O Garoto do Coturno Azul. escrita por JPoseidon


Capítulo 2
Chapter 2 - Night is a child.


Notas iniciais do capítulo

Pessoinhas, só vim para agradecer os comentários recebidos e falar que o próximo capítulo deve sair em breve. Confiram a seguir Luke Dancy:

Boa leitura ♥



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Chapter 2 - Night Is a Child.

Assim que saí do grande edifício eu olhei para aquela enorme rua, observando as pessoas. Pensando em como mostrar do que eu era capaz, mostrar tudo que eu sabia. E assim, decidi me mover, ir logo pra casa e encher a cara, em passos rápidos, eu não devia demorar. Então peguei meu fone e pluguei no celular, e com música, me dirigi ao apartamento que eu dividia com minha amiga.  

Eu cheguei em casa e fui para meu quarto, por sorte minha amiga não estava lá, eu não queria ser interrogado. Pois, se ela estivesse lá, ela iria querer saber de tudo, e no momento, eu preciso de um tempinho pra pensar em tudo e mostrar o que sei fazer para aquele filho da mãe provocador. Joguei minha camisa xadrez em alguma cadeira do quarto não muito grande e, literalmente, me joguei na cama. 

Agora, deixem-me explicar quem era minha amiga. Ela era uma trans nb (não-binária), com preferência em pronomes femininos, em seus vinte e cinco e anos, de cabelos sedosos e escuros, negros como a noite – quase azul –, pele alva e olhos castanhos claros que escureciam quando estava chateada, com raiva, ou determinada. Tinha preferência em shorts, mas normalmente estava de calça, e costumava usar uma blusa simples com um cardigã. E quando eu achei que estava prestes a dormir, a porta da sala se escancarou e ela berrou meu nome. Pra que dormir, não é mesmo?! 

—Kira, aqui. - Chamei, em sussurro. Ainda com a cabeça pensando naquele homem e no que fazer para conseguir aquele emprego. 

—Querido, parece que alguém te atropelou e depois esganou. - Ela olhou para mim e eu abri os olhos, soltando um riso nasal fraco. - O que aconteceu? 

—Fui fazer o teste. Não passei. Entretanto, o cara ainda quer que eu mostre o que posso fazer. - Fiz minha melhor cara de what the fuck, que mais parecia uma careta. Ela riu e se sentou ao meu lado. - E eu não sei o que fazer. Na verdade sei, quero beber. 

—Então o que porras você faz deitado?! Vamos beber. Rebel Randon, eu te convoco na cozinha com seu notebook. - Ela terminou sua sentença e se levantou, saindo do meu quarto com os saltos batendo no chão. Sorri e peguei meu notebook abaixo do travesseiro que eu não dormia. 

—LILY PEGA VINHO! - Lily não era seu nome real, era um apelido para Lilian, que ela achava ser muito sério e preferia ser usado só em casos de trabalho. Não que ela não gostasse de Lilian, ela amava, fora o nome que ela escolhera, mas ela achava que Lily-vida separava da ela Lilian-advogada. 

Sentei na cama e liguei o notebook, levantando em seguida, segurando meu notebook como se fosse um bebê, e era. Cheguei na cozinha – falando assim, parece que o apartamento era enorme, mas não era, cinco passos e você chegava na cozinha, dois e já estava no banheiro— e me deliciei com a cena de uma taça sendo preenchida de vinho. Sentei na mesa e coloquei a senha no notebook e acessei o google chrome e entrei no blog da revista, ficando impressionado por nunca sequer ter ouvido falar muito daquele lugar, era incrível, as manchetes, as curiosidades, todo o webdesigne. Eu não acreditava como estava diferente de quando iniciaram. 

—Caralho... - Suspirei, lendo todas as curiosidades de séries e cantores. - Lily, este blog é incrível. 

