O Garoto do Coturno Azul. escrita por JPoseidon


Capítulo 3
Chapter 3 - Vicious


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, como estão indo? Desculpem a pequena demora, é que me atingiu um bloqueio e acabei ficando alguns dias sem conseguir escrever.

Espero que gostem e confiram uma aesthetic da Lily. ♥

Boa leitura ;3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722350/chapter/3

Chapter 3 - Vicious

Continuei com os olhos fechados mesmo com a consciência já acordada, desfrutando do pouco tempo que eu tinha e tentando apagar os vestígios da dor descomunal que me fazia querer bater em alguma coisa mais próxima e assim o fiz, crente que acertaria meu travesseiro do lado, mas acabei acertando uma mão, que se fechou na minha. Instantaneamente subiu um arrepio pela minha espinha, deuses – sim, eu já havia lido Percy Jackson –, com quem eu havia dormido noite passada?! 

Fechando com mais força os olhos, respirei fundo e decidi que eu saberia se olhasse. Então arrisquei, soltando o ar em um suspiro rápido e abri de uma vez os olhos, olhando para meu lado direito. 

POR FAVOR, NÃO SENHOR! O QUE FOI QUE FIZ PRA VOCÊ?! JUSTO ELE? SÉRIO?! 

Clichê, quem não gosta? Eu. Principalmente quando poderia arriscar seu trabalho recém-adquirido. Sim, era Luke. O moreno estava com os olhos fechados e mantinha um sorriso, ainda provocante, os cabelos lisos levemente ondulados bagunçados num charme que só por Deus.  

—Nós fodemos? - Eu perguntei retórico, surpreso comigo mesmo. - Por que eu fui beber, agora não lembro de nada... Meu Deus, será? 

—Sim. Nós fodemos em todo lugar. - O imbecil abriu os olhos, me deixando arrepiado por um momento, mas logo balancei a cabeça e foquei o olhar no nariz, assim não iria me distrair. 

—É como? - Perguntei, querendo me atacar contra a parede e ficar desmaiado pelas próximas horas.  

—Brincadeira. Você só ficou realmente bêbado e desmaiou em mim depois de tentar dar seu endereço, então te trouxe pra cá e como eu não tenho quarto de hóspedes, te deixei na minha cama, tentei o sofá para mim, mas ele é duro demais, então voltei pra cá e fiquei. - Luke disse, fazendo meu ar fugir do pulmão. 

—E, me explique, por que estou só de cueca? - Perguntei, vendo o outro dar de ombros, me respondendo na lata. 

—Eu tirei sua roupa. - E então eu gargalhei, gargalhei como nunca. Por alívio, pela expressão de óbvio dele e saber que eu não havia feito nada de errado. 

—Obrigado. - Falei, após conseguir me acalmar, vendo o sorriso dele tão lindo e fofo naquele momento, sem provocação. De novo esse arrepio, ôh coisa... 

—Não tem de quê, Rebel. Mas agora ambos temos que ir ao trabalho. - Ele falou e assenti, logo me lembrando de algumas coisas. 

—Onde estão minhas roupas? 

—Então, você não tem mais aquela camiseta, queimou. Calma, não me olhe com essa cara de espantado, você que queimou ela em cima do balcão do bar enquanto todo mundo aplaudia. - Dancy sorriu, de novo provocante. 

—Merda... Você tem uma pra me emprestar? - Perguntei, vendo-o rir e assentir. - Rindo dos outros, que maldade. 

—Fazer o que, né? A cena não sai da minha cabeça. - Ele então se levantou e eu pude ver o corpo dele. Ele não tinha nada no corpo, só uma cueca preta boxer, mostrando toda a pele e destacava tudo que ele tinha a oferecer. - Tenho uns remédios para dor de cabeça, se quiser um, me siga. 

Levantei e o segui. 

 

Entramos no elevador do prédio, e ficamos parados um ao lado do outro absorvendo o silêncio. 

—Obrigado pelo café-da-manhã, e desculpa qualquer inconveniente. - Falei e vi o outro olhar para mim durante alguns segundo, com um sorriso lindo. 

—Não tem de que, Rebel. Obrigado pela noite divertida de ontem. - Ele disse, com um ar de zombaria claro. 

