Kandor: as chamas da magia escrita por Sílvia Costa


Capítulo 14
Capítulo XIII - Fúria Ardente


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!
Estou feliz que estejam gostando da fic e também que estão curiosos rs
Muito obrigada por acompanharem. Aos recém-chegados, sejam bem-vindos!

Vamos a mais um capítulo.



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Flash back (2 anos atrás)

O sol entrava pelas janelas de uma simples casa, em alguma parte da floresta do reino de Kandor, naquela manhã de outono; enchendo o quarto de vida com sua luz. As cortinas, de um branco impecável, moviam-se lentamente enquanto a brisa fazia o frescor matinal percorrer o cômodo, deixando uma agradável sensação.

A cama de madeira maciça e velha tinha um colchão também não muito novo, com alguns remendos, mas estava arrumada com perfeição com um lençol rosa; assim como todo o restante do ambiente que contava ainda com um vaso com flores.

Em contraste com o primeiro havia um outro quarto em total desordem. A cama por fazer e o fino cobertor pelo chão, as roupas espalhadas por toda parte e o livro, que a dona da casa trouxera de sua antiga morada e de que tanto gostava, tinha algumas folhas rasgadas e poeira, que também se acumulava nos móveis. Um presente não muito agradável para quem o recebeu.

Helena preparava na cozinha o almoço com peixes e ervas, resultado de algumas horas a beira do rio. Era uma mulher jovem, alta e esbelta, dos olhos amendoados e cabelos escuros. Uma bela mulher, diziam todos, mas ela fez questão de se afastar de qualquer homem e mudou até mesmo de casa. Depois dele, não ousaria se deixar levar pela conversa de nenhum outro. Após ser enganada e perceber o quão perverso alguém poderia ser, não fazia sentido se aproximar de outra pessoa. Ele era mais velho que ela, porém belo e sedutor, e com suas palavras, flores, mistério e persistência; acabou por ganhar seu coração.

Sua mãe se afastou dela depois que soube quem era o homem que amava e agora lhe restava apenas sua filha, uma adolescente de dezesseis anos rebelde e de gênio muito difícil. Ela se esforçou para que tivesse o necessário: amor, valores, proteção. Claro que estava sozinha na tarefa de educá-la, já que o pai agora estava morto e não lhe restava na família ninguém que quisesse apoiá-la. O tempo veio lhe mostrar que o que tinha a oferecer não seria o suficiente, pois a menina se tornou vaidosa e ambiciosa. Infelizmente, com o trabalho de artesã, não era possível lhe oferecer muito.

— Você já arrumou seu quarto, querida?

— Não. — Respondeu pegando uma maçã na cesta que sua mãe encheu pela manhã. — Nem vou. É perda de tempo. Depois vou desarrumar mesmo.

— Minha filha — disse se aproximando dela com o olhar cheio de doçura — é uma tarefa fácil e a organização é primordial para qualquer coisa.

— Primordial para o que exatamente? — Jogou o restante da maçã pela janela da cozinha com raiva. — Nós moramos no meio do nada e não há o que fazer nesse lugar. Podíamos morar na área movimentada do reino, mas não. Tínhamos que viver aqui, confinadas na floresta. Nem ao palácio podemos ir.

— E o que há de ruim nisso? Olhe bem — disse apontando para o exterior da casa — temos um recanto sossegado, podemos acordar com o canto dos pássaros e há tudo o que precisamos ao alcance das mãos. Graças a falecida Imperatriz, as terras do reino nos dão tudo e em abundância. — Sua filha permanecia emburrada.

— Mas não é isso que eu quero.

— E o que você quer então? — Ela permaneceu calada. Helena observava os cabelos negros e longos da filha, o rosto jovem e bonito e o olhar vivo e intimidador, como tantas vezes o de seu pai fora. Mas ela não tinha resposta para tudo, não como ele. — Você é jovem e ainda não sabe nada sobre a vida mas está procurando a felicidade onde não há.

