O Conto da Piedade escrita por Glasya


Capítulo 16
Capítulo XV — Na Teia da Aranha


Notas iniciais do capítulo

FINALMENTE! Depois de um mês no limbo acadêmico, pude respirar (e escrever) um pouco. Mil desculpas pela demora, fim de período é muito louco kkkk



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— Sans… Onde nós ESTAMOS?  — Toriel olhou ao redor, e quase não reconheceu o Ninho das Aranhas. Estava muito diferente do que se lembrava: estava bem maior, gigantesco, e as grandes teias agora atrelavam-se a incontáveis escadarias que subiam e desciam em todos os ângulos e direções, a maioria levando a lugar nenhum.

— hã… não muito longe do nosso objetivo, isso eu garanto.

— Você disse que conhecia um ATALHO!

— ei, qualé! eu não tô acostumado a viajar acompanhado, devo ter feito um erro de cálculo…

— “Erro de cálculo”? — Toriel acabou por demonstrar mais frustração do que ela pretendia demonstrar.

A rainha respirou fundo. Sabia que deveria ser grata pela ajuda de Sans, e se ele disse que estavam perto então poderiam ir andando sem problemas.

— calma, calma, a gente tá bem pertinho. vai ser meio osso, mas eu posso teleportar a gente mais uma vez…

— Não. Poupe sua magia para quando precisarmos voltar. Se estamos perto como disse, podemos andar.

— e você espera entrar no estúdio de filmagens de mettaton andando?

— Bem, eu ainda sou a rainha, não sou? Duvido que alguém se atreva a me impedir de entrar em algum lugar.

— não sabia que você era do tipo que dava carteirada…

— Eu faço o que for necessário pra ter minha neta de volta!

— tô questionando nada não. só… sério, prefiro teleportar, não é uma boa idéia ficar perambulando por aqui…

— Por que não seria? Este é o ninho das aranhas, não é? Eu conheço a família Confeiteira há gerações. Eles certamente vão nos ajudar se eu pedir.

— eu não contaria com isso… muffet manda no ninho agora, e nos negócios da família também.

— Muffet? A filhinha do confeiteiro? Ah, eu a conheço também! — Disse Toriel, com um sorriso. — Eu era babá dela quando adolescente, era assim que eu conseguia dinheiro, já que meus pais raramente me davam… Ela era tão pequenininha, me lembro como se fosse ontem, uma fofura!

— de todas as palavras que eu poderia usar pra descrever muffet, “fofura” não é uma delas.

— Como assim?

— ela é uma sociopata suspeita de ter cometido vários assassinatos, inclusive o do próprio pai.

— O que? Sans, do que está falando? Undyne vai se tornar um gênio antes que aquela garotinha possa machucar alguém.

— toriel, me escuta… ela não é mais uma “garotinha”, ela é líder de uma possível organização criminosa!

— “Possível”? Então você nem tem certeza do que está falando?

— não… digo, tenho! eu só não consegui provar ainda, mas é uma investigação em andamento!

— Sans, espalhar esse tipo de boato não é certo. — Toriel estava bem séria. Não gostava de fofocas, ainda mais quando relacionadas a alguém que conhecia desde criança. — Em que você baseia essas acusações?

— algumas atitudes e falas dela na época em que namorávamos me fizeram suspeitar de…

— Então você só está nisso pra se vingar da sua ex?

— que? não!

— Vocês homens são todos iguais… — A rainha balançou a cabeça negativamente, em desapontamento. — Por que não conseguem simplesmente superar?

— olha, isso não tem nada a ver com a investigação, e a gente nem tem tempo de discutir isso agora. — O esqueleto suspirou, levando uma das mãos à testa. — vamos sair daqui antes que ela apareça.

— Olá, queridinhos! Ahuhuhu~ — Uma voz aguda e estridente ecoou pelo ninho, vinda de algum lugar acima deles.

— merda.

— Oohh! Minha Raiiiinha!~ — A esguia aranha de pele lilás desceu por um fio de teia até pousar suavemente no chão à frente de Toriel, só então voltando sua atenção para o esqueleto, com uma expressão bem menos simpática. — E… Sans.

— Olá, minha querida! — Toriel cumprimentou Muffet com um forte abraço, e depois segurou duas de suas mãos. — Mas que bela aranha você se tornou!