—Eu ainda estou lembrando. E estou com medo do que posso ter feito. - Declarei e o vi rir, me fazendo rir junto. 

—Não se preocupe, não é como se tivesse beijado seu chefe. - Ele falou, um ar de sarcasmo pairando. 

—Eu não te beijei, né? Não em entenda mal, você é lindo demais, mas meu chefe. - Eu disse o vi rir de mim. Obrigado por rir de mim, Luke. 

—Não. Não me beijou, calma. Mas você aprontou muito. E não, eu não vou te ajudar a lembrar. - Ele disse, e eu o encarei tentando lembrar. 

—É, eu não lembro de nada. - Falei, assumindo, e então as portas do elevador e já estávamos em ambiente de trabalho. 

—Não se preocupe, senhor Randon, por favor, na minha sala. - Ele disse, andando entre as mesas e atraindo olhares. O acompanhei, parando na minha mesa rápido só para deixar minha mochila. Assim que entramos no seu escritório os olhares voltaram para seus respectivos trabalhos. - Pode se sentar. 

Tudo bem que a frase dele sugeria tudo e eu corei na hora, mas me sentei na cadeira em frente da mesa.  

—Sim? 

—Temos que decidir como vai querer assinar seu nome no fim de cada matéria. - Ele falou e eu sorri, adorando o rumo da conversa. - Assinaria seu nome? 

—Não. Não entenda mal, mas quando eu vim pra cá, eu iria fazer o teste para a revista, acontece que não rolou. Estou muito contente por estar aqui, mas eu quero manter anonimato assim como o faria na revista. - Assumi e o vi assentir. 

—Entendo, espero que tenha consciência plena de como isso te afeta. Se fizer muito sucesso, eventualmente, terá de deixar o anonimato. - Ele explicou e assenti. 

—Então, esperemos que faça sucesso. Mas por enquanto, eu vou manter. - Falei e o vi sorrir, escrevendo na planilha em frente a ele o meu novo pseudônimo, o garoto do coturno azul, e eu sorri o fazendo sorrir junto. 

 

Abri a porta de casa e entrei, dando de cara com o namorado de Lily, Ethan, e a mesma no sofá com um cobertor cobrindo a nudeza de ambos. 

—Kira, o que é isso? - Perguntei. Kira?! Sim, Lily e eu temos uma mania de comparar um ao outro com personagens fictícios, ela tem uma personalidade forte e que me lembra a Kira de Power Rangers Dino Thunder. E esse também é o nome falso que damos para as pessoas na rua que pedem nosso número para ir fazer aqueles cursos, distribuindo panfletos. 

—Rebel, não é novidade. Já viu isso várias vezes. - Ela disse e eu ri, assentindo e me dirigindo para meu quarto, onde joguei minhas coisas e voltei, indo pra cozinha. - Aconteceu alguma coisa? Passou a noite fora. 

—Oi, Ethan. E Lily, Não me olhe com essa cara de 'sei o que estava fazendo com o chefe', não rolou nada, nem vai. Ele é gostoso? Muito, mas ética. E eu tenho que comer e ir trabalhar, de novo. - Falei, vendo-a me olhar com aquela cara triste de 'me fala os detalhes'. - Mais tarde conto como foi. 

—Parabéns por conseguir de vez o trabalho. - Ela disse e eu agradeci, abrindo a geladeira e pegando o refrigerante e o pão de forma, junto do queijo. 

—Com licença, agora eu vou trabalhar para entregar amanhã, apesar de que eu posso entregar depois de amanhã, que é o prazo. - Falei, levando meus lanchinhos para o quarto e fechando a porta. - Aqui vamos nós, Jesus, tu tá aí, eu sei, vamos bater um papo sério, me ajuda com a inspiração, que eu tenho mais cinco projetos para entregar. 

... 

Levantei assustado, olhando para os lados. Eu tinha dormido após a terceira matéria e estava morrendo de fome e com dor de cabeça. Olhei no despertador no criado-mudo ao lado, constatando que eram exatamente sete horas da manhã. Meu Deus, que cedo... 