—Deixa eu ver, vai pro lado. - Ela me empurrou e sentou ao meu lado, admirando junto de mim. - Não acredito, vai ter novas séries em 2017 baseadas em livros e filmes! 

—Você lembra que já estamos em 2017, certo? 

—Ah, sim. Sempre esqueço. 

Percebe-se que Lily era completamente viciada no mundo literário, certo? Eu somente ri da reação dela, que parecia pular de um lado para outro. 

—Sim, de todas essas informações literárias, só duas me atraíram, Percy Jackson musical e a série de Desventuras em Série. Quero ver ter dinheiro. - Falei, rindo, tendo consciência da minha situação fodida financeira.  

—Então, falando em situação financeira, me explica direito o que ele quer. Me explica direito o que aconteceu, sem resumos. - Lily falou, e eu obedeci. Contei que conheci o cara antes da entrevista, contei que foi avisado por e-mail que a entrevista não seria mais na segunda, mas sim na terça-feira, aquele dia. Contei do momento que entrei na loja e tentei comprar o coturno, recebendo um sermão sobre eu estar sem grana e ainda querer mais alguma coisa. Ainda falei da entrevista e como tudo parecia estar indo bem, até ele riscar meu nome, dar o telefone dele para mim e mandar eu ligar pra ele. Nem terminei a sentença de 'ele mandou eu ligar pra el...' E ela já me interrompeu. - Então ligue. Sério, não me olhe com essa cara de 'você está louca?'. 

—Mas o que porra tu quer que eu fale com ele? - Perguntei, sentindo uma vontade estranha, mas gostosa de querer falar com Luke. 

—Pergunte. - Lily falou, pegando o papel com o número dele que eu tinha mostrado para ela momentos antes, digitando o número no meu celular e ligando, saindo da cozinha em seguida, deixando o celular na minha mão. 

—LILY! 

"Quem gostaria?" - O homem que me ajudara a pagar meu coturno atendeu, e meu interior queimou em ansiedade. 

"Luke? Aqui é o Rebel." - Falei e escutei a risada dele no fundo, enquanto algo fazia um estalo, provavelmente ele tinha se levantando e estava encostado na própria mesa, olhando a Times Square. 

"Rebel, Rebel, Rebel..." - Ele disse, repetindo. 

"Tu é gago?" - Perguntei, escutando imediatamente a gargalhada dele, me fazendo rir. 

"Não, mas vamos direto ao ponto, me ligou para...?" - Ele perguntou e eu logo tentei formular o que falar. 

"Simples, o que você quer de mim?" - Perguntei e o ouvi rir, sussurrando algo pra si mesmo que eu não entendi. 

"Você não atendeu algumas coisas exigidas na inscrição da entrevista." - Ele respondeu, simples e objetivo. 

"E seria?" - Revidei. 

"Uma matéria sua. Suas informações pessoais, como gostos, altura, etc. E também, fontes as quais você usa." - Ele disse e eu logo formulei, pensando no que escrever. 

"Okay, vou separar isso. Ah! Eu não levei essas coisas porque fiz a inscrição hoje, na mesa do recepcionista." - Respondi e logo o imaginei sorrindo, por que eu estava imaginando ele sorrindo?! 

"Gosto de sua sinceridade. Ahn, só mais uma coisa. Gostaria de se encontrar comigo hoje a noite para me entregar essas coisas?" - Ele perguntou e foi minha vez de sorrir. 

"Onde?" - Eu fui direto. 

"Um restaurante?" - O tom dele era incerto, como se estivesse em dúvida. 

"Que restaurante o quê, homem. Vamos para um bar, pode ser?" - Perguntei, ouvindo a risada dele, a voz ficando grossa e rouca pela risada. 

"Sim, qual?" - Ele perguntou e eu disse o nome e endereço. - "Okay, até às 21:00". 

"Até.". 

—LILIAN! - Berrei, vendo-a rir ao meu lado, me assustando. - Que isso, criatura?! 

