WSU's Karen Maximus escrita por Lex Luthor, Lucas, Nemo, WSU


Capítulo 2
CAPÍTULO I — Visões




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— Quem é você? — gaguejou o rapaz, consternado. — Como?

— Eu — titubeou Karen — como legumes?

O Soldado passou a mão direita em seus olhos, pressionando-os com o polegar e o indicador.

— Meus olhos! — Via apenas vultos. — Não consigo enxergar.

Karen, afastando seu punho, examinou suas pupilas.

— Vai ficar bem. — Observou os globos oculares normais do rapaz, apenas algumas leves queimaduras na pele do entorno. — Foi apenas o efeito da luz, é temporário.         

— Bastante jovem para ser médica. — rebateu o Soldado, antes que ouvissem sirenes. Sua apurada audição, o impulsionou a virar para o lado oposto ao barulho. — Ótimo, a polícia! Preciso sair daqui.

— O quê?! Mas e eu? — indagou a garota, espantada.

Ele se deteve e respondeu com rapidez:

— Você fica, vai ficar segura com a polícia.

— Você não entende, amigo. — Ela gritou, em meio à preocupação. — Se me pegarem vão me entregar para os meus pais!

Irritado, o Soldado esbravejou:

— Pelo amor de Deus! — Abaixou o tom de voz e falou entredentes. — Eu não vou ficar de babá da rica e mimada garotinha que fugiu de casa.

Ela retrucou:

— Garotinha? — Sorriu, convencida. — Posso ter quinze anos, mas sou uma das mentes mais cobiçadas das principais universidades americanas! — Bufou tirando uma mecha de seus loiros cabelos do rosto.

Sabendo das péssimas condições em que seu estranho salvador se encontrava, junto de sua preocupação em manter-se longe de seu lar. Levantou o tom de voz mais uma vez, aproveitando-se da situação.

— Mas tá legal, esperto! — Deu de ombros, arqueando as sobrancelhas loiras. — Você é um justiceiro e isso é ilegal. Quando te acharem aqui, vai direto pra uma cela junto com o Hur.

— Posso sair daqui antes disso — disse o Soldado, resoluto.

 Ela se manteve firme:

— Você sabe que não. — explica mais calma. — Não enquanto estiver desse jeito. Precisa de mim.

A audição aguçada dele o fez escutar os passos dos policiais, que, cada vez mais próximos, entravam na rua escura estreita onde estavam. Percebeu que para ele só havia uma saída: confiar na garota.

— Tudo bem, mas assim que eu estiver melhor... — Ergueu o indicador, barganhando a condição que viria — você vai se entregar, ou vai se virar sozinha.

Karen, esperançosa, confirmou com a cabeça:

— Obrigada — agradeceu, enquanto ele pensava em uma solução.

— Você será os meus olhos por enquanto. — Girou devagar, apurando os ouvidos, escutando os sons do ambiente. — Parece que estamos sendo cercados pelos dois lados da rua. Vê alguma janela, ou algo do tipo?

A menina olhou à sua volta.

— Uma escada de incêndio. — respondeu a garota, arrumando os óculos no rosto. — Bem acima da caçamba de caminhão.

— Suba nas minhas costas — pediu o Soldado.

Ao subir, ela tentou guiar o homem, que além de atordoado, não tinha mais visão:

— Em frente, em frente. Esquerda. — guiava-o, como num jogo de cabra-cega. — Tá aí a caçamba, sobe.

Tocando-o, a garota podia ver através da mente do homem. Suas habilidades, pensamentos.

— Parece que você pode saltar alto — analisou a menina —, mas é ainda arriscado caso não consiga se segurar. Podemos cair e eu não tenho uma armadura de Iluminati, como você.

—Ilu...? — o Soldado cortou sua própria indagação, confuso de como ela sabia de detalhes sobre seu traje feito de um metal maleável de outra dimensão. Decidiu seguir com o planejado. — Não temos tempo para discutir se consigo ou não, eles estão chegando.

