Amem escrita por Liz Setório


Capítulo 15
Pense Bem, Paulo


Notas iniciais do capítulo

Olha só quem está de volta! E dessa vez nem demorei muito. Espero que gostem do capítulo.
Boa leitura!



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— Eu não trouxe essa batina de propósito… Ela veio misturada com outras roupas, eu só vi ela quando cheguei aqui e… E fiquei com pena de jogar fora, por isso escondi de você.

Pena de jogar fora? Aquilo indicava que por mais que bancasse o forte e completamente desapegado da Igreja, Miguel ainda encontrava-se preso a ela de alguma forma.

O meu silêncio parecia deixar o meu amado nervoso e ele o rompeu, bradando:

— Vamos, tire isso, você está ridículo com esse troço. Se você quer usar vestido, eu posso te comprar um muito mais bonito.

— Por que você fica negando? — questionei ignorando o que ele havia acabado de dizer.

— Negando o que?

— A sua dificuldade de se afastar da Igreja.

— Paulo, eu só guardei essa droga de batina. Não sou eu que rezo não sei quantos Pai Nossos e outras coisas para poder dormir — argumentou.

— Você me ouve rezar?

Na minha cabeça eu rezava baixinho e não incomodava o Miguel, jamais pensei que ele me escutava rezar.

— Você fica sussurrando essas coisas até dormir… O meu sono é leve…

— Se isso te incomoda eu vou parar, só vou rezar na minha cabeça — disse, deixando o quarto.

— Paulo — gritou.

Voltei ao quarto e tirei a batina.

— Tome, pode jogar fora se quiser — declarei levemente irritado.

Fui para a cozinha e comecei a fazer o almoço.

— Você sabe que as coisas não podem continuar assim… Você precisa se decidir. Eu te quero muito, mas preciso que você se entregue a mim de corpo e alma... — declarou enquanto me seguia.

Miguel rapidamente chegou até a cozinha e com um leve puxão em meu braço fez com que eu olhasse para ele. Ele fixou o seu olhar no meu, mas eu não queria encará-lo, estava um pouco chateado com ele, porém o meu amante continuou a me olhar e eu me senti obrigado a voltar o meu olhar para o dele. Depois de um breve momento nos encarando, Miguel me beijou, esse beijo teve curta duração e foi finalizado por mim. Eu sabia o que Miguel queria, pela vontade dele esqueceríamos o almoço e começaríamos a transar ali mesmo, mas não, eu não queria aquilo.

— Miguel, agora eu quero fazer o almoço, por favor, me deixe em paz — pedi em tom sério.

Ele não disse mais nem nada, nem tentou mais coisa alguma e com a ajuda dele fiz a comida, porém ao preparar os alimentos eu não conseguia esquecer as palavras dele. Miguel estava certo, eu precisava tomar uma decisão, porém isso não era fácil para mim.

Durante o almoço, o meu amado decidiu quebrar o silêncio que havia entre nós.

— Desculpa se às vezes sou grosseiro contigo ou se sou incompreensivo… Acho que faço isso por medo… Por insegurança… Eu já deixei de viver o amor que sentia pelo Tobias, porque fui fraco e eu não quero te perder. Por isso, sou assim, por isso grito contigo e te exijo que esqueça da Igreja.

— Miguel… Eu estou confuso, muito confuso. Se eu pudesse voltar no tempo eu nunca teria entrado naquele maldito seminário, esse foi o maior erro da minha vida.

— Não diga isso, se não fosse o seminário a gente nunca teria se conhecido…

— Talvez tivesse sido melhor para nós dois, esse amor só nos fez sofrer — declarei, levantando e em seguida saí de casa.

Fui andando sem rumo até que parei na praça da cidade, ela estava vazia naquele momento. Sentei em um dos bancos de concreto, coloquei os pés em cima do banco e apoiei os braços sobre os joelhos. Feito isso abaixei a cabeça e desatei a chorar.

Fiquei um bom tempo naquela posição, chorando até que senti uma mão no meu ombro, me consolando. Senti-me feliz por Miguel ter resolvido ir me consolar, aquilo era muito bonito da parte dele, todavia antes que eu pudesse levantar o rosto, surpreendi-me.