—Num encontro com o futuro chefe... Isso não podia ser mais interessante. - Lily falou e eu revirei os olhos, balançando a cabeça, rindo de leve. 

—Não é um encontro, mas encare como quiser. Sei que não posso mudar sua ideia. - Falei, rindo enquanto navegava mais pelo site-blog. Reparei que uma notícia ainda não havia sido comentada e então decidi escrever sobre. Era sobre o novo relacionamento de Selena Gomez, e seu ex-namorado, Justin Bieber. - Enfim, eu tenho que escrever uma matéria para apresentar para ele, e depois fazer um questionário com respostar sobre mim mesmo. - Brinquei, vendo-a rir. 

—Então, bom trabalho. - Ela falou, indo para o próprio quarto, provavelmente ligar para o noivo. 

Estralei os dedos e respirei fundo, procurando o máximo nos sites que eu costumava usar de fonte, e assim comecei a escrever. 

 

Apertei a tecla do ponto final, levantando em seguida ao olhar o horário, eu tinha exatos quarenta minutos para tomar um banho, escolher minha roupa e correr para o bar, que era no cruzamento de trás da minha rua. Eu não morava muito longe da Times Square – mas também, não muito longe –, o que facilitava ir a pé para, tipo, qualquer lugar. Retirei minha camiseta e entrei no meu quarto, pegando minha toalha, fechando a janela, enquanto tropeçava nos milhares de exemplares de sapatos, tênis, coturnos, etc, no chão. Sai do meu quarto e em dois passos entrei no banheiro e retirei minha calça, junto da cueca vinho boxer. Entrei no box e liguei o chuveiro, sentindo a água descer gelada sobre meu corpo, me despertando do pouco sono que eu sentia, mas logo esquentando aos poucos. Ensaboei meu corpo às pressas, enxaguando junto do meu cabelo e saindo com a toalha ao redor do corpo quase caindo e uma Lily rindo do meu desespero quase dormindo no sofá. 

Fechei a porta do quarto e olhei minhas roupas penduradas dentro e fora do guarda-roupa, tentando não cair com tanta coisa no chão. Respirei fundo e decidi por uma coisa simples, ao meu ver, mas ainda sim elegante. Peguei uma jaqueta de tecido fino jeans, uma camiseta preta com o capacete do Power Ranger Morphin Preto - sim, eu sou fã— estampado e uma calça jeans azul clara, com o mesmo coturno azul de cedo. Coloquei uma touca cinza-azulada, cobrindo as mechas, já longas, ruivas molhadas. Peguei uma das minhas diversas mochilas de alça fina e imprimi tudo o que havia escrito e guardando numa pasta, logo em seguida colocando dentro da mochila, tirando o celular do carregador, pegando o fone e correndo para a porta. 

—Não me espere acordado! - Falei para Lily, que riu e me mandou beijos. 

Coloquei os fones de ouvido enquanto descia as escadas, apertando a playlist intitulada de "para não olhar na cara de ninguém na rua". É, eu odeio ser encarado na rua e não estar com música

Abri o portão e sai, fechando-o atrás de mim, e enquanto Toothbrush, do DNCE, tocava, eu andava quase como se estivesse no ritmo da música. Sabendo que em dez minutos eu chegaria ao bar. 

Comecei a descer a rua, às vezes esbarrando sem querer em algumas pessoas, em outros momentos havia um cruzamento de olhares com homens muito bonitos, o vento batia forte e eu sentia os cabelos que fugiam do quentinho da touca voando com as rajadas de vento, a temperatura estava morna, por isso eu estranhava estar ventando tanto. A mochila batia nas minhas costas em ritmo da música, estava tudo muito lindo e musical, "gente, o que esta acontecendo comigo?", eu me perguntava, rindo olhando as pessoas me encarando. Não demorou muito e eu avistei o bar, brilhando na esquina entre duas ruas, ao canto de uma encruzilhada. O bar sempre era meu lugar favorito, eu ia lá de vez em quando para beber com Lily e Brandon, seu noivo. O local era decorado com diferente luzes do lado de fora, mas dentro tudo brilhava de dourado-amarelado. Falando aqui parece ser um bar daqueles que celebridades frequentam, mas não é, é um bar comum, onde normalmente não está muito cheio, e aquele dia aparentemente não estava lotado, afinal, lotava de fim de semana.  

