Eu e Yan estávamos correndo - Não sei para onde, mas estávamos correndo - até que eu vi aquele Bryan na cidade. Parecia que ele iria entrar em uma briga. Não era da minha conta, então ignorei.

Yan soltou meu braço depois de tanto corrermos, e parou um pouco para descansar. As pessoas ao redor nos olhavam estranho, provavelmente pensando que éramos delinquentes correndo...

Yan já estava me puxando para correr novamente, mas eu soltei meu braço.

— Calma, calma aí. Você nem me explicou pra onde estamos fugindo. Eles não estão nos localizando? - Perguntei, ofegante.

— Com um pouco da minha magia, estou despistando eles. Se não souberem onde estamos, não podem nos espionar. - Yan explicou, olhando para mim. - Você é idiotinha ou se faz? - Ele brincou.

— Me desculpa se não entendo de mágica ou coisa assim. - Falei cruzando os braços. - Você vai contar tudo detalhado, CADA detalhe pra mim, mais tarde.

Ele suspirou.

— Tá, saquei. Vamos continuar... ei, espera. - Yan apontou surpreso, em direção ao Bryan que continuava discutindo com alguns rapazes. - Não é ele? Aquele humano medroso.

— Pensei que não tínhamos tempo para isso. - Eu disse, impaciente.

— Você tava falando sério mesmo? Caralho... - Ele abriu um sorriso maléfico. - Não vou precisar de todo esse trabalho se eu apenas lançar uma magia que o mate... assim você volta, e eu acerto as contas com o meu pai.

Arregalei os olhos. Opa, êpa. Não iríamos apenas fazê-lo se esquecer de alguma forma, Yan? Eu acho que não quero matar alguém. - Pensei.

Sorte que ele estava um pouco fraco, acho que não estava lendo minha mente.

— Por que está me olhando com essa cara? - Ele perguntou, debochando. - Está com medo da ideia de matar aquele inseto?

— Eu... mas você também odeia esse tipo de coisa! Você poderia ter ferido inúmeras pessoas aqui, mas não o fez. Não precisamos disso, apenas faremos ele esquecer e... - Fui falando, mas acabei sendo interrompida.

Yan me olhou sério.

— Não machuquei ninguém, mas é apenas questão de tempo. Apenas te poupei de visões horríveis. - Ele disse, se irritando. - Se eu precisasse, não hesitaria em matar ninguém. Nem mesmo você. - Yan disse em um tom irônico, mas eu não levei na brincadeira.

Percebi que algumas pessoas olhavam para nossa discussão, mas continuei.

— Me poupou de visões horríveis? Me mataria? Não me faça rir. - Comecei a me irritar. - Então por que você está me ajudando, afinal?

Yan ficou em silêncio por um momento.

— Você não entendeu a ironia da minha frase? Eu não vou te matar, sua idiota. - Ele disse, olhando para o lado.

— Foda-se, eu não quero ouvir isso de você! Se é pra fazer essas piadas sem graça, em uma situação que eu posso realmente MORRER caso eu volte para o mar... eu prefiro me virar sozinha. E eu não vou machucar ninguém sem motivos! - Gritei, enquanto algumas pessoas continuavam olhando confusas. - Me arrependo de ter me preocupado com você.

Me virei e comecei a correr sozinha até aquele lugar onde o Bryan estava, por reflexo. Parecia ser uma loja de instrumentos.  No fundo eu estava muito triste, ainda mais quando ouvi Yan gritar algo como "Eles vão te achar! Eu não vou aparecer pra te salvar se isso acontecer", lá do lado de fora. Mas não me importei.

Afinal, ele não deveria brincar assim comigo. Por que ele estava me dizendo aquilo? - Pensei, quase chorando.

Foi quando acordei para o mundo, e comecei a ouvir a discussão que aquele Bryan estava tendo - Até agora - com dois caras. Um deles era mais alto e forte, e o outro mais baixo.

— Eu não quero saber dos seus problemas, só quero acertar as contas. - Disse o mais alto.

— Estou ocupado no momento, e minha irmã não deveria ser envolvida nisso.

Irmã? Está falando da Yasmin? O que está acontecendo? — Pensei, tentando ignorar minha briga com o Yan agora pouco.

— Irmã? Não me faça rir. Sabemos que você foi adotado, a Yasmin e a família dela não merecem você para manchar o nome da família Bennett. - Disse o mais baixo.

Bryan abaixou a cabeça e cerrou os punhos. Porém antes dele socar um deles, o mais alto o empurrou com força. Porém eu não fiz nada. Eu não deveria interromper, deveria...? Não é um problema meu.

Depois daquilo, os dois começaram a bater em Bryan. Dois contra um. Que injusto.

Não aguentei ficar em silêncio, e acabei soltando coisas que não deveria.

— Dois caras atacando um só? Mas que idiotas. Se há algo incomodando vocês, resolvam justamente ao invés de apelar para essas gracinhas e piadas desnecessárias. - Falei, cruzando os braços. Eu estava agindo como uma garota confiante.

Por que eu fui falar isso?? — Pensei, prestes a sair correndo daquela loja. Porém ao lembrar que Yan poderia estar lá fora, me recusei a sair.

— Você de novo? - Disse Bryan, com alguns ferimentos pelo rosto.

— Isso não é da sua conta. Não se intrometa. - Disse o mais alto, enquanto o outro cara concordava.

Continuei avançando, fingindo ser uma pessoa incrível.

— De acordo com a Yasmin Bennett, brigar em lojas é totalmente proibido. Se danificarem algum instrumento, vão ter que pagar por isso, sabiam? Por que não sossegam e saem logo daqui? Eu vou ter que chamar o gerente? - Falei, dando um sorriso forçado.

O mais baixo começou a rir, mas o cara mais alto começou a sussurrar que era verdade. Os dois saíram com um olhar ameaçador para o Bryan - e para mim também - e a briga finalmente tinha acabado.

Nossa, eu estava me sentindo uma pessoa incrível.

— Podia ter deixado eles me baterem. Não está com raiva por eu ter falado com você daquele jeito? - Disse Bryan, se levantando.

— Posso estar com raiva, mas sou uma sereia justa. - Falei, e logo depois me dei conta do que tinha dito. Coloquei uma das mãos na boca.

— Eu sabia que você não era normal... - Disse, olhando para baixo. - Bom, já que você é pacífica, não tenho o que temer, certo? - Ele finalmente abriu um sorriso. - Não contarei nada, se me deixar em paz.

Quase pensei em dizer alguma coisa, mas Bryan saiu da loja. Nem pra me agradecer?!

Eu já iria sair me sentindo alguém incrível por ter parado uma briga, quando Yan entrou na loja.