— O que o senhor tem, seu Paulo? Eu posso ajudar de alguma forma?

Aquela não era a voz do Miguel, então levantei o rosto e dei de cara com o padre Flávio.

— Eu… Eu não estou bem… São muitas coisas, padre… Muitas coisas — respondi meio hesitante.

— Se quiser alguém para conversar eu estarei aqui, sempre disposto a ajudar.

Ele permaneceu do meu lado, em silêncio e quando eu me acalmei um pouco, questionei:

— Alguma vez o senhor já se arrependeu por ter escolhido ser padre?

— Não… Mas por que pergunta isso? — respondeu como se estivesse meio desconfiado.

O meu maior medo era o padre Flávio descobrir que Miguel e eu também éramos padres.

— Por nada… É que a vida de padre parece ser muito difícil… São muitas coisas para cumprir…

— Eu fui preparado para essa vida desde menino, desde menino eu sentia dentro do meu coração uma vocação para o sacerdócio. Talvez por isso não tenha sido tão difícil para mim, mas teve colegas meus, do seminário, que desistiram, desistiram por vários motivos.

— Entendo. Eu acho que eu seria um péssimo padre, não conseguiria cumprir direito com as obrigações e pecaria muito.

— Não fale como se os padres fossem santos. Eu peco bastante também.

— Peca? — indaguei com surpresa.

Seriam todos os padres grandes pecadores? Talvez muito mais pecadores do que os não padres...

— Sim, não raramente cometo o pecado da gula, por exemplo — disse com um leve riso.

Enquanto conversávamos eu sentia uma confiança no padre Flávio, era como se nos conhecêssemos a muito tempo. Cheguei a ter vontade de contá-lo o motivo das minhas lágrimas.

— Os meus pecados são bem maiores…

— Deixe disso, pecado é pecado, não se mede por tamanho. Se os seus pecados incomodam tanto, acredito que seja hora de se confessar. A quanto tempo não faz isso?

— Há muito tempo, desde de quando deixei a Igreja.

— Deixou a Igreja? Então você é não praticante como o seu amigo?

Limitei-me a balançar a cabeça de forma afirmativa. Eu já tinha falado mais do que deveria…

— Quando você quiser se confessar eu estarei lá na igreja te esperando.

Antes que pudéssemos nos despedir, Miguel apareceu na praça.

— Paulo, até que enfim te achei… Eu rodei  a cidade inteira…

Miguel estava tão preocupado que tinha ignorado a presença do Flávio.

— Eu já vou, Paulo. Fique com o seu amigo, qualquer coisa é só me procurar lá na Igreja — disse Flávio se despedindo.

Miguel sentou ao meu lado e me deu um forte abraço.

— Eu não quero te perder — falou entre lágrimas.

— Tenho uma proposta a te fazer — avisei soltando-me de seu abraço.

— Diga.

— Vamos nos confessar?

— O que? Esse padre fez lavagem cerebral com você? — interrogou com uma visível irritação.

— Não, mas ele parece ser uma pessoa compreensiva. Ele vai nos entender e vai tirar esse peso que carregamos.

— Paulo, você sabe que ele pode nos denunciar? Nos descumprimos o voto  de castidade…

— Miguel, se nos confessarmos, ele não vai poder dizer nada a ninguém, ele não pode quebrar o sigilo da confissão.... Ele irá nos entender e nos perdoar.

— Ele vai dizer para não pecarmos novamente e pecar novamente significa estarmos juntos. Você entende a gravidade da situação?

— Agora você me deixou em dúvida.

Eu tinha esquecido que não bastava que me confessasse. Para estar puro de verdade, eu deveria renunciar ao pecado, eu deveria esquecer para sempre o Miguel.

— Pois pense bem. Eu não vou me confessar, mas se você fizer isso, me avise, pois vou embora. Não posso continuar com alguém que condena a própria natureza. Pense muito bem, Paulo.


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Notas finais do capítulo

E agora, Paulo?

Muito obrigada por ler. O que você acha que o Paulo vai fazer? Descubra no próximo capítulo. Espero não demorar tanto para postar novamente, mas se isso acontecer saibam que o motivo é a volta as aulas que ocorrerá no dia 13/08/18, mas tentarei postar algo antes (não prometo nada)



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