Ninguém Precisa de Um Diário escrita por MaluGibs


Capítulo 8
Perdas




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De um modo pessimista: a vida são perdas - de pessoas, de coisas, de sentimentos e momentos. De um modo otimista, são ganhos - de pessoas que te fazem aprender, coisas que se resultaram de outras, sentimentos, histórias adicionadas a bagagem e momentos que se tornam inesquecíveis. De um modo central: são mudanças - de atitudes, de ares e de fases.

Quando comecei a escrever aqui, era uma pessoa totalmente pessimista e tenho orgulho de ver que cheguei a metade da metade do caminho para o ponto central que separa o otimismo do pessimismo. Tenho muito a aprender ainda? Com certeza, como aprender a ter foco já que ainda sinto que vivo pela metade.

Desabafar era necessário para mim. Algo que não tinha. E toda vez que eu posto um desses textos consigo pensar em formas para mudar e ser alguém melhor - posso colocar todos os meus pensamentos egoístas e mesquinhos refletir sobre eles e não tocar em cima de alguma pessoa inocente dessa fúria, outra coisa que também fiz esses dias por evitar esse momento que me encontro agora: de escrita -. Alguém em que acredito e me orgalharei, alguém que não seja tão ruim como outras pessoas já disseram que sou. E como vocês que acompanham esse diário devem saber que venho passando por algumas perdas. Elas, na realidade, são mais do que eu as conto, mas as que não conto me fazem refletir sobre as que eu escrevo, pois estas últimas são as que ainda posso encontrar meios de melhorar.

Não posso ficar escrevendo sobre cada pessoa que morre ligadas a mim, mas posso escrever sobre aquelas que ainda tenho esperança de ficar tudo bem entre nós, mesmo que seja para colocar um fim. E não só um fim, aquele fim que não me deixará com um peso na consciência por ter falado palavras duras de mais por causa da minha impulsividade, as quais não eram intensionais ou por ter ignorado eternamente achando que esse é a melhor forma de lidar com um problema - também pode ser que não seja um problema de verdade e a solução deste seja eu aprender isso. Porque hoje descobri que ignorar não é solução.

Eu tinha uma amigo, sabe? Daqueles de amizade rasa - um nível a mais do que conhecidos -, mas que acabam fazendo parte de sua vida de um jeito, que você não consegue imaginar um dia que não vai acabar dando bom dia, ou boa noite. Perguntando das novas ou falando sobre os assuntos mais falados do país, como uma greve de caminhoneiros - eu até riria dessa lembrança se já não estivesse chorando (Bom, agora que não estou chorando e apenas relendo, consegui sorrir de verdade). Então, sabe, essa pessoa um dia não vai mais estar na sua vida. E para ser sincera comigo mesma, a última coisa que você vai imaginar, é que ela não estará na sua rotina mais, por que ela também é uma das pessoas que fazem sua vida, mesmo sendo por dois minutos por dia, duas horas e até se bobiar, uma madrugada inteira falando com essa pessoa entre outras num grupo do WhatsApp.

Uma dessas pessoas que tinha na minha vida, foi embora dia 20 e por motivos de saúde não poderia entrar em contato por algum tempo.
Não dei muita atenção, entendem? Não estava bem a algum tempo, mas agora iria melhorar quando fosse receber os tratamentos certos, certo? Não desejei boa sorte nem melhoras. Para que, não é mesmo? Vai ficar bem logo e vai estar rapidinho aqui de volta no mínimo 10 vezes melhor.

Mas não foi assim que aconteceu.

Na última tarde recebi a notícia que não esperava, realmente não esperava - na mesma intensidade que vou me tornando mais otimista, uma pitada de inocência está vindo junto - não teria mais bom dias, não teria mais "tô na aula, respondo mais tarde", não teria mais memes vindo, quer dizer, memes sempre virão, "somos Brasil!", mas não aqueles que só vi sendo usados por tal pessoa e que mais parecia sua marca registrada. Não teria mais os xingamentos escritos e por áudios que causavam gargalhadas a todos. Simplesmente não teria mais. Não vai ter!

Mas não é sobre a dor do luto que quero falar hoje, mesmo ela sendo grande, mas sim sobre as mudanças que as perdas trazem.

Pela primeira vez em muito tempo me abri com alguém sem ser por um motivo fútil. Não era uma briga boba, que sabia que era boba e fiz uma cena. Não era algo que alguém fez com a única intensão de me tirar a paciência. Era uma pessoas que eu não fazia ideia da importância que tinha na minha vida, que me atingiu como uma bala e que eu não queria fingir algo que não era - me fazer de durona, como se não importasse e só fosse algo banal como normalmente prego por aí.

E no momento que me abri, a pessoa ficou tão chocada, que ficou com raiva. Porque em enterros em que fomos a pouco tempo eu estava uma rocha emocional e por uma pessoa "que mal conheço" chorei.

Mas ela só não sabia que nos outros também chorei.

Pode ter levado mais tempo, como alguns dias ou alguns anos, para a ficha cair, mas chorei.

Posso ter aguentado o suficiente até que ninguém estivesse me vendo, mas chorei também.

Posso não ter ido no velório de uma pessoa muito querida, por "preguiça" de levantar da cama, mas era apenas por medo de a ficha cair a frente de todos e não estar forte o bastante para esconder minhas lágrimas. 

E dessa vez, eu só nao consegui aguentar e tão pouco me importei de esconder.

Se não sentimos, somos ruins.
Se mostramos nossos sentimentos para terceiros, somos ruins porque não "demonstramos" para quem era realmente "próximo".

Mas sabe qual é a verdade? Não temos que ligar para essas pessoas.

Já fui uma pessoas ruim, já fui uma pessoa boa e uma indiferente. Os outros - uma minoria, espero - vão sempre ir contra o tipo de pessoa que você é, sendo boas ou ruins aos olhos delas - com sorte tudo melhora após o choque inicial do seu novo eu. Você tem que decidir o que fez melhor para você. E de preferência dando passos de bebê ou pode acabar regredindo todo o seu progresso. E depois de ontem, temo acabar regredindo por ter cido aberta com alguém que não estava preparada comigo dessa forma.


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