O Conto da Piedade escrita por Glasya
Notas iniciais do capítulo
Agradeço muito pelos reviews deixados na fic, vocês não sabem COMO eles me motivam ♥
Agradeço pela paciência também porque os capítulos demoram horrores pra sair... Sofro de um mal chamado REVISÃO INFINITA: eu escrevo um cap, e aí leio, releio, leio de novo... E nunca tá bom. D:
Perdoem a neura e não desistam de mim kkk
Flowey chorava sozinho em um canto escuro no laboratório subterrâneo, atrás de uma grossa pilastra de concreto. Algo naqueles corredores frios lhe confortava, talvez o silêncio ou a presença de seres quase tão infelizes quanto ele próprio.
— Aquela… Aquela..! — Seus soluços levavam embora suas ofensas. — Eu… Eu não tenho ALMA! Eu… Não tenho… SENTIMENTOS! Por... Por que tô chorando?
— Porque você sempre foi um bebê chorão, Azzy. Com alma ou sem. — A conhecida voz que o acompanhava desde que se tornara uma flor falou. Ela sempre falava com ele em seus piores momentos. Nem sempre era gentil, mas sempre dizia o que ele precisava ouvir.
— Heh… Hehehe… É, não é? — Flowey secou as lágrimas com uma de suas folhas. — Eu sempre… Sempre… Choro por tudo…
— Eu pensei que depois de tudo o que passamos você tivesse se tornado menos patético. Vamos, engole esse choro e faz aquela vadiazinha pagar pelo que te fez.
— E-eu não posso, Chara… Não é como antes… Eu…
— Vai me trair, Asriel? Depois de tudo o que fiz por você?
— NÃO! Não é isso, eu nunca te trairia! É que… Eu não consigo mais… Tocar em nada… Nem falar com ninguém…
— Então ela tinha razão. Você é mesmo um fantasma inútil. É isso que está me dizendo?
— Eu…
— Pois pra mim isso parece a desculpa de um covarde. Sai já daí e vai até o palácio fazer da vida daquela garota um inferno.
O ruído pesado de uma porta de metal batendo fez a voz se dissipar com um sobressalto. Por ela entrou a Doutora Alphys, que se pôs a andar de um lado para o outro em seu laboratório, estalando nervosamente os nós dos dedos enquanto andava, e a apreensão da mulher-lagarto começou a deixar Flowey igualmente nervoso. Seu primeiro impulso foi o de sair dali antes que porventura sua criadora percebesse sua presença, mas a chegada de uma outra figura prendeu a atenção da flor, que decidiu esticar-se um pouco para fora da pilastra para melhor observar o que acontecia.
O pequeno monstro cinzento carregava no rosto uma expressão de eterno pavor, e apesar de seus olhos vazios não mais serem capazes de enxergar a luz, a criatura parecia se orientar suficientemente bem.
— Err… Oi. — Começou Alphys. — Hum… Cadê… Os outros…?
— Eles não vêm. — Respondeu a criatura, sem nenhum tipo de entonação em sua voz. — Apenas o mestre quer falar com você. A sós.
Dito isso, o monstro cinzento abre seus braços e começa a mudar de forma. De um pequeno homúnculo cinza de olhos esbugalhados¹ ele se torna uma massa amorfa enegrecida, que escurece e clareia conforme cresce e se revela em um monstro deformado demais para lhe ser designado um tipo. Seu crânio branco continha enormes rachaduras, e suas mãos eram vazadas no centro, mas estranhamente não era possível ver nada por entre os buracos.
— Doutora Alphys. — A figura pálida e horrenda pronunciava as palavras pausadamente e com um forte sotaque, como se tivesse dificuldade em falar outra língua que não a sua². — Vim até aqui esperando boas novas, mas tudo o tive foi a constatação de um fracasso retumbante. Que deprimente.
— E-eu… Só tive um contratempo…
A criatura se aproximou de Alphys, ainda sorrindo, cruzando os dedos em frente ao peito.
— “Contratempo”? Este é um novo nome para “incompetência”? Porque até onde sei a humana escapou e Dreemurr ainda está no poder… E isto para mim pode significar apenas duas coisas: ou o poder da humana ultrapassa tudo o que já vimos até hoje e ela trabalha para a coroa… Ou que a doutora é irremediavelmente inútil. E até o momento estou fortemente inclinado a considerar a última opção.
— U-undyne está no castelo, s-senhor… Ela… E-ela vai… Derrotar o rei e…
— E provocar uma guerra civil. Acha que é isso o que quero?
— M-mas… Mas… A ideia não é destruir o trono…?
A criatura suspira e massageia as têmporas com seus longos dedos brancos como gesso.
— A sua incapacidade de seguir instruções simples me surpreende cada vez mais, doutora Alphys. Mas não a culpo por não enxergar a grandeza do meu plano… Por isso não fiz questão de explicá-la os pormenores… Mas acho que a sua estupidez excedeu tanto as minhas expectativas que me vejo obrigado a perguntar: como exatamente a senhorita acha que a sua cônjuge de inteligência limitada vai conquistar o trono sem uma ALMA humana?