— Obrigada, vossa majestade! Ahuhuhu… É uma honra recebê-la em meu ninho! Oh, como eu queria que papai estivesse aqui pra ver a grandiosidade que as aranhas conquistaram!

— Sinto muito pelo seu pai, acabei de saber que ele faleceu…

— ou foi assassinado. — Complementou Sans, em um tom de voz tão baixo que poderia ser um sussurro.

— Oh, pobre paizinho! Faleceu tão jovem! Que acidente horrível! Oh! Como eu sinto sua falta! — O rosto da aranha, antes cheio de tristeza e a ponto de chorar, se ilumina repentinamente com um simpático sorriso. — Mas não vamos falar dessas coisas tristes! Venha, Sua Majestade, fique para o chá! Aproveite para provar os novos produtos de nossa doceria!~

— Ah… — Toriel ficou confusa com a mudança repentina de humor da aranha, mas não a contestaria. “Cada um tem sua forma de lidar com o luto, afinal...” — Muito obrigada, minha filha… Eu adoraria, mas tenho algumas demandas urgentes a atender…

— Ahuhuhu~ Claro, claro! Que tola eu sou! A senhora acaba de sair das ruínas¹, certamente está ansiosa para rever o rei!

— Err… Não. É uma longa história, infelizmente não tenho tempo para explicar agora. Mas prometo que voltarei para tomar chá com você em breve. Sans, podemos ir…?

— Fantástico! Eu e minhas irmãs aguardamos ansiosamente a sua volta, Majestade! Ahuhu~ Mas… Temo que seu amigo esqueleto não vai poder te acompanhar nessa jornada.

Toriel olhou para trás e para baixo, apenas para encontrar Sans completamente imobilizado, enrolado em teias de aranha.

— SANS!? Muffet, o que significa isso? Solte-o, por favor!

— Eu temo que não seja possível, Majestade… Nós temos umas coisinhas pra conversar… Ahuhuhuhu~ — A aranha voltou seus muitos olhos para Sans, que se sacudia em uma vã tentativa de se libertar. — Se lembra do que eu disse que aconteceria se você pisasse nesse ninho de novo, queridinho?

— Muffet, por favor… Deve haver algum mal entendido… — Toriel não sabia o que fazer. Só queria tirar Sans daquela situação o mais rápido o possível.

— Não há nenhum mal entendido, Majestade. Só há um serzinho vil, traiçoeiro e enganador que brincou com meus sentimentos, me usou e então jogou fora como lixo!

Toriel olhou para Sans, que negava furiosamente com a cabeça, e murmurava algo tentando se defender.

— Ele só saía comigo pra pegar coisas de graça na doceria! E aposto que saiu com o Grillby também, só pra não pagar a conta!

O esqueleto agora mexia todo o corpo de um lado para o outro, e seu olho esquerdo havia ganhado um brilho azul. Definitivamente, Toriel não queria que a situação acabasse em uma tragédia, e nem tinha tempo pra isso.

— Me perdoe, Muffet… Mas vocês vão ter que resolver isso uma outra hora. — Disse a rainha, tocando um dos ombros de Sans. — Sans, vamos!

O esqueleto fechou firmemente os olhos, e eles se vão tão repentinamente quanto chegaram; quando Toriel abriu os olhos, deparou-se com o exato mesmo palco que vira na TV, porém o mesmo se encontrava vazio e com todas as luzes apagadas. Ajudou Sans se livrar das teias, passando as mãos flamejantes com cuidado sobre a grossa camada de fios brancos que cobria o esqueleto.

— Sabe, sair com alguém só pra comer de graça não é uma atitude muito correta, meu filho.

— que? eu não tava- eu nunca- a gente só saiu uma vez! — Sans tropeçava nas palavras enquanto batia os restos de teias de aranha da roupa.

— Você disse que namoravam... Espero que tenha pelo menos terminado com a moça antes de sair com essa tal de Grillby.

— grillby é homem...

— Oh… — Toriel parecia excessivamente surpresa com essa informação, rindo nervosamente enquanto falava. — Nossa… Por essa eu não esperava… Quero dizer… Não que eu tenha algo contra, é só… Hã… Puxa, essa juventude de hoje é bem flexível, né?

