Fale. escrita por Lyn Black


Capítulo 2
questiona e anda em círculos




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Suspiro. Ela olha melancólica pela janela, o seu azul, o sol quente, tão próximos, porém tão distantes. Revira os olhos diante de si mesma: é vítima de sua própria ironia, pessimismo, constante agonia. A aula de Cálculo nunca lhe pareceu tão entendiante, mas não é culpa do assunto, muito menos da professora, pois é o seu coração que sente pesar uma tonelada, os seus olhos que se enchem de lágrimas e sua garganta que se fecha em angústia.

Ora, mas por quê? Toda ação tem uma reação, assim disse um grande cientista, portanto presumimos que toda essa mistura de sentimentos, hormônios que acabam variando em quantidade e causando tal fatal desespero, tenha um motivo, e isso a persegue. Não entende a razão pela qual se sente assim, suas mãos estão vazias, não tem justificativa ou explicação para tudo que sente, porque no fundo ela sabe da verdade.

Não há como explicar sua agonia sem ter que explicar quem ela é, e oh céus, ela não sabe, as letras aparecem em vermelho na sua mente. Simplesmente, "Eu não sei", e talvez não saber seja a causa e o efeito, num ciclo sem fim, nó sem começo ou meio, sempre arrastando-a para o mesmo lugar. Não é a sua culpa, ou talvez seja, alguns dizem que ela escolheu ser assim, mas como?

Se ela escolheu, então lamenta profundamente, porque a única resposta que obteve é que essa escolha, mudança por assim dizer, é do tipo definitiva, como o galho que foi queimado no fogo não pode retornar ao seu estado inicial, devido ao caminho da flecha do tempo. São leis da física, porém a contradição a assusta, a jovem não aguenta, conformação não existe em seu dicionário! Ela não consegue se fazer objeto do próprio estudo, e além do mais, a sua própria realidade é apenas uma percepção. Ondas sonoras e electromagnetismo, sinapses e impulsos nervosos, elétrons e quarks, ups e downs, charms e stranges. Família, hereditariedade, tudo ao seu redor. É quase surreal como se questiona e chega à conclusão de que existir nem é mesmo uma verdade para a sua questionadora pessoa. 

Acostumamos-nos a olhar tudo isso sem espanto, mas o pior é que a cada vez que ela lê em voz alta, e sente tudo que já foi descoberto, percebe o quão sozinha é, o mundo não passa de uma ilusão numa tela de computador, e ser parte de um sistema a impede de ser a observadora externa deste. E quanto mais estuda a evolução da sociedade e pensamento, mais abismada, encantada e profundamente em crise fica. 

Talvez, e apenas talvez, e quando ela fala de talvezes está falando sobre probabilidades, a única coisa que se conforme é não conseguir se conformar, e lá vamos nós, entrando num paradoxo que invariavelmente tentará tirar o sono a noite, pois quem poderia saber se o próprio pensamento tem algum valor real e pode ser separado da subjetividade nas evidências.


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