30 Dias, 30 Contos escrita por kunquat


Capítulo 5
Dia Cinco – A Preguiça.


Notas iniciais do capítulo

Esta história é baseada em personagens e eventos da trilogia Os Magos de Lev Grossman.



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É interessante como os humanos são falsos e incontundentes. Cheios de egos e virtudes que não pertencem a si próprios e desrespeitosos com quem lhe provém toda sustentação da base de sua vivência. Não há magnificência naquilo que fazem, mas o fazem assim mesmo, sem perceber que tudo a sua volta perece por falta da atenção da cadeia superior. Os mais espertos? Talvez, mas não os mais compreensíveis.

Eu não costumava falar. Na grande maioria do tempo eu era obrigada a estar aqui, presa, durante todos os dias da semana. Eu observava tudo; eu observava todos. Sabia onde iam, como iam, com quem iam. Sabia o que estavam levando em suas mochilas, bolsas e bolsos de suas calças. Sabia o que guardavam dentro de suas cuecas e vestimentas, eu sabia o que eles mais queriam.

O Rei era o pior. Tentado por prazeres obscenos, ele incentivava os locais a participar de seus eventos, usufruindo do mais puro vinho de nossa terra e desfrutando dos corpos desnudos daqueles que escolhera, homens, mulheres, criaturas. Não havia limite, hora ou local para suas orgias. Ele havia parado aqui por acidente e sido escolhido por acidente, era de se esperar que estivesse sempre engatilhado.

A Rainha também não era das melhores. Violenta, ela preenchia o vazio de sua alma observando os campeões de nossa terra batalharem contra aqueles que se opunham à atual conjectura real, novamente, desnudos. Por sorte, ou azar daqueles que são protegidos, ela lutava ao lado de seus companheiros, mostrando-se uma eximia esgrimista e estrategista em campo de batalha, mostrando que o ataque é a melhor defesa.

Juntos os dois desfrutavam de nossas terras sem se preocupar com qualquer consequência de suas ações, afinal, com qualquer situação demasiadamente complicada, o Rei conseguiria devolver os quatro a sua antiga terra, livrando-nos de sua presença.

Quanto aos outros, sem linhagem ou afinidade sanguínea com o Rei e a Rainha, o Príncipe se mostrava um nobre Rei. Disposto a ajudar e ouvir a todos que precisavam, ele oferecia seu tempo, habilidades e conhecimentos ao reino, tornando-o um lugar prospero, com maior tolerância aqueles que provinham de fora e unificando as tribos que aqui existem há muito mais tempo do que seu curto reinado. Digno, porém, triste. Em busca de algo que não sabe o que é, não dá valor ao que possui, buscando sempre além do que tem e não se contentando com as histórias já vivida.

A princesa, a mais graciosa flor de nosso palácio, nossa sacerdotisa. Cultivava a terra com suas mãos, tornando a mais pútrida semente em uma gigantesca árvore frutífera. Abençoada pelo conhecimento, fornecia respostas a nós como nenhum outro Rei ou Rainha houvera feito. Incomparável, impenetrável, exceto por já estar rachada. Em sua era de ouro trouxe glória e feitos inesquecíveis, protegeu, lutou, vingou e enterrou, mas seu coração nunca se curará; uma ferida tão profunda que se não fosse pelo príncipe, sua glória seria irrefreável.

— Abigail?

— Oi. – Acho que dormi, a reunião já havia acabado e o príncipe me observava, próximo de mais.

— Está tudo bem? - Balancei a cabeça lentamente.

— Tudo bem.

Ele deu as costas. Ele voltaria. Caminhou até as portas onde dois guardas a protegiam, parou e voltou em minha direção.

— Abigail, você acha que estamos fazendo a coisa certa?

Sobre o que ele estava falando?

— Sabe meu rapaz, há tanta coisa em jogo neste momento, mas as suas decisões são a última coisa que me preocupa. Se viver, ou morrer, vocês cairão ou serão glorificado pelo povo que representam. Eu não ouvi a reunião.

O príncipe riu.

— Você é a melhor Abigail. Nós, eu, me estresso tanto em tentar manter a ordem aqui, que me esqueço que há poucos meses vocês mantinham a ordem sem nossa presença.

— Por que eu estou aqui? – Questionei, descendo lentamente o galho onde estava deitada.

— Ah. Nós achamos que os animais falantes queriam ter um representante na corte. Achamos que vocês ficariam ofendidos se não aceitássemos um de vocês.¹

— E nós achamos que vocês ficariam ofendidos se não mandássemos alguém. Engraçado como o mundo é cheio de mal entendidos, não é mesmo?¹ – O príncipe riu novamente. – Falta diálogo Quentin, falta diálogo.

— Você quer uma carona até lá embaixo?

— O quê?! – Parei, voltando-me para trás com o intuito de olhar em seus olhos. – Eu, Abigail, a preguiça que viaja entre mundos, que enxerga através da alma e conhece o desconhecido, aceitar ser carregada?! Aceito meu querido. E cuidado com a bacia, ela não é tão forte quanto antigamente.

Assim a sala ficou vazia. Entre palavras bem ditas eu saí do aposento carregada pelo príncipe, agarrando-me em seus ombros.

A guerra era inevitável e é melhor ter aliados do que inimigos.


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Notas finais do capítulo

¹ Diálogo extraído do Livro O Rei Mago de Lev Grossman. Infelizmente não me recordo a página.



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