Que ótimo. O humano que eu "teria que eliminar", estava bem na minha frente. Mas então, o que eu faria em seguida? O ameaçaria? Agiria normal? Apenas fingiria que aquilo não aconteceu?

Eu não fazia ideia.

Ele continuava me encarando, até levantar uma sobrancelha e dizer:

— Quem é você? Acho que já te vi em algum lugar...

Dessa vez, eu levantei uma sobrancelha. É sério isso? 

Quer dizer, a alguns dias atrás, esse humano estava tremendo por ver minha cauda. Admiro ele ter esquecido tão rápido... Então, quer dizer que eu estava livre?

— Quê? Não se lembra mesmo? - Falei, ainda sentada do piano. Nem me mexi, apenas o encarava.

Ele fez que não com a cabeça. Dei um suspiro e abri um sorriso.

— Que ótimo! Maravilha, continue assim! Finja que nunca me viu na vida!! - Eu disse, sorrindo e super animada. Levantei do piano e me aproximei dele, estendendo a mão. - Bom, nunca nem nos vimos. Por isso saiba que meu nome é Érica, sou amiga da Yasmin. E quem é você? Um irmão?

Sei que não deveria correr esse risco, mas eu estou dependendo muito da Yasmin. Se eu quiser continuar falando com ela, tenho que causar uma boa impressão na casa dela também! - Pensei.

— Você é estranha. Será que pode sair da nossa casa? - Ele disse, rejeitando meu aperto de mão. Fiquei parada igual idiota, com muita raiva.

É SÉRIO ISSO? — Pensei.

Esse cara estava procurando encrenca? Se esse é o humano que eu tenho que eliminar, ÓTIMO! Ficarei satisfeita em dar uma surra até ele esquecer! Isso se ele sequer lembrar de algo.

— Quem você está pensando que é? Eu tentei ser simpática! - Eu falei, colocando as mãos na cintura e muito irritada. - Legal, que assim seja! Só vim aqui pela Yasmin, então caso puder sair da minha frente...

— Olha, não sei se você sabe, mas eu também moro aqui. Apenas iria sair para ver o mar, nada mais. - Ele se aproximou de mim, estressado. - Não me importa se você seja uma amiga da minha irmã, apenas vá embora. E... espera...

Ele parou por um momento e olhou meu rosto com atenção, surpreso.

— O que está olhando? Eu não vou sair daqui até a Yasmin aparecer! - Eu disse, convencida. 

— Você é aquela garota da praia...? - Ele se afastou por um momento.

Eu gelei. Ele se lembrou?

— Comecei a me lembrar... o que era aquilo em você?! Era muito real para ser uma fantasia! E você não parecia nada ofegante quando te puxei para fora da água... - O garoto começou a falar mais alto e eu fiz um sinal, pedindo silêncio.

— Cala a boca. Que droga... - Suspirei. - Olha, já que você lembrou de algo que não devia, sugiro ficar de boca fechada. - Comecei a andar até a porta. - Eu vou voltar aqui!

Girei a maçaneta e abri a porta, quando escutei passos.

— Oh, Érica. Já vai? - Disse Yasmin, se aproximando. - Desculpe se Bryan disse algo rude.

Me virei para encará-la.

— Bryan? - Arqueei a sobrancelha.

— Sim, meu irmão mais velho. Ele fica um pouco estressado a essa hora, então não se preocupe com ele... - Yasmin abriu um sorrisinho forçado.

O tal "Bryan", estava com as costas viradas e logo andou apressadamente até a porta com um guarda-chuva, deixando eu e Yasmin falando sozinhas. Realmente, parecia que iria chover... mas acabei me perguntando se ele sempre anda com esse guarda-chuva por aí.

— Não se preocupe com isso. - Falei, tentando ser simpática. - Posso voltar aqui outra hora? Podemos conversar mais tarde.

Yasmin concordou, conversamos mais um pouquinho e eu decidi ir embora. Precisava esfriar a cabeça.

Andei até perto do mar, suspirando. Eu deveria ter feito algo com ele quando tive chance, mas por que não o fiz? Estou com pena de um humano rude igual ele? — Pensei.

Notei que Bryan estava andando com seu guarda-chuva até a cidade. Senti ódio, sabia que uma hora ou outra eu teria que acabar tomando uma decisão.

Mas matá-lo não seria demais? Eu não sirvo para matar alguém. Será que não tem mesmo outro jeito? O que eu teria que fazer?

 Estava começando a chover e me senti um pouco triste por estar ali sozinha. Foi quando senti uma presença. Comecei a soar, já sabia o que aquilo significava.

— Yan?! - Gritei, tentando encontrá-lo. - Você está aqui?

Ele apareceu na minha frente com uma mágica, totalmente ofegante. Yan também estava com alguns machucados em seu braço.

— Achei você. - Ele disse, e parecia muito cansado.

— O que está acontecendo? Por que sumiu do nada? E... o que são esses ferimentos? - Falei, colocando a mão no rosto.

Yan inesperadamente me abraçou, preocupado.

— Achei que estivesse morta... até que você não é tão tonta assim. - Yan dizia, e eu já deveria esperar algo do tipo vindo dele.

— Eu só não te xingo porque estou preocupada! Me diga o que aconteceu a-g-o-r-a. - Falei, me afastando dele.

— Eu peguei meu pai no flagra, eles estavam te espionando. Parecia ser um acordo que fizeram com o idiota do mar. - Disse Yan, se referindo ao rei do mar. - Acabamos brigando e ele te transformou em humana para morrer, como punição por voltar ao mar. Ele sugou parte da minha magia e eu nunca estive tão bravo. Estou prestes a matar alguém...

Cerrei os punhos. Então foram eles quem tentaram me matar? E o maior choque é descobrir que estava sendo espionada esse tempo todo.

— Não acredito nisso... eu sinto muito, Yan. - Me aproximei, tentando ver seus machucados. - Tenta relaxar, por que não andamos um pouco? E eu tenho novidades! Eu encontrei o humano, só temos que dar um jeito.

Yan balançou a cabeça negativamente.

— Esquece isso agora, idiota. Temos que fugir, ou eles vão voltar. - Yan pegou meu braço e começamos a correr para a cidade. Quase perguntei o porque de ele não estar usando sua magia, mas ele parecia estar fraco demais para isso. - Não estou afim de responder perguntas.

— Espera, só me responde uma coisa! Você brigou com o seu pai por minha causa? Não precisava ter ido tão longe. - Eu ainda estava confusa. Não acredito que estava trazendo tantos fardos para ele...

Yan não me respondeu, apenas continuamos correndo. Enquanto isso, avistei aquele tal de Bryan, discutindo com dois caras e parecia que eles iriam brigar.