Levantei e peguei minha toalha, junto com a roupa do dia e fui para o banheiro, onde tomei um banho relaxante, mas rápido. Ao sair, peguei minha mochila simples que estava usando sempre para o trabalho e guardei meu notebook, para caso o precisasse, e então guardei minha carteira e celular nos bolsos da calça jeans bege e coloquei a jaqueta sobre minha camiseta de Once Upon a Time. Peguei as chaves e fui pra cozinha, peguei a penúltima garrafinha de Coca-Cola dentro da geladeira e saí do apartamento, descendo as escadas. Eu não tomara remédio, por ser teimoso demais e também, porque normalmente um tempo depois passava sem o remédio. 

Olhei a rua e respirei fundo, plugando no celular o fone e selecionando a recente música da Little Mix, You Gotta Not, e então me dirigi para 'subir' a rua, indo para a cafeteria ali perto. Hoje meus cabelos estavam sem touca ou chapéu, então nada os impedia de voar com o vento forte. Meu anel favorito que eu quase nunca tirava para dormir brilhava com o sol, as garras de um pássaro prendendo meu dedo. E sorri sozinho, adorando aquele clima simplório de estar sozinho e com uma música e a vontade de dançar andando, quase como um musical. 

Passei da esquina e atravessei a rua, ignorando todas as vitrines desde que saí de casa. Era o que eu vinha tentando fazer desde duas semanas atrás, quando eu e Lily havíamos discutido sobre como eu era com roupas e que eu tinha que cuidar disso para não se tornar um vício. Às vezes eu cedia, como era o caso do meu coturno, que estava ali, firme e forte em contraste com minha camiseta azul. 

Avistei a cafeteria e apressando o passo, entrei, olhando para o local vazio, sorrindo sabendo que paz era o que eu teria. Por que sorri com o local vazio? Porque nunca estava vazio. Pedi meu café e ao conseguir, sentei-me e abri o notebook, cantando a próxima música que estava na playlist, I Lied, de Fifth Harmony. 

Bebi um pouco do café simples e forte com bastante leite e açúcar, sentindo meu corpo despertar. Abri no Word e fui para o projeto quatro. E após algum tempo, terminei, junto do meu café. 

E então meu celular tocou e eu quase chorei ao ver as inicias no visor, D.G, ou Derek George, meu cobrador. E então só fiz o que qualquer outra pessoa faria, desliguei meu celular e pluguei os fones no notebook, continuando meu trabalho e música. 

Ao terminar a minha última matéria, assinar com meu pseudônimo e guardar o notebook, decidi aproveitar que ainda tinha duas horas e saí da cafeteria, podendo aproveitar a vista das pessoas correndo de um lado para o outro. Desde aquele dia eu me pergunto o porquê de eu não ter saído dali antes de ver aquilo. 

O que eu vi? O relógio mais lindo que combinaria com duas das minhas jaquetas. Erro fatal. E não pude ficar parado, atravessando a rua e entrando na loja decorada de diferentes tipos de azuis. 

—O que gostaria? - A atendente me perguntou e eu sorri. 

—Aquele relógio. Ah! E aquela jaqueta preta desfiada. - Eu disse, sabendo que eu não estava me ajudando. 

 

Entrei em casa e olhei Lily que tinha os braços cruzados, com certeza em resposta ao torpedo de socorro eu estou comprando o que não devia pra ela. 

—De novo? - Ela perguntou, um tom de desapontamento e raiva na voz. - Rebel, você tem uma dívida de oito mil pra quitar. Quantas sacolas? 

—Essas ou as que vão vir por encomenda mais tarde? - Ela riu de desespero por mim. 

—Chega, é isso, chega. Você já viu quantas coisas você tem no seu quarto? Isso é vício, você tem um vício e precisa cuidar disso. Vou procurar um grupo que possa te ajudar e você começará assim que der. - Lily falou indo para o próprio quarto. - E se aparecer com mais alguma roupa eu mesma vou te espancar com suas roupas. 

Olhei para as dez sacolas, e chorei. Eu tinha um vício e precisava cuidar disso. Mas aquela sensação era tão boa, de comprar e comprar mais roupas, de ter as pessoas ao redor de você te trazendo tudo que quer. A sensação das roupas e os cheiros. Meu coração se apertou mais vendo-me naquela situação e fui para meu quarto, deitar um pouco antes de ir para o trabalho, afinal, eu tinha uma dívida para quitar e eu não queria passar meu dia chorando. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!