O Conto da Piedade escrita por Glasya


Capítulo 10
Capítulo IX — Tempestade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758893/chapter/10

Chara estava tendo outro pesadelo. Os terrores da guerra atormentavam seu sono constantemente, mas dessa vez a guerra chegava ao subsolo. Tanques e jipes deixavam um rastro de destruição por onde passavam, bombas sacudiam a terra e destruíam a casa de Toriel enquanto soldados armados gritavam palavras de ordem e ódio. Chara estava sozinha, envolta pelos gritos, choros e estrondos ensurdecedores da batalha.

— Os humanos não fazem mesmo nada de bom. Nem sei por quê os monstros querem tanto ir lá pra cima. — A voz de Flowey fez as imagens cessarem. Agora eram só ela e a pequena flor em um espaço escuro e vazio que parecia ser infinito.

— Ah, qualé?! Até no sonho? Eu pensei que eu tivesse me livrado de você!

— ‘Cê podia me agradecer por ter interrompido um sonho horrível, mas nãããããão… Prefere dar piti.

— Vai à merda, não tô dando “piti” nenhum! Como entrou aqui?

— Mágica. Dããã.

— Não me diga. — Chara revirou os olhos. — E ninguém mais fala “dãã”, animal. O que é que você quer?

— Te ajudar.

— HÁ! Tá, essa foi boa… — Disse Chara, sorrindo ironicamente.

— Quer achar o seu cordão idiota ou não?

— ONDE VOCÊ ENFIOU O MEU CORDÃO, SEU MERDINHA? ME DEVOLVE!

— De novo com essa merda? Eu não roubei aquela porcaria! — A flor arqueia as sobrancelhas e dá um sorrisinho diabolicamente sugestivo — Foi Toriel.

— Mentiroso! Eu SEI que foi você!

— Quer a prova? Vai lá no quarto dela e abre a gaveta de meias, é a do meio.

— Foi lá que você escondeu?

— Como eu ia esconder aquilo lá? Eu não tenho mãos, não abro gavetas.

— “Mágica”!

— Você realmente não faz a mínima idéia de como isso funciona, né? Eu não posso mais interferir no mundo material, sua estúpida. Eu só consegui pegar aquela porcaria de telefone porque ele tinha umas modificações mágicas. Bem porcas, mas tinha.

— “Modificações mágicas”? QUE “modificações mágicas”? Você é maluco! Eu não quero mais ficar ouvindo as suas mentiras, some daqui!

— Tsc. — Flowey estalou a língua entre os dentes. — Quer saber? Cansei dessa merda, nem sei porque vim. Vai lá pegar a porcaria do seu colar, Chara. — Havia algo estranhamente familiar no modo que Flowey pronunciou seu nome, mas a humana não sabia dizer exatamente o que era.

O sonho se esvai, junto com o sono de Chara. Eram quatro da manhã. A menina ficou de pé e saiu do quarto ainda de camisola. Estava furiosa, andando a passos duros pelo corredor, parando subitamente em frente à porta do quarto de Toriel.

— Vó… — Bateu na porta. — Posso dormir aí com você? Toriel? — Bateu novamente, mas ninguém veio.  Abriu a porta o mais silenciosamente que pôde para não acordá-la, mas para sua surpresa o quarto estava vazio.

Voltou para o corredor, andando até o fim e verificando o banheiro. Nada. Foi para a sala, depois para a cozinha. Ninguém. Toriel simplesmente não estava em casa, o que era muito estranho, principalmente considerando o horário. Pensou em verificar o porão, e até chegou a descer alguns degraus da escada, mas voltou no meio do caminho; a imagem de Toriel enfurecida não sairia tão cedo da sua mente, e definitivamente não queria vê-la de novo, então resolveu voltar para o quarto, se enfiar nas cobertas e esperá-la voltar.

A gaveta de meias logo chama a sua atenção. Não queria levar outra bronca por xeretar, mas as palavras de Flowey não saíam da sua cabeça. Não sabia por que se deixava afetar tanto pelo que a flor lhe falava, visto que claramente não queria o seu bem, mas Chara não conseguia evitar. Mesmo sabendo que poderia ser uma armação ou no mínimo uma brincadeira cruel daquela erva daninha, a humana não resistiu; se levantou da cama, acendeu a luz do abajur e abriu a gaveta.

Meias. Era tudo o que havia lá. Chara respirou aliviada, mas quando estava prestes a fechá-la um brilho dourado no canto da gaveta chamou sua atenção. Estendeu a mão até ele e de lá retirou um cordão dourado. Pendurado nele, um pingente em formato de coração.

— O meu colar… — Chara tinha lágrimas nos olhos, não sabia se eram de felicidade ou raiva. Felicidade por finalmente tê-lo encontrado, e raiva por Flowey ter tentado incriminar Toriel de forma tão baixa.

A menina beijou seu pingente, e segurou o colar firmemente contra o peito, aliviada. “Flowey me paga…” — Pensou. Mal podia esperar para contar à Toriel que encontrara seu cordão, certamente sua avó ficaria tão feliz quanto ela. Claro, teria que manter em segredo as circunstâncias de sua descoberta, mas pensaria nisso depois. Por ora, vestiu o colar e se aninhou sob os grossos edredons, aguardando a volta da cabra.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Conto da Piedade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.