Meu celular apitou e eu o peguei, sorrindo com a mensagem. 

"Cheguei." - Luke mandou, com uma carinha sorridente. 

"Já vou entrar." - Falei, atravessando a rua. E assim, entrei no local, ouvindo a música atual em som ambiente se misturar com o jazz e blues. Não consegui o achar, tentando olhar por cima das mesas e cadeiras, tentando olhar por cima do balcão, mas nada. 

—Randon. - Senti a mão dele sobre meu ombro por trás de mim seguido do meu sobrenome saindo de seus lábios. 

—Dancy. - Falei, me virando sorrindo, vendo o sorriso estampado na cara do cara que seria meu futuro chefe

—Aos negócios? - Ele perguntou e assenti, puxando-o pelo pulso, tendo de passar pela pista de dança, que estava cheia, para podermos chegar a uma parte vazia e mais calma do bar. Após passarmos pelo lago, afinal seria exagero falar mar, de gente, nós sentamos em uma das mesas coladas à parede da janela com boa iluminação. - Gostei do bar, como é possível que eu nunca tenha ouvido falarem dele? 

—É que as pessoas acabam se acostumando em não saber o nome, então nunca é muito divulgado. - Expliquei e ele assentiu, entendendo. 

—Certo, agora me conte sobre você, e me entregue as papeladas. - Ele falou e eu sorri, entregando. Ele pegou primeiro a entrevista e começou a ler, até chegar num ponto específico e começar a ler em voz alta, o trecho era: 

"... Apesar do que falem, Selena Gomez e Justin Bieber são como calças coloridas jeans e touca, não importa a época, sempre voltam..."  

—Gostei dessa comparação. Você usou seu conhecimento da área de moda e aplicou em um texto sobre relacionamentos de cantores. Sério, muito bom. - Agradeci pelos elogios dele e o vi pegar a folha com meus dados pessoais. - 1.65 de altura, olhos castanhos, quase verdes devo acrescentar, gay, cabelos ruivos, meio acastanhados devo acrescentar novamente, e usa de fontes sites e revistas. Agora sim eu sei do que é capaz, sua escrita é impecável, leve e, apesar das brincadeiras e ironias, séria. Você, devido nossas conversas, parece ser alguém que se daria bem em reuniões de negócios. É engraçado, atraente e inteligente, tudo que atrai a mídia e os negócios. Alguém que eu gostaria de me divertir. - Então ele me devolveu todos os papéis. 

—Isso quer dizer? - Perguntei, hesitante. 

—Quer dizer que está contratado. E tem três dias para me entregar a próxima matéria, que eu quero que seja sobre economias. Fale do seu modo, seja você. - Ele disse, me fazendo sorrir, deixando minha boca mais tarde dormente de tanto sorrir. 

—Você sabe que ao escrever eu não vou tentar impressionar ninguém, certo? Eu vou escrever de acordo como eu gostar. - Informei e o vi assentindo. 

—Sim, eu sei. E sinto que você trará muita sorte para todos. - Ele falou, levantando e se aproximando de mim sobre a mesa. - Vamos dançar? 

Assenti, jogando a mochila para o canto do banco e levantando, enquanto o puxava em direção da pista de dança, onde dançamos a noite toda, rimos e brincamos. Aquela noite era uma criança animada, nos puxando um contra o outro. E não, não rolou nada. Eu não faria isso com chefeE eu não podia estar mais enganado.


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