Como um raio a garota se levantou e saiu. Com certeza não voltaria para o almoço e se passasse rápido o seu mau humor, retornaria a tempo do jantar. Só que dessa vez, sua mãe não iria procurá-la.

Ela correu por entre as árvores sem se importar se tropeçaria em algum tronco caído ou se machucaria os pés nos sapatos que já estavam ficando apertados. Sentia raiva de tudo e de todos e isso não tinha fim ou explicação. No reino, a maior parte das pessoas se afastava dela e de sua mãe como se fossem criminosas ou algo pior. Viver no meio do nada também não lhe agradava, não tinha amigos, nem família, não tinha nada. Aumentou o ritmo da corrida, sentindo os pulmões pedirem por mais ar e o coração acelerado. As mãos se arranhavam nos galhos baixos, na tentativa de proteger o rosto e desesperada para fugir não se sabe do que. Sentia falta de algo pelo qual lutar e sobretudo, sentia falta de um pai que a protegesse dos estranhos e do preconceito gratuito de todos, assim como já presenciou várias vezes outros homens pelas ruas cuidando de seus filhos. Se ela procurava pela felicidade, o que exatamente era isso? Por que se sentia vazia e como se caminhasse em uma estrada que não levava a lugar nenhum?

Em certo ponto tropeçou, caiu e terminou rolando por uma encosta. Seu corpo bateu contra a ponta de algumas pedras enquanto tentava se segurar em alguma coisa, as folhas secas se misturaram a seus cabelos junto com a terra. Por fim, sua trajetória terminou na beira do rio e ali se deixou ficar, com as lágrimas se juntando às suas águas.

Quando a noite caiu e decidiu voltar para casa percebeu que precisaria de muito esforço para se mover. Estava com fome, machucada, amargurada, sem ânimo até para respirar. A vegetação era igual em qualquer parte, as trilhas eram as mesmas pois nada se diferenciava durante a noite. Até mesmo corujas e outros animais noturnos limpavam o seu caminho enquanto ela passava, já ninguém ousava ficar na sua frente quando seus olhos só refletiam sentimentos ruins. Um pensamento obscuro passava por sua mente, várias e várias vezes até que chegou em casa. As poucas velas iluminavam parte da cozinha e ela correu ávida até a mesa procurando por algo para comer. Não fazia ideia de quanto tempo se passou desde que saiu, mas foi o suficiente para sua mãe adormecer sentada na cama, sem se trocar para dormir, cansada e abatida pela preocupação.

A cesta de frutas foi o que ela encontrou primeiro sobre a mesa, e logo tomou uma nas mãos para comer quando um morcego entrou pela janela emitindo um fino som e assustando-a. Primeiro o susto e depois o medo porque apesar de ser muitas vezes estúpida, ainda assim sentia medo de alguns animais. Logo a garota se moveu pela cozinha, correndo para o outro lado da mesa mas o morcego parecia segui-la e voava rapidamente pelo local. Ela correu para fora mas esbarrou na mesa, balançando-a e espalhando o conjunto de velas pelo piso. Depois disso, foi tudo muito rápido.

Ela chegou até certa parte no limite da floresta e caiu mais uma vez. Ela se deixou ficar ali, exausta demais para se levantar e não notou o incêndio iniciando. Facilmente as chamas se formaram sobre a madeira e se espalharam pelo primeiro cômodo da casa, alastrando-se pelo piso e invadindo outras áreas. Helena ainda dormia no seu quarto, aos fundos, e só percebeu o ocorrido quando a fumaça tornava respirar quase impossível. Ela despertou tossindo e sem entender o que acontecia se levantou e seguiu em direção a porta.

— Fogo...

