Kandor: as chamas da magia escrita por Sílvia Costa


Capítulo 12
Capítulo XI - Floresta Negra


Notas iniciais do capítulo

Então, eu sumi mesmo, mas aí está outro capítulo. Tem surpresa dessa vez? Guardei para o final rs
A todos vocês que chegaram até aqui, muito obrigada!!!!! ♥



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Erick levava os cavalos para dentro do estábulo depois do retorno de Ailla e Ryan de uma visita a alguém no reino. Usando ricas vestes ela caminhava soberba, com o cabelo impecável e um colar. Sinceramente ele não sabia o que o guarda podia ver na prima metida da Imperatriz, mas isso não lhe dizia respeito.

A verdade é que Ryan faria tudo o que ela pedisse e estava cego para seus defeitos. Para ele, Ailla era uma princesa perfeita em todos os sentidos, mesmo quando o fazia buscar alguma coisa para ela na cozinha ou exigia que saíssem em pleno turno. Se perguntassem, ele admitiria que já abandou o turno uma vez e quase foi descoberto, o que seria o seu fim no palácio com uma expulsão definitiva. Enquanto ela brincasse com sua mente, fazendo-o acreditar que está interessada nele, seria difícil resistir. Deixando ela próximo a área principal do jardim, estava se preparando para voltar ao trabalho quando Henry e mais três amigos se aproximaram.

— Aí está você Ryan. Um passeio com a donzela?

— Fui escoltá-la Leon. Uma visita importante. — O amigo tinha cabelos negros, um olhar castanho claro atento e a barba também negra e por fazer completava sua expressão indecifrável. Era mais alto até mesmo que Henry, tinha alguns anos a mais e uma constituição de quem muito trabalhava.

— Claro. Muitas nas últimas semanas. — Robert soou irônico. O rapaz de cabelos lisos e loiros em um corte baixo, como quase todos os guardas, demonstrava que achava graça e ao mesmo tempo reprovava as atitudes de Ryan.

— Deixem ele. — Henry calou a zombaria e olhava sério para o amigo. — Ryan, você não acha que está se envolvendo demais com ela? Está fazendo todas as suas vontades essas semanas.

— E no quê isso te diz respeito?

— É a prima da Imperatriz. Você não vai querer criar problemas.

— Qual o seu problema Henry? Você anda por aí as escondidas treinando com ela no riacho! — Ryan estava cansado de ouvir que deveria se afastar de Ailla, já que esse era o assunto preferido de todos onde quer que ele fosse. Ela já tinha ganhado seu coração e devoção e assim ele não acreditava em nada do que diziam.

— Não grite! — Henry olhava ao redor tentando identificar se alguém teria ouvido. — Isso é diferente. Estamos nos preparando para qualquer inimigo que surgir e você não está ajudando gritando isso aos quatro ventos.

— Pelo menos ele não está apaixonado pela Imperatriz. Já você está perdido com essa aí, meu amigo. — Alexandre falava com a voz carregada de certeza. Mais reservado, o rosto levemente moreno e sem barba conferia a ele um ar jovial que escondia sua verdadeira idade.

— Tem certeza? Já reparou a forma como ele olha para ela às vezes? Não me surpreenderia se ele se tornasse o novo general e depois se casasse com ela. — Os demais se viraram para Henry, encarando-o e deixando sem graça, fazendo o silêncio se instalar pesadamente. Ser o general sempre foi seu sonho e ele tinha certeza de que a oportunidade se aproximava. Se empenhou para aprender de tudo e esperava que dessa vez o esforço valesse a pena. A notícia da saída de John deixou o reino agitado e o surpreendeu, mas talvez fosse o melhor a fazer. Mas e Diana? Até onde iria o senso de dever?

— Apenas abra os olhos. Só isso.

Foi a única coisa que conseguiu responder antes de sair, com os olhares dos amigos cravados em suas costas. Ryan estava perdidamente apaixonado por aquela mulher e nada do que ele dissesse o faria ver que é uma invejosa e quer prejudicar Diana. Quanto mais ele insistisse em dizer para se afastar dela, mais ele se aproximaria. O problema é que ela se insinuava para Henry sempre que havia oportunidade e isso fatalmente causaria um desentendimento entre os dois. Certa vez, enquanto estava saindo com Órion, ela se aproximou dizendo que se precisasse ir urgente para a cidade, pediria para sair no cavalo dele, envolta por seus braços fortes. Sempre que podia aproveitava para ficar por perto, de preferência sem a interrupção de outras pessoas, o observava muito atentamente, enquanto ele fazia de tudo para se manter longe dela.