Latidos de cães policiais eram ouvidos, feixes de luzes de lanternas iluminavam a rua e passos largos e em alta frequência eram dados.

Karen cerrou as pálpebras, se concentrou, pôs a mão na nuca do Soldado e os abriu os olhos por fim. Logo, uma imagem virtual e um tanto embaçada se formou na mente do homem que a carregava nas costas.

— Estou vendo? — perguntou, confuso. — Estou vendo!

Riu, impressionado, enquanto a menina atrás de si falou com um sorriso:

— Nem adianta me dispensar agora — ironizou —, estou transmitindo o que eu estou vendo. A imagem não vai chegar em HD, ainda não sou boa nisso.

— Vamos embora, garota — falou o Soldado, confiante.

Ele saltou alto com Karen nas costas, subiu o prédio até a cobertura onde não puderam ser encontrados pelos policiais.

Um deles iluminou a escada com a sua lanterna, mirando a arma em direção ao feixe.

— O que houve Almeida? — perguntou seu colega de trabalho.

— Acho que vi algo na escada. — respondeu, desconfiado. — Não deve ser nada, sargento.

O jovem militar, de cenho franzido, tentou evitar a impressão que teve de que algo de estranho acontecera ali.

O mais velho levou a mão ao seu ombro.

— Vamos precisar dos bombeiros. — afirmou o mais experiente. — Parece que tem um “presunto” cosplay do Kiss debaixo da caçamba caminhão.

Mãos nos bolsos de um sobretudo preto bem justo ao corpo, uma calça bastante desgastada e um coturno militar.

Aquele homem peculiar andava pelas ruas de Itaberá. Os habitantes da pequena cidade o estranhavam ao ver a bandana vermelha cobrindo nariz e boca e, na cabeça, o chapéu coco, como se quisesse ocultar a identidade.

— Olha a coxinha! — O ambulante deu uma risada. — Aonde é a festa fantasia, senhor?!

O homem encarou o vendedor que gritara em seu ouvido, deixando-o nervoso. Olhou para o letreiro no trailer.

Wesley Salgadão”, olhou ainda para o slogan: “Agora assiste aí de camarote, eu bebendo gela, comendo risoles”.

A frase fez com que o sério homem misterioso soltasse um leve sorriso, o que acalmou o ambulante.

— Posso ajudar em algo senhor? — perguntou Wesley, sorrindo.

No mesmo instante, várias viaturas passaram rapidamente pela rua.

— Acho que sim, Salgadão. — Estendeu a mão em direção ao ambulante, cumprimentando-o com um sorriso sádico. — Azathoth — apresentou-se.

 

 

 

ZONA RURAL DE ITABERÁ, 23:17

 

Num barracão caindo aos pedaços, distante da cidade, os dois se instalaram. Para ele, o refúgio perfeito e para ela, uma tortura cheia de poeira. Sujo, com cacos de telhas por todo o chão, tábuas espalhadas e despregadas por todo o lado.

— Mas que merda de esconderijo é este? — perguntou a garota, segurando o braço esquerdo daquele de traje paramilitar, como se fosse um deficiente visual (e era). — Primeiro, passamos uma eternidade numa cobertura, depois isso?

— Espero que essa cegueira passe de uma vez — falou o cego, em tom de desabafo —, não vou aguentar essa tortura por muito tempo. — Suspirou. — Queria que fôssemos notados saindo do prédio?

            O aroma do local trazia lembranças remotas ao Soldado. Lembranças que talvez não o pertencessem mais. Memórias de uma vida que já não era mais a sua. Percebendo sua reação incomum, a garota pensou:

Essa mente, é definitivamente estranha, não consigo ler quase nada, os pensamentos são rápidos e precisos, quem sabe se eu for mais a fundo. — Analisou a mente com mais cautela e atenção. — Oh, Deus! Não! — impressionou-se.