— Hum… Undyne já venceu o rei em combate antes… Digo, era um treino, mas ainda assim… E-ela pode fazer de novo…
— Impressionante.
— É, ela é…
— Me referia à sua capacidade de distorcer a mais simples das ideias.
— C-como assim…?
— Já perdi tempo demais com suas tolices, doutora Alphys. Eu vou ser bem claro, e dessa vez é bom que não me desaponte: ME TRAGA. AQUELA. ALMA. — A criatura inclinou-se ameaçadoramente sobre Alphys, sua voz rouca e profunda provocando um arrepio em Flowey, mesmo à distância. — A menos que queira voltar para o lugar de onde lhe tirei.
Alphys engoliu em seco enquanto a criatura desaparecia tão repentinamente quanto surgira. O monstro cinzento estava novamente na sala, se despedindo com uma leve reverência e tomando seu rumo pelos intermináveis túneis do laboratório subterrâneo.
“Eu preciso avisar Chara!” — Foi o primeiro pensamento de Flowey.
“Você é masoquista, ou só muito idiota? Ela só vai cuspir em você de novo. É melhor deixar ela se fuder sozinha, isso vai servir de lição pra ela.” — A voz retrucou, com escárnio.
Uma outra movimentação estranha chama a atenção da flor novamente; dessa vez, a doutora Alphys segurava um dispositivo que Flowey nunca havia visto antes: uma espécie de "controle remoto" de formato ovalado, o qual segurava com ambas as mãos, apontando-o para a frente. Do outro lado do controle, Sans saía da escuridão, com os braços erguidos próximos à cabeça.
— abaixa isso, doutora. eu só vim conversar. — O esqueleto se aproximava devagar, na tentativa de parecer inofensivo, mas Alphys apenas recuava.
— V-VOCÊ TÁ ME ESPIONANDO!? E-EU SOU A CIENTISTA REAL, POSSO MANDAR PRENDER VOCÊ!
— você não vai querer fazer isso… a menos que queira jogar fora a sua única chance contra gaster.
— E p-por que eu deveria… Deveria confiar em você!? O que garante que você não vai me trair?
— porque você também é a minha única chance contra gaster. eu não sou burro, nunca sabotaria meu próprio plano.
A cientista permanece alguns segundos em um silêncio hesitante.
— C-certo. Eu vou te ouvir. — Alphys ainda mantinha o controle firme nas mãos, e apontado para o esqueleto. — Mas se tentar alguma coisa…
— você explode a minha cabeça, eu tô ligado.
— Bem, na verdade eu não… Hã… Eerr… Digo, sim! É isso aí! Então… hum… Fala, desembucha!
— você sabe pra que gaster quer a alma, e sabe por que não pode dar a ele.
— Eu achei que… Bem, ele só… Quer sair daquele lugar horrível³… Você não iria querer o mesmo?
— pfft. você não tá comprando essa historinha pra monstrinho dormir de verdade, está?
— E-eu… Eu não tenho escolha…
— não é questão de escolha, é questão de bom senso. você lembra do que aconteceu com o príncipe quando ele absorveu uma alma humana. e ele era só uma criança… agora imagina gaster com esse poder. é isso que você quer? eu conheço você, alphys. e conheço gaster também. sei que você não é assim, e seja lá o que ele te prometeu, sei que ele não vai cumprir.
— E o que sugere que eu faça!? — Alphys estava a ponto de chorar. Limpou os olhos por baixo dos óculos, aflita. — Que traia o doutor Gaster e acabe num lixão?! Ou pior?! Sabe-se lá o que ele vai fazer comigo se eu não conseguir essa alma! Ou com Undyne?! E-eu não posso arriscar!
— entrega a alma da humana pra mim, e eu prometo que dou um jeito em gaster.
— E depois dá um jeito em MIM, né?
— eu já disse, preciso de você, não sou idiota.
— Se eu te der a alma, não vai mais precisar.
— também não sou ingrato.
— Não tenho como saber.
— prefere confiar no cara que te ameaça diretamente? — Sans fez uma breve pausa. — pode confiar em mim, fechar um bom acordo e salvar o subsolo… ou deixar gaster por as mãos nesse poder e destruir tudo. a escolha é sua.
Alphys engoliu em seco. Relutante, abaixou o dispositivo e se recostou à parede.
— E-eu… Eu preciso de um tempo.
— todos nós precisamos, doutora. bem, eu tenho um compromisso agora, então a gente se vê por aí.
O esqueleto anda de volta para as sombras de onde havia saído, e ali mesmo desaparece. Flowey se encolheu atrás da pilastra novamente; era a sua vez de sumir. Sozinha em seu laboratório escuro e úmido, a mulher-lagarto solta um suspiro de alívio, seguido logo depois de um gemido de desespero.
— Eu tô ferraaaaada…
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
(1) Gaster Follower #2, espero que a descrição não tenha ficado tosca -q
(2) As falas de W. D. Gaster no jogo são todas em WingDings, que por questões narrativas decidi classificar como "outra língua", a qual Gaster é limitado exceto quando fala "através" de seus Seguidores. Espero conseguir explorar esse arco no futuro.
(3) Sim, na fic Gaster ainda está no VOID.