Enquanto isso, na ampla sala do palácio no primeiro andar, as longas cortinas estavam recolhidas para deixar a luz intensa do sol iluminar o ambiente. As mulheres estavam reunidas conversando, curiosamente, sobre alguns homens do reino e rindo quando Diana entrou.

— Do que vocês riem tanto?

— Nada querida. — Aurora tentava conter o riso e falar ao mesmo tempo. — Estamos comentando sobre coisas bobas.

— Sua tia dizia que tem admiradores secretos no reino.

— Eu? Claro que não Sarah. Os admiradores aqui são todos de Diana, não é mesmo Ariana? Ariana? — A moça estava imersa em seus próprios pensamentos que não ouviu a pergunta.

— Como?

— Estava dizendo que aqui os homens se interessam mesmo é por Diana. Homens importantes no reino, jovens e até mesmo alguns guardas já ouvi comentarem sobre ela.

— Sim, claro. Se a senhora diz. Eu realmente não reparo muito. — Ela notava isto, entre outras coisas, entretanto estava apreensiva em relação às suas recentes descobertas e buscava o momento certo para contar.

— Como não? Marcon já lhe deu até flores. — Vanda olhava para as outras com um sorriso de quem quer criar confusão.

— É mesmo? Não sabia que meu filho estava te cortejando, querida.

— E não está, tia. Foi somente uma gentileza, que eu não sei como foi descoberta. — Um olhar de reprovação pairou sobre Vanda.

— Bem, isso não é proibido, é? Afinal estiveram sempre debaixo do mesmo teto. Só não creio que isso seja necessário agora.

— De forma alguma, Sarah. — Aurora ficou séria e retribuiu o comentário com um olhar intimidador.  Eu ficaria honrada se tivesse você como nora! — Ela abraçou a sobrinha; feliz e imaginando o casamento, começou a dançar levando-a pela sala.

— Vamos tia, eu não estou pensando em casar com ninguém. Estou muito ocupada. Aliás, por que não procuram um par para Ailla? — Sarah explodiu em gargalhadas acompanhada de Vanda e Ariana.

— Claro. Mas tem de ser um bom guerreiro e acostumado a mudanças bruscas, porque o humor dela é terrível. — Sarah gargalhava como se tivesse ouvido a melhor piada do mundo, não se importando que seu humor também não fosse dos melhores. Aurora se colocou na frente das duas e com delicadeza ajeitava o vestido com um sorriso vingativo no rosto.

— Sim, com certeza. Falaram as especialistas. A propósito, por que não chamamos os maridos de vocês para acharmos logo esse pretendente? — Ambas permaneceram caladas. — É mesmo — completou com um sorriso de desdém — vocês não são casadas!

Ela saiu da sala a passos lentos, saboreando a vitória e a cara de desgosto das rivais, que logo também deixaram o local. Ariana e Diana se encararam e começaram a rir da situação, ficando assim longo tempo. A Imperatriz se deixou cair no sofá ao lado da amiga e ficou observando o teto onde estavam pintados, com muito talento, uma casa e um lago em um dia de sol.

— Eu pensei que iam puxar o cabelo uma da outra.

— Eu também mas sua tia não se rebaixaria assim. — Ela fez uma pequena pausa. — Diana, é verdade que você e Henry...

— Não. Não temos um caso. Ele só está me ajudando com algumas coisas.

— Eu posso estar errada, mas acho que ele tem algum interesse em você.

— É imaginação sua. — Ela se endireitou sentando na beirada do móvel.

— O Marcon também é?

— O que tem ele? — Diana franziu a testa.

— Eu vi vocês dois de braços dados há dois dias. Não vá me dizer que a história do buquê era séria.

— Eu me machuquei um pouco no treino e quando voltei ele me ajudou a descer do cavalo e me trouxe aqui.

— Você está se machucando e cansando com frequência. Está muito indisposta e eu estou preocupada.

— Não é nada. Só estou pegando pesado com o treino.

— Claro. E comendo pouco, não é?

— Eu vim aqui pra te procurar.— Ela queria mudar de assunto com extrema urgência.

— Por quê?

— Tem umas coisas que preciso te contar e você deve ter algumas também.

— Eu precisava mesmo te ver. — Ela desviou o olhar não deixando transparecer a tristeza e preocupação.

— Escuta: já se passou um mês desde o ataque que tia Martha teve mas eu costumo ficar até mais tarde acordada. Ontem eu vi Daniel saindo a noite, eu o segui e ele pegou um dos cavalos e saiu do palácio.