— tá viajando!? eu nunca tive nada com o grillby! vai acreditar na psicopata da muffet!?

— Já disse para não ofendê-la desse jeito. São rumores horríveis, e você não devia espalhá-los sem provas.

— só não tenho provas porque ela sumiu com todas elas e certamente devorou as testemunhas! ela é a versão aracnídea do hannibal lecter!

— Sans, chega. — Toriel olhou à sua volta, contemplando as marcas de fogo no palco e o auditório vazio. — Mas o que aconteceu aqui…? Oh, céus! Eu espero que esteja tudo bem com a minha menina!

— calma, é normal as coisas pegarem fogo nos shows de mettaton, “se não tem destruição não tem graça” é a regra de todos os programas. a gente só chegou meio atrasado…

— Eu não acredito… Viemos todo esse caminho por nada? — A cabra se ajoelhou ao lado das marcas, tentando conter as lágrimas com as mãos. — Chara… Minha querida… Me perdoe…

Sans não aguentava ver uma pessoa de quem gostava chorar. Se aproximou de Toriel e pousou gentilmente a mão óssea em seu ombro.

— ei, calma aí… não chora. se liga, eu sei onde mettaton mora. vamo lá bater um papo com ele, talvez chara até esteja lá.

Por “bater um papo” Sans se referia a “interrogatório”, mas preferiu omitir essa parte. Esperava que não fosse necessário o uso da violência, mas dificilmente teria paciência para lidar com tipos narcisistas como Mettaton.

— E se ela não estiver lá também? — Toriel olhou desesperançosa para o esqueleto, e acabou usando as mangas do próprio vestido para secar o rosto.

— se não tiver lá, mettaton com certeza vai saber pra onde ela foi.

— E se não souber? E se ela conseguiu fugir dele?

— continua sendo vantagem pra gente. não é como se um humano andando por aí em terraquente não chamasse atenção, né? então vai ser fácil de achar.

O coração de Toriel doía. Tudo o que ela queria era se deitar e chorar até o último dia de sua vida, mas sabia que não podia desistir agora. Em algum lugar, sua neta precisava de sua ajuda, e já tinha vindo longe demais para voltar atrás.

— Tudo bem… Onde esse tal Mettaton vive?

— mtt resort. acredite em mim, é logo depois daquela porta. — Sans apontou para uma porta na lateral do palco.

— Então o que estamos esperando!? — Toriel se levantou abruptamente, mas o esqueleto a segurou pelo braço.

— peraí! aqui, cobre o seu rosto com o capuz e evita contato visual.

Sans tirou sua  jaqueta e a entregou à cabra; Toriel tentou vestí-la, mas as mangas eram demasiadamente curtas e o zíper estava longe de se fechar, mas pelo menos o capuz lhe cobria o rosto.

Toriel abriu a porta e entrou no grande e luxuoso hall de entrada do MTT Resort. Por sorte, não havia muito movimento devido a hora — já passava da meia noite — então puderam seguir caminho sem problemas até os aposentos de Mettaton.

Sans se ajoelhou próximo a porta, e a destrancou utilizando um pequeno pedaço de osso em sua fechadura. A porta se abre, revelando um quarto inteiramente cor-de-rosa, com as paredes cheias de espelhos e pôsteres de Mettaton. Sobre a cama de madeira igualmente rosa, o robô jazia imóvel, completamente desligado, abraçado a uma miniatura de pelúcia de si mesmo. Um cabo o ligava à uma espécie de gerador embutido na parede sob um símbolo de alta voltagem.

— Ei, você! Onde está minha garotinha? — Toriel tocou o ombro metálico de Mettaton e deu-lhe um sacolejo, mas não houve resposta. — Mas que droga! Como faz pra ligar essa coisa?

— não sei. na real, eu nunca tive tão perto de mettaton antes… — Sans tirou uma das mãos do bolso, portando nela um celular. Esticou o braço, segurando-o longe do corpo e se ajoelhou, posando ao lado do robô, erguendo o polegar da mão livre em um sinal de “joinha”.

— O que está fazendo?

— uma selfie. provavelmente nunca mais vou ter essa chance… o paps vai ficar com tanta inveja! — O esqueleto, que até então se mostrava em geral apático, parecia verdadeiramente animado ao conferir na tela de seu celular a foto tirada.