O toque lhe dava a condição de ver através de sua mente. Um turbilhão de imagens e falas invadiu a mente da garota Maximus. Flashes de memórias desconexos de um lugar diferente, de um rapaz diferente. A consciência estava fraca, mas ela podia ver dois homens ao lado de uma cama, um deles trajava roupas leves e finas e o outro era um ajudante, este último indagou:

Senhor, por que o criou? — indagou, confuso. — O senhor já tem um Valkgard.

E quem disse que ele liderará meus exércitos? — respondeu o outro, ironicamente. — Ele será aquele que vai eliminar meus inimigos à noite, será meu fantasma invisível e infalível... meu Soldado Fantasma.

Em outro tempo, o homem de roupas límpidas, agora trajava uma armadura de guerra, e orientava jovem antes desmaiado, que usava roupas furtivas.

Não quero sobreviventes ou testemunhas.

Mas e as crianças? — questionou o moço.

Elimine-as — respondeu o mais senhor, com desdenho.

Mais flashes passavam pela mente de Karen. O Soldado apertava o pescoço de um homem, no que parecia ser uma mansão incomum para os padrões da Terra. Os cenários mudavam para cada ato de crueldade, mas sempre eram pessoas que pelas roupas exuberantes pareciam ser ricas. Ela sentia cada ação daquele forçado homem.

Não, por favor, eu tenho filhos! — implorou um homem, enquanto seu pescoço era apertado brutalmente.

Você não tem que fazer isso. — disse outro, em outra ocasião. O medo fazia com que sua voz falhasse. — Eu farei o que ele quer, só m... — gaguejou, até ter seu coração traspassado por uma espada.

Em uma vila, com ruas limpas e candelabros de ouro iluminando a noite, mais um ato insensato.

Eu te pago! — barganhou um senhor choroso, que foi interrompido, com seu pescoço torcido.

Por favor, não machuque meus filhos! — pediu uma mulher erguendo o braço em direção às suas crianças, em uma atitude desesperada de defesa.

Fora dos campos de batalha, uma figura macabra dirigia-se ao Soldado.

Pobre soldadinho, imagine se sua querida irmã pudesse vê-lo agora. O mais correto dos homens transfigurado em um assassino. — disse aquele ser enevoado por uma aura negativa. — Você é uma vergonha para tudo o que já representou.

As visões retornaram para o que parecia ser uma sala de treinamento, o Soldado observou parado o aprendiz que havia falhado no teste.

Soldado, elimine esse verme! — ordenou seu mestre apontando para outro Valkgard caído.

As expressões dele se contraíram em um misto de pena e repúdio, ele se aproximou trêmulo, hesitando e fitou seu superior.

Não — respondeu o jovem.

Como ousa me desobedecer?! — indagou furioso, em seguida recebeu um corte frontal no rosto e ao mesmo tempo um soco no peito, desferidos pelo Soldado.

Não abalado, apenas segurou o punho do desertor, dizendo:

Seu miserável, sua mente precisa ficar em branco novamente — avançou a mão esquerda irradiando energia sobre o rosto do desobediente.

Karen levou as mãos ao rosto cobrindo-o. O Soldado tentou aproximar-se da menina, que se afastou como se quisesse uma proteção instintiva, esforçando-se para não chorar, mas aquele sentimento era mais forte do que ela e acabou vingando no final.

— Por que está chorando? — perguntou, confuso.

A resposta não veio, apenas os apressados passos da menina, para trás da pilha de feno.

O Soldado caminhou até fora do barracão, refletindo o que havia vivenciado ao lado daquela jovem.

O que terá acontecido? Quando lhe perguntei o motivo do choro, ela não quis me contar.

 

 

 

Puxou do bolso um canivete. Não podia ver nada, mesmo assim podia sentir e escutar a lâmina abrindo-se e fechando a cada rápido movimento que fazia, até que sua aguçada audição detectou os passos leves pressionando a grama. Qualquer pessoa não teria percebido mais uma presença ali, não ele.

— Karen? — perguntou, desconfiado.

Lucrum unibus est alterius damnum... — respondeu uma voz vinda dentre as sombras.

A luz do luar o incandescia Azathoth, o detetive, que iluminado pelos raios do satélite noturno, saiu das escuras.


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