— Mas os guardas não interviram?

— Dois deles apareceram e depois o deixaram passar.

— Esse homem é muito estranho Diana. Ele faz o que você manda mas é o mais quieto do Conselho e eu já o vi outras vezes em atitudes suspeitas; chegando no meio da noite, se assustando facilmente como se tivesse medo de ser descoberto.

— Não sei. Não posso acusá-lo sem provas e Solano confia nele.

— Se confia em Sarah, por que não confiaria nele?

— Sarah e ele são um caso a parte.

— Como assim? — Ela ficou pensativa por um tempo e depois seu rosto mudou como se tivesse chegado a uma solução. — Diana eles tem um caso!

— Fala baixo. — Ela cochichava como se isso fosse um segredo. — Eu não sei bem como mas creio que sim. E para variar, ela me odeia.

— Quando você chegou eu estava pensando em uma coisa. Elas conversavam sobre alguns comerciantes e outras pessoas do reino e de certos desentendimentos entre o Conselho, eles e seus pais. Depois o assunto passou para seus admiradores e de quem discute sobre sua falta de experiência. — Ela parou para ver como Diana reagia. – E eu comecei a imaginar que se há pessoas no reino que não te aprovam, e se alguém da família te odiar também?

— De quem você suspeita? — Ela franziu a testa esperando pela resposta.

— Ailla. — Um silêncio se seguiu por um tempo.

— Vocês implicam uma com a outra até no jantar. — Ela se levantou e andou até a mesa central onde havia frutas, pães e água mas a outra a encarava com cara de quem não estava brincando. — Eu não sou a preferida dela mas vamos lá: qual sua teoria?

— Ela é filha de Clermon, o seu tio mais velho. Não é integrante de nenhum grupo como seu primo, se veste como se fosse a soberana, não gosta de você e isso está mais do que claro pra mim. Eu peguei ela, sem querer, discutindo com o irmão, dizendo que ele e o pai abriram mão de tudo pra você. Imagina se ela fosse a escolhida? Inveja, é isso que aquela mulher tem. Pra mim ela sempre quis o seu lugar.

— Se é assim, temos que ficar de olho nela. Principalmente agora que anda por aí com Ryan.

— Eu sei. O quê esse homem viu nela? — Com o rosto marcado pela indignação, cruzou os braços.

— Vocês não eram amigos? Por que não tenta sondar para ver o que está acontecendo?

— Ele não ia me contar e não somos amigos. Eu só o ajudei algumas vezes quando era novato. É ruim não saber o que fazer exatamente quando se chega aqui.

— Eu sei mas o que ela poderia querer com o guarda que mais detesta? Vou dizer ao General que tenha uma conversa com ele. Tenho certeza que vai mudar de ideia depois de ouvi-lo.

— Provavelmente está comprando informações como faz com as serviçais.

— O que disse? — Ela estava surpresa. Sabia do temperamento de sua prima mas agir assim era se rebaixar demais.

— Ela obtém informações delas em troca de alguma coisa. Não são todas, mas três delas são fiéis a Ailla.

— Vou cuidar disso também.

— Ou talvez ela tenha outros interesses já que é uma oferecida mesmo.

— Claro. — Poderia ser apenas impressão porém Ariana estava se comportando como uma ciumenta. — Vamos esquecer isso?

— A maçã não está boa? Você está brincando com ela o tempo todo.

— Não é isso. — Diana olhava para a fruta como se tivesse visto algo diferente nela mas a verdade é que estava sem apetite nos últimos dias. — Preciso que venha comigo em um lugar, se quiser, é claro. Não tem que me acompanhar dessa vez, minha  diretora geral dos assuntos reais, se não quiser ir.

— Aonde você vai? — Ela se levantou já se preparando para sair.

— Floresta Negra.

*************************** 

— Não seja teimosa Diana. Não deveríamos estar aqui sozinhas. - Ariana reclamava enquanto segurava as rédeas de Cítara.

— E quem nos deixaria ver o que preciso sem interrupções? O General?

— Está se precipitando. Sua teimosia é demais.

— Algo me diz que eu já deveria ter vindo até aqui. - Mas a amiga reprovava sua ideia só com o olhar. - Não me olhe assim. Eu sou teimosa e muito e você sabe. Preciso entender o motivo das pessoas terem tanto medo dessa floresta.

A chamada Floresta Negra cobria uma grande área aos pés das montanhas. O sol praticamente não tocava o chão devido às copas frondosas das árvores, grandes e velhas. A entrada em alguns pontos também era difícil, reflexo de uma área onde não havia interferência humana há mais de três décadas. Com cuidado, elas adentraram a floresta a passos lentos, guiando os cavalos pelo caminho.

