a tivesse de novo, e se Gaster conseguisse colocar as mãos na ALMA da humana… Ele não queria nem pensar no que poderia acontecer. Sabia que não poderia contar com a ajuda Toriel nessa empreitada, ela costumava ter um fraco por crianças, isso a cegara para os perigos de se ter um humano zanzando pelo subsolo. Teria que fazer tudo sozinho.

Na página de seu diário que indicava a data atual, escreveu:

 

“pegar a alma antes que dê merda”

 

Sans sabia que enquanto aquela garota vivesse, o Subsolo não estaria seguro; se Gaster pusesse as mãos nela, absorveria sua ALMA e se tornaria um deus. Se ela por algum milagre conseguisse evitar esse destino, muito provavelmente usaria sua DETERMINAÇÃO para subjugar os monstros, ou talvez manipulasse Asgore para reinar das sombras… E ainda havia o risco de ter herdado do pai as habilidades que apenas as ALMAs com mais DETERMINAÇÃO tinham: o poder de controlar o tempo. Era um poder perigoso demais para ser deixado nas mãos de um humano. Enquanto dormente talvez não representasse perigo, mas a partir do momento em que ela entrasse em contato com a magia dos monstros… Poderia ser um grande problema.

Guardou seu diário e digitou a senha no painel eletrônico ao lado da saída; quando viu a frase “sistema de segurança ativado”, deu-se por satisfeito e deixou o cômodo, cobrindo sua entrada com o guarda-roupas. Não demorou muito para perceber que sobre a pilha de roupas que se acumulava em uma cadeira no canto do quarto havia um bilhete que dizia: “SANS, VOCÊ AINDA NÃO TIROU AQUELA MEIA DO CAMINHO!!”¹. Arrancou uma folha de papel do bloquinho adesivo e escreveu “ela não está no caminho” como resposta, e colou-o sobre o bilhete anterior.

O quarto de Sans era uma verdadeira zona, o que acabava auxiliando na hora de ocultar seu material investigativo, embora enfurecesse seu irmão profundamente. “são os ossos do ofício…” — Pensou o esqueleto, rindo consigo mesmo. Definitivamente usaria essa depois, de preferência com Papyrus.

Saiu de seu quarto e atravessou o corredor escuro até o quarto de seu irmão, que já estava adormecido, ainda de uniforme. Ajeitou-o na cama e o cobriu, dando-lhe um suave beijo na testa. Tomando cuidado para não acordá-lo, saiu de fininho e apagou a luz do quarto, acendendo a do corredor² e deixando a porta semiaberta, de modo que a luz ainda atingisse o esqueleto adormecido.

— eu vô cuidar de você, irmãozinho… que nem você cuidou de mim³. pode deixar comigo.

Desceu as escadas e fechou os olhos. Após alguns minutos de concentração, estava no interior do palácio. Fazia tanto tempo que não andava por aqueles corredores que temeu não conseguir um teleporte bem sucedido, mas ao que parecia sua memória estava suficientemente boa.

Ocultando-se atrás das grandes pilastras, fez seu caminho pelo salão principal até o jardim, onde pôde ver seu alvo. A menina estava de costas sentada sobre os joelhos, examinando algo no chão à sua frente, provavelmente uma das flores do rei.

“mais fácil do que eu pensei…” — Sans ergueu a mão na direção da humana, fazendo um osso longo e afiado despontar de sua mão.

"toriel nunca vai me perdoar..." — O pensamento passou pela sua cabeça, mas se livrou dele tão rápido quanto ele viera.

— desculpa aí, tori. mas isso é pelo bem do subsolo… — Disse o esqueleto em voz baixa, para si mesmo, enquanto mirava cuidadosamente o coração da jovem.

“isso vai ser rápido e misericordioso, guria… como seu pai nunca foi.”

No exato instante em que o osso se projetava na direção de seu alvo, um forte tremor abala as estruturas do castelo, e parte do chão entre Sans e a humana é arrebentado, fazendo com que o osso resvalasse nas pedras e passasse bem longe de seu alvo.

— mas que merda!? — Sans é jogado para trás na explosão de rocha e gelo, perdendo completamente a humana de vista em meio à nuvem de poeira que se formava no jardim.

Uma lança de gelo colossal havia atravessado o centro do jardim e cavado uma enorme cratera teto acima, e um urro raivoso se sobressaiu à confusão. Só havia um monstro em todo o mundo que poderia ser responsável por aquilo.

— tsc. que droga, undyne… estragando tudo como sempre! — O esqueleto apressou-se em correr. Precisava achar um canto sossegado onde pudesse se concentrar para se teleportar com segurança, e rápido. Teria que esperar outra oportunidade para dar cabo do problema.


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Notas finais do capítulo

¹ Na casa dos irmãos esqueletos em Nevada, há uma meia na sala com uma série de bilhetes sobre ela e um diálogo hilário entre Papyrus e Sans, onde Paps tenta fazer com que seu irmão guarde a meia, mas Sans se recusa. Pelo visto, ela ainda está lá.

² Achei que fizesse sentido o Paps ter medo de escuro.

³ Na minha cabeça doida, o Paps é o irmão mais velho, apesar de ser ingênuo e às vezes infantil.



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