Era como se todas nossas outras histórias houvessem sido negadas na presença daquele ser.

— Você sente a presença se Deus? – Questionou ele.

Uma criatura vil com três metros de altura que exalava um cheiro pútrido de esgoto. Ele tocou minha testa com suas garras de puro osso enegrecido pelo sangue dos corpos anteriores. Uma gota pingou em meu nariz.

— Por quê? – Perguntei. – Por que está nos matando?

— Você sente a presença de Deus?

— Não. Eu sinto raiva.

— Ótimo. – Sua voz era grave e arrastada. – Eu sou um dos vários Deuses deste mundo e hoje, eu resolvi brincar.

Em um movimento amplo ele esticou o outro braço, apontando para a cidade destruída. Prédios cortados ao meio e corpos despedaçados espalhados por onde a vista alcançava. A cidade, tingida de vermelho.

— No reino dos mortais as brincadeiras são mais legais. - Continuou. – Vocês morrem. – Ele voltou a me encarar.

— Por, por quê? – Gaguejei. – Por que tudo isso?

— Porque o seu Deus está morto.

A criatura olhou além do que eu podia ver. Eu não podia perder aqui. Minha família, meu irmão, sozinho, com medo, encolhido embaixo da pia para tentar se proteger.

Rapidamente, motivado pela presença de meu irmão, desembainhei a espada de minha cintura e em um golpe rápido mirei no dedo que tocava minha testa, pulando para trás logo em seguida.

— Hum. – Resmungou a besta.

A espada não decepara o dedo como imaginei que faria, mas ficara cravada, suspensa no osso ensanguentado. A Besta retirou a espada de seus dedos e tão rápido quanto eu ataquei, ela a arremessou. Eu não tive reação. A vi dar meia volta no ar e encontrar minha barriga como bainha. Eu gritei e caí no chão, segurando a espada em sua lâmina, sem me importar com cortes em minhas mãos. A dor, era insuportável.

— Você é o último.

— Faça, faça com... – Cuspi sangue. – com que não doa.

Não houve história. Não houve luz. Não houve recordação. Naquele instante eu só pude ver os olhos da besta caminhando em minha direção com a cidade em chamas às suas costas. Ele se aproximou, tocou a espada e a levantou, dividindo-me em dois.