— Esse lugar é frio. E eu tenho a impressão de que estão nos observando.

— Eu também tenho. - Diana caminhava com cautela, tentando encontrar sinais de que alguém ou alguma coisa passou por ali nos últimos dias. Ariana observava tudo ao redor, inclusive o alto das árvores, esperando que alguém as atacasse vindo de cima. Trazia uma aljava de couro marrom com flechas e um arco nas costas, sua arma preferida. Uma das vantagens de se viver no palácio, e não ser a Imperatriz, era a desculpa de que, para protegê-la, teria que aprender a usar a espada, lança ou flechas. Ela usava essa desculpa para quase tudo que dizia respeito a ela, não somente quando se tratava de usar uma arma, e na maior parte das vezes funcionava.

As folhas sem vida salpicavam o chão e formavam um conjunto com gravetos e algumas raízes expostas. Era necessário tomar cuidado com espécies menores e com espinhos que insistiam em arranhar o rosto e rasgar a roupa. Espécies pequenas e enegrecidas se retorciam debaixo das outras, em ângulos nos quais era impossível acreditar que foi feito naturalmente.

— Dizem que há um caminho para o topo das montanhas. Podemos descobrir como chegar a ele.

— Minha mãe sempre me disse para me manter longe de lá.

— Tenho a sensação de que há algo para mim lá. – Parada ela observava a expressão fechada da outra, sabia que estavam se arriscando e com certeza ela teria vontade de voltar por onde vieram. - Você já veio até aqui Ariana e eu não vou te deixar sozinha aqui embaixo. Vamos pelo menos achar essa trilha e voltamos.

— Eu não vou permitir que você continue com uma loucura dessas. – Elas se encaravam sem piscar e o nervosismo tomava conta de ambas.

— Eu preciso ir.

Neblina começou a se formar bem rente ao solo enquanto decidiam se continuavam ou não. Lenta e fria ela se esgueirava por entre as raízes impedindo, tal como um véu branco, ver onde os pés se apoiavam. O ar começou a se tornar rarefeito e o silêncio profundo, perturbado apenas pelo cascos dos cavalos ou pelas botas das duas, se transformou em algo pesado, que poderia esmagar o juízo de qualquer um e encher de desespero o coração. Nenhuma criatura seria capaz de habitar aquele lugar mas pequenas patas, escondidas dos olhos das duas aventureiras, surgiam aos bandos nos galhos mais altos.

— Não sei como me convence a isso. - Ariana ajeitou a aljava e com relutância concordou. - Vamos logo.

— Prometo que é a última vez que… - A surpresa tomou conta das duas antes que pudessem dar o segundo passo. A neblina avançava ainda em ritmo lento e ambas olhavam fixamente, quase que hipnotizadas, para o caminho à frente, se perguntando de onde surgira aquilo, tão incomum naquela região.

— Diana, vamos sair daqui. - Os cavalos estavam agitados, pressentindo o perigo a rodeá-los e forçavam as rédeas nas mãos delas, na intenção de escapar dali, quando um som nada familiar começou.

— Você está ouvindo isso? - Ariana assentiu sem pronunciar palavra. O som continuava e aumentava aos poucos dando a impressão de se multiplicar ou de formar eco, com uma potência que incomodava os ouvidos. Algo semelhante a dois objetos cortantes deslizando um sobre o outro vinha de todas as direções sem que conseguissem ver sua fonte.

— A neblina está nos cercando. - Diana olhava ao redor e se sentia encurralada como um rato. Sem saída, sem salvação, presa em uma armadilha na qual ela mesma entrou de bom grado. Sua mente buscava uma explicação para o que estava acontecendo mas sem encontrar. Ela sentia arrepios na nuca e suas mãos formigavam novamente. Virando-se para Ariana, fez sinal para que saísse e devagar elas começaram a fazer o caminho de volta. Como que respondendo a ideia de fuga, todo o ambiente mudou.


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Notas finais do capítulo

Esse Ryan está procurando confusão ou é impressão minha? Quero ver no que vai dar essa história.
Essas tias e essa conversa de pretendente... não vai colar. O par de Ailla a gente já tem mas será que ele vai aguentar essa invejosa?

Mas mudando de assunto, gente o que está rondando as duas na Floresta Negra? Eu avisei para não irem para lá mas não me ouviram (mentira. Fui eu que dei a ideia rs).
Confiram no próximo capítulo.
Até mais!