30 Dias, 30 Contos escrita por kunquat


Capítulo 6
Dia Seis – O Japão.




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Nós estávamos passando nossas férias em Tóquio, aproveitando a época do desabrochar as cerejeiras para tomarmos chá e nos livrarmos dos ares pesados de São Paulo. A cidade era ridicularmente agitada, mas impressionantemente controlada, com pessoas educadas e bem-dispostas que não te menosprezavam pelo simples fato de andares ao lado delas na calçada. Que cidade maravilhosa.

Nós estávamos hospedados em um hotel-capsula, onde criamos diversos laços com pessoas estrangeiras, cada uma com sua peculiaridade internacional. Eram ótimas noites, principalmente com os alemães e franceses.

Mas esta é só a introdução da minha fatídica viagem ao Japão. Eu, que procurava férias junto de meu companheiro, fui acometido pelo sórdido humor do destino.

 No cruzamento de Shibuya, pontualmente às dezesseis horas, sei disso devido ao relógio colossal projetado em um dos quadros luminosos, a histeria teve início e o caos tomou conta do local; como uma cena de filme trash de baixo orçamento, em que carros batem em postes e outros veículos, pessoas são pisoteadas e a gritaria corria solta junto das explosões dos leds que projetavam a propaganda.

Eu e Mon, meu companheiro, ficamos parados, atônitos, olhando fixamente para o ponto marrom que surgia no meio da multidão provinda da escadaria do metro enquanto empurrava os corpos uns contra os outros.

Tomando forma, a maça de cor marrom se mostrou um lagarto colossal de pele úmida, dentes afiados e ausência de olhos em sua face. Ele abria caminho a força, mas por algum motivo não arrancava sangue daqueles que tentavam se salvar.

— Gito, eu estou de férias.

— Eu também Mon, eu também.

Uma horda gigantesca de pessoas cruzou nosso caminho, balançando nossos corpos que permaneciam imóveis enquanto eles avançavam. A criatura rugiu e o metal em sua volta entortou. Ela pareceu aumentar de peso, fazendo o chão ceder sob suas patas, quebrando as lajotas de concreto que ornamentavam a entrada da estação.

— Você me dá um suporte?

— É só o que eu faço Gito. – Mon Riu. – Eu faço com que você não morra.

Mon ergueu sua mão direita para cima, seguida da esquerda, e retirou de um brilho azulado um báculo dourado de seu tamanho. Na ponta, um ornamento circular dava espaço há uma esfera de pura energia compacta, tão quente quanto o sol da qual se inspirara. Sem esforço, como se sentissem o chamado, o seu corpo foi banhado por um véu que se materializou magicamente em meio ao ar. Devidamente trajado Mon bateu seu báculo contra o chão, estendendo a mão para frente, em direção a criatura.

— Vai logo. Ataca rápido para a gente ir comer.

— Com prazer.

Pondo-me a frente, caminhando em direção a criatura, eu sentia o suporte provindo de Mon. Agilidade, revestimento, proteção, força, processamento, visualização, transpasso, afinar. Cada movimento dele me incumbia com uma aptidão além do meu habitual. Eu estava com capacidade total. Esta batalha já estava ganha.

Assim como o báculo, minha espada tomou forma em uma rajada de luz. Encrustada no espaço entre as dimensões, eu a desembainhei em meio ao ar e levei uma perna a frente, flexionando o joelho. Meu corpo ferveu e uma couraça metálica pareceu construir-se em volta de meu corpo com a própria luz solar.

A criatura tomou conhecimento de nossa presença, subiu no toldo de proteção e rugiu. Das calçadas, milhares de pessoas nos fotografavam e filmavam com seus celulares. Nós estávamos no meio do cruzamento, a criatura no alto, nós embaixo. Ótimo.

Apontei. Impulsionei. Cortei.

Antes que pudesse haver um contra-ataque ou medida de fuga. Eu já me encontrava atrás do animal, com a espada em frente ao corpo. Ela grunhiu e tombou, dividida em dois.

As pessoas não acreditaram no que acharam teu visto e por sorte, seus celulares não captariam a velocidade executada com sua baixa taxa de FPS. Elas continuavam imóveis.

Eu tornei a me aproximar de Mon, ambos sem nossos equipamentos, e quando nos demos conta a polícia já estava em nossa volta, levantando em nossa direção seus distintivos e falando mais palavras do que eu conseguia entender.

— No fim, fomos levados à delegacia e aqui estamos, brincando com algemas. - Levantei meus pulsos para mostrar que havia me livrado das algemas pela quarta vez nos últimos quinze minutos.

— O que era aquela coisa? – Perguntou o Delegado.

— É mais fácil você perguntar o que nós somos. – Respondeu Mon.

— E o que vocês são?

— Não sei. – Mon riu. – A única certeza que temos é de que essas coisas sentem nossa presença e nos caçam. Se antes não existiam em suas cidades, agora com a nossa presença elas aparecem. Mas, de onde nós conseguimos fazer o que fazemos? Não sei.

— Sabe quando você acorda já sabendo o que fazer? – Complementei. – É esse sentimento. Um dia nós acordamos e sabíamos o que podíamos fazer.

— Então esses monstros são culpa de vocês e o tempo que vocês permanecerem aqui afeta a sua aparição? – Disse o delegado, vermelho. – Vocês não podem ficar aqui. Não posso arriscar a vida dos cidadãos pelas férias de vocês.

— Japão, a terra dos monstros e da ficção não possui um campeão. A culpa não é nossa, eu achei que vocês já tivessem alguém que cuidasse do controle de pragas.

— Como assim? Que países já possuem?

— A França possui Exzo e Bastille; Italia, Hirinya e Jinya; A Russia tem seis, mas só mantenho contato com Prompft e Miria; Venezuela, Aruk e outros trinta e dois países.

— E já que vocês têm ninguém por enquanto, acho bom nosso visto ser estendido, porque nós vamos ficar. – Mon sorriu, levantando a mão antes algemada e colocando-a sobre as pernas. – Cinco a quatro.

— Quem disse isso? – O Delegado se alterou.

— Nós despertamos o ninho, se não ficarmos seu país sucumbirá na mão dos monstros. Porém, se ficarmos, podemos evitar danos. Você já viu, nós não destruímos estruturas. É tudo muito rápido

— Chefe Rizû! – Um cadete invadiu a sala. – Mais doze criaturas foram avistadas no centro.

— Que clichê. – Falei, o delegado nos encarou. – Nem pensar! Vão lá salvar o dia e ver o que acontece. A gente vai ficar por aqui tomando o café da máquina expressa. Até por que... – Levantei. – ...eu não posso sair sozinho.

— Filho da mãe. – Cochichou Mon. – Cinco a cinco.

Mon estava algemado na cadeira.

— Onde fica a máquina mesmo?


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