Andou até avistar a entrada do quarto de sua filha e o temor tomou conta dela. A fumaça enchia seus pulmões, dificultando a respiração e incomodando também os olhos. Ela chamava pela garota mas o crepitar das chamas foi a única resposta que recebeu, que tal como um ser em fúria devoravam sem piedade o que estivesse na frente. A madeira no teto próximo a cozinha já começava a se soltar e a única coisa que conseguia imaginar, era se ela estava ou não em casa e se estivesse, precisava tirá-la de lá o quanto antes. Entrou no quarto escuro da filha e chamando-a foi até a cama. Vazia.

Percebendo que ela não estava decidiu ir até a porta de acesso a cozinha, pois era o único cômodo que restava. As chamas já tinham tomado conta do local, consumindo tudo e o calor infernal a abrasava mesmo a certa distância. Não era possível que sua filha estivesse ali, não poderia perdê-la assim. Seu coração de mãe estava cheio de angústia, apertado com a terrível possibilidade e sua intuição dizia que ela não estava bem. Quem teria começado aquele incêndio? Sem que ela percebesse uma das tábuas de madeira se soltou, acertando a lateral de sua cabeça com força. Ela cambaleou para o lado, tossindo ainda mais com a falta de oxigênio do local. A pancada deixou-a atordoada e a visão embaçou, ela recuou um pouco, se curvou apoiando em uma parede. Mais uma tábua de soltou atrás dela, a obrigando a voltar em direção a cozinha. Não havia mais saída.

 

******************** 

 

As lembranças atormentam a todos. Para alguns é algo indesejado, banal; para outros podem até ser bom tê-las e até, talvez, seja um misto de tristeza e alívio por saber que já passou. Mas com certeza as pessoas têm sempre, no mínimo uma, que desejam esquecer.

Uma jovem estava a limpar uma das salas do palácio, retirando a poeira que cobria os móveis. Atividade detestável, ela diria. A contragosto ela se aproximou de uma mesa de canto, onde havia um vaso feito de cerâmica, imaginando como seria chato ter de limpá-lo também.

A pouco tempo atrás viu a Imperatriz chegar com sua amiga, desacordada, e alguns guardas. Estavam arranhadas e sujas e uma parecia muito ferida. Ficou ansiosa para saber o que aconteceu com elas e tinha a impressão de que essa noite seria longa, muito longa. O seu desconsolo era saber que ela ainda estava viva.

— Ainda bem que você me ensinou a importância de ler, mamãe, e de me organizar. Logo eu terei o poder de Kandor nas mãos e serei mais forte que Diana. Vou destroná-la, arrasá-la, destruir o mundo dessa maldita! — As mãos comprimiram o vaso com força e ele se desfez sobre a mesa, dividindo-o em partes que daria trabalho para juntar novamente. Seus olhos se tornaram negros, quase que uma fusão de íris com a pupila e a raiva se estampou em seu rosto. Entre os pedaços do vaso, um tom vermelho surgiu, manchando a branca cerâmica.


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Notas finais do capítulo

Esse foi tenso. Vocês devem se perguntar o motivo de eu "gostar" tanto de deixar os personagens órfãos, já que essa é a segunda pessoa, mas será a última. Só sei que a mãe dela não ia gostar de ver no que ela vai se tornar.

O pai dessa garota deve ter sido ótimo, para Helena não querer vê-lo novamente. Vocês imaginam quem seria?

O nome da filha de Helena? Ocultei por alguns motivos mas dá para imaginar quem é.

Para aqueles que estão esperando para ver Ariana, aguentem aí. Enquanto eu escrevo o capítulo, ela ainda está desacordada rs e é a única notícia que posso dar.
Vou incluir daqui a 2 capítulos uma imagem dela, a pedido de algumas pessoas. Estou montando o dreamcast, mas não é simples.

Preciso de alguém para me ajudar com o Photoshop. Alguém se candidata ou conhece uma pessoa para fazer 2 coisas bem simples para mim?

Falta uma coisa: óbvio que essa mulher do final só está limpando para disfarçar. Gente infiltrada consegue mais informações do que os que estão de fora. Claro que ela podia colocar outra pessoa mas tem gente que gosta de fazer as coisas sozinhas.

Até o próximo!