— Sans! Você não pode tirar “selfies” com uma pessoa inconsciente!

— bem… tecnicamente, não é uma pessoa, e tecnicamente não está inconsciente.

— “Tecnicamente” você não tem permissão para fazer isso, então está fazendo algo MUITO errado.

— tecnicamente invadir a casa de alguém também é algo muito errado a se fazer…

— “Tecnicamente” a partir do momento em que estou tentando SALVAR alguém, eu estou fazendo algo BOM.

— tecnicamente de boas intenções o inferno tá cheio…

— “Tecnicamente”... Ora, chega! Chara está correndo perigo, acorde logo essa coisa!

— não dá, tá desligado. deve ter algum painel de controle em algum lugar do laboratório… eu posso ir lá dar uma olhada.

De repente, os olhos do robô se abrem, emitindo um brilho verde. Seus membros giram e se movem de encontro ao seu corpo, se retraindo e esticando novamente, como se para testar seu funcionamento.

— RECARGA: FINALIZADA. ESTADO DA BATERIA: COMPLETA. MEMBROS: NORMAL. ARTICULAÇÕES: NORMAL.  PROCESSADORES INTERNOS: NORMAL. FUNCIONALIDADE DO SISTEMA: BOM.

Os olhos do robô retomam seu habitual brilho cor-de-rosa, e o mesmo se espreguiça na cama como se acabasse de acordar de um sono muito profundo.

— Oh? Olha só, o que temos aqui? Mais fãs desesperados por um autógrafo, eu presumo. — O robô suspirou. — Ai ai, eu realmente preciso aumentar a segurança desse lugar, se meu quarto ficar sendo invadido desse jeito dia sim, dia não, vão começar a me acusar de promiscuidade! Hohohoho!

— a gente tá aqui pela garota. onde é que ela tá? — Sans tomou a palavra antes que Toriel o fizesse; ela estava nervosa demais, e seria bom evitar um escândalo no meio da noite.

— Garota? Oh, que gracinha! A doce e pequena Amber mal estreou e já tem fãs? Sabia que devia tê-la matado ao vivo.

— COMO SE ATREVE!? — Toriel empurrou Sans para o lado. Tudo o que queria era avançar sobre aquele monte de metal até transformá-lo em sucata, mas o esqueleto a detém com um leve puxão na sua manga.

— olha, mettaton… a gente não quer te machucar, mas é melhor você cooperar senão eu garanto que vai ter um dia beeeem ruim.

— E o que você vai fazer, seu tampinha? Tentar empalar metal com um osso? Atirar em mim com um de seus Gaster Blasters? Oh, que medo! — Zombou o robô, com um sorriso jocoso no rosto. — Boa sorte tentando me ferir com uma arma anti-humanos…

— como é que você sabe… sobre...? — Sans recua, não conseguindo esconder a surpresa. Podia contar nos dedos quantas pessoas sabiam sobre seus poderes, e definitivamente Mettaton não era para estar entre elas.

— Você ficaria abismado com os segredinhos que eu sei, meu bem. Vamos, compre briga comigo… Destrua meu lindo Resort, eu farei questão de te mandar a conta depois. — Desafiou o robô, sentando-se na beirada da cama e inclinando-se para aproximar seu rosto do esqueleto.

— Ninguém vai comprar briga alguma. — Toriel os interrompe. — Mas se você quiser manter seu programa de TV, é bom nos responder algumas perguntas.

— Quem você pensa que é para ameaçar o meu show desse jeito!? — Mettaton se pôs de pé, colocando as mãos na cintura, claramente indignado.

— A rainha. — Responde a cabra, retirando seu capuz.

Ao invés de surpreso ou frustrado, o robô parecia ainda mais irritado.

— VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO!

— Claro que posso. Seu principal patrocínio vem da coroa. Como monarca, posso revogá-lo.

— HA! HAHAHA! ESTÁ BLEFANDO! SE VOCÊ ACHA MESMO QUE VOU CAIR NA CHANTAGEM BARATA DE UMA EX-ESPOSA DO REI SAÍDA DO LIMBO, ESTÁ MUITO ENGANADA! — Mettaton tentava manter seu ar jocoso e condescendente de antes, mas sua tensão era quase tangível. — VOCÊ NÃO PODE SIMPLESMENTE VOLTAR PRO PALÁCIO E MANDANDO E DESMANDANDO COMO BEM ENTENDE! O REI AMA MEU SHOW, ELE NUNCA CONCORDARIA COM ISSO!

— Bem, é isso o que vamos ver. — A rainha deu de ombros e andou a passos firmes em direção à porta. — Vamos, Sans.

— E-ESPERA! — A voz de Mettaton reverberou em um tom tão agudo que incomodou os ouvidos da cabra. — Tudo bem. A garota não está comigo. Asgore a levou no meio do show, então muito provavelmente ainda está com ela no palácio.

Toriel e Sans se entreolharam. Se Chara realmente estivesse no castelo, as chances de resgatarem-na era bem pequena, e as chances de fazerem isso sem serem notados era menor ainda.

Para falar a verdade, ela já estava cansada de se esconder dentro de seu próprio reino, como se fosse uma criminosa. Sentia-se culpada por ter abandonado seu marido e seu povo, mas acima de tudo sabia que não poderia voltar atrás, por mais que desejasse. Mettaton dificilmente manteria a boca fechada sobre o retorno da rainha, e certamente Muffet já tinha começado a espalhar o rumor de sua presença.

Seu coração pesava, dolorido e cheio de preocupação; mesmo se conseguisse a menina de volta, o que fariam? Se trancariam nas ruínas até o fim dos tempos? Seria justo privar a garota de uma vida social dessa forma, criando-a como uma prisioneira? Ou valeria mais a pena abrir as ruínas para que todos vissem o estado deplorável de isolação em que vivera por todos esses anos? E quanto à Undyne e suas ameaças de guerra civil, o que Toriel poderia fazer a respeito? Viraria as costas para o Subsolo em meio à uma crise dessas proporções, fugindo como uma covarde, como já fizera uma vez? Pensar nessas coisas fez um arrepio correr pela sua espinha. Não apenas o futuro de Chara, mas de todo o subsolo poderia estar comprometido, e a rainha agora sentia o peso da responsabilidade caindo sobre seus ombros, curvando-a de uma maneira que pensou que poderia quebrar.

— ooooi? toriel, ‘cê tá aí? — Sans estalou os dedos em frente ao rosto da cabra para chamar-lhe a atenção.

— Hum? Sim? Perdão, meu filho… Você disse alguma coisa?

— na verdade não. só vi que você parecia meio mal… fica tranquila, se ela tá no palácio, eu ponho a gente lá num instante.

— Não, nada de teleporte. Você já usou magia demais por hoje, é melhor poupar suas energias. — Na realidade, Toriel havia detestado a sensação de enjoô que os dois últimos teleportes a provocaram, e não queria passar pela experiência de novo tão cedo.

— então o que pretende fazer? entrar pelos fundos?

— Não… Vou fazer o que deveria ter feito há muito, muito tempo: parar de me esconder.

Sans ergueu os olhos para a amiga, e viu em seu rosto uma determinação que poucas vezes vira na vida; o esqueleto admirava pessoas corajosas, um dos motivos pelo qual considerava Papyrus seu herói desde que era um bebê. Agora ao que parecia havia encontrado outra heroína a quem admirar; uma mulher forte, resoluta, destemida… E, de um jeito que até agora não havia parado para reparar, muito bonita.

— Que gracinha, minhas belezuras, muito emocionante, muito emocionante mesmo! — As palmas de Mettaton tiraram Sans de seu devaneio. — Eu pude sentir o clima, o tom de uma epopéia épica a se formar! Quanta tensão, quanto drama! Estão de parabéns! — As palmas pararam, e o sorriso do robô subitamente se esvaiu. — MAS AGORA JÁ PODEM SAIR DO MEU QUARTO.

Com um revirar de olhos, Toriel virou-se de costas e puxou o esqueleto pela gola da camisa corredor afora, batendo a porta com força atrás de si.


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Notas finais do capítulo

(1) No jogo, fica claro que Muffet também coordena a doceria de aranhas que fica nas ruínas, passando mensagens por baixo da porta através das pequenas aranhas que lá habitam. Sendo assim, ela seria a única a saber do paradeiro de Toriel.



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